Estou deixando a autoestrada que liga Tel Aviv ao Aeroporto Ben Gurion, na região de Lod. O taxista dirige a uma velocidade de 130 km/h. São 2h30 da madrugada e faz frio. Lembro-me muito bem da noite gelada de minha chegada ao país, na qualidade de voluntário, junto com 60 jovens brasileiros, para substituir jovens israelenses kibutzianos no trabalho do campo, já que eles se encontravam engajados no Exército das Forças de Defesa de Israel, por ocasião da Guerra dos Seis Dias. O país tinha 19 anos e corria o ano de 1967. Era a minha segunda chegada ao Estado judeu, que, a partir de então, já me recebeu em dezenas de ocasiões, nas quais cumpri diversas missões e tarefas ao longo destes nossos 67 anos de existência. Somos gêmeos! Nascemos os dois, Israel e eu, em 1948.
Naquela noite, fui um dos que subiu na capota dos ônibus para organizar as malas de nossos companheiros em seus bagageiros. Fizemos, desde a esteira do único terminal que havia, uma fila indiana, pela qual os pertences chegados do Brasil iam sendo passados de mão em mão até serem organizados sobre o tosco veículo que nos levaria até o nosso destino no norte do país, a poucos minutos de Kiryat Shmona, na época uma cidade quase de fronteira com a Síria.
Enfim, chegamos ao kibutz Lehavot Habashan já quase ao amanhecer.
O país era incipiente. Custava a acreditar que a guerra no campo de batalha estava sendo ganha e as posições de Israel consolidadas, com a conquista e a unificação de Jerusalém.
As estradas eram muito estreitas, a nação estava mobilizada e sua economia sofria com o esforço de defesa. As cidades israelenses tinham um quê de subúrbio do Rio de Janeiro, como se fossem Madureiras ou Vilares dos Teles do Oriente Médio. Em sua maioria, os prédios eram antigos, do meio do século XIX, com raras exceções. Todas as instalações públicas do novo velho país eram precárias e os nossos abrigos no kibutz eram de construção primitiva. Havia um sentimento de pioneirismo ímpar pairando no ar, com uma densidade que parecia poder ser tocado, um orgulho coletivo e uma certeza de que o judeu que morria na véspera tinha ficado para trás.
Meio século se passou. Ao deixar Israel, mais uma vez, as imagens da minha juventude me voltam à mente e a comparação com os dias atuais se torna inevitável. O falafel, a shawarma na pita, a soda Schweppes ou Kinley, o schnitzel (peito de frango à milanesa), as saladas, os queijos e os ovos cozidos continuam absolutamente iguais. A alma altiva do israelense médio também não mudou. Se naquele tempo o país enfrentou cinco exércitos inimigos e os abateu com categoria, ganhando mais uma guerra, hoje o enfrentamento se dá nas ruas contra adolescentes e jovens árabes, que deixam suas casas com facões e se abatem sobre pessoas em pontos de ônibus, em locais de passagem, pedindo carona ou ainda, sempre que for possível, contando com o efeito surpresa e a distração natural das vítimas, que não esperam ser atacadas. É o terror presente.
O Israel atual se modernizou. Seu aeroporto principal é um dos mais bem equipados do mundo, com serviços de qualidade acontecendo pelas 24h do dia. Suas estradas são muitas e nada devem às melhores da Europa, cortando o país de ponta a ponta e permitindo viagens tranquilas e rápidas a seus usuários. Seus prédios deixaram a arquitetura Bauhaus no passado e se modernizaram, utilizando projetos contemporâneos que dão às cidades maiores aspectos grandiosos, como se poderia observar em Nova York ou no Rio de Janeiro. Seus hotéis abandonaram os quatro andares ingleses e se transformaram em cinco e até seis estrelas, arranhando os céus da terra prometida. Suas universidades possuem instalações de última geração, com conforto e condições oferecidas a seus frequentadores, para que possam estudar e se desenvolver. Suas indústrias high-tech deixam na poeira as mais desenvolvidas do planeta. A economia do país, que não possui mais do que oito milhões de habitantes e que cabe dentro de Sergipe, o menor estado brasileiro, vai muito bem, obrigado. E a renda média per capita de seus habitantes é uma das maiores do mundo.
Ainda assim, as questões no país são enormes. O que fazer com as áreas obtidas na guerra de 1967 com seus milhões de árabes? Como liderar o país em direção a um futuro livre, democrático e em paz? Como encontrar equilíbrio nas relações internacionais, especialmente com países europeus hostis à política externa israelense? Como lidar com o maior aliado, que não se sente confortável em tratar de qualquer assunto com o atual primeiro-ministro? Como agir em relação aos árabes residentes nas regiões de Gaza, Judeia e Samaria? O que pensar sobre os árabes israelenses? Alistá-los no IDF ou não? Esquerda ou direita?
Além desses e de outros conflitos maiores e menores, existe algo que vai muito bem no país, apesar da constante falta de recursos para que se desenvolva ainda mais. Trata-se da arqueologia, que, a cada dia que passa, desnuda o passado, trazendo provas irrefutáveis da presença hebreia na região, ao menos nos últimos 4 mil anos.
Este foi o escopo desta minha viagem, que foi toda filmada e vai ser transformada num sensacional seriado. O programa será exibido já a partir dos próximos 15 dias em MENORAH NA TV, que estará no ar pelos canais BAND RIO e TV MAX(NET, canal 25).
Entrevistas em português e imagens de escavações, achados e áreas citadas na Bíblia, em locais emolduradas por explicações que vão dar luzes atuais a vários assuntos. Entre os nossos temas, por exemplo, estão: o local em que Josué pela primeira vez atravessou o Rio Jordão, liderando os filhos de Israel em direção à Terra Prometida; as cavernas utilizadas por Bar Kochba, o “Filho da Estrela”, e seu exército de guerrilheiros, em sua luta vitoriosa contra os romanos; a luta de Sansão contra os filisteus e sua história com Dalila; a disputa entre David e Golias; a subida aos céus do profeta Elias, em sua carruagem de fogo; os pergaminhos dos essênios e as cavernas onde foram descobertos no Mar Morto; os palácios construídos por Herodes, o Grande; as sinagogas de 500 anos, tanto de Yosef Karo, o criador da cerimônia de Bar Mitzvá e do Shulchan Aruch, quanto do rabino Ari Luria com a sua Kabalá; a revolta de Massada e a história de seu líder Eleazar Ben Yair… Tudo isso e mais três dezenas de narrativas variadas que dão à humanidade a certeza de que a volta dos judeus à Terra Prometida, depois de 2 mil anos, foi uma ação de reparação absolutamente justa e necessária, em função da penca de evidências históricas que vêm sendo literalmente arrancadas das entranhas da terra pela Autoridade Arqueológica de Israel, ainda que com muito carinho, cuidado e profissionalismo.
Vale a pena acompanhar o resultado deste trabalho, que será um banho de história inesquecível, oferecido a quem está ligado em nossos veículos de comunicação. Enfim, tudo o que aprendi e que pude reviver nestes últimos 15 dias será dividido com quem acompanha o nosso trabalho, para o bem da boa informação.
Mais uma vez, obrigado pela audiência fiel a todos os nossos seguidores e o nosso melhor e mais carinhoso abraço a todos os nossos patrocinadores e aos guias Tomer, Oren e Jayme Fucs Bar, que possibilitaram mais essa bem-sucedida aventura de MENORAH, em terras de Ben-Gurion, Golda Meir, Moshe Dayan e Ariel Sharon.
Não saia daí!
Já já voltamos!
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