Postado por Jayme Fucs Bar em 21 de Dezembro de 2009 às 5:12am
O texto eh longo, mas eh tao esclarecedor que vale a pena le-lo. Herman RichterJudeus de seis braços. Pilar RaholaEsta é a conferência que deu Pilar Rahola em 16/12/2009 no Global forum for Combating Antisemitism, que se celebra nestes días em Jerusalém.
Para qualquer informação adicional, a web deste importante forum é:
http://www.gfantisemitism.org/Pages/default.aspx
Segunda-feira à noite, em Barcelona. No restaurante, uma centena de advogados e juizes. Reuniram -se para ouvirem minhas opiniões sobre o conflito do Oriente Médio. Sabem que eu sou um barco heterodoxo, no naufrágio do pensamento único que impera em meu país, sobre Israel. Querem me escutar. Alguém razoável como eu, dizem, por qué se arrisca a perder a credibilidade, defendendo os maus, os culpados? Digo-lhes que a verdade é un espelho quebrado, e que todos nós temos algum fragmento. E provoco sua reação: “todos vocês acreditam ser expertos em política internacional, quando falam de Israel, mas na realidade não sabem nada. Vocês se atreveríam a falar do conflito de Ruanda, da Cachemira, de Chechenia?”. Não. São juristas, seu terreno não é a geopolítica. Mas com Israel vocês se atrevem. Todo o mundo se atreve. Por qué? Porque Israel está sob a permanente lupa mediática, e sua imagem distorsida, contamina os cérebros do mundo. E, porqué forma parte do politicamente correto, porqué parece solidário, porqué é grátis falar contra Israel. E assim, pessoas cultas, quando leem sobre Israel estão dispostas a acreditar que os judeus teem seis braços, como na Idade Média acreditavam em todo o tipo de barbaridades. Sobre os judeus de antigamente e os israelenses de hoje, vale tudo.
A primeira pergunta, pois, é porqué tanta gente inteligente, quando fala sobre Israel, se torna idiota. O problema que temos, os que não demonizamos Israel, é que não existe o debate sobre o conflito, existem os letreiros; não nos cruzamos com idéias, nos deparamos com consignas; não gozamos de informações sérias, sofremos de periodismo de hamburguer, fast food, cheio de preconceitos, propaganda e simplismo. O pensamento intelectual e o periodismo internacional, demitiu-se em Israel. Não existe. É por isso que quando se tenta ir além do pensamento único, passa-se a ser suspeito, não solidário e reacionário, e é imediatamente segregado. Por qué?
Há anos que tento responder a esta pergunta: por qué? Por que de todos os conflitos do mundo, só interessa este? Por que se criminaliza um pequeno país, que luta por sua sobrevivência? Por que triunfa a mentira e a manipulação informativa, com tanta facilidade? Por que tudo, é reduzido a uma simples massa de imperialistas assassinos? Por que as razões de Israel nunca existem? Por que nunca existem culpas palestinas? Por que Arafat é um herói, e Sharon um monstro? E por fim, por que, sendo o único país do mundo ameaçado de destruição, é o único que ninguém considera vítima?
Não creio que exista uma única resposta a estas perguntas. Da mesma forma que é impossível explicar completamente a maldade histórica do anti-semitismo, torna-se impossível explicar a imbecilidade atual do anti-israelismo. Ambas bebem das fontes da intolerância, da mentira e do preconceito. Se, além disso, aceitamos que o anti-israelismo é a nova forma de anti-semitismo, concluimos que mudaram as contingências, porém mantêm-se intactos os mitos mais profundos, tanto do anti-semitismo cristão medieval, como do anti-semitismo político moderno. E esses mitos se despejaram no relato sobre Israel. Por exemplo, o judeu medieval que matava crianças cristãs para beber seu sangue, conecta-se diretamente com o judeu israelense que mata crianças palestinas, para ficar com suas terras. Sempre são crianças inocentes e judeus obscuros. Por exemplo, os banqueiros judeus que queriam dominar o mundo através do banco europeu, segundo o mito dos Protocolos, conecta-se diretamente com a idéia de que os judeus de Wall Street dominam o mundo através da Casa Branca. O domínio da imprensa, o domínio das finanças, a conspiração universal, tudo aquilo que configurou o ódio histórico contra os judeus, desemboca hoje no ódio aos israelenses. No subconsciente, pois, lateja o DNA anti-semita ocidental, que cria um eficiente terreno fértil. Mas, o que lateja no consciente? Por que surge hoje com tanta virulência uma renovada intolerância, agora centralizada, não no povo judeu, senão no estado judeu? Do meu ponto de vista, isso tem motivos históricos e geopolíticos, entre outros o cruel papel soviético durante décadas, os interesses árabes, o antiamericanismo europeu, a dependência energética do Ocidente e o crescente fenômeno islâmico.
Porém surge também de um conjunto de derrotas que sofremos como sociedades livres e que desemboca em um forte relativismo ético.
Derrota moral da esquerda. Durante décadas, a esquerda levantou a bandeira da liberdade alí onde existía a injustiça, e foi a depositária das esperanças utópicas da sociedade. Foi a grande construtora de futuro. Apesar de que a maldade assassina do estalinismo afundou essas utopías e deixou a esquerda como o rei nu, despojada de vestimenta, conservou intacta sua auréola de luta, e ainda marca as pautas dos bons e dos maus do mundo. Inclusive aqueles que nunca votariam posições de esquerda, outorgam um grande prestígio aos intelectuais de esquerda, e permiten que sejam eles os que monopolizam o conceito de solidaridade. Como sempre fizeram. Assim, os lutadores contra Pinochet, eram os lutadores da liberdade, mas as vítimas de Castro, são expulsos do paraíso dos heróis, e convertidos em agentes da CIA, ou em fascistas disfarçados. Lembro perfeitamente como, na juventude, na Universidade combativa da Espanha de Franco, ler Solzhenitsyn era um anátema… E assim, o homem que alçava o grito desde o buraco negro do Gulag estalinista, não podia ser lido pelos lutadores antifranquistas, porqué nem existiam as ditaduras de esquerda, nem as vítimas que as combatiam.
Esta traição histórica à liberdade, se reproduz no momento atual, com precisão matemática. Também hoje, como ontem, essa esquerda perdoa ideologias totalitárias, se enamora de ditadores e, em sua ofensiva contra Israel, ignora a destruição de direitos fundamentais. Odeia os rabinos, mas se enamora dos imans; grita contra Tzahal, mas aplaude os terroristas do Hamás; chora pelas vítimas palestinas, mas despreza as vítimas judias; e quando se comove pelas crianças palestinas, somente o faz se pode culpar os israelenses. Nunca denunciará a cultura do ódio, ou sua preparação para a morte, ou a escravidão que sofrem suas mães. E enquanto alça a bandeira da Palestina, queima a bandeira de Israel. Há um ano, no Congresso da AIPAC em Washington, fiz as seguintes perguntas: “Que patologias profundas afastam a esquerda de seu compromisso moral? Por que não vemos manifestações em París, ou em Barcelona contra as ditaduras islâmicas? Por que não há manifestações contra a escravização de milhões de mulheres muçulmanas? Por que não se manifestam contra o uso de crianças bombas, nos conflitos onde o Islã está implicado? por que a esquerda, só está obsecada em lutar contra duas das democracias mais sólidas do planeta, e as que sofreram os atentados mais sangrentos, Estados Unidos e Israel?”… Porqué a esquerda que sonhou utopías deixou de sonhar, quebrada no Muro de Berlím de seu próprio fracasso. Já não tem idéias, senão letreiros. Já não defende direitos, senão preconceitos. E o maior preconceito de todos é o que tem contra Israel. Acuso, pois, de forma clara: a principal responsabilidade do novo ódio anti-semita, disfarçado de anti-israelismo, provém daqueles que teriam que defender a liberdade, a solidarieedad e o progresso. Longe disto, defendem déspotas, esquecem suas vítimas e calam-se diante das ideologias medievais que querem destruir a civilización. A traição da esquerda é uma autêntica traição à modernidade.
Derrota do periodismo. Temos um mundo mais informado do que nunca, mas não temos um mundo melhor informado. Ao contrário, as autopistas da informação nos conectam com qualquer ponto do planeta, mas não nos conectam nem com a verdade, nem com os fatos. Os periodistas atuais não necessitam mapas, porque têm Google Earth, não necessitam saber história, porque têm Wikipedia. Os históricos periodistas que conheciam as raizes de um conflito, ainda existem, mas são uma espécie em vias de extinção, devorados por este periodismo de hamburguer que oferece notícias fast-food, a leitores que desejam informação fast-food. Israel é o lugar do mundo mais vigiado e, sem duvida, o lugar do mundo menos compreendido. É claro, também influi a pressão dos grandes lobbys do petrodólar, cuja influência no periodismo é sutil mas profunda. Qualquer mídia de massa sabe que se fala contra Israel, não terá problemas. Porém o que acontecerá se critica um país islâmico? Sem dúvida, então, se complicará a vida. Não nos confundamos. Parte da imprensa que escreve contra Israel, se vería refletida em uma aguda frase de Goethe: "ninguém é mais escravo que aquele que se julga livre, sem sê-lo". Ou tambén em outra, mais cínica de Mark Twain: “Conheça antes os fatos e então distorsa-os quanto queiras”.
Derrota do pensamento crítico. A tudo isto, cabe somar o relativismo ético que define o momento atual, e que se basea, não na negação dos valores da civilização, senão em sua banalização. O que é a modernidade? Pessoalmente eu o explico com este pequeno relato: se me perdesse em uma ilha deserta, e quisesse voltar a fundar uma sociedade democrática, só necessitaria três livros: as Tábuas da Lei, que estabeleceram o primeiro código da modernidade. “O não matarás, não roubarás,…” fundou a civilização moderna. O código penal romano. E a Carta de Dereitos Humanos. E com estes três textos, voltaríamos a começar. Estes princípios, que nos garantem como sociedade, são relativizados, inclusive por aqueles que dizen defendê-los. “Não matarás”…, depende de quem seja o objetivo…, pensam aqueles que, por exemplo em Barcelona, se manifestaram com gritos a favor do Hamás. “Vivam os direitos humanos”…, depende a quem se aplicam, e por isso não os preocupam milhões de mulheres escravas. “Não mentirás”…, depende se a informação é uma arma de guerra a favor de uma causa. A massa crítica social se adelgaçou e, ao mesmo tempo, engordou o dogmatismo ideológico. Nesta dupla virada, os valores fortes da modernidade foram substituídos por um pensamento débil, vulnerável à manipulação e ao maniqueísmo.
Derrota da ONU. E com ela, uma rotunda derrota dos organismos internacionais que devem velar pelos direitos humanos, e que se converteram em bonecos quebrados em mãos de déspotas. A ONU somente serve para que islamofascistas como Ahmadineyad, ou demagogos perigosos como Hugo Chávez, tenham um altofalante planetário de onde escarrar seu ódio. E, é claro, para atacar sistematicamente Israel. Também contra Israel, a ONU vive melhor.
Finalmente, derrota do Islã. O Islã das luzes sofre hoje o violento ataque de um virus totalitário que tenta frear seu desenvolvimento ético. Este virus usa o nome de Deus para perpetrar os horrores mais inimagináveis: apedrejar mulheres, escravizá-las, usar grávidas e jovens com atraso mental como bombas humanas, educar no ódio, e declarar guerra à liberdade. Não esqueçamos, por exemplo, que nos matam com telefones celulares via satélites conectados… com a Idade Média…
Se o estalinismo destruiu a esquerda, e o nazismo destruiu a Europa, o fundamentalismo islâmico está destruindo o Islã. E também tem, como as outras ideologias totalitárias, um DNA anti-semita. Talvez o anti-semitismo islâmico seja o fenômeno intolerante mais sério da atualidade, não em vão afeta a mais de 1.300 milhões de pessoas educadas, massivamente, no ódio ao judeu.
Na encruzilhada destas derrotas, se encontra Israel. Órfãos de uma esquerda racional, órfãos de um periodismo sério e de uma ONU digna, e órfãos de um Islã tolerante, Israel sofre o violento paradigma do século XXI: a falta de compromisso sólido com os valores da libertade. Nada surprende. A cultura judaica encarna, como nem um outra, a metáfora de um conceito de civilização que hoje sofre ataques de todos os lados. Vocês são o termômetro da saúde do mundo. Sempre que o mundo teve uma febre totalitária, vocês sofreram. Na Idade Média espanhola, nas perseguições cristãs, nos progroms russos, no fascismo europeu, no fundamentalismo islâmico. Sempre, o primeiro inimigo do totalitarismo tem sido o judeu. E nestes tempos de dependência energética e desconcerto social, Israel encarna, em sua própria carne, o judeu de sempre.
Uma nação pária entre as nações, para um povo pária entre os povos. É por isto que o anti-semitismo do século XXI vestiu-se com o eficaz disfarce do anti-israelismo. Toda a crítica contra Israel é anti-semita? Não. Mas, todo o anti-semitismo atual se tornou no preconceito e na demonização contra o Estado judeu. Uma nova vestimenta para um velho ódio.
Disse Benjamin Franklin: “onde mora a liberdade, alí está a minha pátria”. E acrescentou Albert Einstein: “a vida é muito perigosa. Não pelas pessoas que fazem o mal, senão por aquelas que se sentam para ver o que passa”. Este é o duplo compromiso aquí e hoje: não sentar-se nunca para ver passar o mal e
Defender sempre as pátrias da liberdade.
Obrigada.
Pilar Rahola
16/12/2009
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