Judeus no Quilombo do Moinho - Jayme Fucs Bar
Em princípio de 2019 vieram no Kibbutz Nachshon dois amigos com um grupo de Jornalistas para fazer uma reportagem sobre o Kibbutz, mas estavam presente também no grupo (duas) mulheres que atuavam no movimento Negro.
A visita foi incrível e eu que vivo muitos anos fora do Brasil me ajudou a aprender bastante sobre essa realidade que é questão dos Negros no Brasil.
O interessante que na conversa me fez lembrar sobre um episódio que vivenciei e nunca tive a oportunidade de escrever e contar.
Aconteceu já alguns anos atrás, onde recebi uma família de Minas Gerais, pessoas realmente muito especiais que tenho contato até hoje, eles nasceram e foram criados num Quilombo de nome Moinho, e nesse dia estávamos viajando em direção ao Mar Morto e na viagem eles me contavam a história do Quilombo de Moinho as suas tradições, e como sobreviveram como uma sociedade fechada a mais de 400 anos.
O que mais me impressionou foi a frase de uma das integrantes do grupo que me disse:
" Você está vendo que eu tenho a pele parda, apesar de a maioria das pessoas do Quilombo de Moinho serem Negros!
" Na verdade, não entendi a onde ela queria chegar com essa afirmação!
E respondi: “Sim Estou Vendo”!
Porém, ela continuou a frase que realmente me desarmou! “ Eu tenho sangue de Judeu!”
Agora realmente não entendi nada!
E exclamei! “ Como assim? “
“Sabe Sr. Jayme eu sei que é difícil acreditar, mas no nosso Quilombo existe uma história que foi passada por cada geração que os brancos que chegaram fugidos no quilombo eram foragidos por não acreditarem na religião católica!”
E ela para me esclarecer me disse!
“ Hoje que temos mais informações e conhecimentos chegamos a conclusão que eram os Cristãos Novos que foram denunciados por ter prática Judaica!
“ Fiquei realmente congelado com a afirmação da senhora, onde estava dirigindo o carro com 5 pessoas, não me contentei logo que vi um posto de gasolina ainda no meio da estrada resolvi parar o carro para entender bem essa Historia, realmente Incrível!
Com carro já parado olho para todos e vejo que estão sorrindo com forma de aprovar o que ela acabou de me contar!
Esse trabalho de guia é muito gratificante ,muitas vezes, acho que eu que deveria pagar para receber tanto aprendizado das pessoas que encontro nessas viagens! Conviver com seres Humanos é uma eterna aprendizagem!
Ainda mais esse privilegio de ouvir essa historia de pessoas que viveram num Quilombo em Minas Gerias e ouvir de suas boca
“ Que Judeus viveram juntos com os Negros nos Quilombos”
Isso me fez pensar que realmente tem muita logica no que a Senhora e todos me relataram no carro! Os judeus portugueses que viveram no Brasil colônia, quando foram denunciados por suas práticas Judaica e persuadidos não tinham muita escolha entre ser torturados e queimados na fogueira ou decidir fugir! E para onde poderiam encontrar um lugar com certa segurança? Somente nos Quilombos junto aos Negros foragidos da escravidão.
O Quilombo provavelmente era pequenos estados muito bem organizados com leis e regulamentos próprios, que definiam a forma de viver e de se comportar, as pessoas tinham funções, domésticas, agrícolas e militares.
Se acredita que cada Quilombo tinha sua própria Liderança e provavelmente as decisões eram tomadas em assembleias, e a vida era em base do coletivismo.
Hoje Entendo que os Quilombos não somente abrigavam , negros e sim Judeus perseguidos pela inquisição!
Fico imaginando quando os Quilombos foram atacados e destruídos, Negros e Judeus um ao lado do outro lutaram até a morte por sua liberdade!
Quando homenageamos o dia 20 de novembro, dia da Consciência Negra no Brasil, Nos judeus precisamos estar presentes e agradecer a esses heróis Negros dos Quilombos que nos deram abrigo e nos protegeram contra a tirania da Inquisição Católica.
No Final da viagem fiz um pedido pessoal a essa família, que um dia que eu fosse visitar Minas Gerais gostaria de conhecer o Quilombo do Moinho, para agradecer de perto a essa gente humilde que apesar do tempo, jamais devemos deixar de reconhecer aqueles Negros do Quilombo do Moinho que um dia nos abrigaram e lutaram por nossa liberdade!
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