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SUKÁ E VULNERABILIDADE
O QUE OS JUDEUS TEM A ENSINAR SOBRE SEGURANÇA

Rabino Nilton Bonder

...A questão da segurança é uma preocupação crescente nas grandes cidades em nosso país.

Isto levou as elites brasileiras a vasculhar o mundo em busca de soluções eficazes e criativas.

A contribuição "judaica" tem ficado por conta das engenhocas produzidaspela industria israelense e dos serviços oferecidos por egressos doMossad. Estes últimos adaptaram sua expertise à verdadeira guerrilhaurbana que travamos nas ruas e no cotidiano de nossas vidas.

Esquecemos,no entanto, que existem dois modelos judaicos que abordam a questão dasegurança e que falam legitimamente pela tradição. Refiro-me às duasestruturas de cobertura existentes na tradição judaica -- a Suká* e aChupá**. Uma fala metafórica e metafísicamente da relação do ser humanocom D'us (ben-adam la-makom); a segunda da relação entre seres humanos(ben-adam le-chaveró).

A suká é uma estrutura que deve terparedes definidas mas cuja cobertura deve ser frágil e permitir queatravés dela se veja as estrelas do céu e os raios do sol. A chupá, porsua vez, não pode ter paredes definidas mas sua cobertura é compacta.

Asuká representa a relação com o Criador e a percepção de que asobrevivência não advém de estruturas rígidas, mas de uma flexibilidadeque nada tem de frágil. Como se numa história às avessas da dos "TresPorquinhos", a casa que cai com o sopro do lobo é justamente a que érígida. A suká, permite a passagem do sopro; tomba para um lado e paraoutro e se apruma novamente. A mensagem metafísica de sua cobertura sóagora começamos a compreender com os novos avanços científicos. Sobrenós se extende uma enorme suka de ar, uma atmosfera que é cobertura e épermeável ao mesmo tempo. O Criador faz com que sobre nossas cabeçascoletivamente haja um filtro e que suas qualidades de conter e permearsejam apropriadas -- caso permeie de mais esta suká (sem ozônio, porexemplo) não é kasher; caso retenha de mais esta suká (efeito estufa,por exemplo) não é kasher.

A mensagem é clara: a segurança advémdo equilíbrio que aparenta ser fragil mas que é, na verdade, fértil eviril. O bunker, por mais profundo que seja, não protege. Sua coberturarígida não é simbólica de proteção, mas de desequilíbrio e precariedade.A segurança advém deste equilíbrio e este equilíbrio da maneira pelaqual definimos nossas paredes. Se nossas paredes não incluem todos osque devem incluir então a suká da qual falamos não possui o tamanhomínimo para ser kasher. Definir as paredes e o que estas incluem temrelação direta com a capacidade da cobertura representar um equilíbrioapropriado.

A chupá, por sua vez, depende de um teto rígido. Elasimboliza uma intimidade que na dimensão do indivíduo necessita dedensidade para definir e caracterizar. Não há relação humana que suportea não presença ou a indiferença do amante, do amigo ou do concidadão.

Épreciso um teto para representar os compromissos produzidos peloencontro de um "eu" com um "tu", como diría Martin Buber. No entanto, asegurança do amor ou da amizade definida por esta cobertura só épossível sem paredes. Na liberdade e na possibilidade de crescimento dooutro, no livre acesso para além desta cobertura, é que há segurança emtermos humanos. Mesmo a paz entre dois indivíduos não se faz de um teto,de um acordo. É fundamental que as paredes sejam abertas. Quanto maisparedes mais ciúmes e mais desconfiança. Na verdade, só existe um tetorígido e compacto sobre a cabeça quando é possível a inexistência deparedes. O teto se faz sólido por aquilo que ele não exclui.

Alição é clara: a segurança é uma relação. O que nos preserva na naturezaé uma relação entre as graças que permitem a vida e a diversidade doque incluimos como parceiros em seu recebimento. O eco-sistema e suadiversidade mínima é a área mínima para que o teto da suká possa nossuprir a segurança necessária. O que nos preserva em sociedade, poroutro lado, é uma relação de chupá entre os nossos compromissos e asnossas liberdades. O vazio das paredes laterais é o requisito mínimopara que a cobertura tenha uma solidez que represente segurança.

Nossomundo social é um mundo que depende das quedas dos muros e de menosgrades para o estabelecimento de uma grande chupá sobre os sereshumanos. Já na dimensão da sobrevivência se exige a criação de novasfronteiras que demarquem com paredes a inclusão de todos os seres eelementos necessários para que um teto proveja proteção e exposição aomesmo tempo. A chupá é uma lente ou uma antena -- intensifica aexperiência humana e a transmite ao Criador. A suká é um filtro -- fazcom que a força da vida nos chegue em proporção adequada.

Qualquer outra proposta pode trazer tudo -- menos segurança.
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A magia e a mística de Tzfat - Fonte Revista Morasha

A magia e a mística de Tzfat - Fonte Revista Morasha

http://www.morasha.com.br/conteudo/artigos/artigos_view.asp?a=732&p=1

 Tzfat, também conhecida como Safed e Safad, é considerada a capital da Alta Galiléia. Localizada ao norte do Estado de Israel, é uma das quatro cidades mais sagradas no judaísmo, juntamente com Jerusalém, Hebron e Tiberíades. É um dos principais berços da mística judaica, a Cabalá. Tzfat é uma cidadezinha encrustada no pé de uma colina e cercada por montanhas. A oeste está o Monte Germack, que parece encravado no Monte Hermon, cujo pico está constantemente coberto por uma neve brilhante. Ao sul está o Monte Canaã, do qual se pode ver o Lago Kineret, também conhecido como Mar da Galiléia, que banha a cidade histórica de Tiberíades. A leste estão diversas localidades históricas, marcadas por ruínas de sinagogas e túmulos de vários Tzadikim. De acordo com a Cabalá, Jerusalém, Tzfat, Hebron e Tiberíades representam os quatro elementos físicos da Criação: fogo, água, terra e ar. Jerusalém representa o fogo. Assim como as chamas que ardiam no Beit Hamikdash, o Templo Sagrado, e queimavam as oferendas, o fogo espiritual desta cidade, a mais sagrada do mundo, inspirava as almas de seus habitantes. Tiberíades, erguida nas margens do Lago Kineret, simboliza a água. Segundo a tradição cabalística, Rabi Yitzhak Luria, o Ari, revelou a seus discípulos que se tivessem alguma dificuldade em entender alguns dos ensinamentos místicos, deveriam beber um gole da água do Kineret. Desta maneira, suas mentes absorveriam o conhecimento almejado. Hebron, localizado perto do deserto do Neguev, representa a terra. É lá que estão enterrados os nossos patriarcas - Avraham, Yitzhak e Yaacov, e três das quatro matriacas - Sara, Rivka e Léa. Tzfat, por sua vez, representa o ar, em hebraico, ruach. É uma palavra que tem muitos significados, entre os quais, vento, brisa, atmosfera, alma e espírito. A cidade é, de fato, uma mescla de tudo isso, mas principalmente de ar e de espírito. Sua atmosfera é clara, luminosa, tanto no sentido físico como no metafísico. Como sabemos, o ar é diferente do fogo, da água e da terra, pois não pode ser tocado fisicamente. Assim é Tzfat - e é isto que lhe dá uma energia, misteriosa e mística, que enfeitiça todos que a visitam. Ao redor de Tzfat, há uma coroa composta por inúmeros povoados que tiveram e continuam tendo papel marcante na história e na religião judaica. Há sinagogas e ieshivot em ruínas que contam séculos e séculos. As ruínas atestam tempos esplendorosos na Galiléia e no judaísmo. A localidade mais antiga na região de Tzfat é Pequin, onde os judeus sempre viveram antes do domínio romano se estender sobre a Terra de Israel. Atualmente, a cidade é habitada por judeus e druzos. Gush-Chalav - a cinco quilômetros de Tzfat - que, também traz as marcas do passado em suas ruínas de sinagogas e túmulos de Tzadikim, é conhecida principalmente pelas lutas contra os legionários romanos. Biria, ao norte, foi o berço de grandes sábios, eruditos e estudiosos, inclusive vários Tanaim, que foram os maiores rabinos citados no Talmud; a cidade é rica em ruínas de sinagogas e restos de pedras com símbolos sagrados. Kfar Biram, cuja população atual é cristã maronita, fica a noroeste de Tzfat. Na época da Mishná, era um centro importante de estudos. Vestígios de seu passado glorioso - a cidade possuía duas sinagogas - estão nos achados arqueológicos que trazem inscrições e símbolos religiosos. Biram, Kadita, Achbara, Safssufa, Tzipori e a antiga Ein Zetin são a prova da contínua presença judaica na região, através dos séculos. A nova Ein Zetin, reconstruída em 1884, foi abandonada em 1929, quando a Revolta Árabe, que eclodiu naquele ano, atingiu a cidade, e a população árabe local, enfurecida, massacrou cerca de 20 judeus. Outras cidades como Germack ("Hatzmon"), Kfar Alma, Kfar Hananía e Ramat Naftali datam ou são anteriores à epoca talmúdica. Estas cidades são mencionadas em diversas obras de pesquisadores de séculos passados, inclusive com estatísticas e nomes de seus mais ilustres habitantes. Na maioria dos povoados, a atividade era, principalmente, a agricultura. De seus pomares saíam as melhores frutas do Mediterrâneo, favorecidas pelo clima e pela água vinda das cordilheiras e geleiras das montanhas da Galiléia e do Líbano. Havia, também, um comércio ativo e uma desenvolvida indústria de tecidos de lã e de anilinas, e um comércio intenso com Sidon, no litoral do Líbano, com passagem para outros mercados. A magia das estrelas Tzfat é uma cidade mística. O ar é puro, os dia luminosos e as noites iluminadas pelas mais brilhantes estrelas do Oriente Médio. Este cenário inspira o homem a meditar, a elevar a alma e o coração, até o espírito encontrar o seu paraíso, longe das agruras materiais. No século 16, com a expulsão dos judeus da Península Ibérica e com o beneplácito do Império Otomano, um número significativo se estabeleceu na cidade, incluindo grandes rabinos. Tzfat se tornou o centro de estudos da Cabalá e principalmente do Zohar (O Livro do Esplendor), de Rabi Shimon bar Yochai. Tzfat é a cidade da Cabalá. O maior cabalista de todos os tempos, Rabi Yitzhak Luria, o Ari HaKadosh, lá se estabeleceu. Nascido em Jerusalém, o Arizal cresceu no Cairo. Durante anos ele se isolou numa ilha do rio Nilo, estudando o Zohar e a Torá. Foi quando o profeta Eliahu lhe revelou segredos e disse para que fosse para Tzfat. Em 1569, o Arizal se estabeleceu em Tzfat, onde reuniu em sua volta os maiores cabalistas da época e lhes transmitiu seus ensinamentos, que foram registrados por Rabi Chaim Vital. A fama de Tzfat atravessou os limites da Terra de Israel e, até hoje, milhares de turistas e peregrinos visitam anualmente a cidade, o túmulo e a Sinagoga do Ari. Muitos vão banhar-se nas águas da mikvê do Ari, cujo aniversário do falecimento é 5 de Av. Tzfat recebe milhares de judeus que se reúnem no seu túmulo para orar e pedir ao Tzadik que interceda por eles perante D'us. Tzfat foi o lar de outras grandes figuras da história judaica, entre eles, Rabi Yossef Caro, o autor do Shulchan-Aruch (Código de Lei Judaica); Rabi Moshé Cordovero, professor do Ari e autor da obra cabalística Pardess Rimonim; Rabi Shlomo Alkabetz, autor de Lechá-Dodi, hino litúrgico cantado no Shabat em todas as sinagogas do mundo. Outro grande sábio de Tzfat foi o Rabi Yakov Birav - o rabino-chefe da comunidade. Rico e generoso, homem de grande sabedoria e conhecedor profundo do Zohar, Rabi Birav quis restabelecer o Sanhedrin - a Suprema Corte Judaica - para acelerar a vinda do Mashiach. Mas para isso, era preciso superar alguns obstáculos: os 70 membros do Sanhedrim deveriam ser rabinos e ter um tipo de Smichá - certificação rabínica - que permitisse exercer as funções de acordo com os preceitos existentes antes da destruição do Segundo Templo por Roma. Porém, desde o decreto promulgado por Adriano, um dos mais cruéis imperadores romanos, a tradição de Smichá havia sido interrompida. Tzfat foi o lar de outras grandes figuras da história judaica, entre eles, Rabi Yossef Caro, o autor do Shulchan-Aruch (Código de Lei Judaica); Rabi Moshé Cordovero, professor do Ari e autor da obra cabalística Pardess Rimonim; Rabi Shlomo Alkabetz, autor de Lechá-Dodi, hino litúrgico cantado no Shabat em todas as sinagogas do mundo. Outro grande sábio de Tzfat foi o Rabi Yakov Birav - o rabino-chefe da comunidade. Rico e generoso, homem de grande sabedoria e conhecedor profundo do Zohar, Rabi Birav quis restabelecer o Sanhedrin - a Suprema Corte Judaica - para acelerar a vinda do Mashiach. Mas para isso, era preciso superar alguns obstáculos: os 70 membros do Sanhedrim deveriam ser rabinos e ter um tipo de Smichá - certificação rabínica - que permitisse exercer as funções de acordo com os preceitos existentes antes da destruição do Segundo Templo por Roma. Porém, desde o decreto promulgado por Adriano, um dos mais cruéis imperadores romanos, a tradição de Smichá havia sido interrompida.

 

Encontrou-se uma resolução para renovar o Sanhedrin baseado numa legislação de Maimônides: dever-se-ia convocar os rabinos mais sábios, eruditos e íntegros. Um deles seria escolhido e autorizado a conceder Smichá para os merecedores desta honra. Tudo isso foi organizado em Tzfat e implementado no ano de 1538. O nomeado para executar a tarefa foi o rabino Yacov Birav. Os sábios de Tzfat também concederam Smichá ao principal rabino de Jerusalém, Rabi Levy ben Haviv, mas este recusou a honra por vários motivos, entre eles que uma decisão tão importante dependia da aprovação dos sábios de toda a Terra de Israel e deveria advir de Jerusalém, e não de Tzfat.

O Fim da Era de Ouro

Após a gloriosa época dos cabalistas e, já no século 17, começou a decadência de Tzfat. Invasões, administração otomana corrupta e ruim, restrições e perseguições; ataques de árabes e de druzos com saques e assassinatos. A próspera economia da cidade foi decaindo e os jovens emigram. No século 19, dois terremotos quase destruíram toda a cidade. Mas, com garra e muita fé religiosa, a comunidade judaica enfrenta todas as vicissitudes e prossegue sua vida. A partir do início de 1800, pequenas ondas migratórias de chassidim e mitnagdim, aconselhados por seus rebes e pelo Gaon de Vilna, chegam a Safed, Jerusalém Hebron e Tiberíades. Começam a ser erguidos novos centros de estudos e sinagogas, principalmente em Tzfat, simultaneamente a um pequeno comércio local. Mas a principal fonte da economia era a Chaluká, dinheiro arrecadado nos países do leste europeu e enviado às quatro cidades religiosas de Eretz Israel. Esse sistema funcionou até a eclosão da Segunda Grande Guerra Mundial em 1939.

Lag Baomer em Safed

O cemitério de Safed abriga túmulos de personagens importantes da história judaica: autores do Talmud (Mishná e Guemará), cabalistas, sábios e eruditos. Diariamente encontram-se pessoas rezando e acendendo velas em redor dos locais onde os Tzadikim estão enterrados. Entre os túmulos, encontram-se não apenas heróis do passado distante, mas, também, do recente, como jovens que lutaram contra o Mandato Britânico, entre os quais Dov Gruner - que foi executado pelos ingleses, e membros das Forças de Defesa de Israel.

Anualmente, durante as festividades de Lag Baomer, a cidade vive uma dinâmica singular. Centenas de milhares de peregrinos passam por Tzfat em direção a Meron, a seis quilômetros, para celebrar uma data especial: o término de uma epidemia que dizimou 24 mil alunos de Rabi Akiva; e o aniversário do falecimento de Rabi Shimon Bar Yochai, o pai da Cabalá, cujo túmulo se encontra em Meron. Também é a data em que o sucessor do imperador romano Adriano revogou as restrições anti-judaicas impostas pelo governo romano anterior, concedendo liberdade de culto religioso e certa autonomia administrativa aos judeus.

Os peregrinos a Meron trazem roupas velhas e recipientes de óleo. E, na véspera da data, ao anoitecer, fazem uma fogueira com o óleo e com as roupas, alimentando-a a noite inteira, até a véspera do dia seguinte, quando terminam as festividades. É um período de 24 horas ininterruptas de rezas, lágrimas, cantos e danças.

Como parte das comemorações, na véspera de Lag Baomer centenas de judeus saem pelas ruas de Tzfat, começando pela casa dos Abuhab, uma família tradicional sefaradi da região, levando uma Torá centenária a Meron. O cortejo é acompanhado por conjunto de klezmer e segue até Meron. Ao longo do caminho, a Torá é passada de mãos em mãos às pessoas de mais destaque na comunidade.

Antes da criação do Estado de Israel, durante o domínio dos otomanos e britânicos, antes do pôr-do-sol, grupos de árabes, a cavalo e a pé, com seus instrumentos musicais, adentravam no pátio da sinagoga, cabeças cobertas com suas kefias, fazendo uma roda em volta dos judeus. Em uníssono, também faziam o seu show de danças e cantos regionais, rezando e pedindo a bênção para suas famílias e para suas necessidades ao Rabi Shimon Bar Yochai.

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Prosa e Verso: A razão delirante dos genocídios: Da Alemanha nazista a Ruanda, historiador estuda motivos dos assassinatos em massa

ENTREVISTA Jacques Semelin


Desde jovem um ativista da não violência, o historiador francês Jacques Semelin se dedica hoje a estudar as condições sociais em que ocorrem genocídios. Coordenador de uma enciclopédia virtual sobre Violência em Massa <<a href="http://WWW.MASSVIOLENCE.ORG">WWW.MASSVIOLENCE.ORG>, ele preserva o espanto diante dos massacres perpetrados em nome da civilização, sem no entanto subscrever a retórica inflada que considera inexplicáveis os extermínios em massa. Em “Purificar e destruir” (Difel, tradução de Jorge Bastos), Semelin faz um estudo comparativo entre o Holocausto, a limpeza étnica durante a guerra civil na Iugoslávia e o genocídio em Ruanda. Por email, ele falou com o GLOBO sobre o livro.

Miguel Conde


O GLOBO: Como explicar um genocídio? Há algo nesse tipo de evento que resiste à interpretação?

JACQUES SEMELIN: Toda sociedade conhece a violência, seja ela econômica, sexual ou física. Todo país pode também conhecer a guerra. O genocídio é algo distinto: é a morte em massa de milhares, dezenas de milhares, mesmo milhões de não-combatentes, ou seja, de civis. É isso que nos parece incompreensível. Como é possível que seres humanos exterminem outros homens, mulheres, crianças, idosos? Ainda mais: por que muitas vezes fazem com que eles sofram antes de matá-los? Esse crime em massa monstruoso não apenas foi possível como se repetiu muitas vezes ao longo da História. Todo homem deveria então se colocar a questão: por que e como tal barbárie é possível? Claro que se pode invocar o mal. As religiões nos ensinam: o mal está no homem, portanto todo homem pode cometer o mal. Mas essa condenação moral não pode satisfazer o pesquisador.

Ela não permite explicar o caráter extraordinário desse crime em grande escala. É necessário ir mais longe, e foi isso que tentei fazer nesse livro, no qual trabalhei por quase dez anos.





O Holocausto tem muitas vezes sido descrito como um acontecimento sem precedentes. Compará-lo a outros casos de genocídio, segundo essa visão, seria de certo modo banalizálo. Qual é sua opinião?

SEMELIN: Desde a invenção do termo genocídio pelo jurista Raphaël Lemkin, em 1944, assistimos a uma banalização do emprego desse termo.

Hoje, o termo genocídio termina não querendo dizer nada, tal a multiplicidade de seus usos. Como ele simboliza o crime dos crimes, numerosos atores políticos e comunitários se apropriam dele para apresentar-se como vítimas da História. Essa conduta ocorre entre vítimas de múltiplos sofrimentos, cujas causas são, no entanto, muito diversas. A palavra também é aplicada aos animais: fala-se mesmo do genocídio dos filhotes de focas...

Em reação a tais derivas, os intelectuais judeus tem defendido a singularidade do Holocausto (na Europa chamado, mais apropriadamente, de Shoah) para designar o caráter sem precedentes do extermínio dos judeus europeus pelos nazistas entre 1941 e 1945. Mas essa afirmação da singularidade da Shoah, que estaria numa classificação “à parte” dos outros casos de mortes de massa, não pode ser aceita pelos pesquisadores. Trata-se de uma posição dogmática. Em resumo, declara-se a priori que o Holocausto é único, que portanto não é comparável, e então... que não se deve compará-lo a nada. O pesquisador deve fazer justamente o raciocínio inverso.

Para provar que um evento é singular, ele deve começar por comparálo com outros a fim de mostrar em seguida no que ele é diferente. Essa é a linha que segui nos casos da Shoah, de Ruanda e da Bósnia. Também abordo um pouco os casos dos armênios e do Camboja de Pol Pot. Atenção: comparar não significa que todos os eventos se tornem equivalentes! Comparar consiste de fato em mostrar o que é semelhante E diferente. Portanto meu método termina por expor os traços específicos da Shoah. É preciso ler o livro para descobri-los...





Pela sua vinculação com um projeto de reforma total da sociedade e pela racionalidade exigida em sua execução (o aparato tecnológico e logístico mobilizado), o Holocausto tem sido pensado como um evento que expôs o lado autoritário dos projetos utópicos dos pensadores modernos. O senhor concorda que o Holocausto mostra a permanência da barbárie no cerne dos ideais iluministas?

SEMELIN: Não penso que seja no ideal das Luzes que se localizem as raízes das mortes em massa. Por outro lado, a maneira como esse ideal foi interpretado por alguns autores e atores contribuiu para por em marcha utopias homicidas: ideal nacionalista que conduz à exclusão e mesmo à destruição daqueles declarados estrangeiros na comunidade nacional; ideal científico fundado sobre a raça ou a classe que se concretizou nos horrores do nazismo e do comunismo, sem esquecer os do colonialismo.
Em todos esses casos, há efetivamente uma racionalidade do Estado de matar com base em critérios supostamente científicos (que no caso dos nazistas incluía as moléstias mentais).

Mas essa racionalidade é ao mesmo tempo insana, como escreveu Primo Levi ao descrever o funcionamento de Auschwitz. É por isso que proponho a noção de uma racionalidade delirante do assassinato em massa. Não obstante, os filósofos das Luzes estavam bem enganados sobre o poder da cultura de libertar o homem da barbárie.

Nós sabemos hoje que a cultura não possui ela mesma uma tal virtude.

Bem ao contrário, a cultura pode dar ao homem os meios de ser mais inteligente no exercício da violência, se não da crueldade. Como observa um sobrevivente do genocídio em Ruanda: a instrução “não torna o homem melhor, e sim mais eficaz. O homem instruído, se seu coração é mal concebido, se ele transborda de ódio, será ainda mais malfeitor”. Não entendo, portanto, todos que continuam a se impressionar que a barbárie tenha irrompido numa nação europeia cultivada como a Alemanha. A cultura não é em si mesma uma defesa contra a barbárie. Ela dá, ao contrário, armas àquele que deseja justificar racionalmente suas emoções e suas paixões.





O senhor diria que a noção de pureza é a principal motivadora dos assassinatos em massa?

SEMELIN: A noção de pureza é realmente central nos assassinatos em massa. Ela participa da construção de um imaginário da destruição social que descrevo no meu livro. Essa exigência de pureza provém do religioso.
Muitas vezes se massacrou em nome da pureza, para se livrar de um inimigo percebido como “impuro”, encarnação do mal e do diabo. Com frequência os homens justificam seus crimes invocando o nome de Deus.
Eles se convencem ou querem fazer crer que são o braço armado da vontade divina. O ato de massacre é percebido como um ato de purificação: mata-se para purificar e se purificar.

No entanto, essa retórica da pureza não tem origem apenas religiosa. Ela se apoia ainda sobre o tema da saúde: erradicar a peste, como disse um papa no século XIII, para se livrar dos hereges, ou eliminar os insetos nocivos, como disse Lenin sobre seus inimigos políticos. Os nazistas queriam purificar a raça. Essa retórica purificadora no entanto não é o bastante para lançar os homens no assassinato em massa. Para isso é preciso que ela seja associada a outro tema fundamental: o da segurança. O grupo se sente em perigo, temendo que outro grupo planeje destruí-lo. Tudo se passa como se se tratasse então de um dilema imperativo: são eles OU nós! Conclusão: já que eles têm a intenção de nos matar, devemos matá-los primeiro. Aquele que se apressa em tornar-se assassino se apresenta como a vítima.





Desde seus primeiros escritos o senhor tem se dedicado ao estudo da violência e da não violência. O que o levou a esses assuntos?

SEMELIN: Comecei minha vida intelectual pelo estudo da não violência e tenho um pequeno livro sobre esse assunto traduzido em português (“A não violência explicada às minhas filhas”, Via Lettera, 2001). Se passei do estudo da não violência ao do genocídio, foi por pura coerência intelectual: não se pode falar com propriedade do combate não violento se não se estuda em profundidade a violência dos homens em suas dimensões mais horríveis, como o genocídio. Para tratar desses dois assuntos aparentemente opostos, segui o mesmo método: estudar não os heróis, os grandes homens, mas as pessoas simples. Nos dois casos, me coloco a mesma questão: como indivíduos ordinários podem resistir de mãos nuas diante de poderes muito violentos? E como indivíduos ordinários podem cometer crimes extraordinários, como um genocídio? Nesse plano, um livro me influenciou muito: “Ordinary men” (“Homens comuns”), do historiador americano Christopher Browning, que mostra como policiais alemães (velhos para irem à guerra em 1941) vão participar, sem serem nazistas convictos, do massacre de dezenas de milhares de judeus poloneses.





Em seu livro mais recente, o senhor fala de sua cegueira e dos desafios que ela lhe impôs. Suas limitações de visão de algum modo influenciaram seu modo de conceber a sociedade?

SEMELIN: Certamente. Se comecei a estudar a resistência não-violenta como forma de resistência moral foi provavelmente porque minha vida tem sido desde minha adolescência uma maneira de resistir à perda progressiva de minha visão, de resistir de qualquer maneira à ditadura das imagens! Para enfrentar tal limitação, apenas a instrução e a educação oferecem uma saída. Esse livro autobiográfico conta duas histórias imbricadas: a do declínio de minha visão, por um lado, e outra paralela, de minha construção intelectual como pesquisador, professor e escritor. Minha cegueira progressiva me aproximou de todos que vivem alguma forma de dificuldade ou injustiça.

Todos meus trabalhos falam disso.

Mas eu não quero por isso dramatizar meu caso. Há situações muito piores do que a minha. Penso com frequência no grande Jorge Luis Borges que escreveu que não deixou a cegueira abatê-lo. Tento modestamente seguir esse caminho. Com a ajuda de meus próximos eu leio, viajo, escrevo etc., e tenho a sensação de viver uma vida (quase) normal enquanto intelectual.

O mais importante para mim não é suscitar compaixão, mas ser lido e julgado por meu trabalho.

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Yom Hashoa - Resistência / Haim Guri

Resistência / Haim Guri

Resistiu quem conseguiu um pedaço de pão.
Resistiu quem deu aula às ocultas.
Resistiu quem escreveu e distribuiu um jornal clandestino,
advertindo e pondo fim às ilusões.
Resistiu quem introduziu secretamente um Sefer Torá.
Resisitiu quem falsificou documentos “arianos” que salvaram vidas.
Resistiu quem conduziu os perseguidos de uma terra a outra.
Resisitiu quem descreveu os acontecimentos e enterrou o papel.
Resistiu quem ajudou aos mais necessitados ainda.
Resistiu quem pronunciou as palavras que trouxeram seu próprio fim.
Resistiu quem se ergueu com mãos nuas contra seus assassinos.
Resistiu quem transmitiu mensagens entre os sitiados,
e conseguiu trazer instruções e algumas armas.
Resistiu quem sobreviveu.
Resistiu quem combateu armado nas ruas das cidades, nas montanhas e florestas.
Resistiu quem se revoltou nos campos de extermínio.
Resistiu quem se rebelou nos guetos, entre os muros caídos,
na revolta mais destituída de esperança que algum ser humano jamais vivenciou.
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Yom Hashoa - Yizkor Abba Kovner

Yizkor
Abba Kovner


Recordemos de nossos irmãos e irmãs, as casas na cidade e nos campos,
As barulhentas ruas da aldeia como um rio
E o pequeno bar solitario no caminho
O anciao pelos tracos de sua face
A mae pelo seu sueter
A jovem por suas tranças
O bebê
As milhares comunidades de Israel e suas familas humanas
Todas as coletividades judias
Que sucumbiram no extermínio nas mãos do assassino nazista.
Aquele que berrou de repente e por seu berro morreu.
A mulher que abracou seu bebê perto de seu coracao e seus ombros despencaram.
O bebê cujos dedos procuram o mamilo da mãe e este esta azul de frio.
As pernas
As pernas que pediram refugio e ja nao havia mais saida.
Aqueles que fecharam suas mãos em punhos
E os punhos que envolveram o ferro
E o ferro que se transformou em uma arma de esperança, desespero e rebelião
Aqueles de coração generoso
Aqueles de olhos perspicases
Aqueles que se arrojaram sem possibilades de salvar.
Recordemos o dia.
O meio dia.
O sol que ascendeu sobre o foco sanguento
O ceu alto e mudo
Recordemos os montes de cinzas sob os jardins floridos.
Recorde os vivos seus mortos
Porque eles nos enfrentam
Com seus olhares alredor
E não vai cessar, não cessará até que sejamos dignos de sua memória

Do hebraico – Nelson Rosembaum
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Purim e o anti-semitismo - MORASHA - REVISTA

NOSSAS FESTAS Purim e o anti-semitismo MORASHA - REVISTA A festa de Purim, uma das mais alegres do calendário judaico, é o "Dia d" para os judeus, pois comemora a vitória de nosso povo contra a ameaça de genocídio. A festividade celebra a eternidade do povo judeu e seu triunfo sobre as forças perniciosas que desejavam extirpá-lo da face da Terra. O ódio ao povo judeu - judeofobia - eufemisticamente cunhado de anti-semitismo - pode mudar em sua forma, mas permanece o mesmo em sua essência. Muitas vezes, ao longo da história, esse ódio se expressou como animosidade, inveja e rejeição; em outras, assumiu uma forma mais brutal e violenta. Historiadores, sociólogos, teólogos, psicólogos e filósofos oferecem teorias diferentes e, em geral, contraditórias para explicar as razões para a existência do anti-semitismo. Mas é a Meguilat Esther, o Pergaminho de Esther - que é lido nesta festa e que constitui um dos 24 livros da Torá Escrita - que esclarece de certa forma esta questão. No dia 28 de fevereiro de 2010, os judeus do mundo inteiro festejarão Purim, festa que comemora não apenas um evento ocorrido há milhares de anos, mas documenta a própria essência do anti-semitismo. Pode-se argumentar que o anti-semitismo se iniciou no antigo Egito, quando o Faraó e seu povo escravizaram e aterrorizaram os judeus. Mas seus motivos eram basicamente políticos e econômicos. Portanto, é mais correto dizer-se que o primeiro evento genuinamente anti-semita na história mundial ocorreu quando o povo de Amalek - aliás, os antepassados de Haman, o arqui-vilão na história de Purim - atacou o Povo Judeu depois que eles deixaram o Egito. O mais chocante sobre o ataque de Amalek é que foi gratuito: eles não estavam defendendo-se nem tampouco à sua terra contra os judeus que haviam deixado o Egito. Qual a razão para o ataque de Amalek? A Torá não nos diz; ao menos, não explicitamente. Com certeza, quando os judeus perambulavam pelo deserto, assim como quando viviam em sua terra, a Terra de Israel, eles tinham inimigos. O Antigo Israel lutou muitas guerras: em algumas se saiu bem; em outras, nem tanto; mas seus inimigos não eram de natureza anti-semita. Os conflitos no Antigo Israel eram guerras nacionais, travadas por motivos geopolíticos ou econômicos. Por outro lado, o anti-semitismo expresso por Haman na história de Purim não tinha nenhuma razão concreta que o justificasse. Sua razão para exterminar os judeus era uma mera racionalização de um sentimento pré-existente. Em outras palavras, seu ódio aos judeus era anterior ao argumento que usou para convencer o rei da Pérsia a aniquilar os judeus que viviam em seu vasto território. De fato, não fazia sentido algum o ódio que Haman nutria pelos judeus. De concreto havia o insulto que lhe fizera o líder dos judeus, Mordechai, ao se recusar a lhe fazer reverência. Dá para entender que ele se ressentisse com aquela recusa; talvez até nutrisse certo ódio por Mordechai por aquilo que considerava uma afronta pessoal. Mas seria aquele ato isolado razão para acertar contas com a nação inteira a que ele pertencia? Falando claramente, seu ódio pelos judeus precedia a causa alegada. Ninguém resolve exterminar todo um povo por se sentir injuriado por um de seus integrantes. O argumento que Haman usou para justificar sua alegação de que os judeus seriam indesejáveis era usado pelos anti-semitas através das gerações. Era algo assim: "os judeus são uma nação que não se assimila; eles insistem em ser diferentes dos demais; portanto, não são confiáveis e não merecem confiança. E qual é a solução que ele prega para o problema judeu? "A Solução Final": a aniquilação de todos os judeus, sejam eles homens, mulheres ou crianças". Sem dúvida, o argumento de Haman não é convincente, a tal ponto que o Rei Achashverosh não se deixa arrastar por seu ódio cruel; na verdade, primeiro o rei da Pérsia ordena um decreto de genocídio contra os judeus; mas, posteriormente lhes concede o direito de defesa; homenageia seu líder, Mordechai, e até o nomeia seu Ministro Chefe. Tivesse o Rei aceito o argumento de Haman, ele não teria mudado de idéia, por mais enamorado que estivesse de Esther. Parece, pois, que Achashverosh via os judeus como um povo como qualquer outro dos que habitavam seu grande e diversificado império. Ele nunca os odiou, de fato, mas tampouco os amava. Assim como Haman é o arquétipo do anti-semita, o Rei é o arquétipo da pessoa neutra. O primeiro trazia o mal dentro de si; o segundo, o permitia, ou, no mínimo, o ignorava. Haman e Achashverosh Por que Haman odiava os judeus? Não foi pelo fato de estar ressentido com Mordechai, assim como não foi porque, como Primeiro Ministro, temesse que um dia os judeus se revoltassem contra seu reino. Os judeus exilados na Pérsia eram, de fato, um povo introvertido, que se dedicava à oração e ao estudo, que ansiava pelo retorno à Terra de Israel e sonhava com a reconstrução do Segundo Templo - o que ocorreu pouco depois da história de Purim. Por que, então, Haman quis destruir um povo inteiro? A resposta é simples: desde que o mal foi introduzido neste mundo, as forças da luz e da escuridão se digladiam pela supremacia. Em tudo o que se escreveu sobre o conflito entre o bem e o mal, o vilão sempre é obcecado pelo herói. Aliás, não custa lembrar que, na 2a Guerra Mundial, Hitler estava mais obcecado em exterminar os judeus do que em ganhar a guerra. Amalek, ancestral de Haman, não revelou a razão de seu ataque aos Filhos de Israel. Este último foi um pouco mais explícito, ainda que tenha dado uma desculpa esfarrapada. Mas foi seu descendente espiritual mais conhecido quem revelou por que ele próprio e seus antepassados tanto detestavam os judeus: Hitler proclamou que entraria em guerra contra os judeus porque queria lutar contra "D'us e Seus mandamentos que 'negavam a vida'". Afirmou, também, que "a batalha pelo domínio mundial será travada entre nós e os judeus. Todo o resto é ilusão e fachada". Como à época os judeus não constituíam ameaça militar nem política para a Alemanha nazista e como a maioria dos judeus mortos no Holocausto eram judeus religiosos e empobrecidos que viviam na Polônia e na Rússia, Hitler não se estava referindo a uma guerra política, militar ou mesmo econômica. Ele se referia ao conflito mais básico de todos: o conflito entre o bem e o mal, entre a luz e a escuridão. O maior vilão da história do mundo estava no encalço do herói - o povo escolhido por D'us para trazer luz, moralidade e redenção ao mundo. Os Hamans do mundo detestam os judeus, pois para atingir seus objetivos eles primeiro precisam vencer o herói da história; tendo conseguido isto, o restante é decorrência. A Alemanha nazista, que enaltecia e praticava o mal, pretendia conquistar o mundo. Para instituir a lei da selva - glorificar a morte, a depravação e a tortura, o racismo e a injustiça, a perseguição e a aniquilação dos mais fracos - os nazistas primeiro teriam que obliterar o povo que introduziu o monoteísmo e as Leis Divinas, com o fim de ensinar e levar os homens a praticar a justiça, a reverenciar a vida e a proteger e ajudar os fracos e os desesperançados. A História é testemunha de que seus maiores vilões primeiro atiraram no povo judeu para depois atacar o restante da humanidade. Homens como Haman são uma ameaça não somente para os judeus, mas para todo o gênero humano. Contudo, para que um Haman execute seus planos malignos, é necessário haver um Achashverosh. Na história de Purim, o Rei é também um personagem um tanto assustador, em virtude da facilidade e falta de consciência com que aceita os planos de seu malvado ministro. Concorda com a "Solução Final" deste último para o Povo Judeu sem requerer muita argumentação. Ele, que tinha um império e não necessitava de mais posses, aceita um presente substancial de Haman e, em troca, concede-lhe permissão de realizar seu desejo, emitindo o decreto genocida contra o Povo Judeu. Mais tarde, o rei da Pérsia, por amor a Esther, muda de idéia. Mas é sua neutralidade imparcial o que dá espaço para que o anti-semitismo exista e se desenvolva em seu reino. Hoje em dia, poucos países são monarquias, mas Achashverosh é personificado por todo ser humano leniente ou indiferente diante do mal, do racismo ou do preconceito, bem como da perseguição a seus semelhantes. Haman é um personagem muito mais maldoso do que o Rei, mas os Hamans do mundo - e eles são muitos - não conseguem implementar seus planos sem o apoio dos Achashveroshes. Por vezes, esse apoio provém de um governante, mas em geral vem do próprio povo. A História nos ensina, como o fez especialmente no Holocausto, que o espectador neutro pode ser tão prejudicial quanto o anti-semita declarado. Seis milhões de judeus foram exterminados porque o Haman daquela geração e seus carrascos realizaram o "serviço", mas também porque milhões de Achashveroshes foram lenientes - ou, no mínimo, fizeram vista grossa ao que estava ocorrendo à sua volta. A resposta judaica à história de Purim foi registrar o acontecido e ordenar que a Meguilat Esther fosse lida publicamente, ano após ano, para que os eventos do passado jamais fossem esquecidos. O passado deve servir como advertência para o futuro, não apenas para o Povo Judeu, mas para todos os povos de boa vontade. Portanto, devemos ficar atentos à leitura do Pergaminho de Esther, ainda que a realidade do passado pareça ter mudado. Entre nós, judeus, celebramos Purim obedecendo aos mandamentos Divinos: lemos a Meguilá, fazemos donativos aos necessitados, enviamos alimentos de presente aos amigos e, na companhia de outros judeus, celebramos a data. O cumprimento desses mandamentos cria vínculos entre os judeus e entre nosso povo e D'us. Os mandamentos de Purim, além de cumprir a Vontade do Rei do Universo, fazem-nos lembrar de que apesar de haver muitos Hamans e Achashveroshes no mundo, desde que nós, judeus, estejamos próximos a D'us e estejamos unidos, conseguiremos triunfar sobre a escuridão, trazendo luz e esperança não apenas para nosso povo, mas para toda a humanidade. Que assim seja, Ken iehi ratzón.
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