Política externa de Israel é autodestrutiva
por Moisés Storch, publicado no Terra Magazine
O pedido de adesão dos palestinos à ONU é mais que legítimo. Já em 1947, a ONU sancionou a partilha da Palestina entre um Estado Judeu e um Estado Árabe. A mesma resolução internacional que legitimou a criação do Estado de Israel, legitima igualmente a construção de um Estado Palestino.
À época daquela decisão da ONU, palestinos e países árabes, em bloco, recusaram a partilha. Por muito tempo pregaram o boicote e a destruição de Israel. Em meados dos anos 70, esta rejeição começou a se dissolver, o que levou à assinatura de acordos de paz de Israel com Egito e Jordânia. O reconhecimento mútuo da OLP e Israel, em 1993, criou condições para uma partilha negociada e a coexistência de dois Estados - Israel e Palestina.
A Liga Árabe aprovou uma proposta, em março de 2002, onde todos seus membros estabeleceriam relações pacíficas com o país, sob a condição de Israel recuar de todos os territórios ocupados em 1967. Jerusalém Oriental seria a capital do Estado Palestino e o problema dos refugiados palestinos teria uma solução acordada com Israel conforme a Resolução 194 da ONU (a redação deste aspecto é um tanto dúbia, mas poderia ser esclarecida logo no início das eventuais conversações).
O governo Sharon simplesmente ignorou a proposta (que vige até hoje), assim como a Iniciativa de Genebra (www.pazagora.org/genebra), onde personalidades israelenses e palestinas chegaram a um acordo não-oficial que oferecia soluções de compromisso para cada tema crítico do conflito.
O atual presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, antes de suceder Yasser Arafat, já condenava publicamente os ataques terroristas palestinos (posição rara àquele tempo). A principal plataforma na sua eleição, que sempre honrou, é a busca da solução de dois Estados, mediante negociações com Israel. Vários de seus ministros participaram ativamente da Iniciativa de Genebra.
Abbas, certamente, é o melhor interlocutor potencial para se chegar a um acordo de paz. Mas praticamente não encontrou eco nas autoridades israelenses. E jamais houve governo tão averso ao diálogo quanto o atual.
Hoje, com a longa estagnação do processo de paz, o pedido de admissão na ONU é uma cartada arriscada, mas talvez não haja outra forma de assegurar a calma na Cisjordânia, face ao contínuo avanço dos assentamentos judeus sobre terras palestinas.
O clima crescente de frustração dos palestinos, que apostaram na promessa de Abbas construir um Estado, pode hoje resultar numa "primavera" árabe-palestina que ameace o governo da Fatah (partido de Abbas) e fortaleça o Hamas e outros grupos extremistas que pregam a destruição de Israel. Se Abbas cair, é muito grande a probabilidade de uma nova Intifada.
A ida à ONU talvez seja o último recurso pacífico, neste momento, para o reinício das negociações e a construção efetiva do Estado árabe-palestino, dada a obstinação do governo Netanyahu em boicotar o processo de paz e prosseguir na política suicida de ocupação da Cisjordânia.
É vital que Israel adote atitudes imediatas e decisivas para catalizar positivamente este momento delicado e histórico. Caso não haja o atendimento mínimo dos legítimos anseios do povo palestino, a violência explodirá.
A política externa de Israel, conduzida pelo ultra-direitista Avigdor Lieberman, tem sido absurdamente autodestrutiva. Israel, cada vez mais isolado acaba de perder seus principais aliados no Oriente Médio, Egito e Turquia. Se as relações exteriores do país continuarem seguindo este modelo, a perspectiva será desastrosa.
As centenas de milhares de israelenses, que têm ido às ruas protestar contra o governo Netanyahu/Lieberman, começam a correlacionar seu empobrecimento com os enormes investimentos de dinheiro público canalizados para os assentamentos na Cisjordânia ocupada.
A ocupação está destruindo Israel e o processo de paz.