Ecos da cultura judaico-ibérica por HÉLIO DANIEL CORDEIRO Postado por Jayme Fucs Bar em 22 de Agosto de 2011 às 3:32am A Diáspora sefardita nos últimos cinco séculos tem criado em várias partes do mundo uma cultura diversificada e muito fértil, universal e ao mesmo tempo ligada com fio de ouro à Ibéria. O italiano Leone Ebreo (Iehuda Abravanel), o holandês Baruch Spinoza, o português Fernando Pessoa, o argentino Jorge Luis Borges, o búlgaro Elias Canetti, o inglês peter Sellers, o israelense Yoram Gaon e o francês Edgar Morin são alguns desses nomes onde suas criações intelectuais ecoam algo de Sefarad. O ano de 1492 é divisor de águas na história em geral e na judaica, em particular. A chegada de Colombo às Américas "coincide" com a expulsão dos judeus da Espanha. A polêmica começa na proximidade entre estes dois fatos muito relevantes em datas muito juntas. A discussão esquenta com a revelação contida no livro do historiador Augusto Mascarenhas Barreto, O Português Cristóvão Colombo, Agente Secreto do Rei Dom João II, em que após 15 anos de pesquisa, afirma que o descobridor não era nem italiano, nem espanhol, mas português e judeu, chamado na verdade Fernandes Zarco. Decifrando a misteriosa assinatura críptica de 27 sinais com que Colombo sempre escreveu seu nome, Barreto acredita ter desvendado a cabala judaica do nome e da identidade do navegador. Para isso, o pesquisador utilizou o método da leitura espelhada, na qual o ponto e a vírgula pode significar, em espanhol antigo, Colon, e em hebraico, Zarco. Cabala à parte, é sabido que a nata dos astrônomos ibéricos da época dos descobrimentos era de judeus, como Abrão Zacuto, autor de livros científicos e teológicos, entre eles o Linho das Linhagens, Compilação Magna e Tratado das Influências dos Céus. Outros judeus (já então conhecidos por cristãos-novos) não tão ilustres embarcaram com Colombo para as Américas, o que também aconteceria com Cabral. Chegados ao Novo Mundo e menos perseguidos pela Inquisição, os cristãos-novos deram impulso à vida na nova terra. Atuando no comércio ultra-marítimo, usavam seus laços de parentesco em várias partes do mundo para o dinamismo de seus negócios. No Brasil recém nascido, logo destacou-se Ambrósio Fernandes Brandão, autor do clássico Diálogo das Grandezas do Brasil. Alguns anos depois, ainda no século XVI, outro personagem na Nação hebraica ganha relevo, o poeta Bento Teixeira. Na primeira metade do século XVII, durante o domínio holandês no Nordeste, uma fértil comunidade judaica se desenvolveu entre os calvinistas batavos. Os judeus que aí viviam eram principalmente de origem portuguesa, como o primeiro rabino das Américas, Isaac Aboab da Fonseca, que atuou em Recife. Seguindo ainda a trilha cultural, o Brasil produziu o dramaturgo Antônio José da Silva, condenado por prática do judaísmo e queimado pela Inquisição portuguesa. Mais recentemente, outros nomes expressivos da cultura brasileira que descendem daqueles cristãos-novos são o pedagogo Anísio Teixeira, o cineasta Glauber Rocha, a cantora Elis Regina e o compositor Alceu Valença. Após a expulsão dos judeus da Espanha, os sefarditas (sefaradim, em hebraico) em grande parte vão se estabelecer em Portugal e em países não-católicos, como a Turquia maometana e a Holanda protestante. Na Turquia, como em outras regiões dos Balcãs (Grécia, Bulgária e Bósnia), até a II Guerra Mundial fervilhavam com importantes comunidades sefarditas que falavam o ladino (língua baseada no espanhol e no português. Sílvio Santos (aliás, Senor Abravanel), conhecido de todos os brasileiros, descende desses judeus. Da Turquia saiu no século XVII um cabalista que reuniu ao seu redor uma legião de simpatizantes que o aclamaram como messias. Seu nome: Sabetai Tzvi. No século XX o escritor búlgaro Elias Canetti foi o grande representante judeu nos Balcãs. Prêmio Nobel em 1981, Canetti é autor de ensaios e romances escritos originalmente em alemão, dentre eles Auto-de-Fé, Massa e Poder e uma detalhada autobiografia. Um capítulo especial merece a presença judaica na Holanda. Com o crescimento da Inquisição em Portugal, muitos judeus e marranos (indivíduos de origem israelita que pelas circunstâncias adversas apresentavam-se como cristãos publicamente e, no íntimo, cultivavam o judaísmo), formou-se em Amsterdã uma grande comunidade de judeus ibéricos. Em Amsterdã viveram rabinos proeminentes como Aboab da Fonseca, Menasseh Ben Israel e Saul Levi Morteira. Filósofos como Juan de Prado, Uriel da Costa e Baruch Spinoza, os três excomungados pela ortodoxia judaica, por motivos mais políticos de que religiosos. Rembrandt celebrará em seus quadros a vida dos judeus na Holanda. Ecos da cultura judaico-ibérica continuarão a ser ouvidos em várias partes do mundo durante esses últimos 500 anos. Seja com a filosofia de Isaac Abravanel ou os Diálogos de Amor de Leone Ebreo na Renascença. Montaigne, Miguel de Cervantes, os poetas Fernando Pessoa e Mário Sá-Carneiro (Portugal), Rafael Cansino-Asséns (Espanha) e Jorge Luis Borges (Argentina), o psiquiatra Jacob Levy Moreno (Romênia), o ator Peter Sellers (Inglaterra), o sociólogo Edgar Morin (França), o cantor Yoram Gaon (Israel)...Copyright © Revista JUDAICA. Todos os direitos reservados. Saiba mais…
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