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ROSH HASHANÁ

Apesar do tempo, que é cruel e não descansa; da distância que é enorme e sempre aumenta; e da incomunicação, que é patente como o silêncio mais gritante, sobra intato o vínculo intangível dos laços emocionais que viajam pelo espaço como o eco, encurtando as distâncias em vôo rasante, já que uma afinidade indestrutível impede que as circunstâncias cortem e devorem o cordão umbilical eletrônico que nos mantém vivos dentro deste imenso útero cibernético.

Ainda que não sejamos muito amigos das datas históricas nem dos festejos pátrios ou comemorações religiosas, podemos constatar que esses referentes muitas vezes servem para reunir as famílias fraturadas pelo passo inexorável do tempo; para reatar laços de amizade desamarrados pelas mãos inclementes da distância; para juntar os cacos do que alguma vez fora um todo harmônico; para o reencontro de emoções perdidas; para aproximar amigos afastados, tios zangados, pais esquecidos, filhos rebeldes, irmãos incomunicados, que não por essas circunstâncias são menos queridos; ou para reviver lembranças dos que já não estão conosco, que não por pertencerem ao passado estão menos presentes.

Ainda que neste mundo cada vez mais virtualizado e globalizado e desumanizado pouco ou nada nos conheçamos, e nos faltem as palavras adequadas para dignificar e traduzir com exatidão os nossos sinceros desejos de felicidade, não devemos deixar passar esta oportunidade de reincidir, e abusando dos chips, dos megabites, de seus robustos filhos os kilobites, e de seus netinhos os pequenos bites, redigir umas poucas linhas tortas como estas, através das quais transmitir os nossos votos profundos e sinceros de que o novo ano que agora toca a campainha da porta da nossa vida traga tranqüilidade e paz interior para todos.

Rosh Hashaná, para os judeus crentes ou menos, para os judeus ateus ou mais, é uma data cuja simbologia contém uma enorme carga de significados, e é de se esperar e desejar que eles sirvam para que cada um de nós possa encontrar as respostas que nos ajudem a crescer sempre, a melhorar mais, a conviver melhor, e a colher os frutos de nossa lavoura


É hora de terminar esta mensagem...

...olhando pela janela o agonizar de muitas coisas: das horas que morrem, do dia que sucumbe, do ano que murcha, e respeitando a simetria da vida - na mesma janela e com os mesmos olhos - contemplando o desabrochar de tantas outras: das horas que nascem, do dia que emerge, do novo ano que assume o poder, e da esperança que ressuscita; sim, essa esperança insistente e persistente que não se rende, apesar de ter motivos de sobra para não desejar continuar vivendo.


Feliz ano novo! Shaná tová umetuká!

Bruno Kampel, Suécia

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Judaismo humanista?... Será isto?...

1.- Nos dias que antecedem a qualquer data festiva do calendário judaico - principalmente Rosh Hashaná (Ano Novo), quando se preparar para o evento e sair para comprar uma camisa de seda que combine com a calça comprada em New York na DKNY ou um sapato italiano ou uma bolsa de Gucci ou um corte de linho irlandês para as camisas ou uma jóia de Cartier ou um cruzeiro pelos fiordos da Noruega ou a moto para o filho ou o carro para a filhoca ou finalmente o chalê em Chamonix ou coisa parecida, lembre que nesses dias nascidos para festejar com alegria, na cidade em que você reside há muitos judeus vivendo em estado de extrema necessidade, e que mesmo querendo não podem comprar a roupa básica ou os livros escolares do filho ou os sapatos da filhoca ou os remédios para a artrite ou pagar o aluguel ou arranjar emprego ou coisa parecida.

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2.- Quando decidir o que fazer com o dinheirinho que sobrou ou com o lucro inesperado da venda de ações ou com os alugueres recebidos dos apartamentinhos de temporada ou com o dinheiro extra apurado na venda dos saldos da loja ou com os juros recebidos dos depósitos que tem nos Bancos de Miami ou Bahamas, de Cayman ou Montevidéu, pense que há muitos judeus - certamente algum que você conhece - que perderam o emprego ou que ficaram sem casa ou que estão ameaçados de despejo, e que muitos pararam de pagar o seguro de saúde e que não todos podem mandar os filhos ao dentista ou que por causa de tudo isso e de mais ainda estão pensando em acabar com a própria vida ou coisa parecida.

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3.- Quando descobrir que ainda que seja um gesto solidário ele é insuficiente, pois não basta com mandar um quilo de feijão ou dois pacotes de arroz ou tres quilos de matzá ou alguma roupa de criança velha e rasgada a alguma instituição de caridade ou uns trocados na caixinha da sua sinagoga - esmola que representa um milionésimo daquilo que poderia dar sem atrapalhar as finanças próprias - ou quando entender que doando dinheiro para que algum líder político financie a sua nababesca campanha eleitoral às suas custas, ou para que algum líder comunitário viaje como um nababo a Israel ou até a Cuba com o falso pretexto de visitar aos “coitados” judeus de lá às custas dos dinheiros que poderiam ser usados em benefício dos necessitados de cá, ou para que outros construam mais um andar na casa de fim de semana, não ajuda aos judeus carentes, mas pelo contrário, soma riqueza à riqueza dos ricos, então poderá desfrutar de uma festa realmente feliz. Caso contrário fará como a maioria, usando e abusando do egoismo para usufruir sem partilhar, para aproveitar sem dividir, para olhar para o outro lado, o que, convenhamos, é a marca registrada do gênero humano, ainda que eu espere e deseje que vocês sejam a exceção que confirma a regra.

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4.- Chega de esmolas e de chás de beneficiência. Basta de sentar nas coberturas e de lá remendar a vida daqueles aos que a vida não lhes sorriu. É hora de parar de jogar no lixo as sobras da opulência própria e investir um pouquinho de nós na construção da infra-estrutura da solidariedade, porque com uma lata de goiabada ou um pacote de feijão ou um litro de óleo ou coisa parecida você poderá pensar que cumpriu com a sua parte, mas eu lhe digo que não, porque o feijão e o óleo e a goiabada ou a matzá são a minúscula peneira com que se quer cobrir o sol. Todos podemos fazer muito mais.

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5.- A felicidade própria não pode fechar os olhos à infelicidade alheia. Vamos abri-los e também os bolsos. Qualquer instituição séria dará prazeirosamente o endereço de alguma família judia que está esperando há muito tempo a sua visita com uma oferta de emprego que lhes devolva a dignidade, com uma proposta de ajuda na educação dos filhos, com um empurrão que lhes proporcione a chance de escapar às garras da miséria.

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Vamos lá, gente. Chega de fingir que ajudamos. É hora de mostrar que o fazemos. Vocês nem imaginam a felicidade que produz constatar os resultados de nossas ações. É só ver para crer.

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Bruno Kampel

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