Meus Gloriosos Heróis - Meus Gloriosos Heróis

Meus Gloriosos Heróis por Sheila Sacks

Se a década de 1940 marcou a história do século 20 pela barbárie da Shoá, por sua vez também iluminou o mundo com personagens especiais, genuínos heróis de todas as épocas. Dois deles, Mordechai Anilevitch e Howard Fast merecem ser lembrados nesse dezembro de 2009, quando mais uma vez celebramos a fé, a coragem e a liberdade na festa das Luzes. Líder da revolta do Gueto de Varsóvia, o jovem polonês Anilevitch tinha apenas 24 anos quando foi dizimado pela máquina nazista, em 1943. Já a salvo na Romênia, retornou à Polônia para organizar a resistência e mostrar ao mundo uma face judaica milenar, ancorada nos feitos e atos de nossos patriarcas e profetas. Membro do movimento sionista socialista Hashomer Hatzair, sua história de vida tem inspirando, ao longo do tempo, gerações de jovens judeus a trilharem o caminho do idealismo, do amor à liberdade e de respeito e defesa aos valores tradicionais de nosso povo. Também o escritor Howard Fast (1914-2003) era um jovem de 34 anos quando escreveu a versão literária sobre a luta e a resistência tenaz do sacerdote Matatias e de seus cinco filhos, tendo à frente Judá, o macabeu, diante da ordem arbitrária de um poder central que impunha o culto, as leis e os costumes gregos na terra de Israel. Um épico sobre a saga dos irmãos guerrilheiros de Modiin, belíssimo enredo de audácia e persistência vivido há mais de 2 mil anos - algo em torno de 165 antes da era comum – por uma geração aquinhoada com as bênçãos da fé, da firmeza e da devoção. Um hino à liberdade e à coragem A obra Meus Gloriosos Irmãos foi publicada em 1948 e tem a mesma idade do estado de Israel. É um hino à liberdade e à coragem, tendo marcado a adolescência de milhares de jovens judeus em todo o mundo. Era uma época particularmente difícil para os judeus, pós-holocausto e de implantação de uma nação. O livro de Fast foi um talismã dos mais importantes para muitos jovens que, militando em movimentos sionistas, deixaram o aconchego de seus lares e ignorando os apelos de pais preocupados se engajaram na luta pela terra prometida. A determinação, a perseverança e a crença inabalável dos hashmoneus em seus objetivos encontravam semelhança e afinidade no heroísmo dos jovens da Haganá, durante aqueles anos difíceis. O escritor trouxe o bandeira de Judá para bem perto destes jovens audazes e sonhadores que liam e reliam aquelas páginas estimulantes, com o olhar e o coração em Sion. Apesar do seu passado de militante comunista (foi preso em 1950) Fast sempre exaltou as suas raízes judaicas. Autor de mais de 80 livros traduzidos em 82 idiomas (dos quais 20 se transformaram em filmes ou seriados de TV – o mais conhecido é Spartacus, de 1960), ele considerava o movimento dos kibutzim a mais importante experiência socialista do século. Em carta ao jornalista e escritor anglo-israelense Daniel Gravon, ele conta que quando era jovem sonhava em atravessar a pé a Galiléia e ir até o sul de Israel. Isto nunca aconteceu, mas em 1944, durante a 2ª Guerra Mundial, o escritor teve a oportunidade de ver, pela primeira vez, a cidade de Jerusalém e outras áreas de Israel. Ele estava a bordo de um avião militar, cujo destino era o Líbano. “Eu pedi ao piloto para que voasse em baixa altitude, e ele, de bom grado, atendeu ao meu pedido”, lembra Fast. “Nós passamos por Jerusalém e seguimos para o norte. Eu observava Israel , as áreas desertas e devastadas com alguns raros borrões verdes de um kibutz, ali e acolá. Trinta e cinco anos depois, quando retornei, a mudança era enorme.” Mensagem permanece atual Dois anos antes de falecer, Fast manifestou a sua tristeza por não ter condições físicas para mais uma vez visitar Israel. “Eu gostaria de retornar, mas receio que isso seja só mais um sonho. Afinal, faço 87 anos no próximo mês de novembro. Eu caminho devagar e me canso facilmente”. Corria o ano de 2001 e Fast também revelou a sua preocupação com o destino de nossa civilização, depois do ataque de 11 de setembro “Vivemos em um mundo que está ficando insano e percebo que as pessoas estão evitando viajar. Eu sinto que nunca mais verei Israel e isso, para mim, é um pensamento doloroso.” É interessante notar que passados mais de 60 anos da publicação de Meus Gloriosos Irmãos, o livro continua a constar na bibliografia recomendada aos madrichim para ser utilizada nas atividades com crianças e jovens, durante o período de Chanucá. Apesar do contexto sócio-cultural ter sofrido mudanças radicais e a juventude atual em nada ser semelhante àquela dos anos 40 e 50 – onde não existiam a globalização e a tecnologia avançada dos meios eletrônicos - o conteúdo da obra de Fast permanece irretocável em seu sentido mais profundo: o de transmitir valores como o heroísmo e a bravura que não se acovardam mesmo diante de inimigos poderosos. Com o livro de Fast, a festa de Chanucá ganhou novo contorno e uma mensagem mais moderna e vibrante. O combate dos macabeus fundiu-se com a própria luta pelo nascimento e perpetuação do Estado de Israel, que mesmo nos dias que correm ainda mantém-se em alerta e de prontidão na defesa de sua cultura, de seu modo de ser, de sua religião e de sua liberdade. Em tempo: a esses dois heróis de nossa história devo em grande parte o possível mérito do conto “Araguaia, meu amor”, premiado e incluído na coletânea Escritos Revelados. De Anilevitch, o modelo de coragem solidária, e de Fast o exemplo de uma arte narrativa engajada e inspirada.
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