Midrash Agadá
Costumava o velho Tera construir ídolos e vendê-los no mercado. Diariamente mandava um filho ao mercado, com um cesto cheio de deuses grandes e pequenos, caros e baratos.
Certo dia, coube a Abraão ir ao mercado com o cesto de deuses. Ele os tirou do cesto e deitou sobre o tabuleiro, os maiores por cima, os médios no meio , e os pequenos por baixo. Achegou-se um homem avançado em anos, mas ainda forte, que falou:
- Abraão, dá-me um bom deus, tão grande e forte como eu mesmo.
Mostrou-lhe Abraão o maior, o que estava bem em cima e falou:
- Aquele que é o maior de todos é também o mais forte; mas os meus deuses têm um defeito; antes de ver o dinheiro eles não se mexem do lugar.
O velho pagou-lhe, pegou o deus e quis ir embora.
- Quantos anos tendes? – perguntou-lhe Abraão.
- Setenta anos – respondeu-lhe o velho.
- É lamentável que tenhais tão pouco juízo. – disse Abraão - Vós mesmo tendes setenta anos e quereis curvar-vos perante um deus que acaba de ser feito.
O velho lhe atirou o deus dentro do cesto e exigiu o dinheiro de volta. Abraão devolveu-lhe a paga e o deixou em paz.
Veio então uma mulher velha e disse:
- Abraão, dá-me um deus bem barato, tão pequeno e ordinário como eu sou.
Ele lhe designou o menor, bem embaixo e disse:
- Este é bem da vossa medida: pequeno, baixo e deitado sob todos os outros.
Depois que ela lhe pagou o pequeno preço, Abraão perguntou-lhe:
- Quantos anos tendes?
- Ah! Muitos – respondeu a mulher. Eu mesma já não me lembro quantos.
- Que vergonha – disse Abraão. – Uma anciã como vós curvar-te perante um pequeno deus que só ontem foi feito.
Ao ouvir isso, a mulher pegou seu dinheiro de volta e foi embora sem o deus.
Abraão fez o mesmo com todos os compradores. (*)
A história de Abraão acima não consta no texto bíblico. É um Midrash, que retrata de forma pictórica e acessível um complexo episódio teológico, o nascimento do monoteísmo e sua aceitação por Abraão.
(*) GUINSBURG, Jacob (org.) Histórias do Povo da Bíblia: relatos do Talmud e do Midrasch. São Paulo: Perspectiva, 1967. p.78-79.
Comentários