Hoje pela manhã, logo que acordei, me deu vontade de escrever esse texto. O interessante foi que, assim que abri o celular, observei uma mensagem de um amigo meu de SP, o Washington Wanvvar. Ele me contou que estava se sentindo, nesses dias conturbados, como o povo hebreu no Egito, que precisou ficar de quarentena até que todas as pragas e doenças no Egito estivessem terminadas.
Só que a diferença hoje é que o vírus invisível da COVID -19 não faz distinção entre os antigos egípcios e os hebreus. Todos estão, de uma forma ou de outra, de quarentena.
Mas o que o Judaísmo fala sobre as doenças?
Esse tema daria para escrever um livro, pois não existe no judaísmo nenhuma separação entre fé e ciência. Pelo contrário, elas estão até bastante conectadas. Não é por acaso que a medicina é uma das práticas profissionais mais antigas entre os judeus. Exemplo disso é o grande médico e sábio rabino da Idade Média Rambam, ou também conhecido como Maimonedes. Ele via a medicina como a ciência da cura, não só do corpo, mas também da alma!
E essa é uma questão importante para se aprofundar pois, independente de sabermos que doença realmente é algo muito ruim e logicamente preocupante, no judaísmo a doença pode servir como uma ponte que tem dois caminhos, que nos leva a uma determinada direção: da vida para a morte ou da morte para a vida. Para quem não sabe, no Judaísmo vida e morte estão integradas de forma absoluta na criação, onde para nós a morte é um fim,mas no contexto celestial : "Nesse mundo nada se perde tudo se transforma". O que é morto será transformado em matéria, e se transformará como parte inseparável do ciclo da cadeia da vida.
O que não sabemos é o que acontece com a alma, ou melhor com a Neshama. Estamos limitados de ver em que essa neshama (ou energia) será transformada. No judaísmo temos várias e diferentes interpretações. Uma delas é o Olam haBá (o mundo vindouro). Outra interpretação é que essa neshama, ou melhor essa energia, se transforma no fluído de novas vidas, seja animal ou vegetal.
O Judaísmo é muito prático. Apesar de que, com o tempo, foram criados muitas regras e dogmas, partes delas se transformaram em leis, que na maioria das vezes não estão nem escritas na Torá. Porém há um conceito antigo dos nossos sábios que diz: "Recuperar-se de uma doença é uma forma de renascer à ameaça que nos aflige".
Sair de uma doença é como nascer novamente. Doença pode matar, é claro! Mas doença pode curar a alma de muita gente, pois é o momento onde podemos parar e refletir sobre nossas vidas e a forma que a encaramos.
Nós, seres humanos, muitas vezes nos comportamos como se fossemos viver pela eternidade, somos realmente arrogantes com nós mesmos. Porém a doença nos mostra a fragilidade de nossa vida.
Interessante observar que, muitas vezes, as pessoas que ficaram doentes e se recuperaram, tiveram uma oportunidade única de fazer uma reflexão profunda no seu interior, para retornar à vida mais forte,mais saudável e equilibrado.
A medicina hoje está muito avançada. Ela com certeza nos ajuda muitíssimo para curar nossas doenças, mas não só um excelente médico é responsável por nossa cura. Nós mesmos temos que fazer a nossa parte. O médico e a medicina ajudam a curar o corpo, mas somente nós podemos curar a nossa alma.
O Judaísmo acredita que cada ser humano tem dentro de si a centelha Divina instalada num corpo físico.
O Interessante é que a Torá relata: "E D'us formou ADAM (o ser humano) do pó do chão, e Ele soprou em suas narinas a alma da vida, e ADAM (o ser humano) se tornou uma alma viva" (Bereshit 2:7).
No Judaísmo não existe algo mais sagrado nesse mundo do que a Vida! por isso que na Torah está escrito: "Preserve a si mesmo e a sua alma de forma cuidadosa." (Devarim 4:9).
Estou aqui em Israel fechado em casa, como muitos de vocês em vários lugares do mundo. Sem poder trabalhar, sem ter nenhum sustento, mas com muito tempo para refletir sobre a minha vida e sobre meus passos e me perguntar: “Para Onde Vamos?”
Sim é verdade. O COVID-19 está trazendo momentos muitíssimo difíceis para toda a humanidade! Mas no pensamento judaico sempre devemos procurar o segredo oculto das situações difíceis que vivemos. É o segredo ainda a ser desvendado!
Como meu neto de três anos me ensinou nesses dias, ao mostrar a ele uma caixa cheia com coisas antigas do meu passado, que para mim era uma caixa com bugigangas, para ele era um segredo que foi desvendado. E ele me disse, na sabedoria de uma criança: “Vovô, isso não é uma caixa, é o seu lugar (sodi) secreto!” Verdade Boaz, meu querido e amado neto, temos que ver as coisas fora de uma caixa e procurar o segredo das situações complexas e amargas que vivemos.
Essa tragédia que chamamos COVID19, nos dá a oportunidade de podermos fazer uma grande reflexão interior sobre o caminho que a humanidade está tomando e descobrir que não somos mais grupos que podem viver isolados, somente com nossas verdades. Apesar de nossas diferenças de idiomas, de cultura, nacionalidade e religiões, somos parte integrante de um todo que se chama Humanidade.
Sim! Com todos os danos que irão ocorrer, vamos conseguir superar esta crise. Talvez seja uma oportunidade única para a humanidade de compreender o que é uma coisa óbvia. Mas estávamos tão fechados em nossas "caixas", que não conseguíamos enxergar o sodi (o segredo) que "somos todos parte da criação" e estamos navegando num mesmo barco que se chama Humanidade.
Com tudo isso estaremos aprendendo a enfrentar esse inimigo invisível, através da luta sem fronteiras, onde países colaboram entre si, trocam informações. Está havendo, como nunca, a ajuda mútua e a solidariedade entre nações e até uma trégua de guerras e de violências foram no momento consagrados.
Vamos aproveitar e aprender a respeitar e valorizar os nossos médicos, enfermeiras e os diversos auxiliares da saúde que estão nesse momento no campo de batalha para salvar preciosas vidas humanas. Vamos fazer uma retrospectiva de nossas vidas e sentir como é frágil o ser humano, como necessitamos um do outro e como sozinhos não somos Nada! Pois "De pó viemos e ao pó voltaremos".
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