Falemos, agora, sobre o segredo da felicidade e da satisfação. Olhem para si mesmos. Será que não há algo estranho sobre nós? Por que tudo vem em dobro? Temos dois olhos, duas mãos, duas narinas, dois hemisférios cerebrais. Também olhamos para a realidade de forma dualista: superior versus inferior, direita versus esquerda, positivo versus negativo. Nossa consciência é dualística.
Indo mais além com este raciocínio, qual a forma mais poderosa de fazer com que dois se tornem um? É o amor entre um homem e uma mulher. Quando criamos uma ponte entre as diferenças, conseguimos nos unir e dois tornam-se um. Ou seja, vivenciamos a experiência da unidade por algum tempo para depois nos separarmos de novo, porque neste mundo de tempo e espaço não conseguimos manter esta unidade o tempo todo.
Aprendemos sobre a transformação de dois em um na primeira parte da Torá. A primeira letra da Torá é o beit, de Bereshit. Cada letra hebraica tem um valor numérico. Alef vale um; beit, dois; guimel, três. E a Torá começa com a letra beit, que tem o valor numérico dois. Por que dois? Para nos ensinar que nossa concepção da realidade é dualística. O propósito da vida é transformar o beit em um alef, ou seja, criar unidade. Esta dualidade está presente também no nível espiritual.
Quando a alma flui de lá de cima, de sua Fonte Espiritual, atravessa os vários mundos e chega ao nível de Assiyá. Em nosso mundo físico, divide-se e forma duas almas, dois tipos de consciência, fonte do desafio e do conflito interior: Nefesh Behamit (alma animal) e Nefesh Elokit (alma Divina). O que significa isso? Nefesh Behamit, o lado "animal" da alma, é responsável pelo instinto de autopreservação; é o meu ego, no sentido comum, o egocentrismo.
No Nefesh Elokit, o lado "Divino" nos conecta a aspirações mais elevadas; é o nível de consciência que está projetado para o outro. A primeira busca pela sobrevivência física, sustento e auto-importância. A segunda é a compreensão de que há outras coisas na vida. Todos os nossos pensamentos são egocêntricos ou altruístas e os interesses competitivos destas duas tendências afloram face a um desafio ou a uma adversidade. O autocontrole judaico nos ensina a treinar o fluxo que vai da mente ao coração, de tal maneira que este se orienta em direção à alma Divina e não à alma animal.A sociedade atual não sente falta de nada quando se trata de judaísmo.Temos tudo disponível na ponta dos dedos, além de obras escritas sobre qualquer assunto que se possa imaginar. Vá a qualquer beit midrash e estará lotado de pessoas estudando. Temos minyanim o tempo todo e cumprimos nossas mitsvot da maneira mais perfeita possível. Então por que, apesar do tempo que passamos estudando Torá e cumprindo mitsvot com freqüência ainda nos sentimos desconectados?
Passamos por todos os movimentos de levar vidas judaicas mas isso não parece nos trazer júbilo ou realização. O verdadeiro júbilo parece ser um nova realidade depois de tanta perseguição, um novo carro ou um aumento de salário. Estudar, rezar ou cumprimento das mitsvot são bons, mas de maneira alguma é o ponto principal da nossa vida. Nossa carreira, nossos filhos, nosso casamento e nossas posses são aquilo que realmente somos! Shabat e Yom Tov são ótimas oportunidades de passar tempo com a família, comer coisas boas, e tirar um tempo fora do trabalho, mas isso nos revigora espiritualmente? Nossas orações nos dão força para o dia ou apenas queremos nos livrar delas para podermos voltar ao trabalho?A pergunta que temos de fazer a nós mesmos é se nosso judaísmo é uma parte dinâmica, importante e central da nossa existência. Podemos estar “fazendo”, cumprindo, Torá e mitsvot, mas estamos vivendo, sentindo, e vibrando com isso?A maioria das mitsvot que cumprimos é orientada para a ação, como tefilin, lulav, matsá e tsedacá. Essas mitsvot são claramente definidas, com leis estabelecidas que delineiam as maneiras certas e erradas de cumpri-las. E então há aquelas mitsvot que são baseadas no coração. Elas não definem o que fazemos, mas sim é que somos. São menos definidas mas mesmo assim, mais abrangentes. Elas nos ensinam como trazer Hashem para a nossa vida, para que não cumpramos meramente as Suas mitsvot, mas sim que as vivamos realmente!Tornar Hashem uma parte da nossa vida significa nos sentirmos conectados a Ele o tempo todo. Ele se torna parte do nosso processo de tomada de decisão, para que não tentemos simplesmente encaixar o Judaísmo em nossa vida, mas sim busquemos a vontade de cumprir os mandamentos de Hashem .
Isto significa não apenas checar nossas obrigações numa lista, mas sim usar cada mitsvá como uma chance de nos conectarmos com o Mestre do Mundo.
O que estamos fazendo aqui? Por que D'us nos colocou neste mundo? Não sou a primeira nem a última pessoa a fazer esta pergunta – desde o princípio filósofos têm ponderado sobre o significado da vida e chegaram a uma infinidade de respostas diferentes. A resposta judaica a esta pergunta é expressa com eloqüência pelo Ramchal na primeira sentença de Mesilat Yesharim: “Para apreciar Sua [de D'us] proximidade, Sua intimidade, e para desenvolver um verdadeiro relacionamento com Ele.”Estamos no mundo com o objetivo exclusivo de desenvolver um relacionamento com D’us. A questão é: posso realmente alcançar isto? A resposta é sim. A Torá é na verdade um manual para construir um relacionamento com Hashem. Aquilo que pode parecer uma lista de 613 Faças e Não Faças é na verdade uma receita para atingir esta meta. Estudar Torá é uma receita Divina para desenvolver um impressionante relacionamento com D'us, levando a uma vida de felicidade, significado e prazer.
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