O Verdadeiro Milagre de Hanucáh

HANUCÁH E NATAL

Ou

O VERDADEIRO MILAGRE DE HANUCÁH.

 

Davy Bogomoletz – Dezembro de 2010

Revisto em Dezembro de 2011

 

Eu já sabia, há bastante tempo, que há uma relação histórica importante entre a festa judaica de Hanucáh e a festa cristã do Natal. É que o Natal comemora o nascimento de Jesus em Nazaré, naquele que passou a ser o primeiro ano da Era Cristã. Já a festa de Hanucáh comemora a vitória dos judeus em 164 antes de Cristo sobre o poderoso Império Selêucida, localizado na região da atual Síria, vitória essa que garantiu a sobrevivência do povo judeu ante uma ameaça que facilmente o teria destruído para sempre.

Esse império selêucida foi criado por Selêuco, um dos quatro generais de Alexandre Magno, após a morte deste. Durante aproximadamente 150 anos a província judaica viveu tranquila sob o governo selêucida, excluindo algumas escaramuças entre ele e seu rival, o reino dos descendentes de Ptolomeu, outro dos generais de Alexandre, que havia se estabelecido no Egito e governava, ele também, uma vasta região. Por volta de 170 a.C. Antíoco IV, o rei da dinastia dos selêucidas, resolveu que o Egito era uma ameaça ao seu poder (ou foi ao contrário, tanto faz). Tomou então a providência de, para garantir a lealdade de seus muitos e diferentes súditos, decretar que todos os povos por ele governados deveriam adotar os usos e costumes religiosos (que hoje chamaríamos de ‘culturais’) helenísticos da Capital, e não teve problema algum em implementar sua decisão, pois em geral os povos a ele submetidos eram pequenos e militarmente insignificantes. A Judéia, que ficava a meio caminho entre a Síria e o Egito, era 'privilegiada' nesse sentido, pois era precisamente a fronteira entre os dois impérios. Antíoco enviou tropas a Jerusalém, e plantou no Templo uma estátua sua, à qual os judeus deveriam cultuar dali em diante. Implantou também o sacrifício de porcos aos deuses do Império. Uma certa elite judaica, cujos descendentes, mais tarde, fariam o mesmo em relação a Roma, mais interessada nos seus ganhos materiais que nas suas perdas ideológicas, aderiu às ordens de Antíoco. Até que, algum tempo depois do decreto real, Matatías (Matityáhu, em hebraico), liderando um pequeno grupo de judeus na pequena cidade de Modiín, revoltou-se contra essas práticas, matou o sacerdote judeu helenizante que se preparava para sacrificar o porco em honra do Imperador junto com a guarnição militar que o acompanhava, destruiu o altar politeísta, e... fugiu para as montanhas com seus cinco filhos e alguns outros aldeões, para não ser chacinado pelas outras guarnições selêucidas. Esse pequeno grupo iniciou uma campanha de guerrilha contra as tropas selêucidas, até que Antíoco enviou um exército para acabar com eles. Mas a revolta desses poucos judeus recebeu a adesão de muitos outros, e depois de várias expedições militares que sucederam à primeira, todas elas derrotadas, os filhos de Matatías (conhecidos como Macabeus) ainda vivos (dois já haviam morrido em combate) reconquistaram Jerusalém e proclamaram a soberania sobre a Judéia.

É conhecida a história de que, ao limpar o Templo de Jerusalém dos altares helenísticos, eles encontraram um único vaso de azeite com o sinete do sumo sacerdote anterior, portanto ritualmente puro, capaz de alimentar a grande Menoráh (candelabro) do Templo por um único dia. Mas esse azeite, diz a lenda, durou oito dias, até que preparassem novos vasos de acordo com os rituais de pureza que os tornavam apropriados para acender o fogo perpétuo na grande Menoráh. Esse ficou sendo considerado o grande Milagre de Hanucáh, comemorado até os dias de hoje por todas as crianças nas escolas e pelos lares judeus pelo mundo a fora.

Mas não há qualquer referência a esse episódio nos dois Livros dos Macabeus, que constam da Bíblia Cristã - mas não da Bíblia Hebraica, selada antes desses acontecimentos. Trata-se, portanto, de lenda, mais que de fato histórico.

No entanto, aconteceu realmente um milagre nessa época: A última expedição punitiva enviada por Antíoco para esmagar a revolta judaica era constituída pela maior parte das tropas do Império, e era comandada pelo General de maior prestígio entre os militares selêucidas. A probabilidade de os irmãos macabeus derrotarem também esse último exército, muito maior que todos os anteriores, era praticamente nula. Mas houve o milagre: Um dos nobres na capital assassinou o imperador Antíoco e se declarou seu sucessor, e o general que comandava o grande exército a caminho da Judéia correu de volta para casa, pois se alguém merecia o trono, naquele momento, era ele, não o usurpador. Para não ter mais problemas com seu pequeno vizinho do sul, o general firmou um tratado de paz com os irmãos macabeus, e deu soberania cultural e religiosa total ao novo governo da Judéia. Foi um gesto de grande sabedoria política, e acabou se constituindo no verdadeiro Milagre de Hanucáh - do qual, aliás, ninguém mais fala, a não ser os livros de História.

O ponto chave de tudo isto é: Esse candelabro de nove velas, que os judeus acendem até hoje em sua festa, comemora o sucesso da revolta judaica naquele momento. Tivesse essa revolta sido sufocada, e a religião helenística se tornado obrigatória em definitivo, é bem provável que o Judaísmo deixasse de existir. E SE ISTO TIVESSE ACONTECIDO, E O CANDELABRO DE HANUCÁH NÃO BRILHASSE COM SUAS LUZES TODO MÊS DE DEZEMBRO, POUCO ANTES DO NATAL, O NATAL NÃO EXISTIRIA, PORQUE JESUS NÃO TERIA NASCIDO EM NAZARÉ CENTO E CINQUENTA ANOS DEPOIS.

Embora tudo que aí está já estivesse na minha mente há bastante tempo, só no mês de Dezembro de 2010 ocorreu-me a ideia de que vale a pena divulgar esses fatos históricos, pois a conclusão inevitável a ser tirada deles é: Embora por tantos séculos tenha havido aquele grande ódio entre cristãos e judeus, com perseguições e chacinas e expulsões e massacres - culminando no Holocausto, perpetrado por povos cristãos - há um elo muito forte de ligação entre essas duas festas comemoradas - uma por judeus, a outra por cristãos - em dias muito próximos todos os anos.

Por tudo isto decidi, dali em diante, passar a desejar a todos os meus amigos cristãos um FELIZ NATAL - porque a existência do Natal comemora não só o nascimento de Jesus, mas também a sobrevivência dos judeus. Tomo, assim, a liberdade de comemorar junto com vocês, meus irmãos cristãos, essa festa que não é minha, mas que aponta para a minha festa como os filhos apontam para seus pais - que com sua vida lhes deram a vida.

Conto com o fato inevitável de que muitos cristãos se sentirão ofendidos por um judeu 'apropriar-se' dessa forma de algo que não lhe pertence. Do mesmo modo, muitos judeus acharão uma ofensa que um judeu - como os helenizantes de outrora - esteja rendendo homenagens a uma religião que não a dele. Mas o que procurei deixar claro, com o que contei acima, é que se não levarmos em conta apenas a Religião, feita de crenças, mas também a História, feita de fatos, Hanucáh e o Natal têm mais motivos para serem comemorados em conjunto do que motivos para continuarem separados, como se uma festa não tivesse nada a ver com o outra.

E por isso DESEJO A TODOS OS MEUS AMIGOS CRISTÃOS UM MUITO FELIZ NATAL. E DESEJO O MESMO A TODOS OS MEUS AMIGOS JUDEUS, ALÉM DE, CLARO, DESEJAR-LHES TAMBÉM UM FELIZ HANUCÁH.

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