Os novos símbolos nazistas
Cartilha alemã expõe os códigos usados por radicais para veicular discursos de ódio de maneira cifrada
João Loes
SINAIS
Max H8, lido em inglês, significa ódio máximo. Tatuagem que sintetiza o movimento:
14 palavras seguidas do número 88, que representa HH, ou Heil, Hitler.
A luta contra a presença cada vez maior de neonazistas na Europa e no mundo acaba de ganhar uma poderosa aliada. Trata-se da cartilha educativa “Das Versteckspiel”, que em tradução livre significa “escondendo o jogo”. Publicada na Alemanha na última semana, ela revela o significado de 150 códigos usados frequentemente por neonazistas para comunicar, de maneira cifrada, seus discursos de ódio. Valendo-se dessa ferramenta, eles têm conseguido contornar a proibição à apologia do nazismo que vigora nos países que mais sofreram com as barbáries do Terceiro Reich. “Já não é tão fácil reconhecer um neonazista”, afirmou ao jornal alemão “Der Spiegel” o especialista em extremismo de direita Michael Weiss, um dos responsáveis pela cartilha. Com ela, a esperança é facilitar a identificação e a punição dessas pessoas.
Mas a tarefa continuará árdua. As mensagens hoje chegam como números, ícones e até peças de roupa com saudações codificadas a Hitler, invocações de ódio a Israel e de preconceito contra imigrantes (leia quadro). O número 14, por exemplo, frequentemente tatuado ou bordado, faz referência a uma frase com 14 palavras de um dos mestres do neonazismo, o americano David Lane, que diz: nós devemos assegurar a existência de nosso povo e o futuro das crianças brancas. “Procurar referências diretas ao nazismo para tentar coibi-lo ainda é uma boa ferramenta”, explica Adriana Dias, antropóloga do Laboratório de Estudos sobre Etnicidade, Racismo e Discriminação da Universidade de São Paulo (LEER-USP). “Mas muita coisa passa despercebida.”
A antropóloga explica, por exemplo, que só localizou um fórum de discussão neonazista depois de identificar o trecho de uma poesia de Lane em um dos tópicos. “Um trabalho como esse, de reunião dos símbolos usados pelos neonazistas, é uma ferramenta importantíssima”, diz. E o Brasil pode dar sua indesejável contribuição com a inclusão da sigla IH, de Impacto Hooligan. O grupo de radicais atacou quatro moradores de rua em São Paulo, no domingo 3 com socos e pontapés seguidos de gritos de “preto” e “nordestino”. A barbárie, infelizmente, é mundial.
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