Jovens seguram bandeiras coloridas durante a Parada Gay de Jerusalém, realizada na quinta-feira. Foto: Viviane Vaz/Especial para Terra

Jovens seguram bandeiras coloridas durante a Parada Gay de Jerusalém, realizada na quinta-feira
Foto: Viviane Vaz/Especial para Terra

Viviane Vaz
Direto de Jerusalém

Ao contrário das paradas do Orgulho Gay de São Paulo e Tel Aviv, os participantes de Jerusalém não capricharam ontem na purpurina nem no salto alto, mas ao som de tambores conseguiram levar suas bandeiras sócio-políticas até as proximidades do Parlamento israelense, o Knesset. "Jerusalém tem menos para festejar e mais para protestar", explicou Anat Kremein, uma das coordenadoras da marcha.

"Nós estamos caminhando sob uma bandeira de igualdade e justiça social para todos em Israel", disse o congressista e homossexual assumido Nitzan Horowitz à quatro mil pessoas reunidas no Parque da Independência, zona central. "Esta marcha é um símbolo para esta cidade, que algumas pessoas querem transformar em Teerã (que não admite homossexuais). Mas nós marchamos sob a nossa bandeira de que Jerusalém é livre e permanecerá livre e igualitária para sempre", discursou o político israelense.

A data foi escolhida para coincidir com o aniversário de dois anos de um ataque contra jovens gays em Tel Aviv no Bar Noar. Dois jovens morreram, 15 ficaram feridos e até hoje o assassino continua impune. Por isso, um dos principais objetivos do evento foi pedir a aprovação dos congressistas de uma legislação que proteja os homossexuais.

"Esta é a primeira vez no ano que marchamos pelas ruas exatamente como quem somos e do jeito que somos, marchamos de mãos dadas com muitas comunidades em Israel que estão lutando por seus direitos", disse Yonatan Gher, diretor-executivo da organização Jerusalém Casa Aberta, responsável pelo desfile. O tema deste ano foi "Caminhos Intercruzados", para abordar não só a luta dos gays pela proteção contra crimes de discriminação, como também para apoiar a luta da sociedade israelense que clama por melhores salários e alugueis menos exorbitantes.

"Todo mundo deve ter seus direitos garantidos, não importa sua preferência sexual ou religiosa", disse Omer Eilam, 26 anos, ao Terra. Ele e o irmão, Guy, 31 anos, vieram de Tel Aviv especialmente para participar do evento. "Não acho justo que as pessoas se sintam livres somente em Tel Aviv. O respeito à orientação sexual deveria ocorrer em todo país e por isso resolvemos tomar parte desta luta", disse Omer. Em junho deste ano, a marcha em Tel Aviv conseguiu reunir 70 mil pessoas.

O jovem israelense trabalha como voluntário em uma associação de apoio a adolescentes da periferia de Tel Aviv e explica que é mais complicado assumir a homossexualidade fora das grandes cidades. "Muitas vezes eles não têm com quem conversar sobre seus anseios com a própria família, e por isso viajam até Tel Aviv duas vezes por semana para receber nossa atenção", conta Omer.

Contra-marcha
Indignados com o desfile, grupos de judeus ortodoxos protestaram em diversos pontos da cidade, controlados por cerca de mil policiais espalhados por Jerusalém. "Deus não gosta disso. Está escrito na Bíblia", disse o jovem Itamar David Moshe ao Terra. "O prefeito (Nir Barkat) deveria se envergonhar por ter dado esta permissão. Pode ter certeza de que esta é a última vez que ele é eleito", completou. "Eles podem desfilar em Amsterdam, mas não aqui. Jerusalém é uma cidade sagrada, onde se estuda a Torah", disse outro religioso do Judaísmo, Oshri Amar.

Os dois jovens protestaram em uma esquina da cidade, sob os olhares vigilantes de policiais, no momento em que o desfile passava próximo ao Parque da Independência. "Muita gente está nas sinagogas agora e outros estão protestando de outra forma", disse Oshri. No bairro judeu ortodoxo de Mea Shearim, a concentração foi de duas mil pessoas. "Eles não percebem que nossa luta não têm nada a ver com eles, nossa marcha não é sobre identidade sexual contra identidade religiosa, mas sobre nossa identidade como jerusalemitas de marchar sobre esta cidade", defendeu Gher, organizador do protesto.

Durante o desfile, moradores ortodoxos da rua Ramban, do elegante bairro de Rehavia, atiraram bombas caseiras fedorentas nos manifestantes. Um dos religiosos foi detido. Apesar do mau odor, os ativistas continuaram a caminhada com bom humor e chegaram antes do pôr do sol às proximidades do parlamento com suas bandeiras arco-íris.

Fonte: http://noticias.terra.com.br/mundo/noticias/0,,OI5269357-EI308,00-Parada+gay+de+Jerusalem+pede+liberdade+sexual+e+critica+Teera.html

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