Guila Flint
De Tel Aviv para a BBC Brasil
Um relatório divulgado por uma ONG em Israel diz que as manifestações de racismo na sociedade israelense se tornaram mais freqüentes no último ano.
No documento, divulgado nessa quarta-feira, a ONG Mossawa, que defende direitos de cidadãos árabes em Israel, acusa líderes políticos de criarem um clima de “legitimação ao racismo” contra os cidadãos árabes,
que representam 20% da população do país.
De acordo com a pesquisa da Associação pelos Direitos Civis mencionada no relatório, 75% dos cidadãos judeus israelenses não estão dispostos a morar no mesmo prédio com um vizinho árabe e 61% não receberiam uma
visita de árabes em sua casa.
A pesquisa também indica que 55% defendem a separação entre judeus e árabes nos lugares de lazer e 69% dos estudantes secundários acham que os árabes “não são inteligentes”.
O relatório atribui esse fenômeno, em parte, ao agravamento do conflito entre israelenses e palestinos, mas também aponta o papel de líderes políticos no incitamento contra os cidadãos árabes.
No documento são citados ministros e parlamentares que “baseiam sua força em posições de ódio e incitam ao racismo”.
O político mais citado é Avigdor Liberman, líder do partido de direita Israel Beiteinu e ex-ministro para Assuntos Estratégicos.
Liberman defende a “troca de territórios e populações” como solução para o conflito.
“Os árabes israelenses são um problema ainda maior do que os palestinos e a
separação entre os dois povos deverá incluir também os árabes de Israel... por mim eles podem pegar a baklawa (doce árabe típico) deles e ir para o inferno”, afirmou.
Para Liberman, Israel deve “trocar” as aldeias árabes israelenses pelos assentamentos nos territórios ocupados, ou seja, as aldeias árabes passariam a fazer parte de um estado palestino e os assentamentos seriam anexados a Israel.
Outro parlamentar citado é Yehiel Hazan, do partido Likud, que chamou os árabes de “vermes”.
O atual ministro da Habitação e Construção, Zeev Boim, do partido Kadima, disse que o “terrorismo islâmico poderia ter razões genéticas”.
O deputado do partido de direita Ihud Leumi, Efi Eitam, defendeu a expulsão dos palestinos da Cisjordânia e a exclusão dos cidadãos árabes israelenses da política do país. “Eles (os cidadãos árabes) são uma
quinta coluna, traidores, não podemos permitir a permanência dessa presença hostil nas instituições de Israel”, declarou.
Segundo a Mossawa, as autoridades israelenses não aplicam as leis anti-racismo existentes no país e se cria uma situação de impunidade na maioria dos casos em que essas leis são violadas.
Figuras públicas que manifestam posições racistas continuam em seus cargos sem que haja qualquer tipo de investigação contra elas, diz o relatório.
O clima político de “legitimação do racismo” leva a uma maior aceitação de idéias favoráveis à segregação e expulsão dos cidadãos árabes israelenses, acrescenta a ONG.
No mesmo dia da publicação do relatório da Mossawa, a imprensa israelense publicou um decreto do rabino Dov Lior, dos assentamentos de Hebron e Kiriat Arba, proibindo seus seguidores de alugar casas a árabes ou de empregar
funcionários árabes.
A advogada Einat Horowitz, do Centro de Pluralismo Judaico, criticou o decreto do rabino e o “fenômeno crescente de incitamento racista”.
Segundo a advogada, “o incitamento distorce o judaismo e é proibido por lei”.
“Dirigimos um apelo ao procurador-geral da Justiça, para que acorde e aja pela implementação da lei contra esse tipo de pronunciamentos”, disse a advogada.
O rabino Gilad Kariv, vice-diretor do Centro de Ação Religiosa, também condenou o decreto do rabino Lior.
“É alarmante que rabinos, que recebem seus salários do orçamento do Estado, falem contra o aluguel de apartamentos a árabes e enviem inspetores para procurar trabalhadores árabes em lojas”, afirmou Kariv.
“Como rabino, estou preocupado com o envolvimento de personalidades religiosas em incitamento”, acrescentou.
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