“Herodes, o Grande: a Jornada Final do Rei” é o título da mais nova exposição do Museu de Israel, em Jerusalém. Inaugurada em fevereiro, permanecerá aberta ao público até janeiro de 2014 e é, segundo James Snyder, diretor da instituição, o maior e mais custoso projeto arqueológico do museu, até hoje.
É, também, a primeira do mundo dedicada exclusivamente ao legado arquitetônico do rei Herodes, indicado por Roma para reinar na Judeia, uma das mais influentes – e controversas – figuras da história romana e judaica.
Cerca de 30 toneladas formam o acervo exibido. No total, 250 achados arqueológicos encontrados na recém-descoberta tumba em Herodium, em Jericó e em outros locais, estão sendo expostos pela primeira vez e lançam uma nova luz sobre o impacto político, arquitetônico e estético do reinado de Herodes, que durou de 37 a 4 antes da Era Comum (a.E.C.). Uma reconstrução notável da câmara funerária do mausoléu é peça central da exposição, incluindo uma reconstituição do túmulo e sarcófago do monarca.
Com curadoria de David Mevorah e Silvia Rozenberg, a mostra visa reconstituir os últimos dias do rei e reexaminar a trajetória de sua vida. Herodes foi durante mais de 40 anos o tema central das pesquisas do renomado arqueólogo professor Ehud Netzer, da Universidade Hebraica de Jerusalém. Em 2007, ele descobriu o túmulo do governante, em Herodium, cidade que o mesmo construiu e à qual deu seu nome. O local incluía um palácio-fortaleza e um complexo de lazer com jardins, amplas piscinas, saunas decoradas e um teatro com um camarote real. Nos seus últimos anos, Herodes reconfigurou a arquitetura do complexo para preparar o cenário para seu enterro e construiu um mausoléu magnífico voltado para Jerusalém.
Ainda segundo Snyder, a mostra visa proporcionar melhor compreensão do reino através da arquitetura monumental que Herodes criou, bem como a arte e objetos com os quais se cercou. A exposição examina projetos notáveis de seu estilo arquitetônico, as complexas relações diplomáticas com os imperadores romanos e a nobreza, e seu dramático cortejo fúnebre de Jericó até o mausoléu.
Os profissionais do Museu trabalharam durante três anos para criar a exposição em parceria com Netzer, que faleceu em outubro de 2010. O arqueólogo levou 36 anos para localizar o túmulo do monarca. Em 2010, durante uma visita ao local das escavações, ele se apoiou em um corrimão solto, bateu com a cabeça e não resistiu aos ferimentos. Para o diretor do Museu de Israel, esta exposição, além de trazer a público achados arqueológicos nunca antes vistos, é uma homenagem digna para um cientista do gabarito de Netzer, que dedicou sua vida a estudar a trajetória de Herodes, um monarca singular e polêmico, que refletiu sua personalidade e seu estilo na forma de conduzir seu reinado.
Uma jornada pela História
Ao começar a jornada pela exposição, o visitante se depara com uma imagem de um deserto inspirado nas paisagens da Idumea, terra natal de Herodes, que o conduz até a sala do trono do monarca, em Jericó, totalmente reconstituída. A mesma ala inclui várias amostras da decoração interior do palácio em Jericó, com suas banheiras, tijolos e mosaicos coloridos.
Alguns metros adiante, o visitante entra na magia de Jerusalém, onde está localizado o Templo, além de outros palácios do rei. Há, também, uma adega exposta com vinhos que ele importou da Itália (ainda podem ser vistos o nome do vinho, do vinhedo de procedência e o ano de produção, em latim). Contêineres com delícias romanas trazidas de várias partes de seu reino também estão em exibição.
Rostos e bustos de amigos de Herodes, esculpidos em sua homenagem, além de imagens de líderes romanos com os quais cooperava estão espalhados pelo museu, com destaque para uma imagem de Cleópatra. A espetacular fonte de mármore que Agripa trouxe da Itália para Herodes está no centro de uma das alas.
A próxima etapa da mostra é a reconstituição do palácio real, em Herodium. A equipe do museu trabalhou durante dois anos em laboratórios para reconstituir a pintura dos muros, que foi restaurada como as peças de um quebra-cabeça, com milhares de fragmentos. Os pilares do teatro ali expostos impressionam pela sua grandiosidade.
O ponto alto e final da exposição é a reconstituição da parte superior da tumba de Herodes: a estrutura redonda circulada por pilares e decorada com cornijas e frisos com relevos singulares. Trinta toneladas de pedaços de pedra foram trazidas da tumba original para a exposição. Por causa do peso dos fragmentos, para reproduzir esta parte da tumba no local foi montada uma estrutura especial. O sarcófago de Herodes está em frente ao túmulo.
Construtor sem igual
O talento de Herodes como construtor é um consenso entre todos que, de alguma forma, estudaram o rei e suas obras ao longo de décadas. Capaz de se envolver e executar várias obras simultaneamente, é conhecido, também, como monarca sangrento que não media meios para atingir seus objetivos. Além disso, como um governante hábil, capaz de manter a ordem dentro e ao longo de suas fronteiras, ao mesmo tempo em que se envolvia em um intrincado jogo político para defender seus interesses. Durante os 30 anos de seu reinado, fez mais inimigos do que amigos, mas sempre soube escolher seus aliados tanto entre os romanos quanto entre os demais governantes.
Muito admirado pelos arquitetos e engenheiros que estudam as ruínas de suas obras, Herodes era um visionário que fez da grandiosidade a sua marca. É considerado o maior construtor da Terra de Israel na Antiguidade. Construiu templos, anfiteatros, hipódromos e aquedutos, além de palácios fortificados com luxuosas casas de banho. Sabia escolher locais que aumentavam a imponência das construções integrando a arquitetura à paisagem natural.
Afrescos e ricos detalhes nos mosaicos e nos pisos diferenciam seu estilo dos existentes em outros palácios e edifícios da época. Introduziu na Judeia de então as casas de banhos romanas com salas aquecidas e sistema de aquecimento sob o piso. Subterrâneos, colunas coríntias, cisternas, modernidade e suntuosidade eram traços tipicamente herodianos e estão presentes em quase todas suas obras. De Massada, fez uma simples fortaleza no alto do deserto da Judeia, um complexo que incluiu um palácio, cisternas e salas de banho. Em Cesareia, construiu um dos maiores portos do Mediterrâneo, com estruturas submersas até então inimagináveis. Ali ergueu um templo dedicado a César Augusto, um palácio, um hipódromo, um teatro com capacidade para 4 mil pessoas e um sistema de esgoto subterrâneo.
Ao ampliar o Segundo Templo de Jerusalém, ergueu um dos maiores complexos sagrados da época. O templo de Herodes cobre uma superfície equivalente a 26 campos de futebol.
O Primeiro Templo erguido pelo rei Salomão foi destruído em 586 a.E.C. pelos babilônios, que levaram os judeus cativos. Logo após derrotar o Império Babilônico, em 539 a.E.C., Ciro autorizou o regresso dos judeus à sua Terra. Algum tempo após a chegada da primeira leva a Jerusalém, os judeus reedificam o Templo, bem mais simples, inaugurado no ano de 516 a.E.C.
No complexo idealizado por Herodes havia muito luxo, como está descrito em obra de Flávio Josefo: “Era todo recoberto de lâminas de ouro, tão espessas, que quando despontava o dia, ficava-se tão arrebatado por sua beleza como pelos dourados raios do sol. Quanto aos outros lados, onde não havia ouro, as pedras eram tão brancas, que aquela soberba massa parecia, de longe, aos estrangeiros que ainda não as tinham visto, um monte coberto de neve”. A marca de Herodes também está em outras obras de Jerusalém, como a fortaleza de Antônia, anexa ao Templo.
Amado, odiado, temido, polêmico, Herodes desperta muitas controvérsias quando se trata de assuntos judaicos, pois muitos questionam seu judaísmo e o consideram um marionete de Roma. No entanto, seu talento como o grande construtor da Terra de Israel foi reconhecido pela literatura rabínica de sua época.
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