Trancoso: Investigadora apela a maior estudo das figuras judaicas "que marcaram a Beira Interior"
A investigadora Antonieta Garcia apela a um maior estudo das figuras judaicas “que marcaram a região” da Beira Interior, mas cuja influência permanece desconhecida, referiu num encontro sobre o tema.
A docente da Universidade da Beira Interior e investigadora da presença judaica na região falava nos Serões da Beira em Trancoso que decorrem sábado e hoje sobre o tema “Judeus nas Beiras Através dos Tempos”.
“Quando se diz que é importante estudar a presença judaica nas beiras, isso tem a ver com a necessidade de perceber quem foram os judeus que marcaram a região e muito disso não se sabe”, destacou.
Apontou os casos de “Amato Lusitano, Elide Montalto ou Ribeiro Sanches, só para falar de médicos judeus da região, para além de outras figuras das ciências ou da literatura”, mas de acordo com Antonieta Garcia há muitas mais personalidades por descobrir.
“Os estudos judaicos já conheceram piores dias, mas há ainda uma quantidade significativa de processos na Torre do Tombo que ninguém abriu”, alertou.
Olhando para o mapa das beiras, Antonieta Garcia apontou casos práticos do que mudou com a presença judaica. “Por exemplo, onde houve uma forte presença de judeus, o comércio teve um desenvolvimento espantoso”, apontando o caso de Trancoso. “Os negócios, de uma forma genérica tiveram maior dimensão”.
Por outro lado, a região herdou “práticas religiosas e costumes das comunidades judaicas”, de que é espelho “o forte significado e celebração da Páscoa”.
Nos Serões da Beira em Trancoso, a investigadora destacou o papel fulcral da cidade e do distrito da Guarda, enquanto região raiana, na movimentação de judeus desde a instauração da Inquisição em Espanha e depois (em 1536) em Portugal.
“O que esta região tinha de diferente era a proximidade da fronteira. Desde que nasceu a Inquisição até ao seu final, no século XIX, circulavam muitos judeus nesta região, entre Portugal e Espanha e por entre diferenças religiosas”.
Hoje, a investigadora destaca o caso da vila de Belmonte, como “a única que ainda segue o judaísmo ortodoxo. Manteve-se assim ao longo dos séculos”.
“Foi a única comunidade que manteve o núcleo duro judaico e continuou a transmitir os costumes judaicos de mães para filhas, de boca a orelha, porque a endogamia marcou esta comunidade”.
Ou seja, os casamentos entre judeus permitiram preservar a comunidade e garantir a sua descendência.
“Hoje mantêm-se os casamentos, agora com abertura maior a outras comunidades judaicas”, destacou, concluindo que a descendência judaica “tem condições para continuar viva”.
LFO.
*** Este texto foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico ***
Lusa/fim
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