Yom HaShoah nas ruas de Israel - Jayme Fucs Bar

Yom HaShoah nas ruas de Israel - Jayme Fucs Bar
São 8 h 45 min da manhã de Yom HaShoah. Esse é um dia de sol
muito agradável, especialmente após o dia anterior, que foi de chamsim, os ventos quentes que vêm do deserto e que, em Israel, sempre anunciam que algo inesperado vai acontecer no dia seguinte.
Saio para mais um dia de trabalho. Terei uma reunião numa casa
de café na cidade de Rehovot! No rádio, ouço os depoimentos e as
reportagens sobre sobreviventes da Shoah, cartas traduzidas jamais lidas em público, visitas de filhos daqueles que sobreviveram aos campos “Shoah” [literalmente “catástrofe”, em hebraico] é um termo que designa o Holocausto cometido pelos nazistas na Europa. de extermínios na busca de compreender o impossível. Junto de cada depoimento, uma só palavra continua vindo ao pensamento: “lizkor”! Lembre! Não esqueça!
Neste dia, em Israel, cada momento é acompanhado de reflexões
profundas que confundem o ritmo acelerado com que levamos nossas próprias vidas, as reuniões, os compromissos de trabalhos, os deveres domésticos... Mas, nesse dia, a mensagem é fria, clara e direta: “lizkor”! Lembre! Não esqueça!
Estou em Rehovot para um encontro importante!
Mesmo que seja um encontro sem nenhum valor, comparado a esse dia!
Os pensamentos não me deixam me concentrar no tema da reunião, penso nos tios, tias, primos e primas que ficaram na Polônia e que jamais conheci.
Penso na pequena Hana Fuksman, da cidade onde nasceram meus avós, Bilgoraj, perto de Lotz. A mala dela apareceu diante dos meus olhos na minha única e última visita ao Campo de Concentração de Auschwitz, na Polônia.
São 9 h 55 min. Já não consigo me concentrar na conversa, peço
para me retirar por uns momentos, fico do lado de fora, compenetrado nos meus próprios pensamentos.
Começa o toque da sirene, 10 h. São dois minutos de eternidade!
Observo as pessoas, os carros parados na rua, todos imóveis, como
se o tempo tivesse congelado neste momento. Observo os olhares tristes das pessoas, fico imaginando o que elas estão pensando agora.
São dois minutos de eternidade! A sirene é como um grito desesperador, um choro profundo e sufocante!
Penso se a palavra “humanidade” continua a ter sentido depois da
Shoah!
Penso se este mundo ainda tem alguma chance de sobreviver à bestialidade humana!
Penso nas crianças que foram arrancadas dos braços de suas mães
pelos carrascos nazistas!
Penso em como viver como ser humano, com dignidade num mundo que deixou de ser digno depois da Shoah!
Penso no Estado de Israel e no ato de sua criação, as esperanças trazidas a um povo totalmente dilacerado!
Penso em como esse povo conseguiu se reerguer das cinzas e das
chamas do inferno!
Penso na forma com que os sobreviventes voltaram à terra de Sion.
Penso que Israel é uma nova Bereshit [Gênesis] para o povo hebreu,
um novo chamado “Lech lecha”, que quer dizer “Vá a si mesmo”!
Isso significa caminhar em direção à essência da vida e não perder as esperanças que ainda existem, especialmente naquele momento tão difícil que era o contexto da criação de Israel em 1948.
São 10 h 2 min. A sirene silencia.
As pessoas e os carros estão de novo em movimento, volto para a
reunião. Nada mais simbólico do que ouço de Yonatan, o meu companheiro de reunião: “Aqui a vida continua”.
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