"No dia quinze do sétimo mês, ao recolherem o fruto da terra, comemorem uma festa para o Criador por sete dias. O primeiro dia será um dia de descanso, e o oitavo dia, será um dia de descanso… Durante sete dias, habitem em tendas. Cada nativo de Israel deve viver em barracas de palha, Isto é para que as futuras gerações saibam que eu fiz com que os Filhos de Israel vivessem em tendas, quando eu os tirei da terra do Egito. Eu sou Adonai, o seu Deus".
A Torá neste trecho nos apresenta de forma clara a razão de viver durante 7 dias numa sucá , porem a beleza da Torá é que nos deixa muitas perguntas em abertas para pensar e refletir, e uma delas é qual seria o verdadeiro significado dessas cabanas?
Essa pergunta se complica quando logo depois encontramos um termos misterioso na Torá chamado o "Hananei Kavod" (Nuvens de glória).
“Que em sucot eu fiz com que os (Filhos de Israel) vivessem sob Hananei Kavot - Nuvens da glória."
O que Vem a ser essa "Hananei Kavod" Nuvens de Glória?
É comum as interpretações da palavra “sucot” se referindo a simplesmente as cabanas, porem Rashi e Maimondes entenderam essa ideia “sucot” (cabanas) de forma diferente.
Na Opinião de Rashi as "Hananei Kavod" tem um significado espiritual mais profunda da palavra “sucot”, embora de fato Bnei Israel tenham vivido em cabanas , porem a sucá que Deus fez para eles, eram protegida por "Hananei Kavod"
Maimondes explica que o significado literal de sucá (cabana), são Hananei Kavod"! " Um grande escudo de proteção espiritual ao Bnei Israel no deserto."
O Rav Moshe Feinstein nos ajuda mais um pouco ao explicar que a geração de Bnei Israel alcançou um nível espiritual muito elevado durante seus 40 anos no deserto, que esse fato possibilitou o surgimento dos futuros profetas, e que mesmo vivendo em cabanas genuínas eles precisavam dessas "Hananei Kavod" para se elevarem espiritualmente.
Apesar das explicações desses grandes sábios sobre "Hananei Kavod" que rodeava as cabanas de Bnei Israel no deserto durante sua difícil e árdua caminhada em direção a terra prometida é ainda um grande mistério!
Sucot é uma festa que se comemora, na prática, não se necessita fazer grandes rezas, e sim praticar a construção de sua própria sucá familiar ou comunitária.
A sucá deverá ser erguida ao ar livre é constituído de folhagem, onde possamos ver o céu as nuvens e as estrelas, ela devera ser construída pelo trabalho conjunto do grupo, da família ou da comunidade.
O ato da prática de construirmos juntos a sucá e realizar nossas refeições e se possível dormir dentro dela, nos faz lembrar a cada ano a fragilidade dos bens materiais , e a necessidade de uma vida mais modesta, menos individualista, menos consumista e competitiva.
Hananei Kavod" foi o escudo protetor dos Bnei Israel nos seus 40 anos no deserto, foi essa experiência espiritual coletiva que determinou a mudança de sua realidade como seres humanos livres e não mais com escravos no Egito.
Sucot também nos lembra que neste mundo ainda existe milhões de pessoas que vivem em casas frágeis desprotegidas vagando sem uma terra prometida no deserto da pobreza.
O Talmude nos conta que o mandamento da sucá, "Taassé veló min Heassui " O que quer dizer, em hebraico: faça você mesmo as coisas e não espere que os outros as façam por você!
Ou melhor, não fique de lado olhando as coisas acontecerem e assuma responsabilidades para poder mudar a realidade de nossas vidas!
Sucot é a Festa do judaísmo pratico, que não se concretizada com pensamentos e palavras, mas sim em atos, onde na construção física material da Sucá com nossas próprias mãos, nos humanizamos e nos elevamos espiritualmente para alcançar as Nuvens de Glória " Hananei Kavod".
Chag Sameach!
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No período do primeiro e segundo templos, o Yom Kipur tinha um conteúdo único, bem diferente do atual. Era uma cerimónia longa e mística, com detalhes impressionantes, realizada pelo Cohen Hagadol (sumo sacerdote). O foco central do ritual era o Kipur, que literalmente significa “ato de arrependimento pelo pecado”. Que pecado seria esse?
O pecado do Bezerro de Ouro.
Com certeza, esse foi um episódio de grande impacto para os nossos antepassados. Moshê subiu o monte para receber as tábuas com as leis, e o povo, impaciente com a demora de seu regresso, começou a adorar o Bezerro de Ouro.
A tragédia aumenta quando Chur, filho de Míriam, irmã de Moshe, decide enfrentar sozinho essa delicada situação. Chur, corajoso, se pôs de pé num lugar de onde todos pudessem escutá-lo e bradou: "Será essa a gratidão por todos os milagres que D'us realizou para nós?”. E exclamou: “Parem! Moshê voltará. E mesmo que não volte, não lhes está permitido fazer imagens. Custe o que custar não os deixarei fazê-las!".
Chur pagou com a vida, foi assassinado.
O pecado da adoração do Bezerro de Ouro e o assassinato de Chur, o Justo, passaram a integrar o DNA do povo de Israel. Dois episódios que jamais poderão ser esquecidos.
Nesse cenário dramático de traição e morte, foi criado o Yom Kipur.
É importate colocar os tempos bíblicos em perspectiva se quisermos compreender as nossas atuais tradições. No período do primeiro e segundo templos, o Cohen Hagadol vinha a público confessar os seus pecados e os de sua família e fazia uma drasha (um sermão), no qual ele lembrava o povo de Israel do pecado do Bezerro de Ouro.
A cerimônia incluía uma limpeza geral do templo. O povo não desempenhava qualquer papel especial nessa cerimônia de Yom Kipur, a não ser a obrigação de estar presente e jejuar durante todo o dia, como forma de ratificar sua fidelidade ao D´us Único.
De acordo com a Mishná, o povo de Israel chegava ao templo antes do nascer do sol e era obrigado a tomar um banho ritual para se purificar e poder participar como ouvinte desse momento sagrado. Somente em Yom Kipur, o Cohen Hagadol podia entrar no templo (o Sagrado do Sagrado). Antes, porém, ele tomava um banho ritual e vestia uma roupa branca, diferente da colorida e adornada com pedras de uso diário. Para entrar no templo, ele era amarrado por uma corda. Acreditava-se que a energia que emanava da Arca da Aliança era tão forte que talvez o Cohen Hagadol não regressasse. Ele primeiramente acendia incenso e, depois entrava no Sagrado do Sagrado.
Esse era o momento máximo do Yom Kipur. Pode-se dizer que era uma experiência mística de perigo. E de grande impacto. Todo o povo de Israel observava em silêncio solene, apreensivo, na expectativa de ver o Cohen Hagadol sair com vida do Sagrado do Sagrado. Sua saída significava que o Todo Poderoso havia aceitado o arrependimento pelos pecados e danos.
A Mishná cita a saída do Cohen Hagadol do Sagrado do Sagrado como "uma bênção para todo o povo de Israel", um sinal de que os pecados do povo haviam sido expiados e perdoados.
Após a destruição do segundo templo e com o fim da autonomia judaica na terra de Israel, o trabalho do sumo sacerdote deixou de existir. Para sobreviver, o judaísmo precisou recriar cerimônias e cultos que substituíssem as cerimônias e os sacrifícios do templo. Tudo o que conhecemos hoje em dia do judaísmo foi recriado pelos nossos sábios .
O jejum de Yom Kipur foi um imperativo especial que manteve sua originalidade desde os tempos bíblicos. Nessa data, a atenção é transferida das necessidades físicas para a contemplação do eu interior e a transformação desse dia em “reshbon nesfesh” (ou seja, prestar conta com sua alma). A combinação de jejum e oração, que marca a data, aparece na Bíblia como as duas ações para eliminar amarguras.
Muitos dos historiadores acreditam que o antigo Kol Nidrei foi criado pelo rabino Yitzchak de Tirana. Essa oração tem origem na Babilônia, e deve ter sido escrita em aramaico, a língua comum daquela região.
Na Ibéria, entre os séculos V e VI, vamos ter a versão mais próxima da que adotamos hoje. Isso aconteceu no período do rei Ricardo, que decretou o fim do judaísmo em seu reino .
Muitos judeus tiveram que renegar sua fé, ficaram entre a cruz e a fogueira. Foi daí que surgiram os criptojudeus. Eles mantiveram em segredo a sua identidade judaica e adotaram o Kol Nidrei.
Esses criptojudeus se reuniam secretamente e faziam a oração do Kol Nidrei (todos os votos) em nome dos judeus forçados a abandonar sua fé, e então declaravam nulos todos os juramentos que haviam sido impostos a eles.
Essa foi a tradição dos judeus de Espanha e Portugal que se espalhou mundo afora com a fuga de muitos judeus da Península Ibérica. Essa passará a ser uma oração especial que fazemos até hoje em Yom Kipur .
Outra oração que foi criada, Avinu Malkeinu,( Pai Nosso Rei Do Universo) também teve origem no Talmude babilônico. Muitos a atribuem a rabino Akiva. Na verdade, trata-se de um grito de suplício. E, todos os anos, ela é dita também como forma de pedir perdão por nós, por nossa família e pela humanidade.
Quem quiser, pode criar o seu Avinu Malkeinu em Yom Kipur. Compartilho o meu aqui com vocês:
Avinu Malkeinu, ilumine os meus caminhos, me conceda saúde, paz e realizações também para meus filhos e netos.
Avinu Malkeinu, envie sabedoria e inspiração para curar a falta de espiritualidade, benevolência e compaixão da humanidade.
Avinu Malkeinu, abençoe todos aqueles que lutam pela vida e desejam o fim das guerras e da violência.
Avinu Malkeinu, receba e ouça as nossas orações pela paz de Israel e de todos os povos.
Avinu Malkeinu, ilumine os caminhos para que possamos construir uma vida melhor para todos, com direito a educação, saúde e bem-estar social.
Avinu Malkeinu, assinamos o livro da vida para toda a humanidade.