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Duvidando Deus

Vayetze

 

Embora na liturgia judaica Deus é identificado como o Deus de Abraão, Isaac e Jacob, Leon Kass, ex-presidente do Conselho do Presidente dos Estados Unidos sobre a bioética, nota que as pessoas que o seguem são conhecidas como descendentes só de Jacob (ie: os Filhos de Israel). Tão significativo é Jacó para Israel do que a metade dos cinqüenta capítulos do livro de Gênesis são dedicados a ele: uma parcialidade intrigante em a Literatura Fundacional do povo judeu.

 

Géneses conta uma história em que Jacob é corajoso e inteligente, mas, ao mesmo tempo, deixa transparecer uma condenação implícita de que é percebido como uma conduta antiética. O filósofo e teórico político israelense Joram Hazony, argumenta que se trata de um homem complexo, que nega a mão que tem sido dada, e que está disposto a assumir riscos enormes para tentar melhorar suas situações e sua posteridade; uma atitude que mais de uma vez o obriga a fugir.

 

Em uma dessas ocasiões é passar a noite em um campo aberto em um local a cerca de 14 quilômetros ao norte de Jerusalém. Tem um sonho em que Deus diz:

 

 “Eu sou o Senhor Deus de Abraão teu pai, e o Deus de Isaque; esta terra, em que estás deitado, darei a ti e à tua descendência;

E a tua descendência será como o pó da terra, e estender-se-á ao ocidente, e ao oriente, e ao norte, e ao sul, e em ti e na tua descendência serão benditas todas as famílias da terra;

E eis que estou contigo, e te guardarei por onde quer que fores, e te farei tornar a esta terra; porque não te deixarei, até que haja cumprido o que te tenho falado. "(Gênesis, capítulo 28, versículos 13 -15)

 

 

Ao acordar do sono

 

Jacob fez um voto, dizendo: Se Deus for comigo, e me guardar nesta viagem que faço, e me der pão para comer, e vestes para vestir;

E eu em paz tornar à casa de meu pai, o Senhor me será por Deus;

E esta pedra que tenho posto por coluna será casa de Deus; e de tudo quanto me deres, certamente te darei o dízimo. "(Gênesis, capítulo 28, versículos 20 -22)

 

Seu pensamento, como o Dr. Kass imaginar, é: Será que Deus é capaz de entregar? Como posso ter certeza? É razoável confiar nas promessas de um sonho? E se acontecer de ser meras projeções de meus desejos? Vamos esperar e ver o que acontece; se o Senhor cumpre Suas promessas, então Ele será realmente o meu Deus.

 

Notando que o personagem de Jacob que emerge das histórias do Gênesis é um trapaceiro, Susan Niditch, uma estudiosa da Bíblia, em Amherst College, em Massachusetts fez o comentário que, como em todos os contos de trapaceiros, há uma falta de respeito pela autoridade. Jacob tenha desrespeitado a autoridade de seu pai, seu irmão mais velho, seu tio materno e sogro, e autoridade, em última instância divina.

Isso não é incomum na história de Israel, "quase todas as grandes figuras bíblicas em todo o corpo", diz o Dr. Hazony ", são estimados pela dissensão e desobediência Abel, Abraão, Jacó, Moisés, Arão, e outras figuras são pintados no TaNaKh como resistindo não só os homens, mas o próprio Deus ".

 

O TaNaKh não caracterizado por pintar seus heróis perfeitos, coloca o foco sobre as qualidades do Jacob que tornam a sobrevivência. A psicanalista Dorothy  Zeligs  diz que se há um tema que resume o padrão de vida de Jacob e seus descendentes é: o esforço.

 

Deus, diz Hazony, admira e valoriza aqueles que desafiam o decreto da história, e que se atrevem a melhor as coisas para eles e suas famílias, mesmo quando elas entram em conflito com a ordem que foi criado para eles, pelo rei e o Estado, pelos pais, pelo próprio Deus. Na verdade, nós temos que entender que é apenas as tais pessoas são aquelas que ganham a bênção de Deus.

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“Gracias Israel por reconocer a las minorías arameas cristianas. Occidente, paren con la política de doble rasero hacia las naciones no islámicas”. Arameos cristianos israelíes manifiestan, en abril pasado.

Por Marcelo Kisilevski

Hace tiempo venimos explicando la persecución que sufren los cristianos a manos de los musulmanes en el Medio Oriente. Las pruebas más contundentes han venido de la mano de la siniestra organización Estado Islámico con sus crucifixiones, decapitaciones, conversiones forzadas, ejecuciones masivas y expulsiones de cristianos en Irak y Siria.

En Israel hace años ya, la comunidad árabe cristiana intenta separarse de su identidad árabe y abrazar la identidad israelí, por entender que muy bien no les ha ido con su histórica alianza con el panarabismo del siglo pasado, y con la nación árabe en general. Comenzó con un movimiento por el reclutamiento obligatorio de los cristianos al ejército israelí, un derecho-obligación que también solicitaron y se les concedió en su momento a los drusos israelíes.

Ahora el siguiente paso: el ministerio del Interior israelí ha concedido el pedido de los cristianos israelíes de que en sus cédulas de identidad, donde figura el apartado “Etnia” (en hebreo dice Leóm, Nación), en lugar de “Árabe” se lea “Arameo/a”. Se trata de una lucha de años, y ayer el ministro del Interior, Gideon Sáar, supo tomar la decisión correcta.

“No somos árabes, sino cristianos que sólo hablamos árabe”, explican, pero que hasta la conquista árabe en el siglo 7, hablaban arameo, el idioma más extendido en Palestina-Eretz Israel por siglos. En ese idioma se hablaba en Canaán y en la Península Arábiga premahometana, lo hablaron los hebreos, parte del Talmud y muchas plegarias están escritas en ese idioma. En arameo, probablemente habló Jesús. Hasta hoy en día el arameo es la “Lengua Sagrada” de las iglesias orientales.

El intento de ser parte

En los años ’50 del siglo pasado, cristianos como el sirio Michel Aflaq, uno de los ideólogos del Panarabismo y uno de los pensadores fundantes del partido Baath en ese país, intentaron con esta doctrina superar la barrera religiosa que los separaba de los musulmanes y elevar la identidad nacional como una instancia superadora del paradigma religioso, lo cual configuró su mejor intento de integrar el mainstream, e incluso el establishment mesoriental.

Pero el experimento salió mal a medida que el paradigma islamista se hacía carne, y en muchos lugares, el Medio Oriente se retrotrae hoy 1.400 años. No solamente en Irak o en Siria. Belén, la ciudad más importante de toda la grey cristiana en el mundo, ha sido vaciada prácticamente de cristianos en los últimos veinte años. Hoy es una ciudad musulmana, con un magro 1.5% de cristianos.

Israel, en cambio, es el único país en el Medio Oriente donde la comunidad cristiana crece. Lo ha hecho en un 1.000% desde 1948. Sin embargo, quizás con menos violencia, también son hostigados por sus supuestos conacionales, los árabes musulmanes israelíes. Ayer, los cristianos lograron oficialmente el divorcio.

El titular de la Asociación Aramea-Cristiana y capitán del ejército israelí, Shaadi Jalul, se emocionó y felicitó la decisión del ministro Sáar. “Es una decisión histórica y un viraje histórico en las relaciones entre cristianos y judíos en el Estado de Israel”.

Dijo más: “Es quitarles la carta de la mano a todos los antisemitas, que calumnian al pueblo judío y al Estado de Israel. Es la prueba de que Israel cuida a sus ciudadanos y las identidades de las minorías que viven en ella, a diferencia de todos los países árabes en nuestro derredor”.

Ahora se podrá hablar de tres iglesias o ramas cristianas israelíes: la Iglesia Aramea-Maronita (cuya mayoría se encuentra en el Líbano), la Iglesia Aramea-Católica, y la Iglesia Aramea-Ortodoxa. En Israel, en total, se trata de una comunidad de unos 133.000 arameos. Su reconocimiento como etnia separada de los árabes puede tener implicancias importantes, como la posibilidad de una red educativa separada de la árabe: hasta ahora, en las escuelas árabes sólo se estudia la heredad árabe, e islam.

Desde ahora, todo cristiano en Israel podrá optar por colocar “Arameo/a” en su cédula de identidad. La nación aramea ha renacido, y lo hace nada menos que en Israel. ¡Salud!

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Há tempo explicamos a perseguição que sofrem os cristãos nas mãos dos muçulmanos no Oriente Médio. As provas mais contundentes vieram das mãos da sinistra organização Estado Islâmico, com suas crucificações, decapitações, conversões forçadas, execuções em massa e expulsões de cristãos no Iraque e na Síria.

Em Israel, há anos, a comunidade árabe cristã tenta separar-se de sua identidade árabe e abraçar a identidade israelense, por entenderem que não funcionou muito bem sua histórica aliança com o pan-arabismo do século passado e com a nação árabe em geral.  Começou como um movimento pelo recrutamento obrigatório dos cristãos no exército israelense, um direito-dever que os drusos-israelenses há muito solicitaram e lhes foi concedido.

Agora, o passo seguinte: o Ministério do Interior israelense aceitou o pedido dos cristãos israelenses para que, em seus documentos de identidade, no campo “Etnia” (em hebraico, usa-se Leom, Nação), em vez de Árabe, conste Arameu. Trata-se de uma luta de ano, e ontem  1o ministro do interior, Gideon Saar, soube tomar a decisão correta.

“Não somos árabes, apenas cristãos que falam árabe”, aplicam, mas até a conquista árabe no século VII, falavam aramaico, por séculos o idioma mais comum na Palestina/Terra de Israel. Neste idioma se falava em Canaã e na Península Arábica pré-Maometana, inclusive pelos hebreus, de maneira que parte do Talmud está escrito neste idioma. Provavelmente, Jesus falava aramaico e, até hoje, esta é a “Língua Sagrada” das igrejas orientais.

Tentativa de tornar-se parte

Na década de 1950, cristãos como Michel Aflaq, um dos ideólogos do pan-arabismo e um dos pensadores fundadores do partido Baath no país, tentaram com esta doutrina superar a barreira religiosa que os separava dos muçulmanos e elevar a identidade nacional como uma esfera superior ao paradigma religioso, caracterizando-se como sua principal tentativa de integrar-se ao mainstream e ao establishment do Oriente Médio.

O experimento, entretanto, não terminou bem à medida que o paradigma islamista se expandia e, em muitos lugares, o Oriente Médio hoje regride cerca de mil e quatrocentos anos. Não apenas no Iraque e na Síria. Belém, uma das cidades cristãs mais importantes do mundo, foi esvaziada de cristãos nos últimos vinte anos. Hoje, é uma cidade muçulmana, com uma minoria de 1,5% de cristãos.

Israel, por outro lado, é um único país no Oriente Médio onde a comunidade cristã cresce, o que vem ocorrendo desde 1948.  Ainda assim, e mesmo que com menos violência, ainda são maltratados por seus supostos compatriotas, os árabes-israelense muçulmanos. Ontem, os cristãos conseguiram oficialmente o divórcio.

Shaadi Halul, líder da Associação Aramaico-Cristã e capitão do exército israelense, emocionou-se e felicitou a decisão do ministro Saar. “É uma decisão histórica e uma guinada histórica nas relações entre cristãos e judeus no Estado de Israel”.

E acrescentou: “Isto invalida o argumento de todos os antissemitas, que caluniam o povo judeu e o Estado de Israel. É a prova de que Israel cuida de seus cidadãos e das identidades das minorias que vivem no país, diferentemente de todos os países árabes ao nosso redor”.

Agora, poder-se-á falar de três igrejas, ou correntes, cristãs israelenses: a Igreja Aramaica-Maronita (cuja maioria dos seguidores encontra-se no Líbano), a Igreja Aramaica-Católica e a Igreja Aramaica-Ortodoxa. Em Israel, no total, trata-se de uma comunidade de 133 mil arameu. Seu reconhecimento como etnia separada dos árabes pode ter implicâncias importantes, como a possibilidade de um sistema educacional separado do árabe: até o momento, nos escolas árabes apenas se estuda a herança árabe, e o islã.

A partir de agora, todo cristão poderá optar por registrar “Arameu” em sua carteira de identidade. A nação aramaica renasceu, foi em Israel. Viva!

http://www.conexaoisrael.org/renasce-nacao-aramaica-e-em-israel/2014-11-22/colaborador

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Possível conversão ao Judaísmo

Bom dia a todos.

Meu nome é Benjamin Simões e eu moro em Jundiaí - SP, a 60 Km da capital, tenho 24 anos.

Peço licença a todos para compartilhar um pouco da minha história.

Fui criado numa família evangélica, meu pai é teólogo formado. Uma tia minha por acaso começou a estudar hebraico na USP e foi percebendo elementos na família que provavelmente acusariam que nossos ancestrais eram cristãos novos, no caso, minha tataravó. Minha bisavó dizia reconhecer alguns pães que minha tia trazia pra casa e ela sempre contava que sua mãe foi proibida pelo padre de seguir sua religião original. Além disso, nunca dizia de que país tinha vindo, só que era do além-mar. Isso tendo acontecido na época em que minha mãe estava grávida, meu pai, estudante de teologia, colocou nomes hebraicos em mim e nos meus irmãos - Mikhael e Gabriel. Essa tia que mencionei acima chegou a ir pra Israel, amando muito o país. Hoje em dia ela mora na Bélgica e constantemente frequenta seminários do Antigo Testamento lá. Meu pai, por sua vez, acabou não guardando tantos elementos da cultura judaica com o passar o tempo.

Bem, agora com relação à minha experiência religiosa. Minha família sendo tão religiosa, eu acabei seguindo a religião por que sentia que devia fazê-lo, não por que me foi imposto. No entanto, eu sempre me identifiquei mais com o Antigo Testamento. Meu livro favorito é Isaías. Adoro como D'us fala em consolar o povo neste livro, sinto uma profunda vontade de ter essa comunhão com D'us. A isso se some a desilusão que sofri com o cristianismo. A igreja da minha mãe só sabe falar sobre dinheiro e coisas materiais. Não consigo me identificar com esse tipo de doutrina. Entretanto, sinto que para mim deixar a figura de Jesus seria consideravelmente difícil. Tenho orado a D'us para que me mostre que caminho seguir. Gosto muito dos capítulos 54 e 60 do livro de Isaías. Eu realmente quero me encontrar com este D'us, realmente quero. Tenho depressão e estive no hospital duas vezes este ano. Considerando que não cabe a nós encerrarmos nossa própria vida, quero de algum modo encontrar este D'us que prometeu conforto e o direito de estar com Ele em Seu templo.

Minha atração pelo judaísmo se acendeu mais forte quando ano passado assisti pela primeira vez A Lista de Schindler com meus alunos (sou professor de inglês). Pensei que a tradição Judaica precisa ser mantida depois deste incidente horrível que foi o holocausto e além disso, quero me encontrar com o D'us da Bíblia.

Peço desculpas se por ventura usei algum termo relato em meu depoimento.

Peço de coração aos que lerem que tentem me ajudar dando algum conselho ou coisa do tipo.

Muito obrigado a todos.

Shalom

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Israel é considerado por muitos como a sexta potência nuclear do mundo. Por mais que as estimativas sobre o tamanho de seu arsenal variem entre 75 e 200 bombas[1], poucos analistas questionam a sofisticação e a capacidade nuclear do país. A pergunta central nesse contexto é como uma nação recém-criada foi capaz de consolidar um império nuclear? Como um Estado localizado em uma das mais instáveis regiões ​​do mundo conseguiu se esquivar de uma forte pressão internacional pela não-proliferação de armas nucleares, e manter confortavelmente sua “bomba no porão”? O presente artigo defende a tese de que o caso israelense constitui uma exceção no mundo.[2] Na realidade, quatro fatores são responsáveis ​​por esse excepcionalismo: (1) a condição geopolítica do país; (2) o estabelecimento de acordos secretos com os Estados Unidos; (3) a doutrina de opacidade (Amimut); e (4) o papel da população israelense como “guardiã do tabu”. O objetivo deste artigo é explicar como esses quatro fatores tornaram Israel uma exceção nuclear no mundo. A primeira parte traz um panorama histórico e explica como específicas decisões e determinados acordos permitiram a preservação da opacidade de seu programa nuclear. A segunda parte descreve a doutrina da Amimut e apresenta o papel único da sociedade israelense na manutenção do sigilo. Por fim, a última seção traz uma síntese dos principais pontos desenvolvidos ao longo do artigo.

A história do projeto nuclear israelense

Israel foi criado às sombras do Holocausto (Shoah), em que seis milhões de judeus foram assassinados. Em 1948, o primeiro-ministro David Ben-Gurion declarou a independência do Estado com o propósito de nunca permitir a ocorrência de outro Holocausto – o voto “never again” – e promover o renascimento (tekumah) do povo judeu (Cohen 2010, p. 121). Foi dentro desse projeto nacionalista que a idéia de um programa nuclear surgiu pela primeira vez. Com efeito, Ben-Gurion estava certo de que a bomba era a única solução para um país nascido sob as memórias da Shoah, com profundas desvantagens geográficas e estratégicas, rodeado por vizinhos comprometidos com a sua destruição, e sem qualquer aliança de segurança com uma potência mundial (p. 243). Do ponto de vista do premiê israelense, tanto o Holocausto judeu quanto a singular condição geopolítica do país justificavam o desenvolvimento de uma bomba nuclear.

De fato, seria difícil negar que o país possuía (e ainda possui) uma condição geopolítica única – não há nenhum país no mundo do tamanho de Israel que se encontra cercado por Estados hostis. Além da ameaça existencial constante, Shlomo Hasson (2013, p.7) argumenta que o excepcionalismo geopolítico de Israel deriva do sensível equilíbrio entre o seu alcance territorial (profundidade territorial necessária para a segurança), demografia (grau de homogeneidade nacional), democracia (direitos humanos) e legitimidade regional e internacional. Para alguns analistas (Ziv 2007, Karpin de 2006, e Jabber 1971) foi precisamente essa condição geopolítica excepcional que concedeu base moral ao programa nuclear israelense.

No entanto, dentro de um curto período de tempo, ficou claro que Israel teria que pagar o preço pelo desenvolvimento de um projeto nuclear. Na realidade, Ben-Gurion e seu sucessor, Levi Eshkol (1963-1969), não tardaram a perceber que o desenvolvimento de bombas atômicas constituía um dilema de segurança para o país. Primeiro, por tentar estabelecer uma estrutura nuclear, as autoridades israelenses teriam que lidar com a tentativa de seus vizinhos de desenvolver suas próprias armas nucleares. Por sua vez, essa paridade configuraria uma ruptura com o equilíbrio de poder que, supostamente, o programa israelense consolidaria (Evron 1994, 16 p.) – paradoxalmente, seu próprio projeto nuclear o deixaria mais vulnerável ​(Cohen 2008, p. 244). Neste sentido, se Israel estava interessado em construir uma bomba atômica só poderia fazê-lo por meio do estabelecimento de um monopólio nuclear regional, condição que o governo não tinha certeza de que poderia obter. Segundo, a ideia de um “Israel nuclear” era completamente contraditória aos interesses globais e regionais dos Estados Unidos. Particularmente, o presidente John F. Kennedy colocou a questão da não-proliferação nuclear como uma de suas prioridades e não se mostrou disposto a conceder exceções (Cohen 2010, p. 2). Levi Eshkol estava ciente da pressão norte-americana e, em 1965, após um longo processo deliberativo, fez a importante declaração em que afirmava que “Israel não [seria] o primeiro país a introduzir armas nucleares no Oriente Médio” (Karpin 2006, p. 250).

Esta declaração se tornaria uma das máximas na retórica israelense no que tange o seu programa nuclear. Especificamente, a ambiguidade do termo ‘introduzir’ fez com que o próprio conceito de “arma nuclear” se tornasse vago, e Israel fez uso constante desse jogo de palavras para preservar a opacidade de seu projeto. Um interessante exemplo ocorreu durante as negociações entre o então embaixador israelense nos Estados Unidos durante o mandato de Eshkol, Yitzhak Rabin, e o Secretário de Defesa norte-americano, Paul Warnke. Este último entendia a posse de armas nucleares como a presença física de todos os componentes da bomba (mesmo quando não montada); dessa forma, “introdução” significava a mera posse dos componentes da arma. Para Rabin, no entanto, uma arma somente poderia ser concebida se tivesse sido testada; portanto, “introdução” constituía um teste bem sucedido e o reconhecimento público da posse de capacidade nuclear (Cohen 2010, pp. 4-5). Dentre outros fatores, foi essa sutil diferença nas interpretações que permitiu a Israel se tornar uma exceção nuclear.

Seria razoável afirmar que foi a “promessa de não-introdução” de Levi-Eshkol, junto a postura moderada do presidente norte-americano, Lyndon B. Johnson, que permitiram a Israel recusar-se a assinar o Tratado de Não-Proliferação (TNP) em 1968. Com efeito, foi no ano seguinte que os dois países chegaram ao acordo mais importante a respeito do programa nuclear israelense: a nova primeira-ministra de Israel, Golda Meir, e o presidente norte-americano, Richard M. Nixon, assinaram um acordo em que os EUA aceitavam (ou reconheciam) o desenvolvimento nuclear israelense e confirmavam que não pressionariam o país a assinar o TNP (Cohen 2010, pp. 73-76). Por outro lado, o acordo Meir-Nixon estabelecia que Israel não reconheceria publicamente a posse de bombas atômicas, se comprometeria a não testá-las ou usá-las, a não fazer propaganda de sua capacidade bélica e a não realizar ameaças nucleares. Em essência, “a bomba israelense deveria permanecer invisível” (Cohen 2008, 246 p.).

É importante salientar que naquela ocasião Israel poderia ainda aceitar a proteção nuclear americana (a exemplo de Austrália e Coréia do Sul). Considerando que o desenvolvimento de armas nucleares poderia incentivar seus vizinhos árabes a iniciar um projeto nuclear (um cenário estratégico muito problemático), talvez a melhor postura fosse aceitar o poder de dissuasão americano. No entanto, a visão realista sobre a ordem internacional de Eshkol e Meir os deixaram céticos quanto o compromisso americano e a capacidade do TNP de impedir a proliferação no Oriente Médio. A única maneira de garantir a existência do Estado, acreditavam eles, seria a adoção da “doutrina da auto-suficiência”, uma aproximação da doutrina francesa “force de frappe” (Cohen 2010, p. 64).

O acordo Meir-Nixon de 1969 não marcou apenas o nascimento da Amimut, doutrina da opacidade nuclear, mas colocou também o país numa posição excepcional dentro do cenário internacional. Em primeiro lugar, ao contrário de todas as potências nucleares, incluindo Índia e Paquistão, Israel nunca reconheceu publicamente a posse de armas nucleares; na realidade, o país nunca as legitimou e continua comprometido com a idéia de não-proliferação (Cohen 2008, p. 247). Em segundo lugar, para o êxito do programa nuclear Israel teve que estabelecer [e preservar] um monopólio nuclear regional, uma exigência que ainda o coloca em uma única (em certo sentido, hipócrita) posição: o país incessantemente advoga em favor da não proliferação nuclear no Oriente Médio, enquanto segue sendo o único proliferador da região (Cohen 2010, pp. 37-39). Terceiro, como resultado do acordo Meir-Nixon, Israel decidiu que a fim de preservar o sigilo de seu programa este deveria permanecer sob vigilância civil-científica, e não sob o controle militar das Forças de Defesa de Israel (FDI) (Cohen 2008, p. 250). Todas estas implicações ajudaram a consolidar o status israelense de exceção no mundo; de fato, não há nenhuma outra potência nuclear que tenha seguido esse padrão de desenvolvimento. A próxima seção explica como o país tem sido capaz de manter tanto a opacidade de seu programa quanto a excepcionalidade de sua condição nuclear.

Amimut e os guardiões do tabu

Amimut é comumente traduzida como ambiguidade ou opacidade. No entanto, no caso israelense as duas traduções não devem ser consideradas sinônimas. Como Cohen e Frankel (1990) argumentam, ambiguidade nuclear refere-se ao caso em que “(…) um país é conhecido por possuir uma infra-estrutura nuclear substancial, incluindo capacidade de processamento e enriquecimento de urânio, enquanto há razões para suspeitar que essa capacidade possui objetivos armamentistas” (p. 19). Em outras palavras, ambiguidade nuclear configura-se um estado excepcional de “ser e não ser” um Estado com capacidade atômica concomitantemente. No entanto, tratando-se do programa nuclear israelense, não há qualquer incerteza, ambiguidade, ou suspeita relativa ao desenvolvimento armamentista. Segundo diversos indicadores, Israel possui um vasto arsenal nuclear. Por essa razão, a relevante pergunta a ser feita não é se Israel possui ou não armas nucleares, mas como o país preserva o seu status excepcional? Em outras palavras, como Israel administra politicamente a sua ausência no TNP e neutraliza a pressão internacional para seu completo desarmamento? É exatamente a resposta à essa pergunta que nos conduz à melhor aproximação de Amimut: opacidade.

Cohen descreve opacidade como “um modus vivendi político sob o qual a bomba israelense [é] tolerada pelos Estados Unidos enquanto Israel [não] a reconhecer publicamente” (2008, p. 246). No entanto, como Cohen reconhece, a doutrina de opacidade não foi aceita apenas pelos Estados Unidos (Cohen & Frankel 1990, 26 p.). A União Soviética também preferiu a adoção de uma postura opaca por parte dos israelenses. O regime soviético acreditava que a visibilidade de Israel exporia a URSS à uma desnecessária pressão por parte de seus clientes árabes a ajudá-los a desenvolver uma capacidade nuclear, ou, ao menos, tornaria mais difícil rejeitar assistência aos seus fiéis compradores no Oriente Médio. Cohen e Frankel argumentam ainda que os países árabes tinham algum interesse em não aceitar a ideia de tornar público o projeto nuclear israelense (2010, p. 27). Entretanto, este argumento é empiricamente problemático, pois em diversas ocasiões líderes árabes referiram-se ao programa israelense como justificativa à construção de uma bomba atômica. Este foi o caso do Egito durante os regimes de Nasser e Sadat, da Líbia sob o domínio de Kadhafi, do Iraque com Saddam Hussein, e do Irã, principalmente após a ascensão de Khomeini (Evron 1994, pp. 22-28).

Em linhas gerais, opacidade (Amimut) é mais do que um acordo estratégico-nuclear entre Israel e os EUA. É uma construção internacional; uma norma fundamentada na ideia de “não confirmar nem negar”. Opacidade é uma postura estratégica que impede a legitimação do programa nuclear israelense, mas aceita a sua existência. Internamente, a doutrina da Amimut é concebida como o ponto de equilíbrio no dilema de segurança israelense, ou seja, a postura ideal para o desenvolvimento de uma capacidade nuclear ao mesmo tempo em que permanece comprometido com a não-proliferação (Cohen 2008, p. 247).

A doutrina da Amimut não é excepcional apenas por constituir uma norma internacional relacionada a um país específico, mas também por ter se tornada uma estratégia única de dissuasão. O fato é que desde o final da década de 60, Israel identificou quatro cenários que poderiam desencadear o uso de seu arsenal nuclear: (1) o uso de armas atômicas contra o seu terriório; (2) uma penetração militar árabe além das fronteiras determinadas em 1949; (3) a exposição do território israelense à ataques com armas químicas ou ataques aéreos maciços; e (4) a destruição da força aérea israelense (Cohen 2008, p. 252). Considerando essas “linhas vermelhas”, não é difícil perceber as deficiências inerentes ao método de dissuasão opaco adotado por Israel. Em primeiro lugar, todos esses cenários são extremamente improváveis de serem obtidos. Como Cohen (p. 252) aponta corretamente, já na década de 1960 era evidente que seria praticamente impossível encontrar uma situação que justificaria moralmente o uso israelense de armas nucleares. Na realidade, ao longo de sua história o país provou por diversas vezes ser avesso à exposição de seu programa nuclear – o governo absteve-se de fazer qualquer uso de armas nucleares mesmo em complicadas situações, como durante a Guerra dos Seis Dias (1967) e na Guerra do Yom Kippur (1973) (Evron 1994, p. 62-63).

Em segundo lugar, a postura estratégica de não-exposição lança dúvidas sobre a capacidade de dissuasão israelense (Miklos 2012). Por não testar ou ameaçar publicamente um possível uso de suas armas nucleares [mesmo sob perigo existencial], Israel tem sua credibilidade de dissuasão consideravelmente reduzida. Além disso, devido ao seu status obscuro, a comunicação necessária para o sucesso da dissuasão de seus inimigos é quase impossível de ser estabelecida (Cohen & Frankel 2008, p. 32). Terceiro, sem credibilidade e comunicação o programa atômico israelense pode instigar inimigos a realizar ataques em seu território. Isso pode ocorrer pois um país hostil pode se sentir compelido a lançar um ataque preventivo a fim de evitar tornar-se alvo de uma retaliação nuclear. Finalmente, a opacidade do status pode incentivar a proliferação de armas de destruição em massa na região, como foi o caso do Iraque, da Líbia, do Irã, Egito e Síria. O fato é que, mesmo com ataques preventivos – Osirak em 1981 (Operação Opera) e Síria em 2007 – o regime de Amimut demonstra uma instabilidade inerente (Miklos 2012). Paradoxalmente, é a própria estratégia de dissuasão opaca que coloca Israel sob sérios riscos. Este é certamente um padrão estratégico único no âmbito mundial.

As quatro falhas supracitadas são exclusivas à estratégia de ‘dissuasão opaca’ adotada por Israel; elas evidenciam a excepcionalidade da estratégia de Amimut. No entanto, se o poder de dissuasão nuclear do país apresenta sérios problemas, por que não há um sério debate público sobre a questão? Por que uma sociedade politicamente engajada permanece em silêncio há tantas décadas? A resposta a esta questão reside no papel excepcional da sociedade israelense em manter o sigilo do projeto nuclear do país. Com efeito, ao contrário de outras nações nucleares, Israel goza do compromisso consensual de seu público para preservar o sigilo de seu programa (Cohen & Frankel 1990, p. 28). Apesar da sociedade israelense ser altamente envolvida em causas políticas, a questão parece receber um tratamento especial com base na idéia de kedushat habitachon (“a sacralidade da segurança”). Mesmo no caso de Mordechai Vanunu, em que segredos foram revelados publicamente, a mídia e a sociedade não demonstraram grande interesse no caso (Cohen 1998, pp. 344-345). Além disso, as autoridades israelenses consideram as revelações de Vanunu estrategicamente benéficas devido a sua contribuição à credibilidade do poder de dissuasão nuclear do país (Cohen 2010, p. 133). De qualquer forma, o tabu parece estar bem guardado em mãos públicas.

É importante notar que esse tratamento especial não é resultado da censura militar, embora tal censura exista. De fato, apesar de Israel possuir uma estrutura de controle midiático muito eficaz (a Censora), responsável por evitar a publicação de questões sensíveis referentes a segurança do país, em diversas circunstâncias a mídia israelense optou por ignorar a questão nuclear e não demonstra qualquer interesse em promover uma debate sobre o tópico (Cohen 2008, p. 140). Seria razoável argumentar que a mídia e a sociedade estabelecem um acordo tácito de “não dizer, nem perguntar”. Aparentemente, os dois compartilham do compromisso com o programa nuclear do país – o silêncio absoluto parece ser resultado de um senso de dever cívico ultimativo (Cohen 2005a). Por ser a guardiã do tabu nuclear, a sociedade israelense apresenta um padrão comportamental único que contribui para a singularidade do país.

Considerações finais

O caso nuclear israelense constitui uma exceção no mundo. Ao longo deste artigo argumentei que esta excepcionalidade deriva da condição geopolítica do país, de acordos secretos com os Estados Unidos, da doutrina da opacidade (Amimut) e do papel da sociedade como “guardiã do tabu”. É inequívoco que esses quatro fatores estejam profundamente interligados dentro de uma complexa rede de eventos históricos que tornam difícil a identificação de qualquer relação causal. No entanto, o status singular do programa nuclear israelense não deve ser concebido como óbvio. Com efeito, a cada ano há uma reavaliação da postura estratégica. Atualmente, o programa nuclear iraniano representa um grande desafio para a opacidade nuclear de Israel, pois a hostilidade e a determinação do regime islâmico em desenvolver armas nucleares constitui uma ameaça existencial aos olhos das autoridades israelenses. Diante desse cenário, o país tem de repensar seus pressupostos normativos a respeito da doutrina da Amimut. Num futuro próximo, líderes israelenses terão que decidir se aceitam um Irã nuclear,[3] impedem o regime islâmico de obter armas nucleares através de uma operação militar complicada, ou alteram a sua postura em relação a não-proliferação nuclear.[4] Uma coisa é certa: em qualquer um dos casos, a excepcionalidade do status nuclear de Israel encontra-se sob severa pressão.

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[1] As estimativas foram obtidas do site Nuclear Threat Initiative. Para mais informações consulte http://www.nti.org/country-profiles/israel/.

[2] O termo “exceção” deve ser aqui entendido como um padrão específico que difere dos outros. Além disso, é importante notar que “excepcionalismo” não é empregado como justificativa para, mas sim como uma descrição empírica de. A literatura parece menos consciente dessa distinção, usando “excepcionalismo” como uma perspectiva normativa e como uma percepção empírica da realidade de forma indissociável. O presente artigo objetiva explicar porque a produção nuclear israelense constitui uma exceção vis-à-vis outros programas nucleares; ele não objetiva justificá-la.

[3] Kenneth Waltz é um dos principais defensores dessa idéia. Para o seu argumento ver Waltz, K. N. (2012). Why Iran should get the bomb. Foreign Affairs, 1-5.

[4] Ao contrário de Waltz, Richard Falk (2012) constrói um argumento bem fundamentado contra a proliferação nuclear no Oriente Médio. O autor sustenta que a melhor estratégia para Israel e Irã seria a negociação e a implementação de uma zona livre de armas nucleares no Oriente Médio. Wheeler (2009) desenvolve um argumento semelhante em termos da não-proliferação nuclear na região. O autor toma o acordo Brasil-Argentina como exemplo de como a construção de confiança entre inimigos pode atuar como fator de estabilização. O ponto é que em qualquer dos três casos Israel provavelmente será obrigado a explicitar o seu programa nuclear, prejudicando assim a excepcionalidade de seu status.

Bibliografia

Cohen, A. (2010). The worst kept secret: Israel’s bargain with the bomb. Columbia University Press.

———-. (2008). Israel: a sui generis proliferator. Muthiah Alagappa. The Long Shadow: Nuclear Weapons and Security in 21st Century Asia Standford. Calif: Standford University Press.

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———-. (1998). Israel and the bomb. Columbia University Press.

Cohen, A., & Frankel, B. (1990). Opaque nuclear proliferation. The Journal of Strategic Studies, 13(3), 14-44.

Evron, Y. (1994). Israel’s nuclear dilemma. Routledge.

Falk, R. (2012). Kenneth Waltz is not crazy, but he is dangerous: nuclear weapons in the Middle East. Citizen Pilgrimage.

Hasson, S. (2013). Israel’s geopolitical dilemma and the upheaval in the Middle East. The Joseph and Alma Gildenhorn Institute for Israel Studies, College Park, MD.

Jabber, F. A. (1971). Israel’s Nuclear Options. Journal of Palestine Studies, 1(1), 21-38.

Karpin, M. (2006). The bomb in the basement: how Israel went nuclear and what that means for the world. Simon & Schuster Press.

Miklos, Timothy. (2012). Unraveling the myth of opacity: how Israel’s undeclared nuclear arsenal destabilizes the Middle East. International Affairs Review, 21(1), 43-61.

The Nuclear Threat Initiative. Overview: Last updated: December, 2013. http://www.nti.org/country-profiles/israel/

Waltz, K. N. (2012). Why Iran should get the bomb. Foreign Affairs, 1-5.

Wheeler, N. (2009) ‘Beyond Waltz’s Nuclear World: More Trust May be Better’, International Relations, 23 (33), 428–445.

Ziv, G. (2007). To Disclose or Not to Disclose The Impact of Nuclear Ambiguity on Israeli Security. Israel Studies Forum (Vol. 22, No. 2, pp. 76-94). Berghahn Journals.

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Chozrim LaKikar (Voltamos à Praça), realizado nesse primeiro de novembro, foi mais um dos encontros no qual a presença se fez válida. Ele contou com a presença de jovens, senhores e senhoras que acreditam na paz através do diálogo. Milhares de pessoas encheram, no último sábado, a Praça Rabin – local onde o ex-primeiro ministro foi assassinado há 19 anos. O ato, organizado pela família de Yitzhak Rabin, contou com a presença do partido israelense Meretz, ativistas da ONG Paz Agora e outras organizações, como Mulheres Fazem Paz, Amigos da Terra e Futuro Azul e Branco.

Certos aspectos do ato nos chamaram a atenção. Artigos, matérias em jornais e publicações no Facebook, nas semanas que antecederam o evento em memória a Yitzhak Rabin, transmitiam a sensação de tristeza. No entanto, percebemos que se tratava de muito mais que uma concentração em homenagem ao ex-primeiro ministro. Tratou-se de uma manifestação em prol da paz, que só será alcançada com o retorno das negociações, legado que Rabin nos deixou.

image (2)Para ilustrar o clima de esperança – e não de tristeza – houve apresentações de artistas israelenses famosos, como Avraham Tal e Mashina, no decorrer do evento. Fomos surpreendidos também pela presença do grupo de hip-hop Hadag Nachash. Além do hit – e praticamente novo hino da esquerda – Zman Lehitorer (Hora de Acordar), a banda tocou uma das suas músicas mais famosas: Shirat Hasticker (Canção dos Adesivos). A letra mostra as diferentes correntes de pensamento da sociedade israelense através de adesivos, em sua maioria políticos, e cita, em muitos momentos, lemas da extrema direita no início dos anos 90. Entre eles, escutamos o peculiar “morte aos valores”. O trecho gera uma reflexão: a quem o crime de Ygal Amir foi direcionado, afinal? Somente a Rabin ou também aos valores que ele defendia?

Nesse aniversário de 19 anos do assassinato de Yitzhak Rabin, sentimos a obrigação de ir ao lugar no qual três tiros foram disparados: um contra o primeiro ministro, um contra a democracia e outro contra a paz. O primeiro projétil foi fatal. Apesar de debilitadas pelo conflito cada vez mais sólido entre israelenses e palestinos, as duas outras vítimas perduram na sociedade.

Por mais complexo que o conflito possa ser, uma questão é evidente: Israel e Autoridade Palestina (AP) têm falhado na busca por um acordo. Enquanto Israel, por exemplo, não interrompe a construção de novos assentamentos, temos uma AP que consente com a permanência de ramos extremistas no poder, principalmente em Gaza.

Como ativistas do movimento juvenil Hashomer Hatzair e como moradores do país desde fevereiro deste ano, tivemos muito contato com temas como paz, justiça social, respeito e irmandade entre os povos. Presenciar a operação Margem de Proteção tornou mais evidente para nós a necessidade de se firmar um acordo de paz que suspenda as trocas de fogo que tanto flagelam. Os cartazes do partido Meretz levantados na manifestação não nos permitem mentir: “Se não há paz, vem a guerra”.

Nesse sentido, oradores da manifestação nos deram uma perspectiva positiva acerca da resolução desse doloroso e complexo conflito. Shimon Peres, ex-presidente, lembrou a todos na praça: “Melhor uma paz fria do que uma guerra quente”. Caso seja firmado um acordo – objetivo principal exigido do atual governo de Israel no evento – presume-se que esse não seja perfeito de imediato.

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Assim como a educação que o movimento Hashomer Hatzair defende como meio de alcançar a paz, um acordo não criará utopias repentinas. Exigirá esforço e compromisso de ambas as partes e funcionará como disparador de um processo evolucionário e gradual em direção à paz. O primeiro passo, para o governo israelense é encontrar a parcela do povo palestino que está disposta a dialogar e a fazer um acordo.

Yigal Amir, há 19 anos, cometeu um atentado contra Rabin, mas seus ideais sobreviveram. Mesmo que o processo de paz tenha permanecido congelado por anos, os valores de Rabin persistem cada vez mais fortes. Muki Tsur, renomado historiador israelense, nos deu essa certeza em uma palestra do programa Shnat Hachshará: “ideias não são pessoas. Elas não nascem e não morrem. Passam, de geração em geração, com a possibilidade de serem reinterpretadas e renovadas. E a ideia da paz nunca esteve tão viva”.

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