Em que acreditam os judeus “seculares” ? - Professor Yaakov Malkin - Tradução Ronen Perlin
Por que é tão difícil colocar claramente em palavras, aquilo no que acreditamos? Por que este título teve de ser reescrito por 6 vezes, antes de atingir a forma de apresentação finalmente publicada? (o que se deu em fevereiro de 2000)? Afinal, como neto e filho de ateus confirmados, eu vivi e aprendi neste credo por toda a minha existência.
Talvez seja porque o Judaísmo -a civilização e cultura datada de 3000 anos do povo Judeu- não tenham transformado em habito, fazer propagar sua fé (como o Catolicismo fez, por exemplo). Judeus e suas crenças - religiosas e seculares,- tendem a se manifestar através de ações, estilo de vida, em relação aos mandamentos entre a Halacha e os das civilizações não judias, e em nome da ética e das normas das leis é que procuramos seguir.
Judeus seculares, isto é, judeus que se liberaram da obrigatoriedade da observância de práticas tradicionalistas, são judeus fiéis, tão quanto qualquer outro judeu, demonstrando sua crença pelo seu modo de viver através da educação que oferecem aos filhos, na medida em que celebram as datas nacionais e festivais próprios, na sua percepção de judaísmo enquanto manifestação cultural e não manifesto religioso.
Judeus seculares acreditam em humanidade, que homens e mulheres construíram nossos valores morais, que criaram D’s (ele próprio) com todas as leis e mandamentos que os religiosos se lhe delegam (à D’s).
Judeus seculares acreditam que a sua liberdade demanda lealdade aos valores do humanismo e que é segundo esses valores que cada ato, lei ou mandamento deva ser julgado e avaliado. Hilel, Elder e Kant encapsularam o conceito em máximas famosas: Não proferir ao próximo aquilo que não te desejas a ti mesmo. Nenhum homem deve se reportar a outrem como um meio, senão como à um fim em si mesmo. Um princípio ético ou terá aplicação universal ou será considerado antiético. Todos os valores morais deverão concordar ou serem derivativos destas três asserções formuladas. Mandamentos e leis religiosas não são valores senão regras que deverão ser avaliadas – e então aceitas ou rejeitadas – conforme se sustentem ou fracassem ao teste dos valores humanistas. Foi nesta escala de prioridades que os Profetas Hebreus classificaram justiça social sobrepujando a impecabilidade de rituais de sorte que Hilel poderia condensar “todo o conteúdo da Torah” nesta única percepção transcendente.
Judeus seculares humanistas, como todo ser humanista, acreditam que homens e mulheres não nasceram como tendo características humanas mas que, diferentemente, desenvolvem suas características de humanidade ao que estudam e absorvem esses valores humanistas que separam bondade de malevolência. (O D’s do Gênesis, conta-se, estava decidido que aos homens não competeria tal conhecimento. Somente graças à bem sucedida rebelião de Eva – ela comeu o fruto da Arvore do Conhecimento do Bem e do Mal – foi que a humanidade adquiriu a noção humanitária dependente de moralidade, a semente da qual toda a cultura e civilização humana derivaram).
Este processo, em que homens e mulheres crescem em suas humanidades, invariavelmente acomete dentro de um contexto nacional do meio cultural em que vivem. De fato este é o único contexto possível dentre todas as outras culturas do mundo – a nacional. (Humanidade no entanto será o resultado final do processo tão somente se criarmos e educarmos as crianças contra o nacionalismo e o racismo). Crianças não podem se criar fora de uma cultura nacional, mas no entanto nada as impedem de conhecer e absorver mais de uma. Isto é o que distingue judeus israelenses dos judeus da diáspora. Judeus da diáspora são geralmente educados na linguagem e cultura do país hospedeiro, assim o que assimilam do seu contexto judaico comunitário – se absorvem de fato - é um adjunto ou complemento. Judeus israelenses, em contraste, crescem com uma única cultura judaico-isareli e o idioma nacional judaico torna-se vernáculo para todas as atividades, sejam as cotidianas até as ciências e as artes. (A cultura israeli- árabe/palestina e a israeli-druza constituem culturas nacionais separadas, quando senão parcialmente coincidentes).
Judaísmo é cultura pluralista e civilisatória de toda a Judeicidade, secular ou religiosa. Decorridos os 3 milênios de sua existência ela repetiu e se renovou, absorvendo empréstimos dos tantos outros vizinhos, conquistadores e anfitriões, de Sumérios, Canaanitas, Egípcios, Gregos, Árabes, Europeus, Americanos e outros. Em torno do 1º milênio da Era Comum, as influencias começaram a migrar no sentido oposto e a influencia do judaísmo – mediada pelo Islamismo e o Cristianismo – hoje se manifestam em todos os povos ocidentais. Nos últimos 1000 anos os préstimos e influencias entre as civilizações judaicas e não judaicas tem sido complexas e multi direcionais.
Por esta razão, Judeus seculares estão convencidos de que a educação em judaísmo deve abraçar um relacionamento com as outras civilizações e conformar a educação expandida para a cultura mundial das nações. Somente então os judeus atingirão os seus completo potencial de humanidade e de universalidade.
Nenhum dos objetivos do Judaísmo secular serão percebidos se seus membros não atuarem em “comunidades de cultura”, e de fato tais comunidades impulsionaram-se – em círculos judaicos germânicos na Europa ocidental, em centros Yidish na Europa oriental e na América, nos kibutzim e centros comunitários em Israel, e mais recentemente desde 1960 em chavurot (grupos de encontros regulares para atividades sócio-culturais) e em comunidades seculares humanistas e em sinagogas na Europa ocidental e América do norte
Uma atividade sócio-cultural deste tipo enriquece as mentes de pessoas em todas as idades. Experiências de primeira mão com literatura e arte judaicas, com festivais nacionais e suas celebrações de transição de ciclos de vida, acrescentam dimensões renovadas – a espiritualidade e a sensação de estar conexo com uma tradição nacional inter gerações, de legitimidade, assim para os grupos judeus dispersos em torno de qualquer lugar do mundo.