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OS ANJOS NÃO DEIXAM PEGADAS

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Foto Ilustrativa

O título de meu último livro, “Os anjos não deixam pegadas”, baseia-se na afirmação do Talmud de que os anjos apenas ficam parados, enquanto os seres humanos podem caminhar.


Edição 33 - Menorah
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Nesta afirmação está implícito que por mais santificados que sejam os anjos, eles o são por terem sido criados desta forma. Sua santidade não é fruto de suas próprias ações. Os anjos não conseguem aperfeiçoar-se. Não se podem tornar ainda mais santificados do que quando foram criados. Pois os anjos são estacionários, nem progridem nem retrocedem.

Os seres humanos, por outro lado, não são criados com santidade. Pelo contrário, são criados com um corpo físico que tem fortes impulsos e desejos de agir em total contraste com a santidade. Quando os homens exercem controle sobre suas urgências físicas e agem de acordo com a moral e a ética, tornam-se espirituais e santificados por obra de seu próprio empenho. Contrapondo-se aos anjos que são estacionários, os seres humanos caminham, podendo, portanto, progredir. É por esta razão que os ensinamentos de nossa Torá nos dizem que os homens são superiores aos anjos.

Quando as pessoas progridem espiritualmente, elas impactam o ambiente que as rodeia. Sua família, seus amigos e sua comunidade são influenciados por sua espiritualidade. Eles assim possibilitam que outros sigam seus passos, suas pegadas. Daí o título de meu trabalho, “Os anjos não deixam pegadas”. As pessoas, sim, deixam sua marca.

Uma pessoa pode minimizar o efeito de seus atos. “O que eu fizer não mudará o mundo”. Isto é um grave erro. Se agirmos moralmente e espiritualmente, estaremos elevando o mundo. Se nos comportarmos de forma imoral, faremos com que o mundo se degenere.

Nossa responsabilidade, enquanto povo que recebeu a Torá, é a obra de Tikun Haolam, a retificação do mundo. Trata-se de uma assombrosa responsabilidade, mas uma responsabilidade à qual não ousamos nos furtar.

De modo semelhante a outros seres vivos, o homem, por natureza, busca o prazer. Em nome do comportamento ético e moral, com freqüência temos que nos privar de certos prazeres. Nossa mente tem enorme capacidade de racionalização. O Rei Salomão, em seus Provérbios, diz: “Os caminhos do homem são justos a seus próprios olhos”. Ou seja, conseguimos encontrar justificativa para o que quer que seja de nossa vontade, para o que desejarmos.

Se usarmos nosso intelecto apenas para encontrar formas de aumentar o nosso prazer e justificar nossos atos, seremos exatamente aquilo pelo qual a ciência nos identifica: homo sapiens, animais inteligentes.

A perspectiva da Torá é muito diferente. Estamos aqui para ser criaturas espirituais, cujo comportamento é determinado pelo que é certo ou errado – e não por aquilo que desejamos. Não devemos satisfazer-nos com aquilo que somos. Devemos empenhar-nos em ser aquilo que podemos vir a ser.
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Israel x Palestina: Assentamentos ameaçam acordo de paz (dia 3)

por Adriana Carranca

Seis semanas foram suficientes para que Israel recuperasse os projetos parados durante os dez meses em que manteve congelados novos assentamentos judaicos na Cisjordânia. Desde 26 de setembro, quando terminou o embargo, 1.629 casas foram erguidas e o terreno preparado para 1.116 novas unidades, em 63 assentamentos. É quase o dobro do que teriam construído, não tivessem as obras sido congeladas. A expansão pode inviabilizar a divisão da área disputada em dois estados, Israel e o Estado palestino, e minar um acordo de paz definitivo.

Segundo o relatório da organização Peace Now, feito com base em dados do Escritório Central de Estatísticas de Israel (CBS, na sigla em inglês), 1.888 novas unidades foram construídas em 2009, antes do embargo que durou de janeiro a setembro de 2010 – o ritmo é de cinco casas por dia, em áreas da Cisjordânia. “Se o congelamento não tivesse existido, eles teriam erguido cerca de 1.574 unidades nos dez meses. Em seis semanas, entre a última de setembro e a primeira de novembro, já recomeçaram mais do que isso e prepararam o terreno para quase o dobro. É como se não tivesse havido embargo algum, mas apenas um atraso nas obras”, diz a pacifista Hagit Ofran, que lidera um projeto de fiscalização dos assentamentos judaicos para a Peace Now. “A estratégia do governo de Israel é levar mais e mais judeus para viver nos territórios palestinos. Com isso, torna-se impossível a solução de dois estados.”

Os assentamentos são autorizados pelo governo israelense e passam também pelo crivo do Ministério da Defesa. Para o advogado israelense Daniel Seidmann, se o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu autorizar a construção de novos assentamentos no ritmo do antecessor Ehud Olmert, em dois ou três anos a solução de dois Estados estará perdida. Seidmann foi o consultor de Bill Clinton para a divisão política de Jerusalém na elaboração do plano de paz proposto ao então líder palestino Yasser Arafat.

Detalhe: Hagit Ofran e Daniel Seidmann são judeus, israelenses e sionistas. Defendem a existência do Estado de Israel, mas também a criação da Palestina.

Recetemente, o presidente dos Estados Unidos, Barak Obama, ofereceu um generoso pacote militar para que Israel retomasse as negociações de paz sob a condição, exigida pela AP, de congelar os assentamentos por mais três meses. Israel argumenta que os palestinos esperaram até os meses finais do acordo para negociar e que mais três meses não faria diferença. Mas outro ponto foi crucial para o impasse na retomada das negociações. O novo congelamento incluiria o leste de Jerusalém, da qual Israel não abre mão. Diante da impossibilidade de um acordo, Obama recuou.

“Isso representa uma ameaça para o povo judeu. Jerusalém define a relação dos muçulmanos com Israel e o Ocidente. Se ignorarmos Jerusalém num acordo de paz, pagaremos o preço”, acredita Seidmann. A AP ameaça recorrer à ONU unilateralmente para a criação do Estado palestino, o que deixaria Israel sem saída. No Conselho de Segurança, os israelenses poderiam conseguir o veto dos Estados Unidos, mas Abbas está disposto a ir tão longe quanto a Assembleia da ONU – a mesma em que o movimento sionista conseguiu, em 1947, o apoio para a criação do Estado de Israel.

Enquanto a solução de dois Estados é apontada por especialistas, como Seidmann, como a única saída de Israel para se manter como nação judaica democrática, a direita no poder, com maioria no Knesset, tenta empurrar as negociações para frente.

Dois professores da Universidade Hebraica de Jerusalém, com quem tive aula, atribuem isso à desconfiança entre judeus e muçulmanos. “Os vizinhos muçulmanos estão prontos para aceitar definitivamente um Estado judeu e evitar ataques a Israel?”, coloca o professor Meron Medzini, que deu a primeira aula para o grupo de jornalistas (tentarei resumir aqui nos próximos dias). A direita desconfia disso. “E se a paz não é possível, então, temos de assegurar os territórios, para garantir a segurança do país. É essa a lógica”, confirma o cientista político Gadi Wolfsfeld, da mesma universidade.

Recuar as fronteiras de Israel àquelas estabelecidas antes da Guerra dos Seis dias, em 1967, para a criação do Estado palestino, como apoiam o Brasil e outros mais de cem países, significa deslocar meio milhão de judeus das terras ocupadas desde então. Mais de 200 mil vivem no leste de Jerusalém, reivindicada pela Autoridade Palestina como sua capital. Outros 300 mil são moradores de assentamentos em outras áreas da Cisjordânia. Uma população que cresce a um ritmo de 5% ao ano, enquanto a taxa de natalidade em Israel é de 1,8%.

Mesmo durante os dez meses do congelamento da construção de novos assentamentos, as unidades cuja fundação já estava pronta puderam ser terminadas. “O que estão fazendo agora é correr com a infraestrutura (rede de esgoto, ruas e eletricidade etc.) para garantir as terras, caso haja novo congelamento”, diz Hagit.

Com um 4×4 e uma pequena câmera digital, Hagit já colocou muitas vezes em saias justas o primeiro-ministro de Israel Benjamin Netanyahu. Não apenas por se opor aos assentamentos judaicos, aprovados por seu governo, mas porque, embora fale em nome dos palestinos contra o que considera uma “ocupação ilegal de terras privadas”, Hagit é judia, israelense, formada em história judaica e criada em uma família religiosa. É neta do proeminente filósofo Yeshayahu Leibowitz, judeu ortodoxo e sionista, que se estabeleceu em Jerusalém, em 1935.

Na parte leste, onde ele viveu, moram hoje 260 mil palestinos. Eles têm status de residente, o que significa que pagam impostos e têm direito a serviços públicos, mas não ao voto, uma vez que não têm a cidadania israelense. Com a construção dos polêmicos muros de segurança que separam comunidades árabes de Israel, 60 mil desses palestinos ficaram sem acesso livre à cidade. Os muros anexam a maior parte do leste de Jerusalém e os grandes assentamentos de Gush Etzion, Ma’ale Adumim e Giva’t Ze’ev.

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Uma nova estrada em breve ligará esses assentamentos a Jerusalém e Jericó – sem acesso pelas comunidades árabes. As obras avançam sobre vilarejos beduínos, fixados no deserto da Cisjordânia com a criação do Estado de Israel, em 1948. E reforçam o apartheid social. “Eu nasci aqui, a minha família está aqui desde 1948. Como podem dizer que essa não é nossa terra?”, diz Silman, um jovem de 28 anos, que vive na comunidade Jahalin, nos arredores de Ma’aleh Adumim, assentamento onde estão 38 mil judeus.

“Muitos estão nos assentamentos porque as casas são vendidas pela metade do preço”, diz Angela Goodfrey-Goldstein, do Comitê Israelense Contra Demolições. Os terrenos são comprados via terceiros. “O objetivo é claro: aumentar a presença judaica.”

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Os meus amigos mais próximos, já estão cansados de saber de meus “pecados protoliterários”, q. é como denomino, tomado pelo temor, minhas pretensões de escritor, meus pequenos vôos pelos céus sem limites da fantasia literária.Todo pretenso escritor tem seu guru, o meu mais próximo, desde longa data, foi Moacyr Scliar z´l.Começou esta relação, como começam todas entre o leitor e o seu autor. Não que Moacyr tenha sido o único –confesso minha infidelidade humana - acontece que mesmo não sendo tricolor doente, sou levado a concordar com o velho bruxo, Nelson Rodrigues, que afirmava algo mais ou menos assim: há apenas 3 ou 4 livros (autores) importantes para cada um de nós, cabe apenas relê-los sempre.Com Moacyr foi assim. Na fase de leitor, como muitos, comecei pela “Guerra do Bom Fim e “O Exército de um homem só”, segui pelo “Ciclo das águas”passei pelo ”O centauro no jardim” e daí não parei mais, chegando por último ao “Manual da paixão Solitária”.Neste último, ele “pegou pesado” comigo, pois sem saber, escolheu como tema a vida de Tamar de Judá, o mesmo personagem bíblico que sempre me encantou- encanto que me fez dar nome a uma de minhas filhas.Personagem, passível de controvérsia nos meios mais conservadores, e tão bem compreendido por ele e por Thomas Mann, em sua tetralogia “ José e seus irmãos”, onde Mann apresenta uma Tamar esplendorosa, dona de si e de suas escolhas e a de Scliar é exatamente assim, só que com um delicioso e magistral tom satírico , uma das fortes marcas de sua obra.Como o conheci pessoalmente, sim porque eu o conheci e muito bem, é um outro longo pedaço desta mesma história.Tudo começou nos anos 90, ao pesquisar e escrever um trabalho sobre judeus no Brasil, para a Universidade Hebraica de Jerusalém que se propunha ser um programa de estudos do tema nas escolas – o primeiro de seu gênero- optei por utilizar como uma das ferramentas didáticas e pedagógicas de apoio, a literatura de autores judeus brasileiros.Meu cânone e orientação, veio da grande amiga Regina Igel, da Universidade de Maryland, especialista em literatura judaica brasileira, autora do clássico “ Imigrantes Judeus, escritores brasileiros”.Este meu trabalho leva o título de “História e Identidade, a experiência dos judeus no Brasil”, inédito até hoje como livro, mas que possui um prefácio elogioso e generoso, escrito por meu guru – a primeira de várias lembranças carinhosas e encorajadoras que ele me deixou.O primeiro de inúmeros encontros pessoais aconteceu em 1998, quando atendeu ao meu convite, para uma palestra aos alunos do colégio A. Liessin Scholem Aleichem e daí não paramos mais- eu de convidá-lo e ele de aceitar os convites,alíás, justiça seja feita: nunca soube que ele tenha negado algum a alguém...Em 2003, numa palestra no colégio TTH-Barilan, nos reencontramos e ao final do evento,levei-o, caminhando, até o hotel onde estava hospedado, e aproveitamos para colocar nossa conversa em dia. A certa altura ele me revelou, o que pouquíssimos sabiam no país naquele momento:“ Tu sabes, guri, que me convidaram para fazer parte da Academia? Na verdade eles estão querendo se retratar com o Rio Grande, já que não colocaram lá o Mário Quintana...”Se isso não é humildade, o que seria então, esta tal coisa?Alguns poderiam pensar que talvez duas coisas me passaram pela cabeça: a primeira, que eu estava feliz por ele e muito por mim,pois acabava de ganhar um amigo imortal. A segunda, que me apossou um sentimento pouco nobre, e pensei:” acabo de perder um amigo...”Mas minha história com Moacyr ainda continuou, e para mim é tão imortal quanto ele.Em 2006, assumi a diretoria cultural do CCMA- Centro Cultural Mordechai Anilevitch. Em 23 de março de 2007,dia de seu aniversário, na Festa de Pessach, Moacyr e Judith, sua esposa, festejaram conosco, em nossa sede seus 70 anos.( veja em :https://www.youtube.com/watch?v=tXR7F9rRvBg)No ano seguinte, Moacyr aceitou mais um de meus diversos convites – na minha opinião o maior de todos – dar sei apoio como patrono ao Concurso de Literatura do CCMA, cujo prêmio leva seu nome – Prêmio Moacyr Scliar.Nos encontramos pela última vez em 2009, durante as gravações de uma entrevista televisiva na sede da Academia Brasileira de Letras, que organizamos para divulgar o III Prêmio Moacyr Scliar. Participando das gravações estava também um dos grandes ícones da crítica literária, e uma das maiores conhecedoras da obra de Moacyr, Bella Jozef z´l, PhD em literatura e presidente do júri do concurso.Tenho em meus arquivos as imagens, ainda não tive coragem de assisti-las novamente. No momento me bastam as memórias vivas como elas estão e sempre estarão.E pensar que há um tempo atrás, ouvi de uma grande amiga do setor editorial, quando falávamos de um projeto meu para um livro de contos, e eu dizia orgulhoso “ O prefácio quem vai escrever é o Moacyr Scliar” e minha amiga respondeu: “ para os editores, o Moacyr já não é um chamariz, eles acham que ele está virando “ arroz de festa”...Que mundo é este afinal, onde a autêntica generosidade já não sacia mais a gula desmedida deste mercado hipócrita?Moacyr passou desta para uma melhor, certamente sem ter ouvido tal barbaridade, mas lá onde ele está agora, no verdadeiro Pantheon do Gênios Generosos, já deve ter ligado seu computador e iniciado mais uma obra, que à sua maneira e como sempre, cala verdadeiramente, para quem quiser, toda esta mediocridade que aí está...
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