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Educação e Talmud -
uma Releitura da Ética dos Pais

Ana Szpiczkowski*


Antes de dar início a esta explanação sobre judaísmo e educação, proposta deste encontro, gostaria de iniciar com a retomada de alguns princípios básicos judaicos, sustentáculos que facilitam a compreensão desta religião e dos princípios que regem a vida de um dos povos mais antigos da história da humanidade e que permanece vivo até os dias de hoje.

A Torá (Bíblia), base do judaísmo histórico, é a religião do povo judeu que, em conjunto com os preceitos da Halakhá (Lei Rabínica), contidos no Talmud (Lei Oral), e das Mitsvót, (regras de conduta obrigatória, de essência divina) são entendidas como um todo indissociável, partindo, portanto, do princípio de que ambas foram transmitidas por Deus a Moisés.

Nesta concepção se encontra o dogma fundamental e único do judaísmo, segundo o qual, a revelação divina tem duas vertentes: uma escrita e outra oral que não são nada mais que dois aspectos da mesma Lei, transmitida a Moisés no Monte Sinai. A aceitação desde dogma é de tal importância, a ponto de que o próprio Maimônides [1] , em seus escritos, se refere à importância do homem escolher para sua moradia um lugar onde a Lei Escrita e a Lei Oral sejam estudadas, para preservar a manutenção dos estudos e de sua conseqüente prática.

O judaísmo é constituído pela memória de gerações, em que os mais velhos têm a obrigação de transmitir os conhecimentos para os mais novos. Tal fato, por si só, demonstra a importância que se atribui no judaísmo à questão do ensino e da educação de um modo geral. Encontramos na própria Bíblia, em Deuteronômio [2] uma alusão à importância do recebimento e da transmissão de conhecimentos por herança. Também Maimônides, em seus mandamentos, afirma o dever de ensinar e estudar a Torá e o de honrar os eruditos e idosos que nela são versados.

Na realidade, esta iniciação deve se dar desde a mais tenra idade, pela repetição de alguns versículos bíblicos, cabendo ao pai a responsabilidade por esta tarefa. Em seguida, a criança de três anos é encaminhada ao Heder, instituição característica da educação judaica tradicional no este europeu, destinada a ensinar às crianças a prática religiosa judaica e da língua hebraica.

A partir da idade de seis ou sete anos, este estudo poderá ser confiado a um professor, que receberá remuneração por seu trabalho. Em toda cidade deverá haver um professor de crianças, cuja importância equivale à de um médico, assim como de uma sinagoga e de um tribunal rabínico, sob pena de ser colocada no ostracismo. Finalmente, as crianças não devem interromper os estudos por motivo algum, por mais importante que este possa ser.

Estudar a Torá representa usar a sabedoria e a inteligência com a finalidade de levar uma vida digna e justa. Envolve o cumprimento, a ação, a prática da vontade de Deus, em que a fé e a Lei devem caminhar em perfeita sintonia.

A questão das ações associadas à sabedoria é tratada também por Abrabanel [3] , quando este atribui à palavra “sabedoria” o sentido de pensamento filosófico, e à palavra “ações”, o fato de seguir os caminhos da Torá. Assim, mesmo que a ciência do homem seja grande, mesmo que os resultados de suas investigações sejam muitos, toda essa sabedoria será frágil, se a raiz estendida pela Torá for pequena. Ao contrário, aquele que escolhe como base de reflexão e de investigação a palavra revelada por Deus, se prende a esta revelação e atua em sua vida de acordo com ela. Este homem se parece à árvore que tem poucos ramos e muitas raízes e, como tal, resiste a todas as tempestades. Mesmo que todos os ateus e os incrédulos do mundo o assaltem, não conseguirão alterar suas firmes convicções.

A prática da educação no judaísmo, entretanto, vai além do puro e simples acompanhamento dos princípios religiosos judaicos. Ela visa ao desenvolvimento do ser humano como um todo, em suas facetas intelectual, emocional, comportamental e moral, e propõe uma prática voltada a todas as atitudes do indivíduo, no seu dia a dia, desde as mais simples até aquelas consideradas mais complexas e difíceis de lidar.

Um dos líderes religiosos judaicos mais respeitados do séc. XX, Rabi Schneerson, mais conhecido como Rebe de Lubavitch, afirma que para atingir bons resultados em educação é preciso ir além do ensino relacionado ao desenvolvimento da capacidade cognitiva dos educandos. A verdadeira educação, segundo o citado Rabi, ocorre, principalmente, quando acompanhada pela responsabilidade, ponderação, firmeza, paciência e polidez do educador. Preocupa-se com a formação do homem como um todo, com respeito à sua verdadeira essência e caráter, à sua situação e ao ambiente no qual o mesmo se insere, com um grau de responsabilidade que vai além da simples transmissão de conhecimentos. Envolve respeito pelo ser humano que está ali, ávido por receber novos conhecimentos, e que merece receber mais. Sua base consiste no cumprimento humilde de um dever de educar a nova geração, também adquirida das gerações anteriores. Trata-se da manifestação do cuidado pelo outro, Akher, em hebraico. Por sinal, é possível estabelecer uma relação entre esta palavra Akher – outro - e o termo Akhraiut – responsabilidade. Ambas, na língua hebraica, partem do mesmo radical e representam, como afirma Lévinas, uma das mais importantes premissas educacionais, que é a de manifestação do cuidado e responsabilidade para consigo mesmo e pelo outro, tema-chave do pensamento filosófico, teológico, político e pedagógico/antropológico do séc. XX. A necessidade de convivência, e da aceitação das pessoas pela coletividade e pela sociedade em que se inserem, implica no estabelecimento de regras que sejam aceitas convencionalmente e que normalizem esta coexistência.

Desta necessidade de regras para a convivência em sociedade nasce a moral. Moral difere de ética, embora a ética inclua a moral. Enquanto a moral consiste em um conjunto de hábitos e costumes formados por acúmulo de experiência ou pela preservação das tradições, a ética diz respeito ao exercício individual diante de questões, em função de algum critério pessoal. Nas construções de normas morais estão incutidos conceitos de ética para tornar possível à convivência humana. Estes representam, desde a Antigüidade até os dias de hoje, a preocupação da civilização ocidental e do homem como indivíduo, em vincular o ser humano ao seu modo de ser e agir e ao modo de ser e agir do próximo, com vistas à universalidade e à criação e adoção de regras e normas de convivência em sociedade, independentemente das diferenças setoriais, geográficas e históricas.

A moral não ensina ao indivíduo como ser feliz. Para ser feliz é preciso, antes de tudo, que o ser humano busque dentro de si, e decida se quer ou não cumprir aquilo que a moral exige.

Há momentos em que a moral, por ser universal, se torna repressiva para a auto-realização do ser humano enquanto individualidade. Há mesmo situações de conflitos, em que temos que optar por uma conduta que representa o que queremos e uma conduta que nos é moralmente imposta.

Grande parte das normas morais tem como fonte a Bíblia. Embora a ética não seja necessariamente religiosa, a religião necessita da ética. Todas as religiões se fundamentam em princípios éticos. O mundo da religião é o mundo da crença. Ao delimitarmos nossas crenças delimitamos nossa ação.

No judaísmo, a atribuição da Bíblia a Deus, faz com que a moral e a ética se tornem muito próximas. Trata-se de uma moral que emana de Deus, não do ser humano. A moral é feita por mandamentos, aos quais o judeu deve cumprir de tal maneira, a exercitar e aprender a perder a sua própria vontade para chegar a aprender a vontade divina.

A unidade do povo judeu na Antigüidade se dava não em relação a um território, mas à sua história seqüencial, relatada e escrita em um livro, “O Livro”, a Bíblia.

O grande personagem da Bíblia não ó povo judeu, mas é Deus. A obra de Deus é perfeita, e nela está o paraíso. A queda do paraíso se deu em conseqüência da curiosidade pelo conhecimento do homem e da mulher.

Deus impõe sua moral ao seu povo, trazendo não apenas a visão do paraíso, mas também da perda, da decadência e da punição, como um destino a ser suportado, sofrido e resgatado.

A ética judaica consiste em obedecer ao código moral, ao sistema de mandamentos divinos, definidos por Maimônides como positivos e negativos. Mas ela vai além. O próprio Maimônides em sua obra “O Guia dos Perplexos” [4] refere-se à questão de que o homem foi criado à imagem de Deus [5] , semelhança espiritual e não física, em que Deus insuflou no homem seu próprio espírito. Isto significa que todos os homens foram igualados pelo recebimento do espírito divino e possuem possibilidades iguais de convivência e desenvolvimento na sociedade em que vivem, independentemente de sua cor, estatura, nacionalidade, religião, cultura e demais características. Para que isto ocorra é preciso, pois, que o ser humano pratique o princípio de “amarás a teu próximo como a ti mesmo...” [6] , conforme consta em Levítico.

Na filosofia judaica clássica existem diferentes teorias éticas, das quais chamo a atenção para um tratado ético judaico, parte do Talmud, e que representou um marco para a sociedade aristocrática da época, desde 300 a.C. até 200 d.C. Consiste em um tratado que contém toda uma coleção de ditos e sentenças dos “pais”, os Sábios de Israel, de caráter fundamentalmente ético que representa não um código de valores e normas, mas uma série de condições mínimas necessárias para a sustentação de toda sociedade humana e do homem simples do povo. Muitas de suas máximas exaltam a Torá, a Bíblia, ao mesmo tempo em que propõem um aprimoramento individual do homem enquanto ser atuante na sociedade em que vive, com direitos e obrigações, onde impera a responsabilidade pessoal e coletiva.

Minha escolha por este tratado deu-se, principalmente, pela inesgotável riqueza de ensinamentos e reflexões sobre educação e indiretamente sobre ensino, nele contidas.

Uma de suas máximas que mais chamou minha atenção foi proferida pelo Rabi Elazar ben Schamuá [7] que diz:

“Que a honra do teu discípulo seja tão querida para ti como a tua própria, e a honra do teu companheiro como a reverência pelo teu mestre, e a reverência pelo teu mestre como a reverência pelos Céus”.

Rabi Elazar distingue nesta máxima três classes de honra: a que o homem reivindica para si mesmo, a de seu aluno e a de seu colega. Por outro lado, menciona dois tipos de respeito: o que se deve ao professor e o que se deve a Deus.

Na visão de Abrabanel, Rabi Elazar está se referindo a três níveis de contatos sociais.

O primeiro é o relacionamento entre uma pessoa com alguém diferente dele na questão da autoridade, como a do mestre e seu discípulo. Nesse caso, o mestre é advertido para estender ao seu discípulo o mesmo respeito que ele gostaria de receber.

O outro nível de contato social é o relacionamento entre iguais. Aqui Rabi Elazar nos ensina a honrar nossos iguais com a reverência que é dada a um mestre.

O terceiro nível se refere a aquele que se encontra na companhia de uma pessoa superior a ela, uma personalidade, com quem o relacionamento deve ser de deferência, reverência e respeito.

A apresentação dos três níveis de contato enumerados no texto sugere uma ordem crescente entre os tipos de honra e respeito.

A primeira colocação de Rabi Elazar refere-se à honra que o homem deve reivindicar para si próprio. Ele parte do pressuposto de que o amor-próprio antecipa qualquer relacionamento e que, sem ele, todos os relacionamentos seguintes ficam comprometidos, princípio, por sinal, referendado por autores contemporâneos como Knibbeler (1989), Prabhu (1992), Orlowek (1993), Buber (1973) e outros.

Ao comparar a honra do companheiro à honra do mestre, Rabi Elazar, se refere àposição de educador-educando que pode inverter-se, e o companheiro de hoje poderá um dia converter-se em nosso professor, e vice-versa. Por sinal, é possível completar esta idéia com a referência à outra máxima do mesmo tratado ético, onde é afirmado que:

“Quem aprende de seu companheiro um capítulo, ou um parágrafo, ou um versículo, ou uma palavra, ou mesmo uma única letra, tem a obrigação de tratá-lo com honra...”

O respeito devido ao companheiro de estudos, ao condiscípulo, está comparado aqui com o respeito que temos ao professor. A prática dialética de argumentação, promove a educadores e educandos o encorajamento, o desafio e o direito à discordância, e possibilita a constante reavaliação de sua atuação, tão necessária para o próprio crescimento e para o crescimento do outro.

A mensagem principal desta máxima é, sem dúvida, a idéia do “respeito”, que permeia todos os tipos de relacionamentos, e especificamente aqueles voltados à educação.

Certamente, sua importância é tamanha, que pode ser considerado como elemento norteador do processo educacional democrático, em que o professor respeita seus alunos e outros professores, assim como os alunos respeitam seus colegas e mestres.

O “respeito” como qualidade para os relacionamentos é vastamente apresentada nesta coleção de ditos. Há uma, porém, que atraiu especialmente minha atenção, pois ela faz referência à questão do “olhar” do professor em relação aos seus alunos, e da percepção respeitosa que ele deve ter das diferenças, capacidades e competência dos mesmos para lidar com as situações que lhes aparecem e lhes são apresentadas no dia a dia. Ele passa, assim, a considerar cada um de acordo com seu potencial individual e a respeitar nele suas próprias capacidades e ritmos distintos de aprendizagem. É ela:

“Há quatro tipos entre os que se sentam perante mestres: esponja, funil, filtro e peneira. Esponja é aquele que absorve tudo; funil, o que recebe de um lado e deixa escapar de outro; filtro, o que deixa sair o vinho e retém a borra; peneira, o que deixa sair o farelo e retém a farinha”.

Falando do tipo que se assemelha a uma esponja, os Sábios não se referiam ao indivíduo que absorve de tudo, sem discernimento, mas àquele que, por sua imensa curiosidade, absorve avidamente tudo o que emana da boca do seu mestre. Quando apontam para o segundo tipo, o funil, associam a este objeto à sua capacidade de absorção, superior à sua capacidade de restituição, o que significa que o aluno que se assemelha ao funil restitui com dificuldade os conhecimentos absorvidos. A terceira categoria de alunos é comparada ao filtro, que retém os sedimentos e deixa passar o vinho, do mesmo modo que o bom aluno deve “sedimentar” o que aprendeu e transmitir aos seus futuros alunos um vinho claro, quer dizer, os conhecimentos, de acordo com sua capacidade de compreender. Por último, a comparação com a peneira, que serve para reter o melhor da farinha, corresponde ao aluno que é capaz de conservar o núcleo dos ensinamentos e desfazer-se dos desperdícios.

A questão do respeito mútuo pode ser também constatada nas academias de estudos superiores, que se baseia em uma metodologia própria denominada Pilpul - raciocínio dialético, que se traduz em uma experiência bastante rica dentro do processo educacional. Consiste na participação integrada de mestres e alunos em que as declarações de cada erudito são aceitas e agregadas às afirmações de outros Sábios, e onde a diversidade de juízos é vista como parte complementar do processo educacional, que tende a propiciar o crescimento das partes envolvidas e, conseqüentemente, da própria aprendizagem. Os mestres expõem a doutrina, as Leis, e os alunos que não a compreendem inteiramente, costumam fazer perguntas. A essas perguntas segue-se a contestação dos professores, explicando-a mais claramente. Surgem objeções, os defensores das teses de seus mestres se enfrentam com seus contraditores, e todos os envolvidos têm direito à participação, à opinião, à contestação e à indagação, que conduzem ao discernimento. Ao término do debate, algumas opiniões são definitivamente descartadas e outras adotadas pelo reconhecimento do seu valor, e esclarecem certos aspectos ou conseqüências das doutrinas que até então não estavam claros.

Traduz-se em uma metodologia que pressupõe o envolvimento afetivo com o objeto de discussão, e a participação ativa no processo de aprendizagem. Muitas vezes a melodia é associada ao sistema de estudo do Talmud que, pelo fato de imprimir seu ritmo ao texto e aos seus comentários, promove a participação integral das pessoas e pode conduzir à fixação do conhecimento. Ela busca proporcionar ao aluno uma autoconfiança tal que ele não tenha receio de expor seus pensamentos e lhe permita explorar e criar novas idéias. Na medida em que o aluno vai se desprendendo da timidez, adquire coragem para se colocar diante dos colegas e mestres, vencer etapas e adquirir auto-estima mais elevada. Com esta prática, ele não estará somente escutando aos outros, mas tem a oportunidade de ouvir também a si mesmo e de tentar, cada vez mais, atingir um nível de argumentação apropriada que o faça igualar-se aos seus colegas.

O movimento de dar e receber conhecimentos, certamente, conduz o estudante ao desenvolvimento de sua inteligência, aguça o sentido crítico do pensamento e permite a elucidação de problemas. Promove a participação ativa dos elementos envolvidos no processo educacional, em uma verdadeira lição de democracia, na qual todos têm o direito de questionar, de emitir opiniões, de ensinar e de aprender uns com os outros. O professor, envolvido e interessado em seus alunos e no próprio conteúdo, transmite seus conhecimentos e desenvolve, o interesse, a motivação e o envolvimento com o conteúdo da aprendizagem, pertinentes à realidade destes mesmos alunos.

A partir dos seis ou sete anos a criança começa a ser incentivada ao estudo em parceria, denominados de Havruta, cuja origem é a mesma que amizade ou camaradagem, em hebraico.

Por falar em idade é possível encontrar na “Ética dos Pais” uma máxima cujas idéias nos que remetem aos princípios cognitivistas do desenvolvimento humano apresentadas por Piaget (1974) e que propõe a compreensão do conhecimento do ser humano a partir das etapas de seu desenvolvimento. Vejamos:

“Ele dizia [8] : Aos cinco anos é tempo de começar o estudo da Mikrá – Lei Escrita; aos dez anos, o da Mischná - Lei Oral: aos treze anos, o dos Mandamentos; aos quinze, o do Talmud – Lei Oral; aos dezoito anos é tempo de casar; aos vinte, é tempo de perseguir o trabalho; aos trinta, plenitude da força física; aos quarenta, do entendimento; aos cinqüenta, do conselho; aos sessenta começa a velhice; aos setenta, as cãs; aos oitenta, se houver vigor; aos noventa começa o encurvamento; aos cem é como se estivesse morto, passado e extinto do mundo”.

Esta máxima aponta para a questão de que o conhecimento é adquirido e se acumula por toda a vida, desde a infância até a morte, e deve ser administrado de modo a poder ser utilizado tanto nas suas próprias experiências de vida como na experiência e modelo que devem ser passados para as gerações mais novas.

A presença do estudo durante toda a vida da pessoa permite a aquisição gradativa de conhecimentos, de acordo com o grau de desenvolvimento da mesma, uma vez que é atribuída aos idosos a sabedoria adquirida pelo estudo iniciado ainda na infância e continuado no decorrer da vida. Isto porque as meditações de um nonagenário têm por objeto a mesma Torá que a criança de cinco anos começa a estudar.

Ao destacar a importância do estudo desde cedo, os Sábios estão se referindo aos ensinamentos dados em casa pelos familiares, pais e avós da criança. Cabe ao pai, ainda em casa, iniciar seu filho no estudo da Torá, para depois encaminhá-lo à escola. Consiste em um movimento que atribui um valor muito grande à presença familiar na vida da criança, em uma integração harmoniosa entre lar e escola, assunto freqüentemente estudado e debatido entre os educadores dos dias atuais.

Cabe salientar aqui, a importância atribuída ao livro como instrumento de aprendizagem. Este objeto tão valioso tem estado um tanto esquecido ultimamente, em função do uso exacerbado da tecnologia, em detrimento da leitura. O judaísmo, pelo contrário, confere a ele um valor todo especial, quando propõe que o estudo da Lei Escrita - se dê a partir dos cinco anos. Quando a criança já estiver familiarizada com as fontes escritas do judaísmo, está preparada para iniciar o estudo da Lei Oral, e desenvolver e aprimorar cada vez mais a prática da argumentação e estudo dialético, ao qual já me referi anteriormente, que pretende desenvolver a maturidade e a aquisição de experiência e vivência pelo homem, e que lhe possibilita viver plenamente e com sabedoria, até atingir sua plenitude.

Quanto ao exercício da liderança, também citada neste tratado, são feitas referências às atitudes de humildade e modéstia, o interesse não possessivo pelo outro, a ação pela justiça, a flexibilidade, a tolerância e a liberdade. A problematização é sugerida para ocupar o lugar do autoritarismo e para evitar extremismos e discriminações, assim como a consciência de sua responsabilidade, individual e coletiva, já que, na condição de líder, propõe-se a deixar um legado de conhecimentos para as futuras gerações.

É possível encontrar no tratado de Pirkei Avot. – “A Ética dos Pais”, uma das mais completas sínteses dos princípios essenciais da prática judaica com base na Torá, a qual cito a seguir:

“A Torá é superior ao sacerdócio e à realeza, pois a realeza requer trinta qualidades, o sacerdócio vinte e quatro, mas a Torá requer quarenta e oito coisas. E elas são: estudo, atenção pelo ouvido, repetição em voz alta, inteligência do coração, respeito, temor, humildade, alegria, pureza, convívio com Sábios, aproximação dos companheiros, debate com os discípulos, bom senso, conhecimento da Escritura, conhecimento da tradição... paciência, bom coração, confiança nos Sábios, resignação no sofrimento, conhecer o seu lugar, contentar-se com a sua porção, medir suas palavras, não exigir créditos para si, ser amado, amar o Todo-Presente, amar o seu próximo, amar a retidão, prezar as críticas, afastar-se das honrarias, não inflar o coração por causa do desconhecimento, não se deleitar em dar ordens, ajudar o próximo a carregar o seu jugo: julgá-lo com indulgência, pô-lo no caminho da paz; estudar com método, perguntar conforme o assunto e responder conforme a regra, ouvir e aumentar o conhecimento, aprender para ensinar, aprender para praticar, estimular a sabedoria do mestre, raciocinar sobre o que ouvir e dizer coisas em nome de quem as disse. Sabe-se que todo aquele que diz uma coisa, citando o nome de quem a disse, traz a redenção ao mundo, pois foi dito: “E disse Ester ao rei em nome de Mordekhai” [9] .

A estrutura formal desta máxima separa por grupos as características enumeradas. Primeiramente foram citados os requisitos necessários para que o homem esteja preparado para o seu estudo. Em seguida, são apresentados comportamentos pertinentes ao convívio e aos relacionamentos interpessoais. Logo após, é lembrada a importância da aquisição do conhecimento, acompanhada de um grupo de comportamentos de contensão e respeito, seguidas de instruções de modéstia, indulgência e benevolência. Finalmente são tratadas as questões relacionadas ao estudo e ao ensino, concluindo com a orientação para o uso de citações, sempre com identificação de fonte e autor, numa atitude de respeito e deferência por aqueles que, através das gerações, deixaram seu legado à disposição de seus seguidores. Ester, mencionada nesta máxima teve, já no séc. II a.C., o zelo de citar Mordekhai, seu tio, como mandante para que se dirigisse ao rei Assuero, a fim de solicitar a redenção do povo judeu. Obteve o apoio do rei e a redenção do seu povo.

Para finalizar, cito: “Com que se parece aquele cuja sabedoria excede suas boas ações? Com uma árvore de muitos ramos e raízes poucas, e assim, quando sopra o vento, ele a arranca e derruba, pois foi dito:... “Porque será como o arbusto no deserto, não verá a chegada do bom tempo, viverá em lugares áridos do deserto, em terra estéril e inóspita”. (Jeremias, 17:6) Mas, com que se parece aquele cujas boas ações excedem sua sabedoria? Com uma árvore de poucos ramos e raízes muitas, de modo que, embora todos os ventos do mundo soprem e a fustiguem, não a moverão do lugar, pois foi dito: “Porque será como a árvore plantada à beira da água, que estende as suas raízes para o ribeiro, não receia quando vem o calor, a sua folha fica sempre fresca; e no ano de secas não se afadiga nem deixa de dar frutos”.(Jeremias, 17:8)

Raschi [10] , se refere, com esta dupla metáfora, aos homens dignos e aos homens indignos, que são, de acordo com seu grau de enraizamento, mais frágeis ou menos frágeis. Ainda no que se refere à questão das raízes, é possível estabelecer uma analogia com ação e pensamento. As ações nobres devem ser, de certo modo, implantadas na criança como as raízes na terra, pois são elas que proporcionam à sabedoria o alimento e a força de que necessita para desenvolver-se. A ação é, nesta perspectiva, um elemento primordial para a obtenção de hábitos, para a retenção de conhecimentos e para o desenvolvimento do ser humano.

Finalmente, para concluir esta apresentação, gostaria de apresentar o seguinte dito: “... muito aprendi dos meus mestres, e de meus companheiros mais que deles, e de meus alunos mais do que de todos”. Creio que ele traduz, de maneira sucinta, a mensagem judaica de educação que tentei transmitir a todos. Espero que, por sua abrangência, esta mensagem possa servir como elo para a humanidade como um todo, e para o despertar do sentimento que une a todos os povos, independentemente de suas religiões e crenças, e preencher suas vidas de significado e de propósito.

Referências Bibliográficas

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________________ Abrabanel on Pirke Avot – New York, Shepher-Hermon Press Inc., compilado e traduzido por Abraham Chill, 1991.

________________ Maimônides - Comentário da Mishná - Ética dos Pais - Sanhedrin, São Paulo, Maayanot, 1993, tradução de Alice Frank.

_______________ Maimônides - Mishné Torá - Alumot, Jerusalém - Tel Aviv, 1965.

__ Maimônides - Os 613 Mandamentos - São Paulo, Nova Stella, 1990, tradução de Giuseppe Nahaïssi.

________________ Pirkei Avot: Ética dos Pais, São Paulo, B’nai B’rith, 1976, 1a ed., tradução e notas explicativas de Eliezer Levin.

Buber, Martin - Education, in Between Man and Man, cap.III. London, Collins, 1947.

Al Hamaasse Hakhinukhi, 1925, in Bessod Siakh, Jerusalém, 1973.

Caon, Claudia M. - A Educação Religiosa Ortodoxa Judaica - Princípios, Metas e Resultados, Dissertação de Mestrado em Educação, Universidade de São Paulo, 1995.

Kehati, Pinhas, Mishnah -Avot - Comentários a la Mishná: tratado de Pirké Avot, Jerusalém, Heichal Shlomo, 7a ed., 1976.

Knibbeller, Wil -The Explorative - Creative Way: Implementation of a Humanistic Language Teaching Model, Germany, Tübingen: Narr, 1989.

Lehmann, M. - Pirke Avot, Harambam Maimonides Corp., Miami Beach, Flórida, 1985, tradução e adaptação de Viviane Assa, revisão de Rachel Melul de Amselem.

Orlowek, Noach - My Disciple, My Child, New York, Feldheim Publishers, 1993.

Prabhu, N.S. - There Is No Best Method – Why? in Tesol Quarter Ly, vol. 24 n0 2, 1990.

Rogers, C. - Liberdade para Aprender, Belo Horizonte, Interlivros, 4a ed. 1978, tradução de Edgar Godoi da Mata Machado e Márcio Paulo de Andrade.

Schneerson, Yossef Y. - The Principles of Education and Guidance, New York, Kehot Publication Society, 1990.

Szpiczkowski, Ana – Educação e Talmud, Uma Releitura da Ética dos Pais, São Paulo, Humanitas/FFLCH/USP: Fapesp, 2002.



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* Profa. Dra. de Língua, Literatura e Cultura Judaicas, DLO, USP, SP.

[1] Também conhecido como “Rambam”. Nasceu em Córdoba, Espanha, 1135 -1204. Autor de várias obras dentre as quais destaca-se “Os 613 Preceitos”, “Sefer Ha - Maor” e “Schmoná Perakim”.

[2] .“E as intimarás a teus filhos”.(6:7); “Moisés nos deu também a lei por herança da congregação de Jacó” (33:4)

[3] Abrabanel, dom Isaac, (1437-1508); Importante comentador da Bíblia, fugiu da Espanha em 1492, com a expulsão dos judeus de Espanha.

[4] Redigido entre 1187 e 1190, ele estabelece um diálogo entre o mosaísmo e a filosofia, com a finalidade de tornar possível o acesso da razão aos aspectos da Torá que não estão ao alcance da capacidade humana.

[5] Gênesis, 9:6.

[6] Levítico, 19:18.

[7] Quarta geração de Tanaítas - professores e repetidores; período de 140 a 165 d.C.

[8] Yehudá ben Temá - quinta geração de Tanaítas - professores e repetidores; período de 165 a 200 d.C.

[9] Livro de Ester, 2:22.

[10] Erudito francês de ascendência davídica, autor de comentários, que se tornaram padrão, sobre importantes textos judaicos (1040-1105).



Saiba mais…

Pirkei Avot - Ética dos Pais

Pirkei Avot - Ética dos Pais : Fonte site Chazit Hanoar POA


Na Mishná, existe um tratado que fala sobre a parte comportamental, ética e moral dos seres humanos, chamado de Pirkei Avot e traduzido como Ética dos Pais. “Avot” significa "pais" ou "patriarcas". Neste caso, também pode ser traduzido como "anciãos" ou "sábios". Pirkei significa "capítulos", porém neste sentido significaria mais "ditos". Embora existam diversas opiniões sobre ética e moral, o Pirkei Avot foi baseado em ensinamentos passados nas principais escolas rabínicas de geração em geração, e, portanto, estes ensinamentos são valores eternos. Entre as regras de conduta estão normas que dizem respeito ao estudo dos textos. É preciso estudar com alegria, escutar, compreender e chegar ao fundo das coisas para aguçar a mente, formulando perguntas que promovam a busca de respostas adequadas. O estudo religioso e o respeito aos mestres são também importantes, assim como a humildade, a sensatez, a bondade e o amor ao próximo e a Deus. Além disso, existem regras para atividades do dia-a-dia: dormir pouco, cortar as conversas banais e moderar a dedicação aos negócios.

O conteúdo encontrado no Pirkei Avot geralmente é espiritual, mas pode ser praticado. A tradição judaica encoraja o estudo de um capítulo do Pirkei Avot em cada tarde de Shabat, nos meses de verão e primavera. O resultado é que judeus religiosos têm sido profundamente influenciados pelo tratado, por fazerem os estudos todos os anos. Por ter uma razão direta e ser baseado na experiência humana, O tratado do Pirkei Avot é o livro mais acessível dos livros da Mishná, sendo um guia muito útil a respeito de ética judaica.

Algumas das principais reflexões da Ética dos Pais:

HILLEL

- Não julgues o teu próximo até que te encontres na sua situação.

- Uma pessoa que é muito tímida para fazer perguntas nunca vai aprender, e um professor que é muito severo não pode ser professor.

- Se eu não fizer por mim, quem fará por mim? E se apenas fizer por mim, o que sou eu? E se não agora, quando?

- Hillel viu um crânio flutuando sobre um rio e disse: Porque afogaste a outros, eles te afogaram; e finalmente aqueles que te afogaram também serão afogados.

RABI IOSSÉ

- Que a fazenda do teu companheiro seja tão querida para ti como tua própria. Estuda a Lei Divina, pois o seu conhecimento não se adquire por herança. E que todos os teus atos sejam feitos nas melhores intenções.

BEN ZOMA

- A quem se deve chamar sábio? Àquele que aprender com todos os homens. A quem se deve considerar forte? Àquele que souber vencer as suas paixões. A quem se deve considerar rico? Quem se alegra com o que possui.

RABI SIMEÃO

- Há três coroas. A coroa da Lei Divina, a coroa dos sacerdócios e a coroa real, mas a coroa do bom nome excede a todas.

-Não procures acalmar o teu próximo no momento da sua cólera, não procures consolar enquanto estiver ante seus olhos o morto pelo qual chora , não lhe ofereças coisas de que ele se abstém, e não o procures ver na hora em que tiver sido humilhado.

RABAN GAMLIEL

- Sejam cuidadosos com aqueles que estão no poder, pois oferecem sua amizade à pessoa unicamente em benefício próprio; eles aparentam ser amigos quando lhes convêm, mas não se erguem ao lado de um homem em sua hora de aperto [necessidade].

Saiba mais…

Por Que, Após 8 Anos, Israel Não Respondeu à

Iniciativa Árabe de Paz?

AKIVA ELDAR Haaretz 22|06|2010
- traduzido pelo PAZ AGORA|BR -

O que diríamos se os árabes tivessem ignorado uma iniciativa de paz israelense por mais de oito anos? O que teríamos escrito se, em todo esse tempo, a liderança palestina não tivesse feito nem mesmo uma discussão sobre a nossa iniciativa? Quantos israelenses, incluindo estudiosos membros do mundo acadêmico, sabem o que está escrito no primeiro documento pan-árabe e pan-islâmico a propor o reconhecimento de Israel e a normalização de suas relações com o país?

Obama e Netanyahu - Washington 2010

Presidente americano Barack Obama e Primeiro-Ministro de Israel Benjamin Netanyahu

Washington janeiro de 2010.

O Professor Yoram Meital, presidente do 'Chaim Herzog Center for Middle Eastern Studies' na Universidade Ben-Gurion do Neguev, que nesta semana abriu na universidade uma conferência abrangente sobre a iniciativa e sua implicações políticas e regionais, disse que esta seria a primeira conferência internacional que a academia israelense realizaria, até hoje, sobre o plano de paz árabe.

Yitzhak Rabin

Yitzhak Rabin, Primeiro-Ministro de Israel assassinado por defender a paz.

Pela primeira vez, representantes da Cisjordânia, Egito e Jordânia sentaram numa mesa redonda com colegas israelenses e conversaram sobre a natureza da iniciativa de paz. É óbvio que os convidados da Universidade de Belém, da mídia egípcia e da Universidade de Amã vieram a Be'er Sheva para tentar entender o porquê dos judeus, considerados um povo inteligente (ninguém se preocupou em desmentir isto) estavam perdendo uma rara oportunidade de por um fim ao seu infindável conflito e ao mesmo tempo enfraquecer o Hezbolá e isolar o Irã.

A Coalizão de Madri para promover o plano árabe realizou recentemente uma reunião em Antalya (antes do incidente da flotilha) que incluiu representantes da Arábia Saudita, Israel, Autoridade Palestina e Jordânia. O Prof. Elie Podeh da Universidade Hebraica de Jerusalém esteve lá, junto com o deputado Meir Sheetrit (Kadima ).

Podeh disse que Sheetrit, apoiador de primeira hora da iniciativa, não foi capaz de convencer seus colegas de partido a adotá-la como base para negociações com seus vizinhos. O Ministro Avishay Braverman (Avodá) convocou na semana passada a sua bancada parlamentar para demandar do primeiro-ministro que Israel se prepare para iniciar negociações diretas com os árabes com base na iniciativa.

O jornalista Samir Ratas, palestino que vive hoje no Egito, trouxe à conferência uma mensagem para Israel: "A Iniciativa de Paz não é parte de um plano árabe para destruir Israel, nem é uma emboscada. Há muitos anos os árabes reconheceram a sua existência". Ratas partiu com duas perguntas na mente:

1. "Quantos anos mais teremos que esperar até que vocês entendam que esta Iniciativa é uma opção estratégica"?; e

2. "Quantos anos vocês pensam que a Iniciativa ficará esperando por vocês"?

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O mito do 'Isso nunca mais'

Ensino do Holocausto não deve se limitar à memória da tragédia; devemos usá-lo para evitar novos genocídios

Kofi Annan - O Estado de S.Paulo

THE INTERNATIONAL HERALD TRIBUNE


Hoje, muitos países da Europa e América do Norte exigem que os alunos do segundo grau tenham aulas sobre o Holocausto. Por quê? Por causa da sua importância histórica, é claro. Mas também porque, no nosso mundo cada vez mais diverso e globalizado, os educadores e legisladores entendem que o ensino do Holocausto é um mecanismo vital para os estudantes aprenderem a valorizar a democracia e os direitos humanos, para encorajar esses jovens a rejeitar o racismo e promover a tolerância em suas próprias sociedades.

Essa, com certeza, já era minha ideia em 2005 quando, como secretário-geral das Nações Unidas, recomendei à Assembleia-Geral que aprovasse resolução lembrando o Holocausto. Ela incluía um apelo por "medidas para mobilizar a sociedade civil em busca do ensino e a memória do Holocausto, com o objetivo de prevenir atos futuros de genocídio".

É evidente que o ensino do Holocausto teria esse propósito e esse efeito. Mas é surpreendentemente difícil encontrar programas de ensino em sala de aula que conseguiram, com sucesso, vincular a história do Holocausto à prevenção do conflito étnico e do genocídio do mundo de hoje.

Naturalmente, é sempre difícil comprovar essa prevenção. Mas o mínimo que se pode dizer é que o "Isso nunca mais!", gritado por tantos nos anos posteriores a 1945, vem caindo no vazio com o passar das décadas. O Holocausto continua sendo um caso único na sua combinação de recursos organizacionais e técnicos sofisticados com fins impiedosamente cruéis. Mas casos de genocídio em grande escala, de brutalidades desumanas continuam se multiplicando - do Camboja ao Congo, da Bósnia a Ruanda, do Sri Lanka ao Sudão.

Hoje, poucos países, mesmo aqueles que exigem que seus alunos tenham aulas sobre o Holocausto, dão aos professores os conhecimentos e capacitação necessários para ensinar a tragédia de maneira a permitir que os adolescentes - geralmente representantes de uma ampla variedade de etnias e culturas numa única sala de aula - aprendam a vincular aquele genocídio às tensões que enfrentam nas suas próprias vidas. Com certeza, é necessário um melhor e maior aprendizado dos professores.

Identificação. Mas sabemos qual deve ser o conteúdo desse aprendizado? Se nosso objetivo, ao ensinar alunos sobre o Holocausto cometido por nazistas, é fazer com que eles pensem mais profundamente em responsabilidade cívica, direitos humanos e os perigos do racismo, então precisamos relacionar o Holocausto com outros casos de genocídio e com as tensões e conflitos étnicos no nosso próprio tempo e espaço. Isso permitirá a eles não só aprender o que foi o Holocausto, mas tirar importantes lições dele.

Com certeza chegou o momento de levantar questões mais sérias sobre o ensino "tradicional" da tragédia da 2.ª Guerra e talvez repensar alguns de seus princípios. Será que os programas enfocando a ideologia e o sistema nazista, e particularmente a horrível experiência das suas milhões de vítimas, oferecem uma resposta eficaz, ou profilática, contra os desafios que enfrentamos hoje?

É fácil nos identificarmos com as vítimas. Mas, se quisermos impedir genocídios futuros, não será também importante entender a psicologia dos seus autores e espectadores - compreender o que leva inúmeras pessoas, no geral "normais" e decentes na companhia da sua própria família e amigos, a suprimir sua natural empatia humana com pessoas pertencentes a outros grupos e participar, assistir e testemunhar seu extermínio sistemático? Não devemos nos concentrar mais nos fatores sociais e psicológicos que levaram a esses atos de brutalidade e indiferença, de modo a conhecer os sinais de alerta e procurar observá-los em nós mesmos e nas nossas sociedades? Os atuais programas de ensino fazem o necessário para revelar os perigos inerentes aos preconceitos e estereótipos religiosos e raciais e inocular os estudantes contra eles?

O ensino da história do Holocausto em sala de aula relaciona suficientemente esse fato às causas que dão origem ao racismo e aos conflitos étnicos contemporâneos? E o Holocausto não deve ser estudado em todo o mundo, não só na Europa, na América do Norte e em Israel, juntamente com outros casos trágicos de barbárie humana? Tais questões estarão no centro de uma conferência que vai se realizar este mês no Seminário Global de Salzburgo, na Áustria, sobre o tema "A Prevenção Global do Genocídio: Aprendendo com o Holocausto". Os organizadores esperam que nasça daí um programa anual para professores em todo o mundo.

Certamente não é um problema cuja solução será única e servirá para todos. O ensino da história do Holocausto numa sala de aula na Ucrânia será obviamente diferente do que é dado em Israel. Na verdade, é provável que ele varie amplamente mesmo entre diferentes distritos de uma cidade europeia.

Mas as noções e os exemplos podem ser compartilhados de maneira que todos se beneficiem, e parece apropriado o fato de a Áustria - que forneceu em grande número tanto vítimas quanto perpetradores das atrocidades nazistas - ser a anfitriã de um programa como esse. / TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA

É EX- SECRETÁRIO-GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS E PRESIDENTE HONORÁRIO DO CONSELHO CONSULTIVO DO PROGRAMA DE PREVENÇÃO DO GENOCÍDIO E ENSINO DO HOLOCAUSTOH


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MARCELO NINIO de Jerusalem para Folha de SP


O filósofo Asa Kasher, autor do Código de Ética das Forças Armadas de Israel, acha que as críticas mundiais à conduta dos soldados de seu país são fruto do desconhecimento das circunstâncias em que atuam. A Convenção de Genebra trata de guerra entre Estados, diz ele. "Mas Israel luta contra organizações terroristas."

Folha - Como o sr. encara as críticas à falta de ética das Forças Armadas de Israel?
Asa Kasher - O código de ética menciona valores supremos da ética militar, mas não é um manual de regras de combate. Fala de princípios que estão acima de qualquer disputa e que a maioria das democracia inclui em seus códigos de ética militares, como a santidade da vida, a proteção da dignidade humana, a pureza das armas e a contenção do uso da força.
A questão mais complexa é a doutrina militar, que é particular de cada país. Em relação a isso, há algo que as pessoas deveriam entender: quando olhamos para a 4ª Convenção de Genebra, vemos que todo o seu arcabouço é destinado a tratar de guerra convencional, ou seja: forças militares de um Estado em choque com forças militares de outro Estado. Essas eram as regras em vigor nas guerras convencionais que Israel travou no passado, contra países vizinhos.
No entanto, hoje estamos numa situação bem diferente. Israel não enfrenta Estados, mas organizações terroristas. Como o Hizbollah, que é uma força semimilitarizada libanesa, mas não é o Exército do Líbano. E o Hamas, outra força semimilitarizada que controla um território que não é um Estado, mas onde atua como governo de facto. São circunstâncias novas. Quando enfrentamos o Hamas, estamos diante de uma força militar que não veste farda nem usa armas de forma convencional. Comete todo tipo de ato hostil, como lançamento de foguetes contra populações civis de Israel, e depois se esconde atrás de populações civis palestinas.
Há uma distinção na Convenção de Genebra entre combatentes e não-combatentes, mas o Hamas mantém essa fronteira vaga de propósito. Seus militantes agem frequentemente como se fossem civis, a partir de áreas residenciais, perto de civis reais e inocentes. Atacam civis e confundem totalmente a distinção entre combatentes e não-combatentes. O que devemos fazer diante de tais atividades? Continuar observando a simples distinção, enquanto nosso inimigo a ignora? Temos as nossas doutrinas, elas estão no espírito da doutrina da "guerra justa", no espírito da 4ª Convenção de Genebra, mas elas tem que ser aplicadas diferentemente, porque nosso inimigo age de forma diferente.
Veja a faixa de Gaza: o Hamas coloca seus lançadores de foguetes e esconde munição perto de civis. Não podemos atacar essas casas, porque há risco de atingir civis. Mas se não podemos reagir aos ataques, perdemos nossa capacidade de autodefesa. Não podemos nos defender, porque eles colocam civis nos telhados das casas de onde disparam. É por isso que adotamos novas doutrinas, e isso o mundo não entende. Há muitos inimigos de Israel que fazem uso propagandístico dessa complexidade. Mas mesmo os que não são nossos inimigos tem dificuldade em entender e acham que podem nos dar lições de moral. Exigem que apliquemos princípios que são impraticáveis, dentro das atuais circunstâncias.

O sr. quer dizer que a falta de ética dos inimigos levou ao relaxamento do código de ética israelense?
Depende de que nível você fala. Se falamos do nível geral da doutrina, das teorias das regras de combate, há evidências de que a situação em Israel não é diferente da de americanos, britânicos ou alemães no Iraque e no Afeganistão. Olhando o soldado israelense individualmente, entende-se que a maioria faz parte do alistamento obrigatório, e isso significa que dificilmente são profissionais. São jovens, e não surpreende que aqui e ali um deles comporte de forma inadequada. Mas temos evidência de que esse não é um fenômeno generalizado, mas uma raridade, que ocorre em situações extraordinárias. E, quando ocorre, vai a julgamento em corte marcial.
Se houvesse uma política de "dedo leve" no gatilho, haveria dezenas de milhares de palestinos mortos, e metade seria mulheres e crianças. Mas mesmo a lista de vítimas da última operação israelense em Gaza apresentada pelo Hamas, que não é totalmente confiável, mostra que não houve um número significativo de mulheres e crianças. A maioria era de homens que participaram de atividades terroristas contra Israel. Você pode ter certeza de que não há uma política de atirar em qualquer coisa que se mova. Na guerra de Gaza houve alguns casos excepcionais, e eles são investigados. Mas não passam de 30 ou 40.

Durante a ofensiva em Gaza, o sr. foi criticado por apoiar o uso de força em áreas civis para não colocar os soldados em risco. Como o Exército resolve esse dilema?
Esta é uma parte essencial da doutrina e precisa ser esclarecida. Fazemos distinção entre territórios que estão sob nosso controle efetivo e os que não estão. Nos primeiros, temos mais responsabilidade sobre o que acontece. E temos que proteger a população que reside neles. O Estado de Israel tem controle efetivo sobre Jerusalém Oriental e Golã, além de alguns territórios palestinos. Nessas áreas, os soldados arriscam suas vidas para fazer a distinção entre terroristas e civis.
Mas há outros territórios, como Gaza, em que não temos controle efetivo. Temos controle sobre as fronteiras, o mar e o espaço aéreo, mas não no que está acontecendo nas ruas e prédios dentro de Gaza. Por isso, não é nosso dever proteger as pessoas inocentes em Gaza. Essa é a obrigação do Hamas, que não é cumprida. O nosso dever é minimizar danos a inocentes. Para isso, nós advertimos eles constantemente sobre o que acontecerá. Na ofensiva em Gaza, distribuímos panfletos, fizemos milhares de telefonemas e o mesmo número de mensagens via celular alertando quando aconteceria um ataque. É algo sem precedentes na história das guerras.
Temos toda uma variedade de meios para avisar aos civis que saiam dos prédios porque ele se tornou um alvo. Alguns se recusam a sair. Dentro dessas circunstancias, nós não arriscamos a vida dos soldados. Tentamos minimizar os danos colaterais, mas, se eles se recusam a sair, há pouco o que fazer. Quem fica é terrorista ou pessoas que se recusam a sair e assumem o risco. Para defender essas pessoas, não arriscamos nossos soldados.

É comum o governo dizer que Israel tem o Exército mais moral do mundo. Mas a imagem externa não é essa, como mostrou o relatório Goldstone. A que o sr. atribui essa dissonância?
Em primeiro lugar, não considero o relatório Goldstone como a imagem de Israel no mundo. Goldstone é tendencioso, profissionalmente ridículo e um escândalo, moralmente. Seu relatório é uma coleção de propaganda palestina. Há vasta quantidade de documentos produzidos por Israel mostrando que cada episódio descrito por Goldstone é simplesmente errado. Dizer que as FDI (Forças de Defesa de Israel) são a força militar mais moral do mundo é uma afirmação problemática, porque é difícil comparar. No nível do código de ética até é possível comparar, porque os códigos de ética, com exceção dos países árabes, são públicos, está na internet. O código de ética das FDI compartilha princípios de outras forças armadas, como a santidade da vida humana, a pureza das armas. Temos muito orgulhoso dele e o mundo reconhece que nosso código tem os mais altos padrões. Já no nível das doutrinas, não é possível comparar, porque todos são secretos. O que pode-se fazer é coletar evidências indiretas.
Podemos comparar a ofensiva israelense em Gaza com a operação "Phantom Fury" dos marines americanos em Fallujah (Iraque), em novembro de 2004. A comparação faz sentido porque as dimensões são parecidas. Na ação americana, houve mais civis mortos, então nossa performance foi melhor. No nível das tropas há problemas em qualquer lugar. Há alguns meses houve uma operação da Otan no Afeganistão, dois caminhões foram atacados e dezenas de civis foram mortos. Não houve nenhum relatório Goldstone, nem criaram qualquer comissão da ONU sobre isso, e Obama também não foi requisitado a fazer uma investigação independente sobre o caso.
Há um padrão duplo na forma como o mundo reage a Israel. E, embora o padrão moral do Exército israelense seja alto, isso não quer dizer que aqui e ali um soldado não cometa alguma atrocidade ou aja de forma imprópria. Mas isso acontece aqui como acontece no Afeganistão e no Iraque ou na Tchetchênia, em todo lugar onde há conflito.

O problema de Israel é só de imagem?
Em primeiro lugar, não sabemos qual é a imagem de Israel. O que sabemos é o que os jornais escrevem, o que alguns meios de propaganda palestinos produzem, sabemos o que alguns políticos dizem, mas podemos ter certeza de que pouco disso é resultado de uma análise honesta, profissional e objetiva do método utilizado. Por que nos atacam? Por que olham com objetividade para a situação, porque se importam com o resultado? Não creio. A Turquia tem seus interesses com Irã, e Síria, e também uma relação problemática com Europa e Estados Unidos.
Há uma rede de interesses. Neste momento interessa aos turcos mentir porque isso serve a sua política. A Comissão [de Direitos Humanos da ONU] que apontou a comissão Goldstone é integrada por países como Cuba, Líbia e Sudão, que tem governos que desrespeitam sistematicamente os direitos de seus cidadãos. Onde estão os relatórios sobre a situação das mulheres nos países árabes? 80% das decisões dessa comissão são sobre Israel, o que prova que sua ação é política, não tem nada a ver com direitos humanos. Só serve para a proteção de interesses políticos.

No caso da frota humanitária que Israel interceptou e nove ativistas foram mortos. O que deu errado?
Com todo o respeito aos países democráticos e às instituições democráticas, nós devemos um comportamento moral em primeiro lugar para nós mesmos. Somos uma democracia comprometida com a a dignidade humana. Temos os nossos princípios e ninguém pode impor padrões que nos impeçam de exercer nosso direito de legítima defesa. O Hamas é um grupo cuja constituição prega a destruição de Israel. O Irã apoia o Hamas e o Hizbollah não apenas politicamente, mas militarmente.
O presidente iraniano não passa praticamente um dia sem pregar a eliminação de Israel. Essa é a natureza de nossos inimigos. Por isso, temos que nos defender. Não podemos permitir qualquer carregamento militar enviado pelo Irã ou pela Síria à faixa de Gaza, porque eles serão usados contra nossos civis. O bloqueio marítimos é algo permitido pela lei internacional, assim como é perfeitamente legítimo uma ação preventiva.
O grupo que estava na flotilha não era homogêneo. Algumas não sabem quase nada sobre Gaza e o Hamas, mas têm inclinações humanitárias. Outras pertencem a uma organização turca ligada ao terrorista que se preparou para um combate. O resultado foi que nove terroristas foram mortos. Não quero que ninguém morra, a aspiração é sempre a paz. Mas quando somos atacados, temos o direito de autodefesa.

Não é uma solução simplista apontar os ativistas mortos como terroristas?
Há um grande mal-entendido. Suponhamos que um policial é atacado violentamente, seja em Tel Aviv ou em São Paulo. Ele tem o direito de se defender. E, quando um policial se defende, algumas vezes eles matam, e as pessoas que o atacaram sofrem as consequências. O que aconteceu nessa flotilha é que esses terroristas atacaram os soldados e foram mortos. Os soldados começaram a ação de forma contida, mas não tiveram alternativa e quando atacados, reagiram.

Já foi dito que o aumento do número de soldados religiosos aumentou o radicalismo do Exército. A fé distorce o seu código de ética?
Houve alguns fenômenos, durante a operação em Gaza, de capelões que pregaram coisas que não me agradam e não são apropriadas a um Estado democrático. Há capelões em todas as forças armadas do mundo, sua função não é só conduzir serviços religiosos, mas também ensinar ética. Os comandantes israelenses são profissionais e sabem o que pode e o que não pode ser feito. Há capelões que falam demais, mas seu efeito é marginal.

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Duas Cartas Sobre O Judaísmo Humanista.
Paulo Blank.
[1]

O estado de paz é um estado de espírito Mossaf Hasan Yousef

A ética é uma ótica”Emanuel Levinas.

Estou Aqui em Israel acompanhando todo o dia a violência generalizada no Navio Marmara, com seus mortos e feridos.

Esta realidade quase sem fim aqui no oriente médio nos deixa cada vez mais alarmado e super preocupados sobre esse ciclo da violência que vem sendo cada vez mais preocupante, transformando a nossas vidas, a nossa normalidade, e as esperanças como algo cada vez mais dificil de ser alcançado, aqui no Oriente médio.

Não queremos perder as esperanças, e nem transformar a sagrada vida humana, numa mera banalidade como ocorre aqui nestes pequeno e agitado ponto do planta.

Estamos Cansado de ver tanto Ódio, de ver nossos filhos jovens israelense e palestinos sem futuro, sem esperança.
O que nos resta a não ser gritar um GRITO FORTE para que alguém a mais dos dois lados possa nos ESCUTAR e fazer desse nosso GRITO do desespero humano, Num GRITO amplo que venha nos trazer de volta as esperanças .

CHEGA DE VIOLÊNCIA DE TODOS OS LADOS!
CHEGA DE MORTES E TRAGÉDIAS HUMANAS!
CHEGA DE OCUPAÇÃO E VIOLÊNCIA AOS TERRITÓRIOS E AO POVO PALESTINOS!
CHEGA DE TERRORISMO, E ATAQUES DE MISSEIS PALESTINOS AO POVO DE ISRAEL
BASTA DE MORTES!
BASTA DAS PALAVRAS DA FORCA!
BASTA DA VIOLÊNCIA E DAS GUERRAS!
BASTA DE PROPAGANDA E DA EDUCAÇÃO AO ÓDIO!
BASTA DE DEMONIZAR O OUTRO!

QUEREMOS CRIAR NOSSOS FILHOS ISRAELENSES E PALESTINOS JUDEUS, MUÇULMANOS E CRISTÃOS NUM MUNDO POSSÍVEL, NUM MUNDO MELHOR, ONDE A ÚNICA FORMA DE RESOLVER CONFLITOS SEJA SOMENTE ATRAVÉS DO DIALOGO E DO RESPEITO MUTUO AO DIREITO DA EXISTÊNCIA E DA DIGNIDADE DO OUTRO.
BASTA! HALAS! DAI! A VIOLÊNCIA!

Jayme Fucs Bar

Carta ao governo Israelense

Sres. que me envergonham

Judeu identificado com as melhores tradições humanistas de nossa cultura sinto-me profundamente envergonhado com o que sucessivos governos israelenses vêm fazendo com a paz no Oriente. Médio.

As iniciativas contra a paz tomadas pelo governo de Israel vem tornando cotidianamente a sobrevivência em Israel e na Palestina cada vez mais insuportável.

Já faz tempo que sinto vergonha das ocupações indecentes praticadas por colonos judeus em território palestino. Que dizer agora do bombardeio do navio com bandeira Turca que leva alimentos para nossos irmãos palestinos? Vergonha, três vezes vergonha!

Proponho que Simon Peres devolva seu prêmio Nobel da Paz e peça desculpas por tê-lo aceito mesmo depois de ter armado a África do Sul do Apartheid.

Considero o atual governo, todos seus membros, sem exceção, merecedores por consenso universal do Prêmio Jim Jones por estarem conduzindo todo um pais para o suicídio coletivo.

A continuar com a política genocida do atual governo nem os bons sobreviverão e Israel perecerá baixo o desprezo de todo o mundo..

O Sr., Lieberman, que trouxe da sua Moldávia natal vasta experiência com pogroms, está firmemente empenhado em aplicá-la contra nossos irmãos palestinos. Este merece só para ele um tribunal de Nuremberg.

Digo tudo isso porque um judeu humanista não pode assistir calado e indiferente o que está acontecendo no Oriente Médio. Precisamos de força e coragem para, unidos aos bons, lutar pela convivência fraterna entre dois povos irmãos.

Abaixo o fascismo!

Paz Já!

Silvio Tendler

Cineasta

. [1] Paulo Blank é psicanalista, Doutor em Comunicação E Cultura pela ECO-UFRJ, é autor de vários estudos sobre pensamento judaico.

“Quando chegardes ao o lugar das placas de mármore brilhante não digas “Água,Água”. Advertência de Akiva aos que interpretam o que vêm de forma equivocada.

O Anjo Da História

Nestes dias conturbados em que judeus muçulmanos e cristãos guerreiam como nos velhos tempos sobre o mar mediterrâneo, a história, mais uma vez, se repete como tragédia. Tragédia em que os participantes de um jogo mortal fingem não saber das motivações que se ocultam em cada passo dos jogadores. Gritos de vingança se mesclam a apelos de pessoas isoladas dentro de corpos transformados em morada de uma consciência que sofre e deseja estabelecer contatos. Amarguradas, mas, ainda, com um resto de vontade em seus corações des-esperados, elas lançam pedidos de ajuda em e-mails, as mensagens engarrafadas de nossos tempos, imaginando que alguém chegará a resgatá-los. Mas, pode ser que acabem bloqueadas por filtros de segurança sem alcançar as pessoas certas. Ou Erradas.

Faz tempo que passei a considerar que manifestos são lidos pelas pessoas “erradas”. Da mesma forma as palestras políticas são assistidas por aqueles que não precisariam estar no recinto. Quem freqüenta estes lugares já compartilha das idéias expostas. Aqueles que precisariam conhecê-las só saberiam da existência se as mensagens chegassem até eles. Por um breve momento que antecede ao desligamento fatal, elas poderiam ser afetadas por existências estranhas ao seu ser. Problema tão antigo quanto o pensamento que gerou a noção de um mundo completo, sem nada exterior a ele mesmo. Um todo onde emoções e idéias em isolamento geram a sensação de segurança de um Eu em-si-mesmado. Eu maiúsculo. Seguido de um ponto. Final.

Serão as ideologias que perambulam entre nós a extensão social deste Eu cheio de si? Completo. Sem exterioridade. Sem os incômodos de idéias externas que causariam a necessidade de reorganização caso pudessem penetrar naqueles mundos cristalizados.

A ideologia não conhece o diálogo, a ideologia só conhece a si mesma. Tal qual o fundamentalismo religioso ela aspira a ser Leviatã. Monstro devorador de qualquer fato capaz de agitar o modo próprio do seu pensar. A ideologia encarna a verdade e não suporta dar um passo além de si mesma. No extremo de sua falência, por não conhecer a mudança, ela termina numa implosão que a transforma em montoeira de tijolos. A falência das ideologias deixa atrás de si um rastro de destroços que o anjo da história olha boquiaberto.

Mudo de horror e impotência, impossibilitado de voar para bem longe, o olhar esbugalhado, ele não acredita no que vê. A ventania que sopra do Éden mantém as suas asas escancaradas e imóveis. Talvez ele tenha aberto as asas para abraçar os humanos quando saíram do Éden. Neste gesto irrefletido, o Talmud ensina os anjos têm uma capacidade de raciocínio bem menor que a dos homens, ele foi aprisionado no vendaval gerado pelo guardião do paraíso. Rodopiando a espada flamejante o guardião do Éden impede que os humanos voltem a perturbar aquele mundo trancafiado em sua paz. Sem opção eles vivem do suor do trabalho e do rosto, suor de Eva parindo filhos, das mãos transpirando quando experimentam o primeiro medo.

Enquanto o olhar do Anjo de História abarca o redemoinho de rupturas e catástrofes que começa no Éden de um passado distante, nós nos agarramos a restos de verdades. Ilhados sobre escombros flutuantes, temos uma percepção parcial dos acontecimentos. Enquanto o anjo percebe a constância de um tempo sem garantias os humanos imaginam longos processos cheios de lógica e racionalidade. Foi isto que nos ensinaram nas aulas de história, nas cartilhas das ideologias, nas promessas das religiões, nas conversas de nossos pais, e,até mesmo,em certos divãs de psicanálise. Onde o anjo vê rupturas e acasos, nos vemos um progresso caminhando em linha reta.

A Dificuldade de Pensar.

A mente humana não suporta conviver com a existência simultânea de sentimentos e pensamentos contrastantes. Freud percebeu esta realidade da mente e propôs que fosse chamado de caráter o resultado do esforço de anular os sentimentos opostos que existem dentro de cada ser humano. Em grego caráter quer dizer marca. A marca do formão que penetra na madeira e deixa um sulco em seu caminho.

Admitir a existência simultânea de sentimentos opostos sem dizer que se trata de uma contradição, implica num esforço de acolher a diversidade dentro de si. O resultado desta tendência UMnificadora do pensar se revela na facilidade com que supomos que o bem esta do nosso lado e deixamos o mal para os opositores. Existe alguma possibilidade de escapar do caráter que engessa a vida numa seqüência repetitiva sem variações? Se a resposta for sim, teríamos que admitir que a chance de encontrar uma saída para os conflitos humanos passa pela capacidade de submeter a verdade unilateral da ideologia à violência do diálogo. Diálogo significa violência por implicar em renúncia dolorosa a um eu cheio de si que as ideologias, os fundamentalismos ou as teorias e as crenças sempre põem a venda no bazar das certezas. Olhar um acontecimento, pessoal ou histórico, por ângulos opostos ao mesmo tempo, é como admitir que amor e ódio não se anulam e vivem como forças contemporâneas dentro da mesma pessoa. Mais fácil é ditar verdades como as palavras de ordem das manifestações públicas. É preciso perguntar se estas palavras dão ordem aos que protestam ou a quem escuta o protesto? Mas, do que adianta tanta reflexão quando se trata de assuntos que envolvem judeus, muçulmanos, e cristãos em guerra sobre um mar quase parado cercado de história?[1]

A mensagem de Eva e o detalhe onde mora o diabo.

“Paulinho, onde andas? O que vc está achando de tudo isso? Vamos organizar um debate sobre o assunto? E essa carta ai, vc recebeu? Beijos, Eva”

Um dia depois de ter recebido do Kibutz Nachshon, o pedido de socorro escrito pelo Jayme Fucs Bar, Eva me reenviou o apelo de uma pessoa envolvida na mesma tormenta que o Jayme. Era uma carta do cineasta Silvio Tendler, diretor do filme Utopia ou Barbárie, recém lançado nos cinemas. Titulo que me fez lembrar Socialismo ou Barbárie, uma antiga revista dos tempos em que era fácil afirmar de que lado estava o universo da salvação e onde começava o sinistro mundo do diabo.

Dias antes do “tudo isso” que Eva me perguntava, eu andei navegando em pesquisas na internet. Na volta de Israel em um vôo da Air France, no inicio de Maio de 2010, folheando a revista “Le Nouvel Observateur” dei de cara com um título inusitado: Para Salvar Israel. Através dele soube que intelectuais judeus europeus lançaram um manifesto chamado Appel à La raison, um apelo à razão e, assim que cheguei em casa fui conferir no site indicado. Gostei daquelas pessoas que não temiam declarar de publico o seu amor a Israel mesclado à preocupação pelo seu futuro.

Entre as assinaturas do manifesto identifiquei Henri Atlan. Trata-se de um cientista e co-participante do chamado “pensamento da complexidade”, professor em Paris e Tel Aviv, é um autor que me influenciou profundamente. A sua presença junto ao filósofo Bernard Henry Levy deu ao manifesto a legitimação da urgência que nos sacode a todos, intelectuais ou não, que se consideram conectados com o estado de um Israel que amamos. Procurando saber a repercussão do manifesto através da edição digital do jornal Haaretz, descobri a flotilha que se organizava na Turquia e resolvi segui-la.

Lá pelo segundo dia de viagem soube da proposta encaminhada por Noam Shalit, pai do soldado Guidon Shalit raptado pelo Hamas quatro anos atrás e mantido incomunicável até hoje. Noam propôs aos membros da esquadra da paz uma cooperação bem interessante. O pai de Guidon Shalit é hoje figura pública em Israel à frente de um movimento que pressiona o governo israelense a uma permuta do filho seqüestrado por todos os prisioneiros exigidos pelo Hamas. Mesmo aqueles que são assassinos comprovados. O pai do soldado pedia que flotilha pacifista levasse algumas cartas da família para o seu filho em troca do seu apoio publico aos objetivos da esquadra.

Idéia perfeita. Ela teria uma enorme repercussão aumentando o arco pacifista empenhado em terminar uma guerra que nunca para de começar. Ao mesmo tempo conferia aos pacifistas marítimos um grau de legitimidade que eles não possuíam entre o púbico de Israel. De repente, o jogo viraria. De desafiadores da política Israelense eles passariam a ter aliados dentro do estado judaico.Uma quinta coluna do bem, disposta a apoiar um grupo com o qual discordavam demonstrando mais uma vez que a paz pode fazer mais que a política. Eis ai um daqueles fatores externos que embaralham a organização de um mente e promovem o seu avanço. Exatamente o que aprendi anos atrás com Henri Atlan em seu livro “Entre O Cristal e a Fumaça” onde tratava da auto organização do seres vivos.

O fator externo que penetra num sistema obriga-o a sair de seu modo cristalizado de ser e a se reorganizar de uma maneira diferente. Assim, graças a influência dos acontecimentos somos forçados a novas organizações para dar continuidade a um processo chamado vida. O mesmo Atlan que encabeçava o manifesto que me levou a descobrir a flotilha me permitia pensar na importância do que estava acontecendo. Afinal, como Gilad Shalit não é um prisioneiro de guerra, e como a flotilha estava claramente do lado do Hamas, não seria considerada inimiga. Como sabemos, ele foi seqüestrado em Israel e mantido desde então isolado o mundo desde antes da invasão de Gaza. Ate a Cruz Vermelha Internacional nunca teve acesso a ele. Realista o pai de Shalit não pedia a flotilha intermediasse a sua libertação, só queria a entrega de cartas. No dia seguinte descobri que o pedido fora rejeitado. Fiquei cabreiro.

Judaísmos Humanistas?

Humanismo judaico foi o termo que vi nas duas mensagens que transcrevi. Tanto o Silvio Tendler, aqui do Brasil, em seu manifesto de exigências ao presidente de Israel, quanto o Jayme, no coração do conflito em seu grito-de-alerta-pedido-de-ajuda, utilizam o termo Judeu Humanista. Jayme chama o seu email de “Desabafo!”. Palavra que indica pensamentos e emoções contidos que, subitamente, se libertam sem que a pessoa tenha domínio sobre aquela transformação. Elas vêm à tona de maneira desordenada e repentina criando a descontinuidade num tempo que parecia avançar dentro de uma razão lógica. A força do desabafo faz pensar que a história pessoal não caminha em linha reta. O tempo do desabafo é o anjo súbito[2] de um repente inesperado. Força emocional capaz de gerar uma experiência fundadora na vida de alguém ou uma revolução na vida de um povo. Uma visão de tempo que se apóia na tradição judaica. Tempo anacrônico quando a transformação messiânica irrompe dentro da história trazendo o mundo-por-vir para um presente inesperado. Força que se reflete no texto sem cuidados com a gramática, o estilo, a escrita bem pensante. O texto de Jayme transmite na forma o conteúdo do que tenta dizer em palavras incapazes de receber e repassar a força do seu sentimento.Escrita nervosa e cheia de pressa. Emoção que transborda o limite existente entre fala e escrita, até se consumar num grito em maiúsculo. Como se letras minúsculas ficassem apertadas para conter a vontade e a determinação do Jayme em fazer ouvir o seu desejo de instaurar a paz antes da política. Mas, sabendo que não possui este poder messiânico, ele transforma o seu desejo de paz em apelo poliglota e nos convoca a participar.

Basta! Halas! Dai! A Violência! Usando três línguas na tentativa de alcançar ouvintes imaginários, Jayme busca ultrapassar limites “falando” na língua daqueles que não podem ler o que escreve. É através do limite que procura impor à VIOLÊNCIA que ele quer envolver-nos na tragédia e na sua redenção. Como ela não depende só daqueles que sabem hebraico, é preciso também que os falantes do árabe tomem parte neste ato onde não há acusações, mas, tão somente, responsáveis. Para que a energia do desabafo possa parir um momento novo capaz de irromper no estado das coisas, é preciso esquecer a distinção entre mocinhos e bandidos. Querendo a participação dos co-responsáveis na Sulcha que ele pretende organizar, o banquete que sela a paz entre inimigos, Jayme escreve em negrito gritante: Halas! Daí! No ultimo grito, “A Violência”, falta uma crase no A e uma virgula antes. O que lhe dá um sentido de quem grita para chamar a atenção de todos aqueles que não vêm o que está acontecendo. (Olhem, olhem) A Violência esta entrando pelas janelas de minha casa cercada de flores no Kibutz Nachshon.

Dai! É palavra que segundo a tradição compõe um dos nomes de Deus, El ShaDaí transformado pela tradição em EL She Daí, o Deus que (diz) basta! Dai,basta, até aqui eu vou, mas daqui em diante é com vocês. Interpretação que nos remete a Nachshon, personagem que dá nome ao Kibutz onde mora o Jayme. Segundo tradição atribuída ao Rav Tarfon que viveu na época da revolta contra Roma, Nachshon teria sido o primeiro a confiar em Moisés e, dando o passo em direção às águas do mar vermelho, possibilitou a realização do milagre. Eis aí o humanismo judaico em sua vocação de colocar o último milagre, o passo humano em direção á água, em importância igual aos atos divinos que não se realizariam sem ele. Não fosse Nachshon não teríamos presenciado o milagre da abertura do mar e a libertação final dos hebreus.

A Carta do Silvio Tendler

Ainda lembro do Zé Eduardo Baeso Basili nos tempos da ditadura. Professor amado pelos alunos pelo seu método de dar aulas de história desenhando no quadro caricaturas dos eventos e dos personagens de quem falava, ele costumava dizer que o Fascismo é condição natural no homem e a nós competia combatê-lo. Seu argumento era que se tratava de uma posição frente a vida e ao pensamento que se manifestava em todas as ideologias políticas e em cada um de nós. O bicho homem tenta reduzir tudo que lhe pareça complexo à simplicidade imediata da certeza dando voz ao seu Fascismo totalizador. Apesar dos anos e de tantas leituras sofisticadas, nunca esqueci deste ensinamento do meu camarada. Só fiz aprimorá-lo. Anos mais tarde reencontrei o mesmo raciocínio no artigo do Freud que não conhecia naquela época.

No seu texto Silvio Tendler acusa Israel de opositor da paz, e sugere que o governo israelense receba o premio Jim Jones (aquele que realizou um suicídio coletivo de seguidores na selva amazônica da Guiana) e o chama de “genocida”. Dizer “genocida” induz inevitavelmente a pensar em nazismo. Nunca é demais lembrar o perigo da indução como arma da propaganda política que os pensamentos totalitários sempre foram expertos em utilizar. De Goebbels aos EUA passando por Beria e quem mais desejarem. Manobras fundamentalistas que nós, humanos e voluntaristas, utilizamos por causa da dificuldade de superar a certeza ideológica e de não banalizar o uso das palavras por conta de arroubos de verdade. Refiro-me a “genocídio” e “nazismo”. Palavras que pipocam com a mesma desconsideração daqueles que declaram que o holocausto nunca existiu. Se olharmos para o sec. XX somente Alemanha e Turquia (que trucidou os armênios da mesma forma que dizima o povo Curdo neste momento em que escrevo) são lembrados na história pela ação de assassinar metodicamente uma população civil em busca de seu extermínio físico.

Quando, em seu ardor justiceiro, o cineasta sugere um tribunal de “Nuremberg” para o ministro Liberman ele se coloca a disposição daqueles que escondem as suas intenções reais sob o manto protetor de uma discussão politica. Se os israelenses são fascistas, nazistas, cometem holocausto e instauram um apartheid, fica implícito que a guerra é a única maneira de lidar com esta gente. Num ato de franqueza muitas pessoas aqui no Brasil deveriam declarar o que defendem em seu íntimo. É preciso que eles admitam que no fundo consideram que a solução final (cuidado estas palavras contêm um vírus que visa induzir e seduzir o leitor) do conflito é apagar Israel do mapa.O que, sem duvida, não é o pensamento do Silvio. Nuremberg, nazismo, holocausto tal qual Shoá, são palavras que deveriam ser cuidadas para não perder o seu poder diferenciador e só mencionadas acompanhadas de dados concretos que não as deixem soltas como se fosse uma saraivada de bombas capazes de assassinar fatos. É preciso cuidar-se para não induzir na tentativa de tentar seduzir. A sedução é sempre uma relação de uso onde o outro é objeto sem vida e sem direito a ela.

Concordo com o Silvio quando afirma que precisamos que os bons se unam em todos os lugares do mundo. Eu gostaria de estar entre eles embora não saiba a quem ele se refere. Será que bons são àqueles intelectuais italianos que mês passado, numa feira de livros em Turim, tentaram boicotar e expulsar o escritor pacifista Amos Oz? Foi Humberto Eco quem saiu em sua defesa, enquanto o júri popular deu o prêmio de melhor escritor ao romancista israelense. Alguém sabe por que ainda não foi agraciado com o Nobel de literatura, embora figure na lista há anos? Ou serão boas as pessoas que Silvio teme que venham a nos considerar maus brasileiros confiáveis e de esquerda do modelo PT, caso não sejamos os primeiros a demonstrar o quanto somos judeus bons e confiáveis? Serão os bons aqueles que só se lembram da carteirinha de judeu em situações onde precisam se diferenciar dos maus e mostrarem que não têm nada a ver com os fascistas georgianos? Neste caso, devo declarar que tenho sido muito mau como humanista judeu.

Se acreditamos em um Judaísmo Humanista seria bom considerar que na origem desta cultura já se pensava na idéia que o mal e o bem são inseparáveis. Idéia presente no discurso bíblico onde Isaias falando por deus afirma “Eu crio a luz e produzo as trevas faço a paz e produzo o mal, eu sou IHVH criador de tudo isto”( Isaias 45:7). Pensamento radical por afirmar que o mal não está nos outros. Texto radicalizado pelo Mestre Ball Shem Tov quando ele o ensinou da seguinte maneira: “não existe um homem justo sobre a terra que faça o bem”. Ou seja, a melhor intenção humana está sempre atravessada pelo mal. Se este for o humanismo judaico do Silvio Tendler, estamos todos na mesma utopia do mesmo humano onde não existiria mais o “ou um ou outro”. Um Humanismo Judaico aponta para a multiplicidade de forças em cada um de nós,convivendo ao mesmo tempo e sem exclusão subvertendo a ordem do “ou um ou outro”.

Seguindo este principio talvez fosse possível apreçar a construção do mundo-por-vir( o olam há ba) capaz de acolher tanto o Jayme, quanto o Silvio, tanto judeus, quanto católicos, muçulmanos, ateus convictos e espíritas declarados, tanto os intelectuais europeus quanto as pessoas que compartilham desta idéia, juntado todos na mesma nau da sensatez.

Paz primeiro, política depois?

A ética é uma ótica. O autor desta ideia é Emanuel Lévinas. Um pensador de tamanha importância que Elizabeth Goldwin, professora da universidade de Tel Aviv, assim intitulou um artigo sobre ele: “Se existe algum sentido para o judaísmo do Estado de Israel, ele se encontra em Levinas”. Em outras palavras, ou Israel será levinasiana, ou não será judaica. Mas que judaísmo é este do qual nos fala uma autora israelense quando em Israel a religião judaica fundamentalista adquire força política capaz de influenciar a vida da maioria laica. É deste judaísmo que nos falam a autora e o filosofo Emanuel Lévinas?

Judaísmo não se resume à religião embora, tanto ela, quanto qualquer outro pensamento que se declare judeu, possua as mesmas fontes. A tradição sempre incentivou a idéia que a pratica dos preceitos não esta relacionada à fé e sim a um fazer na vida humana. Uma religião onde Deus diz: Daí, o resto é com você, diz também que a vida é você e são suas as responsabilidades. Não se trata de uma religião para crianças assustadas querendo fazer as coisas certas para serem aprovadas por uma entidade superior ou um amigo.

Trata-se de pensar com Lévinas em um humanismo do outro homem. Não de um outro homem, diferente do de sempre, mas do outro homem, aquele outro que nos convoca para uma dimensão de responsabilidade. Idéia que penetrou tanto no pensamento das religiões monoteístas, quanto em ideologias laicas como o marxismo. O outro, aquele que me antecede em minhas preocupações com o meu próprio eu, eis o cerne da questão presente no projeto humanista criado pelo judaísmo originário. Um outro presente em mim desde os primórdios de minha existência. Foi assim com Caim, é assim com todos nós.

Quando deus se dirige a Caim perguntando por Abel,ele lhe responde dizendo que não era o guardião de seu irmão. Resposta que aponta para um Caim que conhecia a possibilidade de ser responsável por Abel. Ao colocar a resposta daquela maneira, a tradição judaica nos deixa um ensinamento que se espalha ao longo de milhares de outras paginas. Sou sim, sempre, o responsável pela vida do outro homem e, se o mato através de atos ou de palavras, é porque no assassinato vejo a maneira final de negar aquele rosto que desafia o meu desejo de controle do mundo. Por isto, sempre esteve presente no texto bíblico a preocupação com a viúva, o órfão, o estrangeiro, este último, a mais clara encarnação de um outro percebido como estranho e a quem devo transformar em próximo, como nos ensinam inúmeros mandamentos da Torah.

Eis ai o cerne do Humanismo Judaico. O fundamental é isto, o resto são comentários, quem quiser se aprofundar poderá se dedicar ao estudo de milhares de variações sobre o tema. Mas, em estudando, é bom ficar de olho na tendência de assassinar a verdade do outro em nome de ideologias. Como antídoto a tradição nos ensina que devemos sempre estudar em duplas para que, diante da presença limitadora do outro, ninguém se sinta no direito de ditar a verdade. Estudar com um companheiro equivale a admitir no próprio pensamento a presença concreta de alguém que trás para perto o Daí-basta-chalas. Um outro que já se encontra instalado dentro de nós. Desde sempre. Assunto que nos traz de volta a uma pergunta feita no inicio do texto: qual é ,afinal, o remédio violento que hesitamos tomar?

A violência do diálogo.

Em hebraico a palavra GueR se escreve da mesma maneira que GaR. Numa língua sem consoantes, os “pontinhos da escrita hebraica”, as duas palavras ficam reduzidas a GRג ר)). GueR significa estrangeiro, GaR é o presente do verbo LaGuR, morar. Morador e estrangeiro, que mistério terá moldado sentidos tão diversos em escrita idêntica? Ser estrangeiro permeia o imaginário hebreu e dá origem IVRI/Hebreu: aquele que veio do outro lado do rio. Abraão viveu e morreu como Arameu, fato que as preces e a recitação da Hagadá de Pessach repetem tantas vezes “Arameu nômade foi teu pai”. A diferença de Abraão em relação aos outros habitantes com quem entra em contato em suas andanças não é étnica, é ética. O seu modo de viver errante sobre a terra obriga-o a múltiplas negociações com reis e povos estranhos e faz dele um permanente estrangeiro. Diferente de Ulisses que peregrina por terras e volta a sua querida Ática, Abraão desprende-se da casa paterna para errar sem volta.

GaLuT, palavra traduzida por exílio tem relação direta com LeGaLoT, descobrir. Estar a descoberto, sem proteção, eis o sentido hebreu de um desterro sem exílio. Como se o pensar hebreu fosse tributário de uma única idéia fundadora: um estar “descoberto” ontológico que começa em Adão e Eva e atravessa a sua história. Idéia tão presente que, segundo a mística da cabalá, deus acompanha o seu povo para a Galut-desterro sob forma da Schiná, a sua presença feminina. Deus e o seu povo estão igualmente no desterro. Era assim que os cabalistas queriam entender a história sagrada atrelado-a a história dos homens.

Será que a condição do desterrado e do viver descoberto faz o humano abandonar a certeza e criar o diálogo? Será que estamos autorizados a pensar deste modo ao perceber como o nomadismo dos hebreus é toa marcante quanto o seu apego a uma palavra que jamais pode ser capturada pela certeza? Será este o remédio violento que hesitamos tomar e por isto fazemos política? O diálogo se torna violência por que somos obrigados a uma contração em um eu que tudo quer ocupar. Quando contraio os meus desejos de dominação estou repetindo um ato divino, como nos diriam os cabalistas. Um ato de violência que o criador executou sobre si mesmo restringindo seu Ser e criando local para que houvesse mundo, o Tzimtzum, a contração de si mesmo.

É com esta experiência da auto-limitação do eu, que escavamos no ser infantil um inicio de caminho cheio de marcas que nos levará, ou não, à condição humana. Caminho que nos faz sair da biologia em que nascemos em direção à humanização. Levados a fazer parte de uma conversa infinita que nos antecede, é a maneira como cada um ocupa o seu lugar neste bate papo que vai definir o como que seremos. Caminho doloroso onde muitos se enrijecem como cristal enquanto outros se dissipam como fumaça, mas todos, sem exceção, vão assumindo um lugar na conversa infinita. Exemplo desta experiência que nos antecede é o ato fundador do diálogo acontecido entre Abraão e Deus.

Quando Deus avisa a Abraão que vai destruir Sodoma e Gomorra, imediatamente o patriarca questiona o objetivo divino. Em nenhum momento eles mencionam qualquer razão étnica para as suas intenções. O fato implícito no debate é totalmente ético. É em nome de uma ética que Deus quer destruir aquelas pessoas. É também por esta razão que Abraão questiona dizendo que o justo não pode perecer por causa do injusto. Fato que implica questionar a validade de Deus destruir quem quer que seja. Paulatinamente ambos vão recuando em suas intenções até que chegam a um número comum. Se houvessem dez justos as cidades não seriam destruídas. Ou seja, há algo maior do que deus que o engloba e limita o seu poder. Quando Abraão lhe pergunta “O Juiz de toda a terra não fará justiça?” e Ele aceita dialogar, a justiça se sobrepôs ao criador.

Eis aí a violência do diálogo que temos que aceitar para entrar na roda da vida humana. Quando a negamos corremos o risco do fascismo. O Fachio, feixe de varas e machado que simbolizava a lei romana, se torna o mal quando alguém encarna o machado e as varas e se permite cortar cabeças e dar varejadas. Chamar a si a lei é colocar-se acima dela sem curvar-se a algo maior do que o si mesmo, eis o fascismo, a materialização do mal. Nem a deus foi dado este poder. Quando assumo a violência e me esforço a um ato de contração o diálogo se instaura, a paz se faz presente, e a política pode acontecer. Política, o cuidado com a cidade dos homens, só se torna possível depois que assumimos o estado de espírito da paz, a presença comprometida com um próximo que não é o meu semelhante.

Paz primeiro, política depois.

Rio de Janeiro,4 de junho de 2010.



[1] Ver artigo “Um Bibliotecário Escravo” publicado no Blog do “Judaísmo Humanista.

[2] Ver “Aqui também acontecem anjos” publicado no Blog Judaismo Humanista.

Saiba mais…

A Flotilha de gaza – uma visão Shomrica

Senhores, o texto abaixo sobre a flotilha de gaza foi divulgado ontem pela internet e já teve uma repercussão incrível. É a visão do Shomer de SP sobre os recentes acontecimentos. Por favor sintam-se livres para divulgar!

A Flotilha de gaza – uma visão Shomrica

Nós, judeus, jovens do Hashomer Hatzair, um movimento juvenil judaico humanista, representantes da esquerda judaica sionista-socialista, vemos como essencial nosso posicionamento quanto à recente crise política envolvendo Israel e a flotilha que se dirigia a Gaza.

Com convicção acreditamos que nenhuma questão política deve ser simplificada em uma dicotomia que não condiz com a realidade. Como um movimento que desde o início do século passado luta pela legítima existência de um Estado para os judeus, vemos com muita preocupação a atitude do Governo Israeli liderado pela direita nacionalista ante a incitação islâmica turca, encabeçada pelo navio Marmara, que formou parte da chamada flotilha humanitária.

O Pirkei Avot (A Ética dos Pais, uma fonte do judaísmo) nos ensina que a paz só é alcançada por intermédio da justiça, e por isso entendemos que o caminho para o fim do conflito entre o povo de Israel e o povo palestino é a solução de DOIS ESTADOS PARA DOIS POVOS, ou seja, a criação do Estado Palestino. Toda ação que age contra esta visão, age contra o futuro do Povo Judeu, o Estado de Israel e também contra os palestinos, seja em Gaza ou no mundo inteiro. Porém, essa solução só será atingida se o processo de paz e de diálogo progredir, e infelizmente a cada dia que passa o atual governo de Israel e os atuais representantes do povo palestino só sabotam e destroem esse processo.

Reiteramos que para nós não se trata de estar do lado ou contra Israel, pois apesar do mundo pensar o contrário, existe sim uma oposição de esquerda israelense disposta a construir a paz. Trata-se de se opor à linha política que a atual coalizão segue e apoiar os segmentos progressistas tanto israelenses quanto palestinos.

Pelo fato de não se saber ao certo detalhes do que havia na flotilha, qual era sua real intenção e o que realmente aconteceu entre os ativistas e os soldados, nos isentamos de julgar a questão em si, mas não abdicamos de julgar o fato consequente, que foi a morte de vários ativistas. Consideramos que o imbróglio poderia e deveria ser resolvido de outra maneira e repudiamos qualquer solução de caráter violento. Essa resolução, além de atentar contra qualquer sentimento humanista, atenta gravemente contra o processo de paz.

Com a integridade de uma visão e opinião completamente independente, esclarecemos nossa oposição ferrenha ao grupo golpista Hamas, um coletivo reacionário e fundamentalista que não responde aos verdadeiros interesses do povo palestino; assim como afirmamos nossa também oposição à coalizão (eleita de forma democrática) liderada por Netanyahu e Liberman, ao Bloqueio em Gaza e à política de construção e incentivo aos assentamentos em Jerusalém Oriental e na Cisjordânia. Chamamos ambos os povos a se sobrepor a seus governos em favor de uma ação pacificadora.

O Estado de Israel é legítimo. O Sionismo, como movimento de autodeterminação nacional judaica, ao ser compreendido por nós como um valor universal, legitima também a criação de um Estado Palestino.

Em busca de justiça e paz, gritamos: DOIS ESTADOS PARA DOIS POVOS!


Hashomer Hatzair Brasil São Paulo


Abs

Pedro

Saiba mais…
Pensamiento sionista:Separación entre Religión y Estado

Por: Ishayahu Leibovich

"Religión y Estado", un tema o quizás el tema más candente en Israel desde la creación del Estado Judío. ¿Cómo deben ser las relaciones entre ambos planos?¿Es Israel un estado religioso o un estado laico?, Debe separarse la religión del estado? Todas estas preguntas y muchas otras son brillantemente respondidas en este articulo, con la claridad y alto nivel intelectual que caracterizan a Ishayau Leibovich, uno de los más grandes pensadores del siglo XX.

"La Separaciףn entre la Religiףn y el Estado" aparece de tanto en tanto como lema en los debates pתblicos de Israel, pero no es la polםtica-prבctica de ningתn partido o corriente polםtica pתblica. El lema es propio de cםrculos considerados "ateos" y es considerado expresiףn de un estado de בnimo o de una tendencia teףrica, pero no de una lםnea polםtica. Pues los que lo enuncian no lo hacen con la seriedad de una exigencia polםtica que se debe concretar en el presente. Ellos no intentan proponer un programa para concretado dentro de la legislaciףn urgente y su lucha en favor del mismo se circunscribe a enfrentamientos esporבdicos con manifestaciones religiosas o pseudoreligiosas. Incluso el judaםsmo religioso oficial, en sus representaciones espirituales y polםtico-partidarias, que niega la "separaciףn" y sostiene las relaciones existentes entre "el estado" y "la religiףn", no argumentף jamבs - y es posible que incluso no se lo explicף asם mismo - esta negaciףn y su apego a la situaciףn existente.

En verdad, dentro de Israel jamבs se desarrollף una lucha entre religiosos y laicos respecto a la cuestiףn de religiףn y estado: ambas partes, por razones de oportunismo, consienten con la realidad de UN ESTADO LAICO QUE ES PRESENTADO COMO RELIGIOSO.

Aquם analizaremos la separaciףn entre la religiףn y el estado, como una exigencia expuesta desde un punto de vista religioso, que considera las relaciones existentes en la actualidad entre el gobierno y la legislaciףn del estado con la Torב, como una situaciףn que profana, desprecia la Torב y destruye la religiףn.

¿Cuבl es la acepciףn religiosa de la exigencia de separaciףn entre religiףn y estado, y cףmo se configuran las consecuencias prבcticas de la concreciףn de esta exigencia? Para esclarecer el tema, es necesario anticipar dos aclaraciones:

  1. La religiףn a que nos referimos aquם, es el judaםsmo tradicionista que se realiza por medio de la Torב y sus prescripciones, y que exige soberanםa sobre la vida del individuo y de la sociedad, no una religiףn que puede lograr su realizaciףn mediante determinados arreglos formales montados sobre una realidad laica;
  2. el Estado a que hacemos referencia aquם, es יste Israel real, estado que se define por la forma en que se constituyף en 1948 y por su realidad desde 1948 hasta la actualidad, no un estado vislumbrado. Expresado de otra forma: el problema de religiףn y estado no es considerado aquם como un problema de creencia o concepciףn de principios sobre lo que debe ser la relaciףn entre una "religiףn" (cualquiera) y un "Estado" (cualquiera) o las delimitaciones entre "lo sagrado" y "lo profano" o sobre la esencia histיrica o metafםsica del pueblo judםo como el pueblo de la Torב, etc., sino como un problema del ordenamiento polםtico-social, que es de interיs religioso dentro de la realidad existente.

El Estado de Israel se constituyף en 1948. mediante la cooperaciףn y el aporte de esfuerzos y vםctimas de judםos religiosos y librepensadores por igual, como un estado laico en su esencia, que permaneciף laico en su esencia y proseguirב siendo necesariamente laico en su esencia, salvo si se opera una enorme revoluciףn espiritual y social en el seno del pueblo que reside en יl. El laicismo de este Estado no es tendencioso sino esencial: יl no fue creado por fuerza o impulso de la Torב y no es orientado por la Torב o segתn sus dictados, y tampoco es conducido de acuerdo a la Torב. La regla, de que "el Estado de Israel es un Estado de derecho y no un estado halבjico (normativo religioso), es un principio reconocido por todos - incluso por los religiosos - respecto a la conducciףn del gobierno y de la administraciףn de este Estado, en los cuales el judaםsmo religioso oficial participa desde el dםa de su establecimiento. Sea que nos autodefinamos como religiosos o que nos autocalifiquemos como liberales, todos juntos levantamos este Estado como patriotas judםos, y el patriotismo judםo, como todos los patriotismos, es un atributo humano laico, que no tiene ninguna esencia de santidad. No hay santidad, sino en el observar la Torב y cumplir sus preceptos "y serיis santos para vuestro Dios". No nos asiste el derecho de conectar la creaciףn de este Estado de Israel con los conceptos religiosos de redenciףn mesiבnica, que implican el reencauzamiento religioso del mundo, o al menos del Pueblo de Israel; no debe otorgarse un hבlito de santidad a este suceso polםtico-histףrico y no debe considerarse un acontecimiento religioso a la propia existencia de este Estado.

Desde el punto de vista de la conciencia y la fe religiosa, este Estado es el Estado de Israel (como tambiיn los reinos de Lerevam, Ajab, Menashי y Herodes en su momento fueron el Estado Israelם); y el judםo - tambiיn el judםo religioso - no puede ni le asiste el derecho a desconectar su vinculaciףn con ese Estado, pese a que en la actualidad es laico, es decir basado en la rebeliףn del pueblo contra la Torב; como no hay hombre que pueda y tenga derecho a cortar sus vםnculos filiales con su padre y madre aתn si son delincuentes, o a la inversa los vםnculos paternos con un hijo que marchף por mal camino. No obstante, junto al pleno reconocimiento de la legitimidad de la existencia de este Estado frente a la imagen y tinte de su sociedad organizada, debe exponerse la imagen y el tinte de sociedad y el estado religioso, es decir: de la Torב como autoridad soberana que estב por encima de ellos. Y no es factible por vםa administrativa, infiltrar demostraciones exhibicionistas religiosas en la realidad laica, reconociendo la autoridad laica.

La exigencia de separaciףn de la religiףn del estado laico existente, deviene de la necesidad religiosa vital de impedir que la religiףn se transforme en un medio auxiliar para satisfacer necesidades polםtico-sociales; impedir la transformaciףn de la religiףn en una reparticiףn del gobierno laico o una funciףn de la burocracia y la administraciףn estatal, la que "mantiene" la religiףn y las instituciones religiosas no por razones religiosas sino como concesiףn a determinados grupos de presiףn, respondiendo a intereses de poder momentבneos y cambiantes. Religiףn de parte de un poder no-religioso, es la antםtesis de religiףn e impide la posibilidad de una educaciףn religiosa y la influencia religiosa sobre la poblaciףn y el estilo de vida. Desde el punto de vista religioso no hay mayor abominaciףn que un rיgimen ateםsta - clerical. ¿Que presenciamos aquם? Un estado laico en toda su esencia y no-religioso en la mayorםa de sus expresiones y que reconoce ciertas instituciones religiosas como instituciones estatales, los solventa con su dinero, e impone a las personas por medios administrativos no la religiףn sino ciertos servicios religiosos, de acuerdo a una selecciףn antojadiza que se determina mediante acuerdo polםticos-partidarios, y todo esto mediante la enfatizaciףn del desconocimiento de la Torב y sus prescripciones ("estado de derecho y no estado halבjico"); un "Rabinato de..." que recibe su nombramiento, sus poderes y sus salarios de la autoridad de los "liberales" y que por lo tanto se autolimita a las funciones que dicho poder le asigna dentro del organigrama de los servicios administrativos del estado; una religiףn cuya ubicaciףn dentro del estado es similar a la de la policםa, la sanidad, el correo o la aduana no hay una humillaciףn mבs grave de la religiףn y no hay algo que desgaste su poder de influencia y persuasiףn, que las instituciones religiosas solventadas por un estado laico; que la cobertura religiosa otorgada a funciones laicas, que obligaciones y prohibiciones religiosas que se incorporan como excepciones dentro de un sistema jurםdico laico; que un fuero laico que impone una selecciףn antojadiza de manifestaciones religiosas sin comprometerse ella misma y el pueblo a admitir la soberanםa de la religiףn; que una religiףn que no se profesa por fe sino por conveniencia polםtica.

Todo ello es una falsificaciףn de la realidad y una tergiversaciףn de la verdad social y la verdad religiosa, y fuente de corrupciףn intelectual y espiritual. Hay que posibilitar que el estado laico y la sociedad laica se manifiesten sin falsas coberturas religiosas; y entonces se evidenciarב si tienen lo quי expresar como estado judםo y como sociedad judםa; y hay que posibilitar que la religiףn judםa pueda expresarse sin cobertura administrativa, sףlo entonces se revelarב su poder y se convertirב en un factor educativo e influyente.

Frente a la exigencia de separaciףn entre religiףn y estado, cםrculos religiosos sostienen que esa separaciףn no posibilitarב su existencia social, quizבs incluso la fםsica, de judםos religiosos dentro del estado y la sociedad laica, y se convertirב en un factor que obligarב a que judםos transgredan su religiףn. Estas afirmaciones son en parte ingenuas y devienen de la incomprensiףn de lo que significa la separaciףn de la religiףn del estado y su materializaciףn dentro de las normas y costumbres del estado y la sociedad; y otra parte de estas quejas no son sino sorpresa e hipocresםa de sectores interesados. En verdad, esta separaciףn no afectarב en nada la posibilidad que se brinda a judםos religiosos para que vivan sus vidas acorde a su estilo dentro del estado y la sociedad, y no sףlo eso sino que ella incluso fortalecerב la manifestaciףn de la existencia religiosa dentro de la realidad pתblica.

Ejemplos:

  1. Las instituciones religiosas pertenecerבn a la comunidad religiosa y funcionarבn acorde a consideraciones de los religiosos y los intereses de la religiףn y no acomodבndose a los marcos que les fueron fijadas por la administraciףn laica. No habrב designaciones de funcionarios religiosos por parte de las autoridades gubernamentales, que no se consideran subordinadas a las prescripciones de la Torב. Obras e instituciones religiosas no serבn administradas por reparticiones estatales o sus autoridades.

    Se establecerב un Rabinato para el judaםsmo religioso y no un "Rabinato en nombre de", una de las instituciones mבs abyectas en la historia del Pueblo de Israel; surgirב un rabinato que representarב y conducirב a la comunidad religiosa, y no meros funcionarios gubernamentales del estado que en los hechos es laico; un Rabinato que tendrב derecho a opinar y hacer sentir su voz en todo asunto y en todo tema pתblico que requiera una apreciaciףn desde la ףptica de la Torב o la halajב (legislaciףn rabםnica), y no תnicamente sobre aquellos temas que le fueron asignados por la autoridad laica. La voz de la Torב y la opiniףn autorizada de la halajב podrב emitirse en todo lugar y sobre todo asunto, tanto si los que la escuchen estבn o no dispuestos a obedecerla. Se pondrב fin a la situaciףn terrible, en la cual el Rabinato - como instituciףn estatal - debe abstenerse de opinar sobre la cuestiףn de la enseסanza laica y religiosa, que es el problema religioso central, y callar frente a los casos en que los niסos de Israel son desviados mediante tentaciones o coerciones. No habrב mבs roces y polיmicas Entre funcionarios religiosos de un gobierno ateo - entre "un Ministro de Cultos" y un "Rabino en Jefe" - que discuten no sobre temas de la Torב o por dictבmenes halבjicos, sino el reparto de las pobres atribuciones que les fueron asignadas por parte del poder laico.

    ¿Quiיn solventarב las instituciones religiosas necesarias para la comunidad religiosa? La respuesta es clara: ante todo los miembros de la comunidad religiosa con sus propios recursos y medios.

    Es claro que esto impone sacrificios, pero la comunidad religiosa desde siempre - y en todo lugar - sobrellevי esta carga como algo sobreentendido y como parte inseparable de su existencia religiosa.

    Hasta la comunidad judםa mבs humilde en alguna remota aldea del Yemen, o Marruecos o en las grutas de Libia, sostenםa con sus propios medios - y no con la asistencia de la Campaסa Unida o con asignaciones del imבn o el sultבn - sus rabinos, sus matarifes, sus sinagogas y sus cementerios, etc., y jamבs se quejי por ello. Sףlo dentro del Estado de Israel, que convirtiף a la religiףn en una funciףn de la administraciףn laica, se corrompiף al pתblico religioso y se lo acostumbrי a recibir de la autoridad laica los dineros para mantener las instituciones religiosas y asם la propia existencia de ellas depende de esas instancias. No cabe la menor duda que despuיs de un breve perםodo confuso que devendrב con la separaciףn entre la religiףn y el estado, las cosas volverבn a su lugar y la comunidad religiosa volverב a solventar sus instituciones como instituciones religiosas que personas religiosas cargan voluntariamente con su mantenimiento, y el prestigio de la Torב ascenderב despuיs de haber sido degradado con las "migajas" que caen de la mesa del estado laico. Sobre este tema se puede tomar como ejemplo el desdיn y el desprecio que padeciף la Iglesia Catףlica en Francia del Siglo XIX como consecuencia del Concordato Napoleףnico que la convirtiף en servicio y servidora del estado, y como ascendiף su prestigio e influencia en el Siglo XX despuיs de la separaciףn entre la Religiףn y el Estado, cuando todas las instituciones de la iglesia y sus funcionarios volvieron a mantenerse exclusivamente con las donaciones de los creyentes.

    Cabe discutir, si las instituciones religiosas judםas dentro del Estado de Israel laico deben y tienen derecho - desde el punto de vista religioso - a recibir apoyo financiero de las arcas del estado. Quien escribe estas lםneas considera, que el judaםsmo religioso - por respeto a la Torב - estב obligado a rehusarse a recibir ese tipo de sustentaciףn. Pero si se resuelve de otra forma - basבndose en criterios religiosos - la comunidad religiosa seguirב recibiendo ese apoyo, incluso despuיs de la separaciףn entre la religiףn y el estado basבndose en los derechos que le asisten como sector de la poblaciףn que paga los impuestos y participa del mantenimiento del estado y sus servicios.

  2. Los Consejos Religiosos serבn electos por todos los judםos religiosos que estבn interesados en su funcionamiento y actividad. No serבn sucursales del "Ministerio de Cultos", que יl mismo es un fuero laico. La eliminaciףn del Ministerio de Cultos, liberarב al judaםsmo y a los judםos religiosos del tormento religioso - que en la actualidad es admitido en silencio por el judaםsmo religioso oficial - de solventar con dineros judםos instituciones de otros credos - que segתn fallos de tribunales rabםnicos es incurrir en idolatrםa -. Si no existiera el Ministerio de Cultos y no se solventaran instituciones religiosas judםas con recursos estatales, nuestro estado democrבtico estarםa eximido de la obligaciףn de mantener otras instancias religiosas: los feligreses de todas las religiones mantendrםan cada uno sus propias instituciones.
  3. El Sבbado dentro del Estado: En la situaciףn actual cuando aparentemente la religiףn estב inserta dentro del estado, el Sבbado es profanado por el estado. La legislaciףn del estado reconoce el derecho de cada ciudadano a profanar el Sבbado en pתblico, como por ejemplo viajando en Sבbado; y el sistema administrativo y judicial del estado es utilizado mבs de una vez para proteger este derecho, tambiיn cuando el judaםsmo religioso oficial, en todos sus partidos, participף en el gobierno y compartםa la responsabilidad por las actividades de la policםa. La prohibiciףn de transporte pתblico durante el Sבbado, que la autoridad laica impone en diferentes lugares, no es mבs que un soborno al judaםsmo religioso para cubrir las apariencias. La hipocresםa de este ordenamiento, que degrada a la religiףn y torna ridםcula la postura religiosa, tiene su mבs cabal expresiףn en la ciudad de Haifa: el judaםsmo religioso representado en el Consejo Municipal acepta el funcionamiento de transporte pתblico los Sבbados a cambio de algunos beneficios que obtiene de participar en la coaliciףn gobernante del municipio, pero al mismo tiempo lucha contra el funcionamiento del tren subterrבneo los Sבbados, al parecer porque a cambio de esta profanaciףn del Sבbado no recibirב ninguna recompensa.
  4. La ley del Estado existente no reconoce la santidad del Sבbado sino solamente el derecho del judםo a descansar en el dםa Sבbado cuando retira la definiciףn del "descanso" de manos de la halajב (derecho rabםnico) y la delega en los fueros laicos o en acuerdos interpartidarios. No hay ninguna razףn para temer que el Estado, despuיs de su separaciףn de la Religiףn, modifique en algo la Ley del Sבbado actual, que establece el derecho al descanso sabבtico para los trabajadores, y la obligatoriedad del cierre de comercios, empresas, etc. durante el dםa Sבbado. En que medida se adecuarב ese descanso sabבtico a las exigencias del descanso sabבtico religioso, esto dependerב de la presiףn que ejerza la opiniףn pתblica y la influencia del judaםsmo religioso. Esa influencia se incrementarב en gran medida, despuיs de la separaciףn de la religiףn de la administraciףn y la elevaciףn del prestigio, el honor y la fuerza educadora de la religiףn.

  5. El Sבbado y la Kashrut en el ejיrcito: El Sבbado y las prescripciones de Kashrut dentro del ejיrcito no son respetadas como resultado de la inserciףn formal de la religiףn en las leyes del estado, sino como resultado de la realidad de numerosos judםos que no pueden y no podrבn servir en el ejיrcito si no se les asegura el respeto del descanso sabבtico y la comida kasher. El estado no puede movilizar a toda la poblaciףn judםa del paםs para defender el estado mediante un ejיrcito nacional תnico y unido, si no se cumplen esos ordenamientos dentro de las filas. No puede existir un "ejיrcito religioso" separado del ejיrcito general, y por eso no se modificarבn estas disposiciones dentro del ejיrcito, incluso despuיs de la separaciףn entre la Religiףn y el Estado. Hay que seסalar que tambiיn en la actualidad las prohibiciones religiosas respecto a la profanaciףn del sבbado y el consumo de comidas impuras no son reconocidas dentro del ejיrcito, pues cada soldado tiene derecho por su cuenta a profanar el Sבbado, como asם tambiיn puede utilizar un sףlo juego de cubiertos para las comidas carneas y lבcteas. El ejיrcito sףlo posibilita a cada soldado descansar en Sבbado y consumir comida kasher, y esto no se modificara.
  6. La legislaciףn sobre casamiento y divorcio: la afirmaciףn que el reconocimiento de parte del Estado del casamiento civil puede dividir al pueblo judםo en dos pueblos que no puedan contraer enlace el uno con el otro; es falsa. Es falso, que un reconocimiento de este tipo anularב la instituciףn del casamiento religioso. Quien esgrime este argumento se evade - conscientemente o por desconocimiento - de la realidad de que existen cientos de miles de judםos religiosos en las naciones occidentales, que rigen sus vidas matrimoniales observando estrictamente las prescripciones rabםnicas dentro de paםses en los cuales la legislaciףn estatal reconoce el casamiento y el divorcio civil (Inglaterra por ejemplo), o que incluso exigen el casamiento civil (como por ejemplo en la Alemania del Kבiser y de Weimar). Un judםo observante de la Torב continuarב casבndose mediante el ceremonial religioso ("Jupב" y "Kidushim") y si llegan a divorciarse lo harבn segתn la Ley de Moisיs e Israel. Los que se rebelan contra la religiףn, se conformarבn con registrar su "enlace" o "divorcio" en la oficina estatal de acuerdo a las disposiciones legales. Ponemos entre comillas ambos conceptos, pues desde el punto de vista religioso aquם no hay casamiento y por lo tanto no puede haber lugar a divorcio y donde no se contrajo enlace religioso no hay bastardםa, y un nacido sin casamiento de sus progenitores no es proscrito por la congregaciףn. Aתn no hemos asistido a un anבlisis serio y meticuloso de parte de las autoridades rabםnicas sobre las implicancias halבjicas del "casamiento civil" dentro de una realidad en la cual judםos y judםas contraen enlace negבndose explםcitamente a realizar la ceremonia prescrita por la religiףn (jupat kidushםm). Cabe preguntarse si estos casamientos tienen alguna implicancia desde el punto de vista de la legislaciףn halבjica. Es difםcil pensar, que una mujer que se una al hombre basבndose en un registro en una oficina gubernamental, sea considerada consagrada como en una boda religiosa, pues precisamente con su actitud esa pareja manifestף que no tiene intenciones de casarse segתn lo prescribe la religiףn de Moisיs e Israel. Esa situaciףn, que reduce a un mםnimo el temor de bastardםa, implicarב una mejora enorme respecto a la situaciףn imperante en la ley de casamiento y divorcio actualmente vigente, que no es otra cosa que una ley que alienta la bastardםa dentro de Israel, pues la prohibiciףn de relaciones sexuales, que regula hechos fisiolףgicos que sףlo ataסen a quienes los realizan, no es factible fundamentarםas desde el punto de vista moral o social, sino como una severa prohibiciףn religiosa; y por ello, en vastos sectores de la poblaciףn que tienen deteriorada la vigencia de la legislaciףn religiosa - y entre ellos muchas personas muy decentes - el adulterio no estב prohibido. Comprobaremos entonces, que quienes imponen la consagraciףn religiosa del matrimonio a un pתblico que no estב consciente de su santidad, transgreden en forma grave la regla que "ante un ciego no interpondrבs obstבculos". Pero no cabe esperar que las instancias rabםnicas hagan un anבlisis objetivo, pues ellas son parte interesada en la cuestiףn, de igual modo como no cabe esperar que la Central Obrera y sus agrupaciones analicen con objetividad la cuestiףn de que los servicios mיdicos no sean atendidos por la mutualidad gremial.

    Mבs aתn: el temor de una escisiףn en el seno del pueblo, como consecuencia de la derogaciףn de la actual ley de casamiento y divorcio, es absurdo - y tal vez falto de honestidad - en vista de la realidad ya existente: ¿acaso un hombre y una mujer de Israel pueden ser una pareja, cuando uno de ellos se considera sometido a las reglas de la pureza de la familia, mientras que el otro no las reconoce ni acepta? ¿Acaso, estas prohibiciones no son mucho mבs severas que la prohibiciףn del coito con una soltera o el remoto temor de bastardםa? Esto y algo mבs: el judaםsmo religioso, mבs que cualquier otro sector de la naciףn, ve en el Estado de Israel no el estado de la naciףn israelם radicada en יl actualmente sino el estado judםo, es decir, el estado de los judםos, en el cual todos ellos son sus potenciales ciudadanos. ¿Es que el judaםsmo religioso, en sus preocupaciones por la invalidez del matrimonio por un lado y por la unidad de la naciףn por otra parte, pensף en la situaciףn y los problemas que surgirבn en el momento - quizב no tan lejano - en el cual afluyan a Israel masas de judםos de la Uniףn Soviיtica o de los Estados Unidos de Norteamיrica, judםos que desde hace dos generaciones o aתn mבs viven dentro de los ordenamientos legales y sociales de sus paםses, y no se puede saber ni determinar cuבl es su origen y por quiיnes fueron gestados? ¿Cףmo piensa el judaםsmo religioso, en esas condiciones, preservar la unidad de la naciףn entre religiosos y no-religiosos?

  7. Cerca del tema reciיn enunciado se encuentra la cuestiףn de "¿quiיn es judםo?"; Problema que sףlo pudo gestarse basבndose en la inclusiףn de la religiףn dentro de los fueros de un estado laico. Somos testigos de cףmo intereses cambiantes de coaliciףn y gobierno, llevan a que a veces se intente extirpar el sentido histףrico-tradicional del concepto de pertenencia al pueblo judםo y otras veces a eliminar ese intento; es decir cףmo la religiףn se convierte en un naipe dentro del juego de los intereses polםticos De no ser por el sometimiento de la religiףn a la autoridad estatal laica, el problema no hubiese existido: si la laicidad de hecho del Estado de Israel, hubiese sido reconocida tambiיn desde el punto de vista formal y legal, el problema en general no hubiese surgido, porque un estado laico no determina la "judeidad" o "no-judeidad" de sus ciudadanos, pues sףlo distingue entre: "ciudadanos" y "no ciudadanos", y el concepto " judםo" permanecerםa en su vigencia histףrico-tradicional. A propףsito, la retirada – temporaria - del gobierno en esta cuestiףn - repliegue que los partidos religiosos consideran como un logro - evidencia que la posiciףn de la religiףn dentro del estado, es determinada mucho mבs por la conciencia pתblica y la presiףn pתblica dentro y fuera de Israel, que por el gobierno y la administraciףn del estado; y liberar ]a religiףn de su inserciףn en el sistema laico-estatales la vםa mבs efectiva para incrementar la conciencia religiosa y su influencia pתblica.
  8. La enseסanza religiosa: no hay relaciףn directa entre la posiciףn y la expansiףn de la enseסanza religiosa, por un lado, y la ubicaciףn legal de la religiףn dentro del estado, por otro. Un nexo de este tipo sףlo es producto de las circunstancias en los marcos de un rיgimen totalitario, y no existe dentro de un rיgimen liberal, en el cual la realidad social no es idיntica a la realidad polםtica-oficial. Dentro de estados civilizados, que establecen la educaciףn obligatoria para todos los hijos de sus ciudadanos y la concretan en su legislaciףn, hallamos diferencias enormes entre un estado y otro estado, en lo que ataסe a la uniformidad o diferenciaciףn de la enseסanza que se imparte y en lo que se refiere al grado de intervenciףn del aparato estatal en el ordenamiento de la orientaciףn pedagףgica. Esto queda demostrado en Inglaterra, Francia, Alemania (de Weimar y de Bonn>, Holanda, Estados Unidos de Norteamיrica, que en todas ellos la enseסanza religiosa es prףspera. Precisamente en Norteamיrica, donde la constituciףn y los dictבmenes de la Suprema Corte de Justicia impiden que el estado imparta educaciףn religiosa, existe una red escolar de 15.000 escuelas primarias y secundarias catףlicas que cuentan con cuatro millones de alumnos, y todos reconocen que su nivel no es inferior al de las escuelas "pתblicas", es decir al de las escuelas laicas pertenecientes a los estados y municipios.

Traducido por Zvi Newman

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Orania e a maré negra

Não fosse a Copa e Orania seria um rodapé duma página obscura. Com as vuvuzelas azucrinando o juízo e as patriotadas em alta, alguém desenterrou a história de um gueto racista que sobrevive no país que derrotou o apartheid.No início de 1991, pouco depois do fim do regime de segregação racial que vigorou na África do Sul por décadas, uma empresa adquiriu uma cidade abandonada, à beira do rio Oranje. Cerca de 50 famílias, todas brancas, se mudaram para lá e começaram a construir um “paraíso africâner”, desafiando o processo de integração pelo qual lutaram o CNA e Nelson Mandela.O que pretendem os “puristas” ? Preservar nossos valores, cultura, língua, religião, responde Lyda Strydom, uma das líderes da comunidade. Queremos educar nossos filhos dentro da cultura africâner, completa Lyda.Essa gente recusa o rótulo de segregacionismo, mas, ao rechaçar a convivência com outras etnias e culturas e separar-se, fisicamente, dos demais sul-africanos, só faz reafirmar o conteúdo racista de seu estilo de vida. Comportam-se como se o contato com os negros e suas múltiplas culturas representasse uma contaminação. Este ideal de pureza tem tristes e sangrentos antecedentes.A muitos quilômetros de distância dali, no dia 17 de junho, uma maré negra serpenteava pelas ruas de Jerusalém. Mais de 100 mil haredim (judeus ultra-ortodoxos) manifestavam-se, indignados, pela .... manutenção da segregação ! Na colônia de Emanuel, enclave na Cisjordânia ocupada, pais de alunas de uma escola ultra-ortodoxa de ashquenazim (judeus originários, principalmente da Europa Oriental e Central) proibiram suas filhas de irem às aulas caso fossem aceitas estudantes sefaradim (judeus originários, principalmente, da Península Ibérica). A alegação ? As sefaradim não seriam suficientemente religiosas ... Conversa mole. Curioso é que os ashquenazim insistem que seu gesto não é racista. “Apenas” querem garantir uma segregação que não mude os critérios de pureza. O discurso, como se vê, tem claras coincidências com os oranianos (separação/pureza/medo).Os haredim, que representam cerca de 10% dos judeus israelenses (devem chegar a 20% em 2020, segundo o demógrafo Arnon Sofer), não assistem televisão, nem filmes. São proibidos de ler jornais seculares e usar a internet, se não existir uma finalidade profissional. Recentemente, um jornal haredi modificou, digitalmente, fotografias do então recém-empossado gabinete israelense, substituindo as duas mulheres ministras por imagens masculinas. São uma força obscurantista, que, entretanto, se fortalece na medida em que, em Israel, estado e religião vivem em promiscuidade.Intolerância tem muitos rostos, mas a máscara está sempre rasgada.
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O que é ser judeu - Jaime Pinsky

O que é ser judeu
Revista Aventuras na História



O que é ser judeu?

Jaime Pinsky

Mesmo para aqueles que acham que judaísmo é apenas uma religião, o assunto provoca divergências. Não é por acaso que se conta a história do náufrago judeu que, após dez anos desaparecido, é encontrado numa ilha deserta por um navio que por lá passava. O capitão encantou-se com as estratégias de sobrevivência dele, que incluíam a construção de uma casa bastante sólida, a confecção de redes de pesca e arpões e, para sua surpresa, duas sinagogas. “Duas sinagogas”, perguntou o capitão, “para que construir duas sinagogas se você está sozinho na ilha”? “Muito simples”, respondeu o náufrago. “Naquela eu rezo todos os sábados. Já na outra eu não entro de jeito nenhum”.
Assim são os judeus religiosos: uns, ortodoxos, outros conservadores, os terceiros liberais e ainda os reformistas, alem de várias outras denominações. A convivência nem sempre é pacífica, mas a ausência de um poder central e de uma função sagrada para os rabinos (eles não falam em nome de Deus, não dão sacramentos, e qualquer ato religioso judaico pode ser realizado sem a sua presença) faz com que as diferentes comunidades contratem diferentes tipos de rabino. Há, inclusive, rabinos gays e “rabinas”. Seu papel mais importante é adaptar leis milenares às práticas de cada grupo. É por isso que uma comunidade tão pequena como a brasileira (menos de 0,1% da população do país) tem tantas sinagogas, organizações e porta-vozes. É muito cacique para pouco índio.
Mas limitar o judaísmo à identidade religiosa é não responde todas as situações. É possível dizer que Philip Roth não seja um escritor judeu, que Woody Alen não é um cineasta judeu, que Marc Chagall não foi um pintor judeu, que Sigmund Freud não tenha sido judeu? O judaísmo está presente em suas obras de todos esses gênios.
Uma parcela significativa da juventude israelense, como protesto pela inexistência do casamento civil no Estado de Israel, recusa-se a se casar na sinagoga e viaja até Chipre para oficializar sua união. Seriam esses jovens não judeus?
Não há uma única forma de identificar os judeus. Eles não permaneceram identificados como tais apesar da História, mas por causa da História. Não fossem necessários, teriam desaparecido como povo. O grande segredo da sua permanência é que não permaneceram, mudaram. Nada mais distante de um judeu do gueto do que um outro que transcenda a idéia da nação. Quando, depois de muitos séculos, os judeus obteveram sua emancipação como cidadãos – isso tudo só após a Revolução Francesa – muitos saíram da cidadezinha para o mundo, tocando música, escrevendo, pintando, marcando, enfim, sua presença no mundo a partir do início do século XX.
Isso, contudo, só ocorre para uma pequena fração de judeus. A maioria continuava nas aldeias e nos bairros pobres das cidades da Europa Oriental. E é nesses ambientes que surge o nacionalismo judaico. Deve-se localizar as raízes da identidade nacional judaica no século XX, na Europa Centro Oriental e atribuí-la a três fatores complementares: o esgotamento das formas de existência judaica nas cidadezinhas e nos guetos das cidades da Polônia e região; a “primavera das nações”, então em curso, que se apresentava como panacéia universal, remédio destinado a superar pobreza e perseguições (não foi, como sabemos); o profundo sentimento de identidade cultural.
Embora a colonização moderna da Palestina pelos judeus tenha se iniciado no final do século XIX , ela não era ainda muito significativa em termos quantitativos até a década de 1930. A ascensão de Hitler ao poder, a “solução final” concebida e executada pelos nazistas, (com o assassinato sistemático da maioria da população judaica européia) fez com que grande parte dos judeus não percebessem outra solução que não a “reconstrução” de um estado que pudesse funcionar como refúgio a todos os judeus do mundo que se sentissem perseguidos. Essa é a história de Israel.
Isso faz com que todos os judeus sejam israelenses e que todos os israelenses sejam judeus? Claro que não. Em Israel existe um importante número de israelenses árabes, muçulmanos ou cristãos. E bem menos da metade da população judaica do mundo vivem em Israel, por qualquer critério que se queira identificar esses judeus.
Há, sempre, quem olhe o judeu de forma preconceituosa, francamente negativa ou falsamente positiva, mas nem por isso menos discriminatória. Há quem diga que existe um judaísmo gastronômico, outro ufanista (esgrimindo com violinistas, escritores e cientistas judeus que ganharam o prêmio Nobel). Há mesmo quem ainda acredite que os judeus sejam o povo eleito. Tenho, contudo, a convicção de que sua experiência como discriminados habilitou os judeus a lutar contra qualquer discriminação, e o período da vida na aldeia isolada ou nos guetos desenvolveu em muitos judeus o ódio ao etnocentrismo, ao horizonte limitado.
Há um judaísmo universal e ele pode ser praticado.
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O Sionismo Progressista - CARLO STRENGER


O sionismo progressista celebra os ideais mais autênticos da tradição judaica:
A disposição para o debate incisivo e a recusa a compactuar com o autoritarismo.

O Sionismo Progressista
CARLO STRENGER - Haaretz 26|05|2010
- traduzido pelo PAZ AGORA|BR -

O visionário Theodor Herzl seria um pós-sionista ao pé da letra?

O sionismo não nasceu como ideologia unitária. Havia o sionismo liberal de Theodor Herzl; o sionismo cultural de Ahad Ha'am's e Judah Magnes'. O sionismo socialista inicialmente era o mais forte e dominou a política israelense pelas primeiras três décadas do país. Nas décadas seguintes, o sionismo revisionista assumiu o poder, fundido com o sionismo messiânico que deu significado religioso à terra e nenhum para os direitos humanos.

Até há poucas décadas, a discussão entre correntes diversas do sionismo ainda era possível. Agora, porém, os auto-nomeados representantes da causa sionista - basicamente da direita - fazem parecer que o sionismo requer uma obediência cega aos governos israelenses; que um sionista é alguém que admira a força dos judeus, de qualquer forma que tenha; e que o sionismo requer que as críticas se calem. Eles tornaram como hábito chamar de 'pós-sionistas' aqueles que deles discordam e os acusam de deslealdade.

Bem, isto faz de Herzl e Ahad Ha'am pós-sionistas ao pé da letra. Herzl acreditava que enquanto o Estado judeu deveria proporcionar espaço para a religião judaica e e seus religiosos, suas institições deveriam ser completamente isoladas das do Estado e da política. Ele também não via espaço para noções teológicas de que os judeus teriam algum direitodivino sobre a Terra de Israel. Ele simplesmente acreditava que os judeus precisavam de seu próprio Estado.

Ahad Ha'am seria, hoje, acusado de ser um pós-sionista que odeia judeus: Ele se afastou de algumas manifestações de força dos judeus do Ishuv, e enfatizava um renascimento cultural, em vez de militarismo.

David Ben-Gurion manteve um diálogo intensivo de décadas com um dos seus mais acirrados opositores ideológicos, Shmuel Hugo Bergman, ex-reitor da Universidade Hebraica de Jerusalém e membro da Brit Shalom, organização que apoiava a cooperação pacíica com árabes. Ben-Gurion acreditava em dialogar com os que tinham posições ideológicas distintas, não em calá-las.

O excelente artigo de Peter Beinart no The New York Review of Books mostra como a linha política do partido do tradicional establishment judaico afastou a nova geração: Ela não acredita na política de poder ilimitado, estão dispostos a aderir às linhas do partido e estão profundamente descontentes com a ladainha interminável da vitimização judeica. Muito deles sentem que se o sionismo significa seguir os preceitos do governo israelense - como suas iniciativas equivocadas de Hasbará, seu apoio aos assentamentos na Cisjordânia e a despossessão de propriedades palestinas em Jerusalém - eles não são sionistas. O mesmo é verdade para muitos jovens em Israel, que repudiam o triste espetáculo da política israelense.

Muitos quase não ligam mais. E caso o façam, estão desanimados, como se não fizessem nenhuma diferença.

Beinart insta por um "sionismo desconfortável... com raiva do que Israel arrisca se tornar, e apaixonado pelo que ainda poderia ser". Esta é uma excelente definição do que é necessário hoje. Isto nem precisaria ser inventado - só temos que nos reconectar com o sionismo progressista de Herzl e Ahad Ha'am, como mostrei numa detalhada proposta para uma nova visão sionista, "Knowledge-Nation Israel".

O sionismo progressista rejeita o pânico do chamado por uma voz unificada para todos os judeus e os gritos alarmados para não se lavar a roupa suja de Israel em frente a não-judeus. Ele recusa ser ensinado sobre o significado de ser um bom judeu ou de ser leal a Israel. E categoricamente rejeita a demanda de que a política dos governos israelenses e suas ações devam ser apoiados, mesmo quando sejam destrutivas, desumanas ou míopes.

O sionismo progressista está realmente irritado com o que Israel se tornou: ele aponta como os sistemas educacionais de Israel, primário e secundário, nas mãos de ideologias partidárias, vêm deteriorando em qualidade e doutrinando as crianças em vez de ensiná-los a pensar criticamente.

Ele mostra exaustivamente como os serviços civis foram ocupados por burocratas da direita que apóiam a expulsão de palestinos de suas propriedades, como em Sheikh Jarrah. Ele ressalta como o sistema educacional superior de Israel foi destruído, enquanto as verbas são desviadas para a construção de ainda mais estradas para colonos que têm pouca utilidade para os valores democráticos e os direitos humanos, e que oprimem e degradam os palestinos.

O sionismo progressista dará à maioria da geração jovem dos judeus, tanto em Israel quanto na Diáspora, um caminho para expressar sua identidade e seu amor pelo que Israel poderá ser caso não seja asfixiado por direitistas com posições totalitárias. O sionismo progressista não demanda que se abdique da clareza moral e do humanismo universalista em nome do pertencimento tribal - ele irá assegurar que o Estado do povo judeu permanecerá democrático não apenas no nome, mas em sua essência.

O sionismo progressista celebra os mais autênticos traços da tradição judaica: a disposição para debates incisivos; o espírito do contraditória de minorias; a recusa a compactuar com o autoritarismo.

Ele valorizará a energia criativa - que tem sido a marca da contribuição judaica para a cultura Ocidental - da indústria hi-tech de Israel, das artes cênicas e da academia, para libertar a política israelense dos dogmas e da inércia.

E para nos mover para um futuro do qual possamos nos orgulhar.

© PAZ AGORA|BR

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Amigos Brasileiros do PAZ AGORA - www.pazagora.org


Os textos publicados visam subsidiar o diálogo e NÃO representam necessariamente as posições do

Movimento PAZ AGORA ou dos Amigos Brasileiros do PAZ AGORA - PAZ AGORA|BR

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Tese de Doutorado
Título original Genocídios no século XX: uma leitura sistêmica de causas e consequências
Autor Vezneyan, Sérgio
E-mail sergio.vezneyan@ibs_energy.com
Unidade Instituto de Psicologia (IP)
Área de concentração Psicologia Social
Orientador ¤ Chaves, Anna Mathilde Pacheco e
Banca Examinadora ¤ Andreassi, Tales
¤ Chaves, Anna Mathilde Pacheco e
¤ Gelis Filho, Antonio
¤ Malvezzi, Sigmar
¤ Tassara, Eda Terezinha de Oliveira
Data da Defesa 19/03/2009
Palavras-chave ¤ Genocídio
¤ História
¤ Holocausto
¤ Psicologia social
¤ Teoria de sistemas
Resumo Original
Este trabalho estuda o tema Genocídio a partir do estudo comparativo dos sete casos do século XX, como oficialmente definidos pelas Nações Unidas: Armênios, Holodomor, Nanking, Holocausto, Cambódia, Bósnia-Herzegovina, e Ruanda. O mapeamento de suas similaridades é contraposto aos modelos de (i) Stanton (Genocide Watch); (ii) Albert Bandura (Desengajamento Moral); bem como (iii) Conceitos desenvolvidos a partir de estudos em Psicologia Social, oportunamente identificados. Chegou-se, então, a um Modelo Teórico Ajustado, sistêmico, que potencialmente ajuda a identificar as causas e consequências de Genocídios.
Título em Inglês Text not informed by the author.
Palavras-chave em Inglês ¤ Genocide
¤ History
¤ Holocaust
¤ Jewish
¤ Social psychology
¤ Systems theory
Resumo em Inglês
This work studies Genocide from comparing the seven ocurrences in the twentieth century, as oficially defined as Genocides by the United Nations: Armenians, Holodomor, Nanking, Holocaust, Cambodia, Bosnia-Herzegovina, Rwanda. The similarities among these cases are then compared with (i) The Stanton Model (Genocide Watch); (ii) The Moral Desengagement Framework, as proposed by Albert Bandura; as well as (iii) Social Psychology concepts, identified and conveniently presented. A theoretical adjusted model, systemic, is then presented, aiming to potentially help identifying causes and consequences of Genocides.
Arquivos
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Data de Publicação 22/02/2010
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Arqueólogos acham abelhas domésticas mais antigas do mundo

Para a Bíblia, Israel é "a terra onde corre leite e mel". Não era só força de expressão: arqueólogos anunciaram ontem a descoberta das mais antigas colmeias com abelhas domésticas do mundo, no território israelense. A pesquisa está na revista científica "PNAS".

A equipe liderada por Amihai Mazar, da Universidade Hebraica de Jerusalém, já tinha forte suspeitas de que os cilindros de argila achados em Tel Rehov (norte do país), no vale do rio Jordão, tinham servido para criar abelhas. Uma pequena abertura de um lado e uma tampa do outro sugeriam locais para a entrada dos insetos e para a manipulação dos favos.

Mas foi só agora, com a ajuda de um biólogo brasileiro, que a equipe conseguiu estudar em detalhe os restos de abelhas achados dentro de duas das colmeias. Tiago Francoy, professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP, explica que foi procurado pelos israelenses graças à sua colaboração com outro autor do estudo, o alemão Stefan Fuchs.

As colmeias de 3.000 anos achadas em Tel Rehov (Israel)
As colmeias de 3.000 anos achadas em Tel Rehov (Israel)

"Eu fiz parte do meu doutorado na Alemanha e desenvolvi um método para identificar espécies de abelhas com base apenas em pedacinhos da asa", conta. As nervuras que dão sustentação às asas dos insetos formam um desenho típico, que é único de cada tipo de abelha, diz Francoy. "Como eles tinham esses fósseis, deram uma busca na literatura e viram que eu podia ajudar na identificação", afirma o biólogo, que fez o trabalho usando fotos. "É uma pena, infelizmente não pude ir até lá para o trabalho", brinca.

Com pouco menos de 3.000 anos de idade, as colmeias podem datar da época em que o rei Salomão governava as tribos israelitas ou ser um pouco mais recentes, quando o país tinha se dividido nos reinos rivais de Judá (no sul) e Israel (no norte). Apesar de antigas, elas sugerem que a criação de abelhas no Oriente Próximo pode ter uma origem ainda mais remota que a apicultura em Tel Rehov.

Isso porque Francoy usou o programa de computador que desenvolveu para identificar a subespécie de abelha criada lá, e os pesquisadores perceberam que o bicho provavelmente não era a subespécie nativa de Israel (a Apis mellifera syriaca), mas sim a que existe hoje na Turquia (a Apis mellifera anatoliaca).

"Pode ser que a distribuição das subespécies fosse diferente no passado, ou então a abelha criada lá foi trazida originalmente da Turquia", diz ele. O transporte de longa distância da subespécie turca faz sentido porque ela é menos agressiva e produz mais mel do que a variante de Israel. Além do mais, os apicultores de Tel Rehov montavam suas colmeias no meio da cidade, provavelmente para proteger um recurso valioso, o que poderia causar problemas se os bichos saíssem do controle.

"Na verdade, não seria tão difícil transportar as abelhas. Não sabemos se, na época, eles sabiam que a rainha era a responsável por manter a colmeia funcionando. Nesse caso, poderiam transportar só a rainha. Também seria possível fazer algo que ainda é comum hoje: de noite, fecha-se a entrada da colmeia com um pano, para permitir a ventilação, e aí dá para carregar a colmeia por até uma semana", afirma ele.

Ou seja, é provável que a domesticação tenha acontecido antes, talvez na própria Turquia. E mais: talvez houvesse um comércio constantes de rainhas ou colmeias de um lugar para o outro. Isso porque as rainhas turcas, caso se acasalassem com zangões de Israel, teriam menos chance de transmitir sua docilidade e produtividade às descendentes. Valeria a pena, portanto, continuar trazendo animais de fora

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Jubrasidaicoleiro

Jubrasidaicoleiro

Outro dia me perguntaram se eu sou judeu brasileiro ou brasileiro judeu. De cara respondi que é uma questão complexa, mas na hora cheguei a conclusão que sou judeu brasileiro. Não fiquei satisfeito, essa confusão de identidade ia e voltava, virava e revirava em mim. Afinal, o que eu sou?

Judaísmo é mais que uma religião, é um emaranhado de cultura, tradição e rituais que se mostra presente em diferentes níveis na minha vida. Sou judeu pela minha descendência judaica, mas também sou judeu por opção. Meu pai é judeu, meu avô é judeu e não posso afirmar mais quantas gerações da minha família são de origem judaica, mas tenho certeza que sou um judeu diferente de todas essas gerações. Não me faz mais judeu, ou menos judeu, não acredito nesse nivelamento.

Brasileiro é minha natalidade, porém é mais que isso. Nenhum brasileiro é apenas um número no Censo, há uma emoção que envolve o sentimento de ser brasileiro. Esse sentimento é ainda mais forte pelo fato de ser carioca. Carioca é um estado de espírito, é ir para a Lapa em pleno carnaval e se misturar na multidão, é ir para praia no verão e se deparar com um dos cartões postais mais bonitos do mundo e também sentir vontade de ir a praia no inverno e poder matar essa vontade.

Pedir para me definir no meio de tantas paixões me faz recorrer a Zygmunt Bauman, afirmando que numa era pós-moderna, há uma fluidez das identidades e das ligações que cada indivíduo tem. Há um esvaziamento das ideologias e a criação de uma sociedade individualizada, e é a partir desse individualismo que me proponho como jubrasidaicoleiro*. Uma mistura de rótulos que me faz único e ao mesmo tempo aberto para cada situação. Sinto-me livre para afirmar que sou judeu em oposição à religião da maioria brasileira e para mostrar o “meu” Brasil numa viagem internacional, e sentir saudade da minha cidade.

Não proponho que esse texto finalize essa questão, mas que abra uma nova discussão, que os leitores mudem de opinião ou reforcem a sua própria. Em tempos de tantos conflitos étnicos e/ou religiosos motivados por variadas divergências me pergunto se é necessária essa rotulação, se não podemos simplesmente coexistir como seres humanos.

* Nessa ordem pelo simples motivo sonoro

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Cabala e modernidade - Moacyr Scliar

Cabala e modernidade Moacyr Scliar* É difícil dizer quando, exatamente, começa o período da História que conhecemos como modernidade, e que em geral associamos a grandes mudanças de natureza social, política, econômica, cultural, científica: os descobrimentos marítimos, a imprensa, a pólvora, o fim do feudalismo, o surgimento do estado moderno, o Renascimento, a emergência do método científico. Mas não apenas os limites temporais são confusos. Na verdade, a modernidade européia não se distingue com nitidez do passado medieval. Durante muito tempo haverá uma superposição de concepções, de conhecimentos, de práticas. A modernidade é pois uma época confusa, um daqueles período em que, como diz Antonio Gramsci, o novo ainda não nasceu mas o velho ainda não morreu; em que a astronomia convivia com a astrologia, a química com a alquimia e a ciência com a magia e a superstição. É a época do doutor Fausto, capaz de vender a própria alma ao diabo em troca de conhecimento, inclusive, e principalmente, o conhecimento esotérico; o doutor Fausto, que se torna personagem de numerosas obras, notadamente a peça teatral de Christopher Marlowe encenada pela primeira vez em 1594. É a época de John Dee (1527-1508), eminente astrônomo, o maior matemático de sua época, professor universitário - mas também astrólogo e alquimista. É a época de Cornelius Agrippa von Nettensheim (1486-1535), médico, historiador e escritor, mas adepto do ocultismo. Época de Marsilio Ficino, médico e cultor de textos herméticos e tantos outros. Não é de admirar, portanto, que a Cabala (do hebraico kabalah, recepção, no sentido de doutrinas recebidas da tradição), tenha, nesse período, despertado grande interesse. Antiga expressão do misticismo judaico, a Cabala compreende um conjunto de crenças, que giram em torno da união do universo finito ao Criador infinito, através das emanações que procedem da divindade como raios vindos de uma fonte de luz. A Cabala cultiva também uma numerologia baseada na particularidade de que, em hebraico, os números correspondem a letras; assim, certas palavras significativas são expressas em números, que por sua vez tornam-se também significativos. O exemplo clássico é o da palavra “hai” (esse h é aspirado), vida, que corresponde ao número dezoito, considerado, por isso, de bom augúrio. À época do Renascimento, foi criada, por Isaac Luria (1534-1572), uma nova escola cabalística. No começo, diz a Cabala luriânica, só existia o Criador; sua presença enchia o universo, mas por um processo de concentração, de retração (tzimtzum, em hebraico), permitiu o surgimento do universo. Foi criado então o homem primordial, Adam Kadmon. Dele, saíam raios de luz divina que deveriam reencher vasos ou recipientes que, contudo, se partiram. É necessário, então, um processo de restauração (tikun). Da mesma forma, quando o Adão bíblico foi criado, continha em si todas as almas; com o pecado, elas se dispersaram, ficando em cativeiro nos corpos humanos, mas ansiosas por retornas à fonte. É a metáfora do exílio, tão compreensível na tradição judaica. A transição do feudalismo para a modernidade mostrou-se muito favorável à disseminação das idéias cabalísticas. Como observa Gershom Scholem, o grande estudioso da Cabala no seu clássico livro (Cabala, Rio de Janeiro, Ed. Koogan, 1989, trad. Hinda Burlamaqui, Júlio Cesar C. Guimarães e Maria Lúcia W. P. Braga, p. 55), nesta época, “(...) a Cabala disseminou-se pela maioria das comunidades da Espanha e também na Itália e no Oriente” uma vez que os portões estavam amplamente abertos para a literatura mística. E não estamos falando apenas do judaísmo; a Cabala fascinava humanistas cristãos como Guillaume Postel, Johann Reuchlin e Pico della Mirandola, para quem nenhuma ciência oferecia maior garantia da divindade de Cristo do que a Cabala. As numerologias judaica e pitagórica dão novo e adicional significado aos fundamentos do cristianismo. A Trindade é santa por causa do Pai, do Filho e do Espírito Santo, mas também por causa do número três. Os quatro evangelhos são importantes porque são narrativas sagradas, mas também porque são quatro. Havia aí também um aspecto, digamos, mais prosaico, menos espiritual. Esta é uma época em que o número ganha extraordinária importância. A introdução dos algarismos arábicos, que então ocorre, fez parte do processo de renovação que caracterizou o advento da modernidade. Mudança que aliás não se fez sem conflito; em Florença, no ano de 1299, os números arábicos foram proibidos. Mas a verdade é que os cálculos ficaram consideravelmente facilitados bem como as técnicas contábeis - em 1494 aparecia o que pode ser considerado o primeiro tratado de contabilidade, de Luca Pacioli, frade franciscano que fora tutor dos filhos de um mercador de Veneza. A contabilidade era apenas parte de uma revolucionária mudança de mentalidade, resultante do incremento das transações financeiras (esta é a época em que surgem os bancos e as bolsas de valores), do novo espírito científico, das viagens e dos cálculos a elas ligados. As numerologias eram, pois, bem acolhidas. Quanto ao misticismo que é inerente a Cabala este tinha, e tem, um público certo. É no misticismo que as pessoas buscam uma defesa contra as agruras da vida, muitas vezes incompreensíveis. O misticismo dá um sentido à existência. E essa busca de um sentido é inerente à condição humana, independente de época e de lugar. *** * Moacyr Scliar é escritor e médico. Membro da Academia Brasileira de Letras e autor de vários livros, entre eles: O centauro no jardim, A mulher que escreveu a Bíblia, A estranha nação de Rafael Mendes e A orelha de Van Gogh, Os vendilhões do templo.
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Parashat Koraj Autor: Rabina Monique Susskind-Goldberg*

Interpretación y comentario
La haftará que acompaña a la parashá “Koraj” (Samuel I, capítulos 11-12), describe el final de la época de los Jueces. En el capítulo ocho, el pueblo pide a Samuel que corone a un rey. Según ellos, los hijos de Samuel que deberían ser quienes juzgarían al pueblo después de él no merecían hacerlo porque no siguieron el camino de su padre: “Pero no anduvieron los hijos por los caminos de su padre, pues fueron tras la avaricia, recibieron soborno y no hicieron justicia” (Samuel I, 8:3). El pueblo quería ser como todos los pueblos, con un rey liderándolos.
Samuel se opuso duramente a los deseos del pueblo. A su entender, esto era un golpe directo a Dios, Rey de Reyes, el Único que debe reinar sobre Israel (versículo 6). Pero el Santo Bendito Sea le dice: “Y dijo Adonai a Samuel: Oye la voz del pueblo en todo lo que te digan; porque no te han rechazado a ti, sino a Mí me han rechazado, para que no reine sobre ellos” (versículo 7).
El pueblo se reúne en Guilgal y ahí Samuel corona a Saúl como rey de Israel. Samuel aún está sentido y dolido por el pedido del pueblo y por el rechazo a su liderazgo. Pero frente a todo el pueblo, él coloca a Dios y a Su elegido (el rey Saúl) como testigos y dice:
“Heme aquí, testificad contra mí frente a Adonai y frente a Su ungido. ¿El buey de quién he tomado? ¿El asno de quién he tomado? ¿Y a quién he oprimido? ¿O a quién he expoliado? ¿Y de mano de quién he tomado rescate para que me oculte mi ojo de él? ¡Yo os devolveré!” Dijeron ellos: “No nos has oprimido ni nos has expoliado ni has aceptado nada de mano de hombre alguno”. Les dijo a ellos: “Es testigo Adonai contra vosotros y es testigo Su ungido este día, que nos habéis hallado en mi mano nada”. Y dijo: “Es testigo” (Samuel I: 12:3-5).
Samuel pide testificar delante de Adonai y delante de Su ungido que durante toda su vida él se comportó con rectitud y justicia, no tomó nada de nadie ni hizo mal a nadie.
Estas palabras recuerdan las de Moshé en nuestra parashá. También allí hay una rebelión contra el líder. Además de Koraj y su gente, también se levantaron contra Moshé, Datán y Aviram de la tribu de Rubén. La razón oficial de la rebelión fue que Moshé no cumplió con su promesa y no llevó al pueblo a la tierra de Israel, sino que lo llevó a morir en el desierto. Moshé pidió hablar con Datán y Aviram para llegar a una conciliación. La reacción de Datán y Aviram fue clara: “No iremos” (Números 16:12). Moshé, que fue tras ellos para tratar de conciliar, se sintió profundamente dolido con esta respuesta, y así está escrito (Números 16:15): “Se enfureció Moshé mucho y dijo a Adonai: No aceptes su ofrenda; no he tomado de ellos ni siquiera un asno ni he hecho mal a alguno de ellos”.
Como Samuel, también Moshé declara que nunca tomó nada de nadie y nunca hizo mal a nadie.
En la Biblia, los gobiernos de ambos líderes son considerados como de rectitud y justicia. También nuestros Sabios vieron a Moshé y Samuel como modelos ejemplares de líderes ideales, y así está escrito en el Midrash Tanjuma, Parashat Shoftim, guimel: “Jueces y guardianes.... y es necesario que estén limpios de todo juicio, para que nadie abra la boca contra ellos, como Moshé y Samuel. Es decir, jueces y guardianes que no tengan nada que los pueda impugnar”. Los líderes del pueblo deben ser personas correctas y rectas, guardianes de la justicia.
Koraj, en nombre de la democracia, argumentó que cada uno en el pueblo puede ser líder, puesto que todo el pueblo es santo (Números 16:3). La santidad fue otorgada a todo el pueblo en el Monte Sinai. La santidad es un don. Pero ya aprendimos en la parashá “Kedoshim” (Levítico 19) que el sentido de “ser santo” es cumplir los preceptos de Dios y hacer justicia. El líder merecedor de ese puesto es aquél que es verdaderamente “santo”, como lo fueron Moshé y Samuel.
En estos tiempos tan difíciles que vivimos en el Estado de Israel, rezo para que podamos ser merecedores de líderes capaces que deseen con todas sus fuerzas ser “santos“, guardianes de la ley y de la justicia.

Estudio y análisis

Rabino
Dr. Alexander Even-Jen
Profesor de Pensamiento Judío, Instituto Schechter de Estudios Judaicos, Jerusalén
¿Cómo entender la rebelión? No se trata aquí de otra queja sobre asuntos materiales. Aquí se trata de una protesta contra la forma en que Moshé lidera al pueblo. Según las palabras de Koraj y de los líderes que se le unieron: “Se congregaron contra Moshé y contra Aarón y les dijeron: ¡Bastante para vosotros! Pues toda la asamblea, todos, son consagrados y en su seno está Adonai. ¿Por qué os enaltecéis por sobre la congregación de Adonai?” (Números 16:3).
1-¿Qué hay de malo en este pedido? Si es parecido a lo que pidieron Aarón y Miriam: “Dijeron: ¿Acaso solamente con Moshé ha hablado Adonai? ¡Ciertamente también con nosotros ha hablado! y lo escuchó Adonai” (Números 12:2).
2- ¿La demanda de Koraj es diferente a la de Aarón y Miriam?
3- Las palabras de Aarón y Miriam fueron escuchadas por Adonai. ¿Por qué ellos no tuvieron el mismo coraje que tuvo Koraj? Koraj se presentó directamente delante de Moshé y le dijo sus quejas de frente. ¿No era ése el camino correcto?
4- La crítica de Koraj también estaba dirigida contra Aarón. ¿Cómo se sintió Aarón cuando escuchó las palabras “directas” de Koraj, tan parecidas a aquéllas que él y Miriam dijeron “a escondidas”?

* Investigadora del Centro de Investigación sobre la Mujer en la Ley Judía del Instituto Schechter de Estudios Judaicos

Editado por el Instituto Schechter de Estudios Judaicos, la Asamblea Rabínica de Israel, el Movimiento Conservador y la Unión Mundial de Sinagogas Conservadoras.
Traducción: rabina Sandra Kochman
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El barco irlandés fue abordado sin que huiera una confrontación

El "MV Rachel Corrie" llega al puerto de Ashdod

El barco irlandés "MV Rachel Corrie" arribó esta tarde al puerto de Ashdod, adonde ha sido conducido por las tropas israelíes que lo han abordado cuando pretendía alcanzar las costas de Gaza. Los ocupantes de la embarcación no ofrecieron resistencia. Portavoces militares israelíes han confirmado que en el "MV Rachel Corrie" viajaban 19 pasajeros, entre los que figuran la premio Nobel de la Paz norirlandesa Mairead Maguire y un ex subsecretario general de Naciones Unidas, el irlandés Denis Halliday. Las fuentes precisaron que las autoridades militares israelíes procederán a inspeccionar las 1,200 toneladas de ayuda humanitaria que lleva de carga el barco irlandés antes de trasladarlas a Gaza. El "MV Rachel Corrie" es el último barco de la autoproclamada "Flotilla Libertad", la cual arribó en la madrugada del lunes, y derivó en una ola de críticas internacionales a Israel, tras los enfrentamientos que se desarrollaron en el abordaje al barco turco "Mavi Marmara", donde un grupo de unos 40 pasajeros turcos atacó de manera violenta a los soldados que abordaron la nave. El barco irlandés sufrió un retraso debido a problemas técnicos. El abordaje del "MV Rachel Corrie" se produjo la mañana de hoy sábado, después de que el barco ignorara cuatro llamamientos realizados por dos navíos militares de Israel, que lo seguían desde primera hora de la mañana, para que atracara en el puerto de Ashdod en vez de internar hacerlo en Gaza. Según "Gaza Libre", uno de los grupos que organiza la expedición, el "MV Rachel Corrie" transporta 1,200 toneladas de ayuda humanitaria. Un oficial de la Marina, aseguró que "toda la asistencia que trae el barco, incluido cemento, será entregado en la Franja de Gaza, y los pasajeros podrán acompañar la carga hasta los cruces de frontera". "El cemento será entregado a la ONU o a una organización oficial, para asegurar que sea utilizado para fines civiles", dijo el oficial en referencia a la constante construcción en la Franja de túneles por los cuales se realiza el tráfico de armas a Hamás

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Parashat "Shlaj Leja" - Autor: Prof. Shmuel Glick*

Parashat
“Shlaj Lejá”
Autor: Prof. Shmuel Glick*

Interpretación y comentario
Dos pecados que tuvieron consecuencias críticas fueron cometidos por el pueblo de Israel en el desierto: “el pecado del becerro de oro” y “el pecado de los espías”. Estos pecados son típicos de dos debilidades características del pueblo de Israel en todas las generaciones. Una: la tendencia de buscar otros dioses (en todo sentido) en momentos de crisis. Y la segunda: la falta de verdadera motivación para heredar la tierra. Estas debilidades aumentan y vuelven a lo largo de la historia del pueblo de Israel.
La gravedad de estos pecados se expresa en la Biblia mediante sus respectivos castigos.
El pecado del becerro de oro produjo la primera gran crisis en el pacto íntimo entre el Santo Bendito Sea y el pueblo de Israel, el “Pacto del Sinai” (“Os he alzado a vosotros sobre alas de águilas y os he traído a vosotros hacia Mí” (Éxodo 19:4). El quiebre de esta intimidad está simbolizado con el quiebre de las primeras tablas. Después de este pecado, se debilitaron las relaciones entre el Santo Bendito Sea y Su pueblo, y fueron menos íntimas. Fue necesario un nuevo orden y menos intimidad para continuar y fortalecer el pacto del Sinai: “Mi enviado irá delante de ti” (Éxodo 32:34). La gravedad del pecado del becerro es que su vergüenza y dolor la cargan también las próximas generaciones: “Les dijo el Santo Bendito Sea: Vosotros llorasteis en vano, pero Yo les decreto llanto por generaciones” (Taanit 29a).
La gravedad del “pecado de los espías” es mayor que la del becerro, y se expresa en la falta de preparación del pueblo para enfrentarse a las dificultades necesarias para heredar la tierra. Este pecado expresa, por un lado, la crisis de fe que empezó con el pecado del becerro y que llevó a Dios a dudar sobre la continuación de la existencia del pueblo: “Lo golpearé con mortandad y lo destruiré, empero te haré a ti un pueblo grande y poderoso, más que él” (Números 14:12). Hasta que Moshé pide desesperado: “Absuelve ahora la iniquidad de este pueblo de acuerdo con la grandeza de Tu benevolencia, así como has perdonado al pueblo éste, desde Egipto y hasta ahora. Y dijo Dios: He absuelto según tu palabra” (Números 14:19-20).
Por otro lado, el pecado de los espías es superior al pecado del becerro por la falta de fe en sí mismos para enfrentar las dificultades: “Parecíamos a nuestros ojos como langostas y así éramos ante los ojos de ellos” (Números 13:33). Este pecado hizo que el ingreso a la tierra fuera pospuesto por una generación completa.
A diferencia del pecado del becerro cuyas raíces están unidas al pasado del pueblo de Israel en Egipto -en la tendencia de buscar otros dioses en momentos de crisis-, el pecado de los espías se compone de dos transgresiones: la falta de fe en la promesa Divina de entregarles la tierra y la falta de fe en la capacidad “propia” del pueblo para enfrentarse a las dificultades necesarias para heredar la tierra y concretar así la promesa de Dios a Abraham. Por esta razón, su gravedad supera a la del pecado del becerro.
Grandes comentaristas analizaron el caso de los espías y trataron de aclarar la transgresión de quién es superior aquí. ¿Acaso la transgresión de los espías que no se conformaron con pasar información a los líderes de sus tribus, sino que se dirigieron -por sobre ellos- a Moshé y Aarón, e hicieron saber al público una información delicada para que el pueblo se rebele contra el liderazgo que lo estaba guiando a la tierra prometida? ¿O la transgresión del pueblo es mayor aún porque recibió la interpretación de los informantes y decretó: “No podremos subir contra el pueblo, ya que es más fuerte que nosotros” (Números 13:31) y no creyó en la promesa Divina de heredar la tierra?
Y todavía el gran asombro: ¿cómo un pueblo que vivió en Egipto cientos de años de dura esclavitud en que “Les amargaron sus vidas con trabajos duros, en argamasa y en ladrillos, y en todo trabajo en el campo. A todos sus trabajos los sometieron, haciéndolos trabajar con dureza” (Éxodo 1:14) con una antígua esperanza de volver a la tierra de sus padres (“Y la cuarta generación volverá aquí” Génesis 15:16), puede retroceder en un momento de prueba?
Tres opiniones interesantes y relevantes se encuentran en las palabras de los comentaristas.
El rabino Simja haCohen de Dvinsk, en su libro “Meshej Jojmá”, escribe: “Puede ser que dijeron que grandes guerras como ésas no son apropiadas para nuestra generación, sino para nuestros hijos, que crecerán sin humillaciones ni esclavitud. Por eso dijeron: `Porque más fuerte es que nosotros' y no que nuestros hijos”. Es decir, los espías quisieron evitar la entrada a la tierra porque, como representantes del pueblo, conocían la debilidad espiritual de éste y sabían que esta debilidad impediría que ellos vencieran en la lucha.
El rabino Ishaiahu Horowitz en su libro “Shnei lujot habrit al haTorá”, escribe: “Los espías tenían temor a los cambios sociales que vendrían como consecuencia de la entrada a la tierra y que traerían un obligado cambio en el liderazgo actual”.
La profesora Nejama Leibovitz, en “Iunim besefer Bamidvar”, escribe: “El pueblo y su liderazgo -que estaban acostumbrados a una vida de esclavitud-, tenían temor a la independencia y a la responsabilidad que surge dentro de esa independencia, por eso perjudicaron su entrada a la tierra”.
* Profesor de Educación y Halajá, Instituto Schechter de Estudios Judaicos, Jerusalén
Editado por el Instituto Schechter de Estudios Judaicos, la Asamblea Rabínica de Israel, el Movimiento Conservador y la Unión Mundial de Sinagogas Conservadoras.
Traducción: rabina Sandra Kochmann

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Crece la tensión ante los rechazos del barco irlandés a anclar en Ashdod
Israel abordará el “Rachel Corrie” si no cambia su rumbo


La tripulación del barco irlandés "MV Rachel Corrie" ha ignorado un segundo llamamiento de los dos navíos militares de Israel que acompañan al barco desde esta mañana del sábado para que ponga rumbo al puerto israelí de Ashdod.

Una portavoz del Ejército israelí aseguró que "el barco irlandés sigue ruta hacia Gaza".

"Esta es la Marina israelí. Se están acercando a un área hostil, sujeta a un bloqueo naval. Gaza, su región costera y su puerto, están cerrados a todo tráfico marítimo; de modo que se les requiere modificar su curso y abstenerse de ingresar a la zona. Repito: la entrega de ayuda humanitaria a la población de Gaza es posible, a través de los cruces terrestres formales entre Israel y la Franja, tras la debida coordinación con las autoridades israelíes", fue el segundo llamado a la embarcación irlandesa, que se negó a acatar el pedido.

Israel ha advertido que impedirá la llegada del "MV Rachel Corrie" a Gaza después de que fracasaran el viernes las gestiones diplomáticas que realizó en los últimos días a través de Irlanda para que la embarcación atracara en Ashdod y desistiera en su intención de romper el bloqueo israelí y llegar a la Franja palestina.

El "Rachel Corrie" formaba parte de la autoproclamada "Flotilla Libertad" pero había retrasado su llegada a la región por problemas técnicos.

Las tropas de Israel abordarán el barco irlandés si éste no varía su rumbo, según ha advertido la portavoz para medios extranjeros en el Ejército israelí, Avital Leibovich, en declaraciones a la cadena británica BBC.

"Si no obedecen, tendremos que abordar el barco", señaló la fuente en declaraciones.

Según señala la BBC, el "MV Rachel Corrie" se encuentra actualmente en aguas internacionales, a unos 56 kilómetros de la costa de Israel.

"Hemos contactado con el barco, y les hemos pedido de forma educada que varíen su rumbo, y se dirijan al puerto de Ashdod. Si lo hacen, les hemos prometido que no abordaremos el barco", dijo Liebovich.

"Si no lo hacen por propia voluntad; si no obedecen, tendremos que abordar el barco", añadió la portavoz, quien señaló que Israel considera que el navío irlandés ha desafiado las instrucciones israelíes para que desembarquen en Ashdod

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A frota de Gaza e os limites da força - AMÓS OZ


A frota de Gaza e os limites da força
AMÓS OZ

Por 2.000 anos, os judeus só conheciam a força da força em forma das chibatadas que lhes eram aplicadas. Há algumas décadas, porém, nos tornamos capazes de também exercer a força. Seu poder, no entanto, nos embriagou incontáveis vezes. Incontáveis vezes imaginamos que é possível resolver todo grande problema que encontramos por meio da força.
Como diz um provérbio, para o homem que carrega um grande martelo, todo problema tem jeito de prego. No período anterior à fundação do Estado, larga proporção da população judaica na Palestina não compreendia os limites da força e imaginava que fosse possível usá-la para atingir qualquer objetivo.
Por sorte, durante os primeiros anos de Israel, líderes como David Ben Gurion e Levi Eskhol sabiam muito bem que a força tem seus limites e cuidavam em não ultrapassar essas fronteiras.
Mas, desde a Guerra dos Seis Dias, em 1967, Israel sofre de uma fixação pela força militar. O lema é: aquilo que não pode ser realizado pela força pode ser realizado por uma força ainda maior.
O cerco de Israel à faixa de Gaza é um dos fétidos produtos dessa visão. Origina-se da errônea suposição de que o Hamas pode ser derrotado pela força das armas, ou, em termos mais gerais, que o problema palestino pode ser esmagado em lugar de resolvido.

O HAMAS É UMA IDEIA
Mas o Hamas não é apenas uma organização terrorista. O Hamas é uma ideia. Uma ideia desesperada e fanática nascida da desolação e da frustração de muitos palestinos.
E ideia alguma jamais foi derrotada pela força nem por bloqueios, nem por bombardeios, nem soterrada sob as esteiras dos tanques de guerra ou atacada por forças especiais da Marinha. Para derrotar uma ideia é preciso oferecer uma ideia melhor, mais atraente e mais aceitável.
A única maneira de remover o Hamas é que Israel chegue rapidamente a um acordo com os palestinos para o estabelecimento de um Estado independente na Cisjordânia e na faixa de Gaza, tais como definidas pelas fronteiras de 1967, com capital em Jerusalém Oriental. Israel precisa assinar um acordo de paz com Mahmoud Abbas e seu governo e, com isso, reduzir o conflito entre Israel e os palestinos a um conflito entre Israel e a faixa de Gaza.
E o último só poderá ser resolvido, em última análise, pela integração entre o Fatah, de Abbas, e o Hamas. Mesmo que Israel capture uma centena de outros navios rumo a Gaza, mesmo que envie soldados para ocupar Gaza mais uma centena de vezes, não importa quantas vezes Israel use suas Forças Armadas, polícia e forças clandestinas, não haverá como resolver o problema.

NÃO ESTAMOS SÓS
O problema é que não estamos sós nesta terra, e os palestinos não estão sós nesta terra. Não estamos sós em Jerusalém, e os palestinos não estão sós em Jerusalém. Até que nós, israelenses e palestinos, reconheçamos as consequências lógicas desse simples fato, viveremos todos em permanente estado de sítio: Gaza sob sítio israelense, e Israel sob sítio árabe e internacional.
Não desconsidero a importância da força. A força militar é vital para Israel. Sem ela não seríamos capazes de sobreviver nem por um dia. Ai do país que desconsidere a eficácia da força. Mas não podemos nos permitir esquecer nem por um momento que a força só é efetiva de modo preventivo para impedir a destruição de Israel, proteger nossas vidas e nossa liberdade.
Cada tentativa de usar a força não para fins preventivos, ou de autodefesa, e sim como forma de esmagar problemas e esmagar ideias conduzirá a novos desastres, como aquele que causamos para nós mesmos em águas internacionais, no alto-mar, ao largo das costas de Gaza.

Tradução de PAULO MIGLIACCI
Nascido em Jerusalém em 1939, Amós Oz é escritor e jornalista. Publicou 18 livros, traduzidos para cerca de 30 idiomas. Um dos fundadores do Movimento "Paz Agora", representa a chamada esquerda engajada, favorável à criação do Estado palestino. Ensina literatura hebraica na Universidade Ben Gurion


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