Todos os posts (3)

Classificar por

ROSH HASHANA- YOM KIPPUR 5775/2014 Bernardo Sorj

Em Rosh Hashana refletimos sobre a passagem do tempo, lembrando que estamos todos imersos na mesma travessia.

Porque viver é fazer, e quem faz erra.
Porque viver é acreditar, e quem acredita se ilude.
Porque viver é amar, e quem ama sofre.

Porque ninguém escolheu nascer.
Nem a época, lugar ou família.
Nem morrer.

Porque não controlamos o futuro.
Nem podemos prever as consequências de nossos atos.

Porque um dia temos saúde e outro dia estamos doentes.
Porque um dia triunfamos e outro dia fracassamos.

Porque temos que conviver com sentimentos de ansiedade sobre o futuro e com o desejo de que os outros se adaptem a nossa vontade e a nossa forma de ver o mundo.

Temos que ter compaixão por nos mesmo e pelos outros.

Em Yom Kippur lembramos as palavras do profeta Isaias que diz que não é o jejum que purifica as pessoas mas nossos atos de solidariedade.

Por isso o perdão deve ser procurado naqueles que prejudicamos e humilhamos.

Não permitindo que projetemos nossos conflitos internos, nem enxerguemos os outros pelo filtro de nossas inseguranças.

Sem perder o senso de humor e ironia, sem os quais nossa vida e a da que nos rodeiam se torna opressora.

Nem que nossas obsessões e a procura de poder, dinheiro e prestigio, nos empobreçam, criando a ilusão que controlamos a realidade ou que somos melhores que os outros.

Lembrando que as qualidades humanas nada têm a ver com o lugar em que nos encontramos na escada social, e que o sucesso e a riqueza podem empobrecer nossa sensibilidade.

Por isso em Rosh Hashana e em Yom Kippur ficamos mais tempo em silencio e procuramos esvaziar nossa mente. Pois só quando deixamos de falar, fazer ou digitar, entendemos que valorizamos demais o que não é essencial.

E que a vida é um esforço constante de superar nossa omnipotência narcisista e desenvolver nossa capacidade de aprender, compreender e discernir.

Porque a tradição judaica se alimenta de uma história milenar que nos ensina que preconceitos, injustiças e o sofrimento produzido pela sociedade são inaceitáveis, e que corresponde em cada ano e a cada um encontrar sentido na celebração de Rosh Hashana e Yom Kippur, agradecemos:

Shehechyanu, ve´quimanau ve’higuianu lazman haze.
Que vivemos, que existimos, que chegamos a este momento.

Rosh Hashana e Yom Kipur 5774

Festejamos Rosh Hashana, o ano novo, para afirmar o direito de cada comunidade a ter sua própria memória coletiva da passagem do tempo, e Yom Kipur para refletir sobre o sentido desta passagem para cada um.

O novo ano separa o tempo que é contínuo. Separamos para organizar nossas vidas, mas quem só separa esquece que o mais bonito não é o dia ou à noite, mas o amanhecer e o pôr do sol, que as outras culturas nos enriquecem porque são diferentes, que o puro e o impuro estão sempre juntos.

Toda separação do tempo é artificial e só é relevante se não nos permite realizar um balanço do que temos realizado e refletir sobre o que desejamos atingir. Sabendo que querer controlar o futuro só produz ansiedade e que as transformações não dependem de promessas infantis no início do ano, e sim de um esforço constante, pois as mudanças nos deixam inseguros e nos aprisionamos nas nossas formas de ser, ainda que empobrecedoras.

A passagem do tempo produz perdas, mas só graças à impermanência, a mudança é possível, e permite transformar a vida numa experiência enriquecedora.

Por isso devemos enfrentar nos medos, que não nos permitem:

• Superar nosso lado criança que quer que todos se ajustem a nossos desejos e vontades, que fala mais não ouve, e não entende o porquê das atitudes dos outros.
• Enfrentar nossas inseguranças, que nos fazem autoritários e enrijecem nossa sensibilidade.
De forma que possamos como adultos construir um mundo de respeito mútuo, aceitando nossas imperfeições e erros.

E no lugar de dar tanta importância em possuir objetos que são perfeitos, pois não são humanos, investir mais:
• Na convivência e na leitura, que nos enriquecem para o resto de nossas vidas.
• Em nos perdoar quando erramos e compreensivos com quem erra, em particular as pessoas queridas e as mais fracas, pois são as que mais precisam de nossa compaixão.
• Em não confundir amor com possessão, educação com imposição;
• Em ajudar outras pessoas, contribuindo para que todas vivam num mundo onde possam desenvolver suas capacidades e individualidades.
Lembrando que o melhor presente que podemos dar a nós mesmos e aos seres queridos nunca é um objeto, e sim:
• Um gesto de carinho e valorização.
• Aconselhando e não reprimindo.
• Ouvindo e compreendendo antes de julgar.
• Diferenciando entre o essencial do secundário.
E nunca perdendo nosso lado infantil, que:
• É curioso e interessado em tudo.
• E se pergunta o porquê das coisas.
• E gosta de brincar e de rir.
Porque nossas vidas podem ser melhores se procuramos nos superar, agradecemos:
Shehechyanu, ve´quimanau ve’higuianu lazman haze.
Que vivemos, que existimos, que chegamos a este momento.

Bernardo Sorj

Saiba mais…

 

gaza

ADVERTISEMENT

Publicado no Unisinos.

Israel se retirou da Faixa de Gaza na terça-feira (5), mas deixou para trás morte e destruição. A socióloga israelense Eva Illouz diz à “Spiegel” que seu país está tomado pelo medo e está cada vez mais suspeitando da democracia.

Houve amplo apoio em Israel à operação na Faixa de Gaza, apesar dos números imensos de vítimas civis e a morte de centenas de crianças. Por que isso?

Onde você vê seres humanos, os israelenses veem inimigos. Diante dos inimigos, você cerra fileiras, se une no temor por sua vida, e você não pensa na fragilidade do outro. Israel tem uma autoconsciência esquizofrênica, dividida: ela cultiva sua força e não consegue deixar de se ver como fraca e ameaçada. Além disso, tanto o fato de o Hamas nutrir uma ideologia radical islâmica e antissemita quanto a existência de um racismo raivoso antiárabe em Israel explicam por que os israelenses veem Gaza como um baluarte de terroristas reais ou potenciais. É difícil ter compaixão por uma população vista como ameaçando o coração de sua sociedade.

Isso também se deve ao fato de a sociedade israelense estar se tornando cada vez mais militarista?

Israel é ao mesmo tempo um poder militar colonial, uma sociedade militarizada e uma democracia. O Exército, por exemplo, controla os palestinos por uma vasta rede de ferramentas coloniais, como postos de controle, tribunais militares (governados por um sistema legal diferente do sistema israelense), concessão arbitrária de licenças de trabalho, demolição de casas e sanções econômicas. É uma sociedade civil militarizada porque quase toda família tem um pai, filho ou irmão no Exército e porque os militares exercem um papel enorme na formação da mentalidade dos israelenses comuns e são cruciais tanto nas decisões políticas quanto na esfera pública. Na verdade, eu diria que “segurança” é o conceito primordial que guia a sociedade e a política israelense. Mas também é uma democracia, que concede direitos aos gays e possibilita ao cidadão processar o Estado.

Mesmo assim, muitos diriam que Israel foi longe demais nesta guerra contra o Hamas.

Eu acho que os israelenses perderam o que podemos chamar de “sensibilidade humanitária”, a capacidade de se identificar com o sofrimento de um outro distante. Em Israel, ocorreu uma mudança na percepção do “outro palestino”. O palestino se transformou em um verdadeiro inimigo na percepção dos israelenses, no sentido de que “eles estão ali” e “nós estamos aqui”. Eles deixaram de ter um rosto e mesmo um nome.

Você tem uma explicação para a mudança?

Israelenses e palestinos antes se misturavam. Eles trabalhavam como operários de construção e como mão de obra barata, mal paga. O muro foi construído. Vieram os bloqueios de estrada, que impediram a liberdade de movimento dos palestinos. A redução imensa nas licenças de trabalho veio em seguida. E em poucos anos os palestinos desapareceram da sociedade israelense. A Segunda Intifada colocou um prego nesse caixão, por assim dizer. A natureza da liderança israelense também mudou. A direita messiânica ganhou progressivamente poder em Israel. Ela costumava ser marginal e ilegítima; agora é cada vez mais popular. Essa direita radical ocupa cadeiras no Parlamento, controla orçamentos e mudou a natureza do discurso. Muitos israelenses não entendem a natureza radical da direita em Israel. Ela se disfarça com sucesso como sendo “patriótica” ou “judaica”.

Por que a direita é tão forte no momento, apesar de haver bem menos ataques terroristas em Israel do que no passado?

Gerações inteiras foram criadas com os territórios, com Israel sendo um poder colonial. Elas não conhecem outra coisa. Você tem os assentamentos que são altamente ideológicos. Eles expandiram e entraram na vida política israelense. Os assentamentos foram fortalecidos por meio de políticas de governo sistemáticas: eles recebem incentivos fiscais; eles contam com soldados para protegê-los; eles contam com estradas e infraestrutura muito melhores do que no restante do país. Há segmentos inteiros da população que nunca conheceram uma pessoa secular e foram educados religiosamente.

Alguns desses segmentos religiosos também são muito nacionalistas. A realidade que enfrentamos dentro de Israel é que devemos escolher entre liberalismo e o judaísmo, e se escolhermos o judaísmo, estamos condenados a nos tornarmos uma Esparta religiosa, o que não será sustentável. Enquanto nos anos 60 era possível ser tanto socialista quanto sionista, hoje não é possível, por causa das políticas e da identidade de Israel. E há o papel que os judeus que vivem fora de Israel exercem em Israel. Muitos desses judeus têm pontos de vista de direita e contribuem com dinheiro para jornais, centros de estudos e instituições religiosas dentro de Israel. Vamos encarar: a direita tem sido mais sistemática e mais mobilizada, tanto dentro quanto fora de Israel. Ampliar

Os judeus na diáspora veem Israel de modo diferente dos judeus em Israel?

Os judeus da diáspora foram moldados pela memória do Holocausto. Eles costumam viver em sociedades nas quais seus próprios direitos democráticos são garantidos. Às vezes estão sob ataque do antissemitismo e, portanto, sentem um ímpeto de reforçar a identidade judaica. Eles não entendem a aflição dos israelenses que veem a democracia sendo progressivamente devorada por forças sombrias. Hoje, os judeus da diáspora e os judeus em Israel não têm mais os mesmos interesses.

O que acontecerá se os princípios democráticos continuarem ruindo?

Há um ou dois anos, o jornal “Haaretz” realizou uma pesquisa que apontou que 40% das pessoas disseram estar considerando deixar Israel. Eu não sei os números reais, mas nunca soube de tamanha alienação em relação a Israel como durante esse período. As pessoas que vivem na secular Tel Aviv têm muito menos em comum com seus pares religiosos em Jerusalém do que com as pessoas que vivem em Berlim.

israel tacismo

Você descreve um país temeroso e ansioso.

O medo está profundamente entranhado na sociedade israelense. O medo do Holocausto, o medo do antissemitismo, o medo do Islã, o medo dos europeus, o medo do terror, o medo do extermínio. E o medo gera um tipo muito particular de pensamento, que eu chamaria de “catastrofista”. Sempre se pensa no pior cenário, não no curso normal dos eventos. Nos cenários catastrofistas, é permitido violar muito mais normas morais do que se você imaginasse um curso normal dos eventos.

Essa percepção diferente das ameaças e conflitos é problemática. Enquanto Israel se vê como vítima, o resto do mundo cada vez mais vê o país como um poder de ocupação violento.

Imagine que você seja uma menina criada por um pai muito brutal. Você desenvolveria uma suspeita “saudável” dos homens e se tornaria muito cautelosa. Se você vivesse por algum tempo em um ambiente de homens bons e carinhosos, sua suspeita relaxaria. Mas se você vivesse em um ambiente no qual alguns homens fossem muito brutais e alguns não, sua suspeita saudável se transformaria em uma incapacidade obsessiva de diferenciar entre os tipos diferentes de homens, os brutais e os carinhosos. Esse é o trauma histórico da consciência com o qual os judeus convivem. A psique israelense se tornou incapaz de fazer essas distinções.

Esse medo justifica o tipo de violência brutal imposta à população civil na Faixa de Gaza?

Claro que não. Eu só estou dizendo que o medo é central na psique israelense. Esses temores são cinicamente usados por líderes como o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. Ele faz os israelenses acreditarem que todos eles querem nos destruir. O Hamas quer nos destruir, a ONU quer nos destruir, a Al Qaeda e o Irã querem nos destruir. O EIIL (Estado Islâmico do Iraque e do Levante) quer nos destruir. Os europeus antissemitas querem nos destruir. Esse é basicamente o filtro pelo qual o conflito com o Hamas é interpretado pelo israelense comum. Outra dimensão desse prisma é que “eles” não são seres humanos.

Os palestinos são desumanizados porque colocam seus soldados entre os civis, enviam suas crianças à luta, gastam e desperdiçam seu dinheiro na construção de túneis mortais em vez de construindo sua própria sociedade. Além da desumanização do outro, os israelenses têm um forte senso de sua própria superioridade moral. “Nós pedimos às pessoas para deixarem suas casas; nós telefonamos para elas para assegurar que os civis sejam evacuados. Nós nos comportamos de forma humana”, pensa o israelense. Um Exército com bons modos.

Mesmo assim, uma enorme onda de ódio se tornou visível em Israel nas últimas semanas. E não é direcionada apenas aos palestinos, mas também a segmentos da sociedade israelense.

Algumas normas básicas de discurso foram violadas por alguns rabinos e membros do Knesset, que não têm escrúpulos em expressar ódio pelos árabes de formas que legitimam o ódio. Isso é muito preocupante. Isso acontece porque gerações inteiras foram criadas acreditando nas posições religiosas e ultranacionalistas. Eu não acho que há mais ódio em Israel do que em alguns bolsões racistas da sociedade alemã ou francesa. Mas quando alguns palestinos cantaram recentemente nas ruas de Paris, “Morte aos Judeus”, a reação do governo do primeiro-ministro Manuel Valls foi rápida e clara. As autoridades enviaram uma forte mensagem de que há formas de discurso e de crença que são inadmissíveis. O que falta na sociedade israelense é esse tipo de forte posicionamento moral vindo de seus líderes.

Como você explica esse paradoxo –o ódio por um lado e a ênfase de Israel em seus valores liberais do outro?

Israel começou como uma nação moderna. Ela extraía sua legitimidade do fato de ter instituições democráticas. Mas também construiu instituições altamente antimodernas em seu desejo de criar uma democracia judaica, ao dar poder aos rabinos, ao criar profundas desigualdades étnicas entre diferentes grupos étnicos, como os judeus de países árabes contra judeus de descendência europeia; árabes contra judeus; judeus contra não judeus. Isso bloqueou o pensamento universalista.

Você diria que o caráter judeu do país subordinou o caráter democrático?

Sim, com certeza. Nós estamos em um ponto onde se tornou claro que o judaísmo sequestrou a democracia e seu conteúdo. Isso acontece cada vez mais quando o currículo escolar começa a ser mudado e passa a enfatizar mais conteúdo judeu e menos conteúdo universal; quando o Ministério do Interior expulsa trabalhadores estrangeiros porque membros do partido Shas temem que não judeus possam se casar com judeus; quando direitos humanos são pensados como sendo uma ideia esquerdista, porque os direitos humanos pressupõem que judeus e não judeus são iguais.

Isso não soa particularmente encorajador.

A única resposta é a criação de um vasto campo de pessoas que defendam a democracia. A divisão direita-esquerda não é mais importante. Há algo mais urgente agora: a defesa da democracia. A voz da extrema direita está muito mais alta e clara do que antes. Isso é que é novo: uma direita racista que não tem vergonha de si mesma, que persegue os dissidentes e até mesmo as pessoas que ousam expressar compaixão pelo outro lado. O verdadeiro perigo para Israel e sua sustentabilidade vem de dentro. Os elementos fascistas e racistas não são uma ameaça menor à segurança do que os inimigos externos.

http://www.diariodocentrodomundo.com.br/onde-voce-ve-seres-humanos-os-israelenses-veem-inimigos-a-visao-de-uma-sociologa-israelense/

Saiba mais…

Nacido en una familia judía observante en Riga en 1903, el original y polémico filósofo judío israelí Yeshayahu Leibowitz obtuvo su educación en el Gymnasium, además de la educación impartida en su casa para sus estudios judíos, antes de que la familia huyese de Rusia en 1919 para Berlín, Alemania.
En la Universidad de Berlín, Leibowitz estudió química y filosofía, y recibió su doctorado en química en 1924. Después de estudiar en el Instituto Kaiser Wilhelm de 1926 a 1928, Leibowitz fue a estudiar medicina en Colonia y Heidelberg, aunque con los nazis ganando el poder, ganaría el título de médico en Basilea, Suiza. En 1935 se trasladó a la Palestina del Mandato Británico, inicialmente como profesor de bioquímica en la Universidad Hebrea, pasando a ser nombrado como jefe de Química y profesor de Neurofisiología de la Escuela de Medicina biológica y orgánica, y dio conferencias sobre la historia y la filosofía de la ciencia. Sin embargo, estos nombramientos académicos formaban más parte su trabajo formal, muy lejos de la mayoría del público, ya que además Leibowitz enseñaba pensamiento judío, ya sea en un contexto académico, en pequeños grupos de estudio, o en la televisión y la radio. Un número importante de estas emisiones y clases para grupos, ya han sido publicadas. Aparte de estas actividades y su trabajo como editor jefe de varios volúmenes de la Enciclopedia Hebraica, Leibowitz ganó notoriedad en la escena pública israelí con sus intervenciones políticas.
En 1968 sostenía que Israel debía retirarse de Cisjordania y la Franja de Gaza recién conquistados, en 1982 lanzó una convocatoria pública de los objetores de conciencia de la época de la guerra del Líbano y posteriormente, en los territorios palestinos. La capacidad de Leibowitz para agitar la controversia pública se puso en evidencia en fecha tan tardía como 1993, un año antes de morir, en un discurso ante el Consejo de Israel para la paz entre Israel y Palestina, donde reiteró su llamado a los soldados a que se nieguen a servir en los territorios, utilizando, y no por primera vez, un lenguaje altamente provocador comparando a las unidades especiales del ejército israelí con las SS.
Su nominación al premio Israel de reconocimiento de trayectoria de vida precipitó una apelación a la Corte Suprema, y una amenaza de boicotear la ceremonia por parte del primer ministro Itzjak Rabin. Leibowitz, sin embargo, decidió declinar el premio de antemano.

Sus obras
La filosofía de Leibowitz encontró su expresión en numerosos ensayos que aparecieron por primera vez en periódicos hebreos y se cotejaron posteriormente, en un puñado de volúmenes publicados a intervalos irregulares: Torá u-Mitzvot ba-Zman ha-Zeh [Torá y los mandamientos de Nuestro Tiempo] (1954); Yahadut, Am Yehudi u-Medinat Yisrael [El judaísmo, el pueblo judío y el Estado de Israel] (1975); y Emunah, Historiah, va-Arakhim [Fe, Historia y Valores] (1982). En el año 1982 también se publicaron las transcripciones de su grupo de estudio sobre Maimónides: Shmoneh Perakim-la sección de Maimónides de su comentario a la Mishná, que sirve como una introducción al tratado talmúdico Pirkei Avot (generalmente conocido en castellano como la Ética de los Padres).
En su trabajo de 1953 "Mitzvot Maasiot" (una versión posterior fue publicada como "Praxis religiosa en el judaísmo"), Leibowitz nos dice que no le preocupa "elaborar una justificación filosófica de la religión de las mitzvot [mandamientos]," pero en cambio le interesaba ampliar "su significado para la religión judía tal como la vivimos". Sus escritos están dirigidos muy específicamente a dar una exposición filosófica del judaísmo, y en particular de las mitzvot que son su corazón.
Leibowitz excluía a las mitzvot de la mística, de la filosofía o del dogma, tampoco intentaba construir argumentos paralelos con el fin justificar determinadas prácticas o las prácticas judías en su conjunto. Por lo tanto, si uno está esperando encontrar un argumento que justifique la forma de vida halájica (guiada por la ley judía) a través de los principios del razonamiento silogístico de la manera del gran filósofo judío medieval Maimónides, es probable que se decepcione. Lo que sí encontramos, en línea con mucha de la filosofía judía contemporánea, es el relato de un conocedor del significado de la fe en el judaísmo como se entiende dentro de esa tradición, aunque con implicaciones más allá de esos límites. Pero a diferencia de algunos de los filósofos judíos del siglo XX más conocidos, Leibowitz insiste en que la única herramienta confiable que podemos utilizar con el fin de investigar el significado de la fe es el razonamiento discursivo.
Según Leibowitz, la idea central del monoteísmo judío es la trascendencia radical de Dios, argumento que ha tenido su exposición más cruda por su héroe filosófico, Maimónides. El aplazamiento de la discusión de su estatus lógico preciso para Leibowitz, y aceptando provisionalmente que "Dios es radicalmente trascendente" es una declaración cognitiva, una primera formulación aproximada de su significado sería que Dios es una entidad existente que es absolutamente incomparable a cualquier otra forma de realidad que posiblemente podamos encontrar.
A raíz de la teología negativa de Maimónides, Leibowitz dice que no podemos hacer declaraciones significativas que pretendan describir a Dios. Cualquier intento de hablar de las propiedades o características de Dios trasciende los límites del pensamiento y el lenguaje humano.
Las categorías humanas de pensamiento sólo se entienden en el contexto humano en el que se formulan. No se puede suponer que conservan su significado cuando se aplica

más allá de los límites de la experiencia humana posible. De esto se desprende que Dios no es un objeto posible de esta experiencia humana. Por un compromiso cabal con la idea de la trascendencia radical de Dios se obtiene un número de importantes consecuencias. Para Leibowitz, la idea de la trascendencia radical, si se toma en serio, implica que Dios no puede ser "contenido" dentro de cualquier realidad que nos encontramos. La naturaleza es la naturaleza, la historia es la historia, y si Dios es verdaderamente trascendente, ninguna de ellas es Dios ni están relacionadas con él en ningún sentido directo. Así, Leibowitz afirma lo que él llamó su "herejía": "Dios no se reveló a sí mismo en la naturaleza o en la historia." (Yahadut, 240). Si las cosas fueran de otra manera, entonces la naturaleza y la historia serían "piadosas", y por lo tanto serían perfectas y dignas de adoración por sí mismas. No habría entonces espacio para el santo Dios que trasciende la realidad natural, y desde entonces, la realidad misma sería divina y el hombre mismo sería Dios". (Yahadut, 25).
La idea de que cualquier objeto material puede ser santo es algo que, a los ojos de Leibowitz, es la definición última de la idolatría, que puede conducir a la adoración de personas, objetos o -de manera significativa para la expresión sionista- de la tierra. Asimismo, la idea de que hay un propósito divino en la historia, que Dios ejerce alguna forma de providencia sobre la humanidad, estaría igualmente en contradicción con la idea de la trascendencia de Dios y es por lo tanto una noción sin fundamento. Para Leibowitz, "un examen imparcial de la historia de la humanidad y de los judíos como se relata en la Biblia no revelará en todo el proceso ningún designio o dirección definida, ni un enfoque gradual hacia un objetivo específico". (Yahadut).
Sobre la base de estas observaciones, uno inmediatamente ve que el pensamiento de Leibowitz estará desprovisto de mucho de lo que pasa por la teología judía o la teología general tradicional. La fe no se puede formular en torno a las proposiciones que hablan de Dios y su relación providencial para el universo. La santidad se limita a Dios y no puede predicarse de todo lo que existe en el mundo (lo que también, por cierto, explica su oposición a cualquier interpretación etnocéntrica, propia o ajena, de la idea de Elección heredada por los judíos).
El Dios de Leibowitz no es un Dios providencial; la historia no tiene teleología; y no nos encontramos con ningún intento de teodicea en Leibowitz. A diferencia de muchos filósofos judíos contemporáneos, el Holocausto apenas es mencionado y lo descarta del debate teológico. Un compromiso cabal a la trascendencia no puede permitir un Dios que intervenga en los asuntos humanos. Lo que cuestiona a quienes perdieron su fe en Dios como resultado de Auschwitz. Ellos "nunca creyeron en Dios, sino en la ayuda de Dios". (La aceptación del Yugo).

Interpretación Bíblica
Cualquier simple lectura de la Biblia judía parece sugerir un Dios muy estrechamente involucrado con la historia y la naturaleza. Por lo tanto, la lectura de Leibowitz de la Escritura judía se basa en un enfoque hermenéutico muy particular del Tanaj.
Para Leibowitz, la Torá no es una obra de las verdades de hechos que contiene que podemos obtener a través de procedimientos epistémicos estándar. Es más bien, un trabajo sagrado, una obra que tiene que ver con el ámbito de lo religioso. Por lo tanto, el enigma medieval de larga tradición del dilema con respecto a la fe y la razón es desechado, así como una apresurada interpretación antropológica o cientificista de la escritura.
Leibowitz está feliz de dar a la Razón su victoria, sin tener que preocuparse por su intrusión en el territorio de la revelación, y viceversa. La Torá como una obra sagrada es la negociación de la esfera de lo sagrado y no se supone que es un repositorio de las verdades proposicionales de la historia o la ciencia. Lo que ofrece en cambio es "la exigencia del hombre de adorar a Dios". La Torá es la fuente de los mandamientos -las mitzvot- que son la manera en que los judíos sirven a Dios.
Leibowitz insiste en que en el intento de habla imposible de Dios, la Torá necesariamente utiliza varias formas literarias susceptibles a la comprensión humana, pero que sin embargo "desde el punto de vista de la fe religiosa, la Torá y la totalidad de la Sagrada Escritura debe ser concebida como una demanda que sobrepasa el rango de la cognición humana ... una demanda transmitida en diversas formas de expresión humana: las recetas, la visión, la poesía, la oración, el pensamiento y la narrativa". (Yahadut).
Esto no descarta, en principio, la posibilidad de las narrativas que suceden a contener información histórica, en parte. Las narraciones de las Escrituras podrían a veces coincidir con los hechos históricos, aunque si este es el caso estaría sujeta a la verificación independiente de estos hechos históricos pretendidos por criterios epistémicos estándar. Pero incluso teniendo en cuenta esta posibilidad, el significado histórico sería meramente accidental. Tales hechos no tomarían en cualquier significado sagrado en virtud de esa facticidad, sino más bien a causa de impartir un mensaje sagrado ahistórico. La Torá no se puede leer como un repositorio de hechos histórico. Leerla "desde el punto de vista de la fe religiosa," es leerla desde las exigencias que impone sobre nosotros.

Fuente: Universidad de Stanford

Saiba mais…

Tópicos do blog por tags

  • e (5)

Arquivos mensais