Através de uma série de metáforas, a liturgia de Rosh Hashana levanta e responde a perguntas sobre nosso lugar e nosso papel no mundo. Se alguém quiser procurar o que o judaísmo tem a dizer sobre o que significa ser um ser humano, não há lugar melhor do que o livro de orações de Rosh Hashana e Yom Kipur, o "Mahzor".
Em um dos momentos mais dramáticos do culto matinal de Rosh Hashana - o som do shofar, por exemplo, é seguido por uma oração com uma declaração especial. Começando com as palavras "Hayom Harat Olam", a sentença sugere que o começo do mundo não deve ser entendido como um ato de criação isolada, mas sim comparado ao processo dar à luz, com a concepção.
Ao declarar que "hoje [em Rosh Hashana], a gestação do mundo começou" (em vez de dizer "hoje o mundo foi criado"), a vida não é entendida como um evento passado, mas como um processo contínuo do qual fazemos parte.
Assim, pensando no começo do mundo, o judaísmo não procura descrever um evento, mas responder a perguntas críticas sobre nós mesmos. Por que nascemos sem conhecimento ou entendimento? Por que temos que passar por um processo de "maturação"? Já nos "graduamos"? Por que as carências assolam as nossas vidas? Como gerenciar o tempo limitado que temos para superá-las?
Os sábios de Israel geralmente enfatizam que tudo o que é criado é incompleto, inacabado, imperfeito. A experiência e, portanto, a sabedoria acumulada do judaísmo, é que a vida humana é um processo dotado de enorme potencial para contínuo crescimento espiritual e psicológico.
Em suma, Rosh Hashana não celebra a criação passada, mas o potencial que permite que os seres humanos levantem seus olhos, sonhos e expectativas.
O que a festa nos pede para explorar é o que pode nascer de novo, que barreiras físicas, emocionais, intelectuais e espirituais nos impedem de continuar a aprender e entender, a fim de que o processo iniciado no nascimento continue.
A festa nos convida a meditar sobre como novas possibilidades nascem à partir de oportunidades e esperanças do que podemos ser. É um dia em que temos que nos concentrar em sonhos e expectativas.
Rosh Hashana nos lembra que, embora sejamos judeus, também somos membros da comunidade global, com a missão de envolver o mundo como emissários de mudanças e justiça social, contribuindo para o bem-estar do mundo a que pertencemos.
A vida pode ser um desenvolvimento contínuo, um progresso, um desenvolvimento de crescimento moral, espiritual e intelectual, ou pode atingir um estágio de desenvolvimento interrompido, tornando-a sem rumo; Rosh Hashana nos diz que temos a escolha e que essa escolha nos pertence.
Esta é uma oração de Rosh Hashana em um linguagem que pode ser mais relevante para o nosso pensamento no século XXI, apesar de dizer o que os judeus vêm dizendo há milhares de anos:
"Que o ano novo seja uma oportunidade para melhorarmos a qualidade de nossas vidas, enriquecermos seu conteúdo e aprofundarmos seu significado.
Que a consciência de nossa existência nos ajude a manter nossas mentes vivas, abertas a novas idéias, alimentando dúvidas estimulantes, reexaminando até opiniões bem estabelecidas, alimentando uma curiosidade aguçada e nos esforçando para expandir nossa reserva de conhecimento.
Que Ele nos ajude a manter nossos corações vivos, a ter maior compaixão, a ser receptivo a novas amizades, a manter um entusiasmo feliz.
Sejamos mais sensíveis às necessidades dos outros, menos vulneráveis à ganância que nos consome, mais atentos ao desejo de fraternidade.
Que nos ajude a manter nosso espírito vivo. Que possamos encarar o futuro com confiança, sabendo que cada época tem suas próprias alegrias e satisfações, que cada período de nossa vida é uma glória em si mesma.
Se Rosh Hashana envia uma mensagem feliz, é porque o passado e o presente nunca excluem o futuro. Embora o futuro não seja completamente aberto, ele permanece aberto e requer nosso esforço constante, nossa imaginação e nosso desejo de continuar crescendo.