Todos os posts (1538)

Classificar por

Sion não é palavrão- Jayme Fucs Bar

Diario de Guerra 5 - Sion não é palavrão- Jayme Fucs Bar
Em razão de meu ativismo nas redes sociais como judeu sionista Socialista humanista, com uma posição clara de esquerda, recebo todos os tipos de mensagens. A última que recebi me despertou uma grande curiosidade.
Alguém me questionou sobre como eu podia ser um judeu humanista e me definir como sionista. A princípio, não entendi a pergunta, mas parei para pensar e me surgiu a ideia de perguntar à pessoa o que, em sua opinião, era o sionismo e ele respondeu:
“Sionismo é um movimento racista, militarista de ocupação, destruição e extermínio do povo palestino”.
Incrível! Como pode, com o tempo, uma palavra se tornar tão deturpada que chegou a ponto de perder completamente o contexto da realidade. Voltei à conversa com a pessoa e perguntei se ela era a favor de que todos os povos da humanidade tivessem o direito de autodeterminação nacional. A pessoa de imediato me respondeu: “Claro que sim!”.
Então respondi: “Querida pessoa, estou feliz em saber que você
também é sionista!”. Acredito que a pessoa do outro lado pulou! Eu
tentei explicar!
Se todos os povos da humanidade têm o seu direito de autodeterminação nacional, como palestinos, curdos, tibetanos, chechenos, bascos etc., por que os judeus, que são um povo milenar, não teriam também esse direito de autodeterminação nacional?
Pois o sionismo é o movimento nacional do povo judeu. Esse movimento faz parte de um processo histórico milenar, seus laços entre o povo judeu e a Terra de Israel são inseparáveis a mais de 3000 mil anos !
No Movimento Sionista existiram, como em todos os movimentos
nacionais, tendências políticas e vertentes ideológicas diferentes, como liberais, sociais-democratas, socialistas, comunistas, religiosos etc.
As pessoas estão tão confusas e com seus cérebros congelados sob
tantas desinformações e manipulações que não sabem definir entre realidade e “fantasias”, nem entre os vários “Israéis” imaginários que elas mesmas criaram.
É incrível como as pessoas têm dificuldades de entender, saber e
aceitar que você poder ser sionista, amar Israel, servir seu Exército, lutar em suas guerras e ser ativamente contrário ao atual governo de direita de Israel, ou ser sionista e apoiar a criação do Estado Palestino ao lado do Estado de Israel etc.
A estupidez é tão generalizada, que essa pessoa, nesse diálogo até
meio surreal, me disse: “Mas quem criou o Estado de Israel foi o imperialismo dos EUA e da Inglaterra!”.
Uau, como estou cansado de ouvir essa bobagem!
Eu respondo, já numa ironia típica de um israelense: “Imperialismo? Ah, sim, é verdade! O Estado de Israel realmente existe graças ao
imperialismo, mas não o dos estadunidenses ou dos ingleses, e sim dos soviéticos”.
A pessoa quase caiu da cadeira do outro lado !
O bloco soviético e seus aliados foram os que votaram em massa na ONU pela criação do Estado de Israel, os “imperialistas” estadunidenses ficaram em cima do muro e no final, na última hora, votaram a favor, por pressão da comunidade judaica dos EUA. O grande imperialismo inglês deu o voto de abstenção, mas apoiou com armas os árabes.
A Guerra de Independência de Israel foi e é até hoje considerada a
pior e a mais cruel de todas as guerras que Israel teve que enfrentar. Israel não tinha a estrutura militar e econômica que tem hoje em dia, sua população era de 650 mil judeus e muitos eram refugiados recém-chegados do Holocausto. No final dessa guerra terrível, haviam morrido quase 7% da população judaica do Estado de Israel nascente.
“E sabe quem apoiou Israel com armas nesse momento crucial da
independência israelense?”, perguntei à pessoa do outro lado.
Foram os socialistas!
As armas chegaram da República Socialista da Tchecoslováquia.
A pessoa, acreditou eu, pensou que eu estava inventando história,
mas quem quiser saber dos fatos pode pesquisar!
Pedi, com todo respeito, que ela parasse de acreditar em fantasmas que haviam sido inventados para milhões de pessoas viverem numa eterna escuridão sobre a realidade de Israel.
“Sion” de onde deriva o nome sionismo, o movimento de libertação nacional do povo judeu, não é nome feio, nem palavrão. Sion
aparece nada mais, nada menos que 150 vezes na Torá, definindo o local onde se encontravam o Templo e a cidade de David.
O movimento sionista foi, para muitos judeus, a resposta política
clara para a situação de suas eternas lutas de sobrevivência a opressões, perseguições, perseguições religiosas, pogroms, antissemitismo e a tentativa de seu total extermínio como aconteceu no Holocausto.
Em 14 de maio de 1948, o Estado de Israel se tornou uma realidade e o estado Palestino poderia também existir mas infelizmente eles negaram a Partilha aprovada pela ONU em novembro de 1947 e saíram numa guerra total contra Israel , sendo que nessa partilha Jerusalém ficou definida como Internacional.
Realmente estamos vivendo num mundo de metamorfoses ideológicas! Nos da esquerda acusamos as massas da direita Bolsonaristas de gado, de usar fake News, de deturpar e inventar mentiras como se fosse realidade, mais acreditem nas palavras de um ativista de esquerda!
Existe um forte grupo que se define como esquerda no Brasil, mas na verdade são uma nova seita, eles estão em vários setores da sociedade brasileira inclusive no atual governo, usam os mesmos métodos dos Bolsonaristas, são um bando de gado, usam Fake News , deturpam e inventam uma nova realidade é o pior são uma cambada de anti-semitas, que apóiam terroristas e envergonham o que deveria ser o verdadeiro movimento Socialista Humanista no Brasil!
Saiba mais…
Diario de Guerra 3 - Nós nos negamos a sair da História - Jayme Fucs Bar
“Judaísmo é uma religião para adultos”, assim bem definiu Emmanuel Levinas. Ser judeu é ter uma maturidade emocional e psíquica para continuar a existir através da história.
O que fizemos para que tanto nos odeiem?
Somente judeus e judias se fazem esse tipo de pergunta. Essa é uma pergunta puramente judaica, para a qual jamais encontramos as respostas!
O que nos ajuda é saber que não estamos sozinhos neste mundo, e
que nem todos no mundo nos odeiam!
A prova disso foi ver de imediato as mensagens de centenas de amigos e amigas na maioria não Judeus se preocupando com minha familia e com os familiares de mais de 1300 civis assasinados pelos terroristas da Hamas - Estado islamico.
A Preocupação dessas pessoas que muitos nem conheço , me tras um conforto e uma alegria imensa, saber que, iguais a elas, existem milhões de pessoas neste mundo que reagem dessa forma, e isso me fez lembrar um grande amigo que conheci no princípio da década de 1980: o Carlinhos.
Éramos estudantes de história e ativistas no Movimento Estudantil na Universidade Santa Úrsula, no Rio de Janeiro, em pleno período da Ditadura Militar.
Carlinhos, de família de mestiços, índio e negro; e eu, judeu, compartilhávamos uma mesma casa em Laranjeiras e esse espaço nos dava a liberdade de manter preciosas discussões filosóficas e políticas noites adentro.
Falávamos sobre tudo, mas, principalmente, sobre nossas ascendências e raízes culturais.
Carlinhos me contou histórias amargas de como seus bisavôs foram expulsos de suas terras na região de Angra dos Reis. Ele sempre me impressionava por seu raciocínio claro e complexo e por suas palavras sempre diretas e precisas.
Conversávamos muito sobre nossas dores e sobre os preconceitos
que vivíamos, eu por ser judeu, e ele por ser mestiço! Recordo-me que, numa dessas longas conversas, Carlinhos uma vez me perguntou:
“Jayminho, sabe por que o mundo odeia os judeus e o Estado de Israel?”.
Procurei dar uma resposta para ele, mas me enrolei todo e não
consegui.
Carlinhos, então, me interrompeu e me disse uma frase que veio como uma flecha disparada direto no meu coração:
“É que vocês se negam a desaparecer da história da humanidade!”.
Essa frase do Carlinhos me acompanha por toda a minha vida!
Jamais consegui achar as palavras para entender esse fenômeno, que emana de parte da sociedade humana há muitas e muitas gerações, esse ódio contra os judeus e contra o Estado de Israel, mas, com o tempo e com os anos, as palavras do Carlinhos fazem cada vez mais sentido nessa triste realidade de como o mundo se apresenta frente aos judeus e frente ao Estado de Israel!
Nego-me a crer que humanidade não possa se curar dessa doença
crônica que é o ódio contra os judeus; mas Carlinhos, naquela noite, tentou me ensinar o que somente compreendo hoje: que o grande desejo de muita gente e de até nações é que os judeus deveriam ser uma página a mais nos livros de história antiga, que os judeus deveriam ser uma simples página amarelada e empoeirada nas prateleiras dos povos desaparecidos da história da humanidade, como os assírios, os caldeus, os gregos, os romanos, os fenícios e os egípcios...
Num mundo de caos, corrupção, desordem e medo, há algo que une e ameniza as tensões que vêm do mundo e de seus dirigentes: o anseio de demonizar e deslegitimar o Estado Judeu!
Por que o mundo está sempre colocando em foco os judeus e o Estado de Israel?
Carlinhos rapidamente iria me responder: “É porque vocês se negam a desaparecer da história da humanidade!”.
E é por isso que é possível neste mundo até mesmo tapar o sol com a peneira!
Tantos problemas existem em nosso mundo, mas a prioridade e demonizar o estado de Israel, mesmo quando bandos de sanquinários terroristas invadem Israel, assasinam milhares de civis, queimam vivas famílias inteiras , degolam crianças , estrupam mulheres e meninas . Fazem um verdadeiro pogrom.
E ainda tem gente que culpa Israel e justifica esses atos!
Mais uma vez, me faltam palavras para definir essa situação: Trágica? Absurda? Ridícula? Não sei! Faltam-me as palavras!
Sempre que me encontro com o Carlinhos no Brasil ele me pergunta, num tom de ironia:
“Oh, meu companheiro, está preocupado com o quê?”
Eu sempre respondo: “Não há nada de novo sob o sol”.
Ele ri e me rebate: “Há sim, camarada, gostem ou não, Israel existe e é uma realidade e eu estou do seu lado!”.
Como é bom ouvir essas palavras de um não judeu neste mundo tão conflitante e ameaçador!
As palavras do Carlinhos, meu amigo, irmão, camarada, me trazem certa esperança: a de saber que não estamos sozinhos neste mundo.
Shabat Shalom!
Saiba mais…
Diário de Guerra 2 - Acordem antes que seja tarde! – Jayme Fucs Bar
Na minha vida sempre me defini como um judeu de esquerda - sionista socialista, que sempre fez parte das lutas sociais sejam no Brasil ou em Israel, há mais de 45 anos de ativismo!
Minha avó Cecília uma vez me disse! "Ser judeu é estar sempre em perigo”.
E cada vez mais entendo que ela tinha toda a razão!
Eu faço parte de um grupo que sempre defendeu, e vai continuar defendendo, o direito legítimo de existência do estado judeu – democrático (Israel) ao lado do Estado palestino: 2 estados e 2 nações!
Mas o que acompanho nos últimos tempos é que realmente estamos vivendo num mundo que se encontra num processo de grande metamorfose de valores, princípios e ideologias.
Às vezes tenho a impressão de que a sociedade humana está totalmente desgovernada, a caminho de um abismo e de sua própria aniquilação!
Eu, como uma pessoa que tem princípios socialistas humanistas, o que mais me incomoda hoje são esses grupos que se definem como esquerda.
Quero falar e advertir a essa gente, pois não sei se estão conscientes ou não de sua metamorfose de valores, que é cada vez é mais presente no mundo e especificamente no Brasil.
A maior prova disso são os últimos acontecimentos com a invasão de Israel pelos terroristas da Hamas e o genocídio sanguinário que realizou contra a população civil. E, dentro dessa inaceitável realidade, fico cada vez mais impressionado como uma boa parte dessa esquerda brasileira, aprova e aplaude essa barbaridade.
Parece que essa esquerda brasileira está vivendo o auge de sua metamorfose, onde se divorciou dos verdadeiros valores democráticos, socialistas e humanistas, se tornando uma seita de sectários.
Eles se transformaram em mariposas e criaram uma nova ideologia, que é uma manifestação pós moderna de um neo -socialismo, impregnado de antissemitismo e um desejo claro da destruição física do Estado de Israel !
Sempre faço uma pergunta a essa gente e não encontro respostas!
Quais são os planos que vocês têm para aniquilar e exterminar os 7 milhões de judeus e judias que vivem em Israel?
Essa seita, que se define como esquerda, caminha como gado atrás da bandeira da morte do extremismo islâmico e os aplaudem!!
Loucura ou delírio imaginar que isso se considera esquerda!
O que pensaria esses 2 judeus - Karl Marx e Moshe Hess - sobre esse pacto diabólico entre o Fundamentalismo Islâmico e essas seitas que se definem com esquerda?
Como podem se definir como esquerda, aceitar e apoiar o genocídio de civis israelenses entre os milhares, de inocentes idosos, crianças e bebês?
Genocídio é genocídio. Não existe genocídio bom e genocídio mau!
O que passou com a população civil em Israel é sim um genocídio sanguinário, onde esses covardes raptaram crianças, bebês, famílias inteiras, estupraram mulheres e meninas, decapitaram cabeças de crianças, queimaram famílias inteiras, ainda vivas.
Que tipo de covardes sanguinários são esses que se dizem "guerreiros de Alá"? Que assassinam inocentes civis, em nome da libertação da Palestina?
Que crença é essa que justifica genocídio e sangue em nome de Alá?
É inaceitável qualquer tipo de violência sanguinária à inocentes. Isso é uma regra para quem é um verdadeiro socialista Humanista! E isso, independente de que lado esteja!
Esse grupo palestino chamado Hamas é parte do estado islâmico, cujos membros são o maior perigo para a própria causa Palestina!
Vejam como assassinaram de forma sangrenta as lideranças da OLP (Organização de Libertação da Palestina) em Gaza, quando tomaram a força o poder há 17 anos.
Vejam se existem sinagogas, igrejas, templos e outras religiões em Gaza?
Vejam se existe em Gaza algum partido político, seja de esquerda ou de direita?
Vejam se eles investem seus recursos para o desenvolvimento e bem-estar de seu próprio povo?
Para quem quiser saber é simples: procure ler o que está escrito na plataforma da Hamas (estado islâmico).
Está escrito, em letras maiúsculas, que o seu grande objetivo não é somente exterminar dos 7 milhões de judeus que vivem em Israel. É também aniquilar os outros 8 milhões de judeus que vivem no mundo. Eles nem tem interesse em ter sua Palestina.
O seu grande e maior objetivo é transformar o mundo todo num estado islâmico!
Essa é verdadeira ideologia do Hamas e do estado islâmico. Para eles somente assim poderá haver a paz mundial. O mundo todo islâmico.
Existe hoje no Brasil uma seita que se define como esquerda. Ela é antissemita e, o pior, se transformou em massa de manobra da ideologia fundamentalista islâmica.
Não sei se vocês sabem ou não, mas no momento certo todos, independente de suas ideologias, seja socialista, comunista, liberal, social-democrata, não terão mais o direito de existir!
Não haverá no mundo outra religião, crença ou espiritualidade ou ideologias, a não ser o islamismo fundamentalista radical.
Vocês ativistas da seita, que se define com esquerda, estão cegos, adormecidos. Esses fundamentalistas sanguinários estão rindo de seus discursos e de suas análises de conjuntura.
Vocês são para eles nada mais que uma massa de manobra (gado), que no momento certo suas vidas e suas ideologias também serão descartadas de sua existência!
E terão sim o mesmo destino dos judeus e judias, que foram assassinados e aplaudidos por vocês!
O Hamas faz parte de uma luta muito maior do que a luta pela Palestina, pois sua teologia somente tem uma única e verdadeira causa, que é transformar o mundo num grande estado islâmico!
Se vocês não conseguirem entender isso hoje, tenho certeza de que vão entender mais tarde!
Mas não haverá mais tempo de se lamentar, pois não poderão ter mais o direito de existir!
Acordem antes que seja tarde!
Saiba mais…

Diário de Guerra 1 – A Volta Jayme Fucs Bar

Diário de Guerra 1 – A Volta
Jayme Fucs Bar
No momento em que estourou a guerra em Israel, eu estava a trabalho em Portugal. Seguindo o instinto israelense, que é sempre muito claro nessas ocasiões, decidi voltar a Israel de forma imediata. E aí começou a corrida para conseguir lugar num voo da El Al, a única companhia disponível e com experiência em lidar com esse tipo de desafio.
Muitos outros israelenses fizeram a mesma coisa. Por isso, foi difícil encontrar um lugar, mas por fim consegui. Meu pensamento era estar em Israel o mais rápido possível, pois um de meus filhos foi convocado para atuar na linha de frente no norte de Israel. Assim como ele, milhares de israelenses estão lutando por nossa existência. Chego a Israel com um único objetivo: proteger meus 4 netos e apoiar minha nora neste momento difícil.
No aeroporto em Lisboa, me senti meio desorientado com a passagem brusca de uma realidade a outra. Da paz e do sossego em Portugal para um clima de guerra, uma guerra sangrenta causada por um grupo de terroristas islâmicos, cujo único intuito é nos exterminar, e não defender a Palestina.
Um jovem oficial me atendeu na seção de controle de passaporte e, com meu passaporte nas mãos, verificou que sou israelense, nascido no Brasil, me questionou: "Estás a voltar a Israel para a guerra?"
Expliquei a ele que adoro Portugal, mas voltar a Israel era uma necessidade vital neste momento de sobrevivência do nosso povo.
Ele mexeu com a cabeça aprovando minhas palavras e disse: “Entendo perfeitamente, eu estive na guerra no Afeganistão e ninguém aqui sabe o que é uma guerra contra o fundamentalismo islâmico radical.”
E continuou: “Esta não é uma luta pessoal de vocês israelenses. Admiro vosso povo, pois sei o que muitos não sabem, que vocês não estão lutando somente por vocês, mas por cada um de nós aqui na Europa e todo o mundo livre.”
Fiquei surpreso com a afirmação do oficial no balcão, que naquele momento deixou os outros viajantes de lado na fila. O rapaz carimbou meu passaporte e reafirmou “Vai, irmão, que Deus te proteja e todo seu nobre povo. Poucos sabem o que vocês estão enfrentando e fazendo por todos nós.”
Nem preciso dizer que saí dali muito emocionado.
Como era de se esperar, por questão de segurança, o avião não saiu no horário marcado. No vôo, todos sem exceção eram israelenses. Parecia que estávamos em casa; as formalidades comuns em voos normais não existiam.
Sentei-me ao lado de duas jovens que estavam aflitas para chegar, tinham familiares que haviam sido raptados pelo Hamas. Quando o avião pousou no aeroporto Ben Gurion, foram muitos os aplausos e gritos de Am Israel Hay Vêkaiam (O povo de Israel vive e existe).
Todo o processo de saída do aeroporto praticamente vazio foi muito rápido. Lá fora, jornalistas entrevistavam os jovens que chegavam para se engajar nas fileiras do exército de Israel, abandonando seus passeios e aventuras.
Yosique, que vive no meu kibbutz, foi me buscar. No caminho para casa, ele contou como estamos organizados no kibbutz para qualquer tipo de enfrentamento. Cheguei cansado, fui dormir um pouco e me preparar para encontrar minha nora e meus netos.
Ao chegar a casa deles, ouvi a única palavra em português que eles nunca esquecem: VOVÔ!
Abraços e beijos de felicidade e carinho. Sinto que cumpri minha a missão, que é ficar aqui com meus netos e principalmente procurar dar total segurança ao meu filho que está nessa guerra lutando por nós.
Quero que ele saiba que seus filhos estarão protegidos por mim e por nossa comunidade, custe o que custar.
Saiba mais…

Diário de Guerra 1 – A Volta Jayme Fucs Bar

Diário de Guerra 1 – A Volta
Jayme Fucs Bar
No momento em que estourou a guerra em Israel, eu estava a trabalho em Portugal. Seguindo o instinto israelense, que é sempre muito claro nessas ocasiões, decidi voltar a Israel de forma imediata. E aí começou a corrida para conseguir lugar num voo da El Al, a única companhia disponível e com experiência em lidar com esse tipo de desafio.
Muitos outros israelenses fizeram a mesma coisa. Por isso, foi difícil encontrar um lugar, mas por fim consegui. Meu pensamento era estar em Israel o mais rápido possível, pois um de meus filhos foi convocado para atuar na linha de frente no norte de Israel. Assim como ele, milhares de israelenses estão lutando por nossa existência. Chego a Israel com um único objetivo: proteger meus 4 netos e apoiar minha nora neste momento difícil.
No aeroporto em Lisboa, me senti meio desorientado com a passagem brusca de uma realidade a outra. Da paz e do sossego em Portugal para um clima de guerra, uma guerra sangrenta causada por um grupo de terroristas islâmicos, cujo único intuito é nos exterminar, e não defender a Palestina.
Um jovem oficial me atendeu na seção de controle de passaporte e, com meu passaporte nas mãos, verificou que sou israelense, nascido no Brasil, me questionou: "Estás a voltar a Israel para a guerra?"
Expliquei a ele que adoro Portugal, mas voltar a Israel era uma necessidade vital neste momento de sobrevivência do nosso povo.
Ele mexeu com a cabeça aprovando minhas palavras e disse: “Entendo perfeitamente, eu estive na guerra no Afeganistão e ninguém aqui sabe o que é uma guerra contra o fundamentalismo islâmico radical.”
E continuou: “Esta não é uma luta pessoal de vocês israelenses. Admiro vosso povo, pois sei o que muitos não sabem, que vocês não estão lutando somente por vocês, mas por cada um de nós aqui na Europa e todo o mundo livre.”
Fiquei surpreso com a afirmação do oficial no balcão, que naquele momento deixou os outros viajantes de lado na fila. O rapaz carimbou meu passaporte e reafirmou “Vai, irmão, que Deus te proteja e todo seu nobre povo. Poucos sabem o que vocês estão enfrentando e fazendo por todos nós.”
Nem preciso dizer que saí dali muito emocionado.
Como era de se esperar, por questão de segurança, o avião não saiu no horário marcado. No vôo, todos sem exceção eram israelenses. Parecia que estávamos em casa; as formalidades comuns em voos normais não existiam.
Sentei-me ao lado de duas jovens que estavam aflitas para chegar, tinham familiares que haviam sido raptados pelo Hamas. Quando o avião pousou no aeroporto Ben Gurion, foram muitos os aplausos e gritos de Am Israel Hay Vêkaiam (O povo de Israel vive e existe).
Todo o processo de saída do aeroporto praticamente vazio foi muito rápido. Lá fora, jornalistas entrevistavam os jovens que chegavam para se engajar nas fileiras do exército de Israel, abandonando seus passeios e aventuras.
Yosique, que vive no meu kibbutz, foi me buscar. No caminho para casa, ele contou como estamos organizados no kibbutz para qualquer tipo de enfrentamento. Cheguei cansado, fui dormir um pouco e me preparar para encontrar minha nora e meus netos.
Ao chegar a casa deles, ouvi a única palavra em português que eles nunca esquecem: VOVÔ!
Abraços e beijos de felicidade e carinho. Sinto que cumpri minha a missão, que é ficar aqui com meus netos e principalmente procurar dar total segurança ao meu filho que está nessa guerra lutando por nós.
Quero que ele saiba que seus filhos estarão protegidos por mim e por nossa comunidade, custe o que custar.
Saiba mais…

 Martin Buber e a Nostalgia de um Mundo Novo - Newton Aquiles von Zubene, cada uma a seu modo, serviu de testemunho à outra. As diversas facetas desta obra revelam a cada passo o vínculo entre o compromisso e o desempenho do pensamento e da ação. Cada empreendimento, cada ação realizada nos mais variados campos, político, religioso e o educacional enriqueceram seu pensamento; cada nova retomada de sua reflexão encontrou expressão em alguma atividade social, cultural ou política. Em suma, como poucos, Martin Buber conseguiu unir de modo singular, a reflexão e a existência concreta. A fonte de seu pensamento foi sua vida e esta a manifestação histórica de suas convicções. Este pensamento com seu testemunho e sua mensagem significa ainda ao pensamento filosófico propriamente dito, rica seara daquilo que hoje chamamos experiências não filosóficas, seara sem a qual a Filosofia poderia ser pensamento adequado mas que nada teria a dizer. Seus engajamentos em causas políticas, às vezes polêmicas, refletiam a convicção de que ainda é possível, em tempos críticos, esperar no humano, na capacidade do homem em buscar o caminho para além de todos os sistemas, doutrinas, dogmas e ideologias. Que Martin Buber fale sobre a mística alemã ou sobre o Hassidismo e suas origens, sobre a obra de arte, sobre o Judaísmo e seu sentido no mundo atual, sobre as exigências do espírito na hora presente, sobre o Homem, a religião, a Bíblia, a política, a violência e pacifismo, sobre as comunidades primitivas, as experiências comunitárias no Kiboutz, o Sionismo, a linguagem, educação ou psicoterapia, há sem dúvida uma linha que permeia todos estes temas, circunstanciais ou não, e que conduz à sua intuição central: o diálogo. Qual a gênese desta intuição? Buber mesmo no-la contou: "A casa onde moravam meus avós tinha um grande átrio com um balcão de madeira em sua volta em cada andar. Vejo-me ainda, quando não havia completado 4 anos, em pé junto aquele balcão, na companhia de uma menina alguns anos mais velha que eu que, a pedido de minha avó, tomava conta de mim. Nós dois estávamos apoiados na balaustrada. Não me lembro de ter falado de minha mãe com minha companheira. No entanto, ouço-a ainda, me falar: "Não, ela não voltará jamais". Lembro-me ter permanecida em silêncio e também não tive dúvida sobre a veracidade daquelas palavras. Elas calaram profundamente em mim, a cada ano que passava sempre mais profundamente; e aproximadamente dez anos mais tarde comecei a perceber que ela não dizia respeito somente a minha pessoa, mas a todo ser humano. Mais tarde a palavra "desencontro" (Vergegnung) que havia cunhado para mim, significou a falha de um encontro entre dois seres. E, quando 20 anos mais tarde revi minha mãe que tinha vindo de longe para visitar a mim, minha mulher e meus filhos, não pude fixar seus olhos, sempre surpreendentemente belos, sem ouvir ressoar em meus ouvidos esta palavra "desencontro" como endereçado a mim. Creio que tudo o que, em seguida eu aprendi a conhecer sobre o autêntico encontro, teve sua origem naquele instante, lá em cima naquele balcão" (Autobiografia: Minha mãe). Qualquer comentário sobre testemunho tão vigoroso e denso viria ofuscar o brilho de sua clareza. No entanto podemos entender, à luz deste testemunho, que o longo caminho trilhado, em seguida, por Buber em direção ao autêntico encontro reflete uma marcha sem esperança à procura da mãe. 1- Um homem atípico Martin Buber tem exercido, através de sua obra, notável influência em vários campos do saber. Identificar esta obra com um destes ramos seria, sem dúvida, trair o verdadeiro sentido de seu pensamento. O próprio Buber se denominou um homem "atípico". O essencial não era construir um sistema, uma doutrina. Sua maior preocupação foi manter uma "conversação autêntica" com seu leitor ou ouvinte, tratar com ele de coisas comuns da vida cotidiana, levá-lo a descobrir as exigências de cada momento e enfrentar a realidade que o cerca. "0 indivíduo não terá rompido, diz Buber, sua solidão senão quando reconhecer no outro, com toda sua alteridade, como si mesmo, como Homem; senão quando adiantar-se em direção ao outro num encontro grave e transformador. É evidente que tal processo não poderá surgir senão de um abalo e de um brusco despertar da pessoa enquanto pessoa." (O problema do Homem, p. 162, trad. franc.) Buber jamais pretendeu legar-nos uma doutrina, um sistema. "Tomo alguém pela mão e o conduzo até a janela. Abro-a e aponto para fora. Não tenho ensinamento algum, mas conduzo um diálogo". (Autobiografia) Buber é atípico exatamente porque recusa apresentar uma doutrina estruturada, formal. Ele entende sua missão como a tarefa de abrir os olhos e as almas dos homens de sua época à realidade viva na qual devem tecer sua existência. Seus escritos nem sempre obedeceram planos preconcebidos. Aconteciam à medida que as questões cruciais lhe defrontavam e exigiam sua "palavra". A obra de Buber, na amplitude de suas facetas, contribui valiosamente para o conhecimento do homem e da sociedade contemporânea. Segundo ele, o homem, há décadas, vem assistindo impotente a prepotência do princípio político, (a supremacia avassaladora do Estado) sobre o princípio social e ético. Neste estado de coisas este homem, - cada um de nós, concretamente - sente ameaçadas sua autonomia e as possibilidades de auto-afirmação de sua liberdade. Esta época se pautou pela ideologia do progresso, acreditou demasiadamente nas possibilidades pretensamente ilimitadas da razão, da ciência e da técnica. No entanto, este homem já percebeu a falácia destas pretensões. Ele se sente abalado, uma vez que lhe foi inculcado que o mundo sem a ciência é inseguro. "Durante sua passagem pelo caminho terreno, o homem foi aumentando em ritmo crescente o que se costuma denominar de seu poder sobre a natureza, e conduzir, de triunfo em triunfo, o que se deliberou denominar de a criação de seu espírito. Entretanto, enquanto passava por crise após crise começou a sentir, cada vez mais profundamente, a fragilidade de sua grandeza e, em horas de clarividência, conseguiu entender que, apesar de tudo o que se costuma chamar de progresso da humanidade, não caminha absolutamente por uma estrada aplanada, mas é obrigada a trilhar, pé ante pé, uma estreita cumeada entre abismo. Quanto mais grave for a crise, tanto mais sério e consciente da responsabilidade é o conhecimento que de nós se exige pois, embora o importante seja o feito, somente o feito esclarecido no conhecimento contribuirá para superar a crise". (O Socialismo utópico, p. 174). O homem se sente, de certo modo, aliviado do jugo da ciência e livre para, finalmente, reencontrar a vida prosaica de seus sentimentos, suas emoções de seu desejo. Este homem já percebeu a insuficiência da linguagem científica na interpretação das dimensões fundamentais da existência humana. Ele está consciente de que, nas palavras de Buber, "não se pode viver sem o Isso, mas quem vive só com o Isso não é homem". Da vasta obra buberiana o público já conhece, em tradução portuguesa, "Histórias do Rabi", "0 Socialismo Utópico" (publicados por iniciativa da Editora Perspectiva), "Eu e Tu", (publicado por Cortez &Moraes). Agora temos conhecimento da última publicação de "Do dialogo e do dialógico", em tradução elaborada com segurança e precisão pelas Sras. Marta de Souza Queiroz e Regina Weinberg de cuja amizade me orgulho desfrutar. Esta edição reúne três ensaios: Diálogo (Zwiesprache de 1932 ), A questão que se coloca ao indivíduo (Die Frage an den Einzelnen de 1936) e Elementos do inter-humano (Elemente des Zwischenmenschliche de 1954). Estes ensaios explicitam a intuição fundamental de EU e TU, da primazia da relação, do diálogo como fundamento da existência humana. O tema do diálogo não é novo. Curiosamente hoje está na moda propor o diálogo como panacéia para todos os males que afligem o homem e a sociedade. E mais, neste movimento, poucos reconhecem ou então, a maioria dos estudiosos das assim denominadas Ciências Humanas e da Filosofia ignora a contribuição segura e original de Martin Buber. O uso abusivo deste conceito gerou uma sobrecarga semântica. Além de empobrecê-lo em seu sentido autêntico, provocou seu descrédito etiquetando-o como mera categoria de um pretenso humanismo piegas e anacrônico, ou então, definindo-o como simples processo a ser estudado pela teoria da comunicação ou pela psicologia. A proposta buberiana para uma existência dialógica fundada sobre a relação inter-humana é "atípica" na medida em que é provocadora em sua simplicidade. Nada mais simples, na verdade, conceber o homem como ser de relações. Porém, a originalidade de Buber reside na maneira pela qual ele dispõe tal concepção no conjunto de sua obra: a relação inter-humana, a diálogo, foi o elemento propulsor e catalisador de toda a sua concepção de homem, de sociedade, de política, educação, religião, terapia, etc.. Ela é provocadora porque foi forjada, como vimos, no âmago da amarga experiência vivida de "desencontro". Não é um construtor antropológico ou psicológico para explicar a interação dos indivíduos em sociedade, ou seu processo de comunicação. É provocadora pois foi também moldada e posta à prova em circunstâncias existenciais concretas, tanto a nível individual quanto a nível comunitário. (Note-se sua clássica descrição das experiências de vida nos Kiboutz, como a forma mais adequada de existência dial6gica socialista, socialista porque comunitária). Buber, além disso, levou até as últimas conseqüências as exigências da existência e do princípio dialógico no sentido de um mundo melhor para o indivíduo e para a sociedade. Como exemplo, dentre dezenas de outros, registram-se suas reflexões em torno da idéia de Sion. Esta idéia de Sion, segundo ele, encerra três elementos: primeiramente, do vínculo renovado do povo e da terra deve necessariamente nascer "uma sociedade melhor", não só no sentido de instituições melhores nas melhores relações de um indivíduo com, outro e de uma comunidade com outra. Em segundo lugar não se trata de criar uma criatura -- o Estado-- a mais, mas sim de participar enquanto povo independente à obra de desenvolvimento de todo o Oriente-Médio. Assim, o Estado de Israel, não pode ser concebido como uma célula ensimesmada. E finalmente não se atinge, segundo Buber, a meta proposta senão graças a uma aliança entre os povos instaurando uma humanidade verdadeira que tenha a audácia de instaurar relações de reciprocidade entre os povos ao mesmo tempo sobre a liberdade e sobre a eqüidade. Pode-se perceber aqui, ao nível de nações, o eco da existência dialógica ao nível dos indivíduos Note-se o vigor de tal proposta para o estabelecimento de um Estado binacional onde coexistiriam judeus e árabes em liberdade e eqüidade. Parece que a história, os fatos se sucederam e se estabeleceram de modo a contradizer a proposta-visão de Buber. Em segundo lugar a concepção buberiana do diálogo é "atípica" porque se recusa a tratá-lo como simples processo psicológico ou mero meio de comunicação. Buber situa a análise do "princípio dialógico" ou antes da existência dialógica no âmbito mais amplo do questionamento sobre a existência humana. Mais significativa e mais importante que uma reflexão sistemática é a meditação sobre a experiência concreta -a Erlebnis. Por ser um homem de ação--sua biografia o mostra claramente-Buber apela ao plano especulativo não para fugir do turbilhão dos fatos, da história vivida, ao contrário, ele confia na idéia como orientadora da ação. Mas isso justamente porque a idéia surgiu de uma vivência concreta. Situar o estudo da relação - do diálogo - no âmbito de uma Antropologia Filosófica é, não s6, importante como é indispensável. Para Buber, isso é claro, como se pode ler no início de seu "0 Problema do Homem": "a nova tarefa que se nos apresenta, a saber, a instauração de uma nova dimensão do homem -a dimensão dial6gica - que produzirá um mundo novo não poderia ser realizada sem que se interrogasse de antemão sobre o ser sem o qual tal realização seria impossível: o homem". - O questionamento sobre si mesmo é mais do que um simples exercício intelectual é um ato vital (Lebensakt) ande está em jogo a pr6pria existência humana. Trata-se antes de uma tarefa de ordem ética. (Cf. meu estudo "Eclipse do humano e a força da palavra: Martin Buber e a questão antropológica", p. 108 e seguintes, em "Reflexão", vol.13 - jan/abril 1979). Em terceiro lugar a concepção de Buber sobre o diálogo é atípica porque são raros, na história do pensamento humano, exemplos da influência marcante de uma intuição emanada da existência concreta sobre a característica do pensamento do pr6prio autor. Raras vezes uma intuição, uma experiência marcaram tão profundamente todo o pensamento de um autor como o "diálogo" marcou Martin Buber. A relação, o diálogo representa no pensamento de Buber a chave da transposição da tensão dialética "conforto intelectual-insatisfação constante", tensão esta que sobreveio na adolescência e que o acompanhou em toda a sua vida. Buber nos relata a experiência de estar em uma, estreita aresta" entre abismos. Com isso queria exprimir que ele se colocava não sobre um plano alto e amplo a respeito do absoluto, mas sobre o cume de um rochedo entre abismos, onde não há certeza alguma de ciência enunciável, mas onde se tem certeza de encontrar aquilo que permanece velado" (Le problème de l'homme pp. 131 - 132). Em sua Autobiografia, Buber nos relata como vivenciou pela primeira vez esta tensão de contrários: "A filosofia irrompeu em minha existência - na idade de l6 a 17 anos sob a forma de dois livros". Para ele foi uma irrupção "catastrófica" na medida em que veio quebrar o caráter de continuidade de sua formação filosófica desenvolvida à luz da leitura de Platão. Casualmente encontrou a obra "Prolegômenos a toda metafísica futura" de Kant. A sua leitura veio aliviá-lo da angústia que lhe causava a idéia de tempo - finito-infinito. As teses kantianas sobre o espaço e o tempo consideradas "condições a priori da percepção" exerceram influência altamente apaziguadora sobre o espírito atormentado do adolescente de l6 anos. Por outro lado, aos 17 anos Buber encontrou "Assim falava Zaratustra" de Nietzsche. Este livro "apoderou-se de mim... não agiu sobre mim como um dom benéfico mas como uma agressão da qual fui vítima... que me tirou a liberdade a qual só consegui recuperar após longo tempo".(Autobiografia). As duas obras trouxeram para Buber a primeira experiência da, ,estreita aresta", da tensão entre a segurança e a insegurança, o conforto intelectual e a busca constante. Isso se reflete em várias obras de Buber onde ele coloca, em tensão, conceitos que se opõe. Esta tensão de contrários se reflete também na concepção buberiana da "linha divisora". Esta linha deve nortear a adequação dos princípios abstratos a uma situação concreta. Assim sempre que o indivíduo se defronta com um problema de escolha que exige a aplicação de uma norma ética, deve traçar uma linha divisória, ou de demarcação, entre a norma que é necessariamente absoluta e invariável de um lado, e a possibilidade sempre limitada da aplicação desta norma do nível concreto das situações contingentes e mutáveis. A cada situação deve-se determinar uma linha, o que implica que ao indivíduo cabe reavaliar constantemente os dados da situação. Em face da norma estável cujo caráter absoluto e invariância são a garantia da verdade, os limites impostos pela situação, aqui e agora, devem ser levados em consideração. A máxima buberiana poderia ser resumida assim: "em quaisquer situações em que devemos agir, a linha de conduta permanece a linha divisora entre o mínimo de mal e o máximo de bem que somos levados a fazer para que possamos viver condignamente". Sem dúvida tal máxima esteve presente no espírito de Buber quando de sua notável resposta à carta de Gandhi. Em suma, Buber foi um homem atípico. Talvez, por isso, o mundo atual o desconheça ou até creio eu, a civilização, aqueles que atualmente se dizem pertencer a esta civilização tenham receio de se comprometer com um pensamento e com reflexões cujas exigências obrigam a tão grande risco, tanto a nível ético quanto a nível social e político. Ou, quem sabe, o homem atual se sente ofuscado em seu acanhamento diante da lucidez de tão límpido e vigoroso pensamento. Ou ainda, a muitos não é dado sentir nostalgia de um mundo novo. 2. O sentido da existência dialógica "Do Diálogo e do dialógico" é uma explicitaçâo da intuição central de Eu e Tu. "Diálogo"( o primeiro ensaio do volume), segundo Buber pretende esclarecer e ilustrar o princípio dialógico. O estilo já é diferente daquele de Eu e Tu - de 1923. "A questão que se coloca ao Indivíduo" (segundo ensaio) desenvolve rigorosa crítica à concepção de "indivíduo" apresentada por Kierkegaard. Tal crítica com inferências políticas engloba um ataque às bases vitais do totalitarismo. Sua publicação na Alemanha Nazista em 1936, causou espanto e surpresa para o pr6prio Buber. A publicação sem reservas se deveu ao fato de as autoridades não o haverem compreendido, disse Buber. Com "Diálogo", o texto "Elementos do lnter-Humano"(terceiro ensaio) é um dos mais importantes ensaios de aplicação da filosofia do diálogo. Partindo da distinção entre "social" e "inter-humano" Buber analisa os problemas concretos que atingem as relações humanas. O autor distingue relação inter-humana e relações sociais. Estas não implicam relação existencial de pessoa a pessoa. Na relação inter-humana o mais "importante é que, para cada um dos dois homens, o outro aconteça como este outro determinado; que cada um dos dois se torne consciente do outro de tal forma que precisamente por isso assuma para com ele um comportamento, que não o considere e não o trate como seu objeto mas como seu parceiro num acontecimento de vida" (p. 137 - 138). Buber aponta três principais problemas para a realização do diálogo, do inter-humano. O primeiro é a dualidade de ser e parecer. O diálogo não acontece se aqueles que estão envolvidos nele são simples, ,aparência", isto é, se estão preocupados com sua imagem, com o modo pelo qual desejam encontrar o outro. Os parceiros do diálogo devem "ser", vale dizer, apresentar-se sem reservas, como realmente é. O segundo problema diz respeito ao modo pelo qual percebemos os outros. Para Buber perceber o outro é tomar dele um conhecimento íntimo, diferente da observação analítica e redutora que transforma o outro em simples objeto. Tal percepção, tal conhecimento íntimo significa também para Buber, "tornar o outro presente". O terceiro problema que dificulta a realização do diálogo é a tendência de "imposição", à qual Buber contrapõe a "abertura". Um modo de afetar uma pessoa é impor-se a ela. Outro tipo de ação é "encontrar também na alma do outro, como nela instalado e incentivar aquilo que em si mesmo ele reconheceu como certo" (p. 150). Para Buber exemplo de imposição é a propaganda e de abertura a educação. Buscar o sentido do "dialogo" implica sem dúvida em conhecer com precisão os principais momentos de Eu e Tu esteio para toda a obra dialógica de Buber. Nesta obra, toda ela envolta na afirmação central: "no princípio é a relação", se esteia a "metafísica da amizade" que serviu de base para sua controvertida e mal interpretada proposta de conciliação entre os nacionalismos judeu e árabe e a conseqüente convivência destes dois povos em um estado bi-nacional. Eu e Tu encerra além disso o arrimo e o arcabouço para as reflexões sobre uma nova concepção de comunidade como forma mais autêntica de vivência entre os homens. A idéia de diálogo é o fruto amadurecido de sua intensa convivência com o Hassidismo que se encontra na gênese de seu pensamento corno uma das mais fortes influências. Como entender a "existência dialógica", o ritmo constante de atitudes EU-TU alternadas com atitudes EU-ISSO? Buber parte de um postulado que podemos chamar "situação cotidiana" significando com isso que cada homem se defronta com o mundo estabelecendo assim um vínculo de correlação que irá caracterizar seu pr6prio modo de ser. O homem é um ser de relações. As múltiplas relações de que o homem é capaz se resumem basicamente a duas definidas pelas duas "palavras-princípio" (Grundwort) que o homem "pronuncia". Tais palavras instgauram "relações". Buber as denominou: EU-TU e EU-ISSO. Não existe EU isolado, mas somente o EU de uma ou de outra palavra-princípio. A situação cotidiana nada mais é do que a relação que vincula o homem ao mundo, ao outro que ele mesmo, ao proferir, pela sua atitude, uma ou outra das duas palavras. No evento da relação, de um lado está o Eu em sua abertura essencial e, de outro, a doação imediata do ser. As duas palavras-princípio definem duas atitudes do homem face ao mundo, ao outro. São na realidade dois princípios da existência humana. Buber os denomina princípio monológico, referente ao mundo do Isso e princípio dialógico referente ao mundo do Tu. De todas as esferas onde se realizam tais relações, a esfera do inter-humano é a mais genuína. Esta relação entre humanos se manifestou como uma convergência que implica presença e participação mútuas. A ação que a se desenvolve é recíproca. A participação conjunta resguarda a alteridade a individualidade dos participantes na relação. Embora a relação Eu-Tu não se reduza à esfera do humano é nesta que a reciprocidade das ações atinge o grau mais elevado. Na relação dialógica a palavra da invocação recebe a resposta. É neste face a face que o Eu e o Tu se presentificam. A presença aí passa a ser justamente o momento da reciprocidade. Esta presença recíproca é a garantia da alteridade preservada. Na atitude Eu-Tu não me relaciono com o outro através de qualquer meio, como a sua função social, mero papel que encobriria sua autêntica singularidade enquanto ser humano. É todo o ser que está presente. "Todo meio é obstáculo" afirma Buber. O Tu se dá na presença e não na representação de um Eu. A relação é uma ação imediata que acontece entre o Eu e o outro. Não há supremacia de um sobre o outro. O outro, quando é um Tu, não pode ser considerado como um objeto para minha observação, para meu uso. Se isso ocorrer já deixou de ser um Tu tornando-se um Isso, este sim objeto de meu uso, de minha experimentação. Há diversos modos de existir caracterizados pela atitude Eu-isso. Buber os resumiu a dois conceitos: experiência e utilização. A experiência e a utilização estabelecem na estrutura do relacionamento um contato unidirecional entre o Eu e o mundo que se torna um conjunto de objetos observáveis, manipuláveis pelo Eu. Buber identifica esta atitude com o sentido da ação dos verbos transitivos. A ação não se passa mais entre o Eu e o outro, mas no pr6prio Eu. Este mundo do Isso é na sua essência coerente e ordenado; é nele que o homem passa a maior parte de sua existência. É parte integrante da própria condição humana, do nosso "Lebenswelt". No entanto, o homem deve estar atento para não se deixar tomar totalmente por atitudes Eu-isso. O próprio Buber é bem claro ao afirmar que não se pode viver sem o Isso, mas aquele que vive só com o Isso não é homem. O homem deve estar sempre disponível e aberto ao encontro EU-TU. Buber opõe este caráter coerente, tranqüilizador, estável e seguro do mundo do Isso ao caráter incoerente, fugaz e inseguro e imprevisível do mundo do Tu. Na verdade o homem é sempre seduzido por esta segurança e este conforto proporcionados pelo mundo do Isso, onde, ao nível da coletividade, o indivíduo vê diminuída sua responsabilidade e conseqüentemente sua liberdade. De fato as suas ansiedades, incertezas e inquietações diminuem consideravelmente. Porém nem o indivíduo nem a sociedade podem participar da vida do espírito se permanecerem estranhos à dimensão do Eu-Tu, se não se tornarem disponíveis à invocação do Tu. Por diversas vezes Buber denunciou em seus escritos a presença marcante, no mundo atual, de tendências a-dialógicas ou até mesmo anti-dialógicas. Na realidade as grandes convulsões sociais e políticas que abalaram a humanidade neste século; a sublevação do princípio político sobre o princípio social, a supremacia do político sobre o ético presente nas relações entre o indivíduo e o Estado neste século ensejaram Buber a este diagnóstico um tanto pessimista. Em Eu e Tu há passagens notáveis sobre este tema. Apesar de tudo Martin Buber conservou sempre grande esperança no humano e alimentou grande otimismo em relação à aventura do homem sobre a terra. Ele sempre procurou encontrar uma qualidade diai6gica em cada indivíduo e em cada sociedade. "Toda grande civilização comum a vários povos repousa sobre um evento originário de encontro, sobre uma resposta ao Tu como aconteceu nas origens; ela se fundamenta sobre um ato essencial do Espírito. ("Eu e Tu"; p. 63). Na relação Eu-Tu o elemento constitutivo primordial é a palavra. O dialogo está assim no centro da relação. Palavra da proximidade pela proximidade, resposta que precede a questão, palavra de responsabilidade pelo outro, tornando possível pelo seu "para o outro" toda a beleza e a força de oferta. Palavra como aceno ao outro, um aperto de mio, uma saudação, dizer sem dito, mais importante pela sua interpelação que pela mensagem. Palavra entre; não palavra "sobre" ou palavra imperativa e dominante que perscruta o outro - já objeto - para extrair-lhe a alteridade; palavra com... o outro. Palavra pela qual saio de meu Eu em direção ao outro, palavra prenhe de reciprocidade que, ao ir em direção ao outro - Tu - faz com que me recupere e me instale numa terra, agora terra natal, terra prometida, como se o afastamento de si mesmo fizesse o homem reaproximar de seu ser, agora transformado, livre do peso de sua identidade solitária. Terra natal, verdadeira utopia que não implica mais uma mudança maldita mas que é a clareira onde o homem se revela. Esta palavra não se reduz a um conceito que tenta exprimir no piano abstrato algo que lhe é exterior. A relação inter-humana no diálogo não se reduz a uma conversa, um meio de comunicação entre dois indivíduos. O diálogo é uma ação recíproca entre dois seres concretos e bem determinados. O Eu não se relaciona com 'alguém', mas com um outro bem determinado. Esta ação recíproca encerra não só a afirmação ou a aceitação da alteridade do outro mas também a confirmação deste outro. A existência dialógica, tecida pela alternância de uma atitude e outra, ora Eu-Tu outra Eu-Isso, tem uma dupla raiz segundo Buber. Em seu artigo "Distância e Relação", Buber fala de dois movimentos que constituem o ser do homem: "distância originária" e "relação" (entrada em relação). Pelo primeiro movimento o homem se distancia do outro, torna-o independente, se coloca face a ele. É exatamente este "colocar-se face a" que caracteriza o homem enquanto homem. Pela distância o homem - Eu - reconhece a alteridade do outro. Pelo segundo movimento, entrar em relação" o Eu confirma o outro como outro. Esta presença e confirmação mútua ocorrem na esfera que Buber denominou ' entre". "A esfera do inter-humano é aquela do face-a-face, do um-ao-outro; é o seu desdobramento que chamamos de dialógico." (Do diálogo e do dialógico, P. 138). O "entre", conceito que Buber cunhou em 1905, e o desenvolveu em 38 em "0 Problema do Homem", não é uma construção auxiliar mas é o lugar, o suporte daquilo que se passa entre os homens. A originalidade de Buber está justamente em reconhecer no entre, como lugar existencial, densidade antológica ultrapassando assim as explicações e concepções psicologistas ou sociologistas das relações humanas. "Além do subjetivo aquém do objetivo, sobre a estreita aresta onde se encontram o Eu e o Tu estende-se o reino do 'entre"'. (Le problème de l'homme p. 167). Nos ensaios "Diálogo" e "Elementos do lnter-humano" encontramos descritas de forma clara esta esfera onde transcorre a existência dialógica, o diálogo, mola mestra do "nós" que fundará a verdadeira comunidade. Tanto o individualismo que deforma a face do homem quanto o coletivismo que a mascara devem ser superados. Esta superação se efetivará na comunidade fundada na ação recíproca "entre" os homens. "Eu, vejo elevar-se no horizonte, com a lentidão de todos os processos da verdadeira história humana, grande insatisfação que não se iguala à nenhuma até o momento. Não se insurgirá mais como até o momento, somente contra uma tendência dominante em nome de outras tendências, mas contra a falsa realização de um imenso esforço, o esforço em prol da comunidade, a gente se insurgirá em nome da autêntica realização". (Le problème de l'homme. pag.163). Para além das aparências e das falsidades inerentes ao mero "estar-ao-lado-do-outro", o inter-humano realizará o diálogo como arcabouço e alicerce do "nós essencial". "Esta realidade (o entre, o inter-humano) afirma Buber, cuja descoberta se produziu em nossa época, mostra o caminho, para além do individualismo e do coletivismo para a decisão vital (Lebensentscheidung) das futuras gerações. Aqui se manifesta o autêntico "terceiro" cujo conhecimento auxiliará a outorgar ao gênero humano a autêntica pessoa e a estabelecer a genuína comunidade". (Le problème de l'homme. p. 168). ConclusãoBuber foi utópico? Não é possível abordar esta questão de modo amplo e profundo no âmbito deste artigo. É útil, no entanto, indicar alguns pontos que possam situar sucintamente a posição do nosso autor. O próprio Buber não ignorava o fato de muitos de seus contemporâneos o terem classificado como "utópicas" as suas propostas tanto endereçadas ao plano individual, ao homem, quanto ao nível social e político, às sociedades contemporâneas. Ele próprio tratou explicitamente do assunto e firmou claramente sua posição, sobretudo em seu livro "0 socialismo utópico". No primeiro capítulo podemos ler: "Inicialmente, Marx e Engels davam o nome de utopistas àqueles cujas idéias precederam o desenvolvimento decisivo da indústria, do proletariado e da luta de classes, e os quais não poderiam, por isso, levar esses fatores em consideração. Posteriormente, esse conceito foi aplicado indistintamente a todos aqueles que, segundo Marx e Engels não queriam ou não podiam ou não podiam nem queriam levar em conta esses fatores"... "Em nossa época ser utopista significa não estar à altura do moderno desenvolvimento industrial" (pp. 14 - 15). E mais adiante citando uma manifestação sua durante um debate (em 1928) entre delegados socialistas procedentes de grupos religiosos, ele afirma: "Não se deve rotular de utópico aquilo em que ainda não pusemos nossa força à prova" (idem, pp. 15 - 16). Tal afirmação define claramente a posição de Buber. Aliás, toda conotação pejorativa que de hábito se emprestou à noção de utopia foi revista diante da monumental obra de Ernest Bloch que atribui um caráter sumamente positivo à utopia. Na verdade, a grande força de ruptura contra a ordem estabelecida e a elaboração de projetos institucionais para um futuro possível fizeram com que a utopia fosse contemplada com a mesma densidade atribuída à esperança compreendida como princípio da existência humana. A realidade que até o momento o século XX nos revelou, no piano político ou social, é tal que as relações entre os homens só puderam ser vistas e pensadas a partir da idéia de dominação, de coerção, ou mesmo repressão e violência. Note-se a afirmação de C. Wright Mills : "toda política é uma luta pelo poder e a última espécie de poder é a violência". Essa afirmação é de certo modo o eco da definição que Weber apresentou de estado como "o domínio de homens sobre homens baseado em uma violência legítima, isto é, uma violência alegadamente legítima" (Cfr. "A política como vocação"). Sem dúvida muitos receberam a mensagem buberiana com estranheza e talvez até com ceticismo uma vez que o ponto central de sua proposta era algo totalmente oposto à dominação à coerção, à violência. Buber propôs o entendimento entre os homens baseado em reiaç5es de eqüidade, liberdade e respeito mútuo, tanto a nível individual quanto a nível político. A incerteza, no cume da "estreita aresta", a insatisfação constante diante do estado atual das coisas, levaram Buber a almejar sempre para a humanidade, para cada indivíduo, através da Umkehr - da conversão - a comunidade autêntica, fundada em novas relações inter-humanas. Buber não alimentava certezas, mas esperança, esperança que é a trama de toda ação transformadora do Mundo. Deve-se evitar denunciar como utópicos aquele pensador ou aquela idéia em desacordo com normas de uma realidade ou de um quadro de idéias impostas como absolutas em determinada época ou lugar. Pode ocorrer hoje, como afirma Buber, que "possam existir homens, conhecidos ou desconhecidos, que estejam antecipando verdades cuja exatidão será verificada pela ciência do futuro; ou, que a "ciência" atual -ou melhor, uma tendência científica que se identifica com a ciência em geral, como não raras vezes sucede - esteja simplesmente decidida a considerá-las inexatas, como já o fez, a seu tempo, com os "fundadores do socialismo".(O Socialismo Utópico, p. 15). Aliás não deixa de ser esclarecedora para esta questão a proposta de Buber da "linha divisora", aludida acima. Para Buber, a finalidade desta linha demarcatória era justamente estabelecer a tensão adequada, em uma dada situação, entre o que é desejável de modo absoluto mas irrealizável na prática (utópico no sentido vulgar) de um lado, e, a possibilidade efetiva de realização do desejo, possibilidade que se aproxima ao máximo do ideal almejado. Assim não se suprime pura e simplesmente a utopia. Ao contrário, ela é conservada, transformada em esperança, como elemento constitutivo da ação de cada indivíduo, através da linha divisora cuja delimitação cabe a cada um na concretude de sua situação. O homem não deve deixar-se engolfar no atual estado de coisas. Buber denunciou sem cessar o estado em que se encontram o homem e a sociedade. Buber não se cansou de mostrar ao homem a direção para a descoberta de forças de transgressão deste estado para um novo modo de convivência entre os homens e entre as sociedades. "0 que aqui predomina é o anseio pelo que é justo, anseio que se experimenta na visão religiosa ou filosófica como revelação ou idéia e que, por sua essência não pode se realizar no indivíduo mas somente na comunidade humana" (O socialismo Utópico, p. 187). A busca constante de um mundo renovado preocupou Buber desde a época de sua amizade com Gustav Landauer que exerceu grande influência no desenvolvimento posterior de seu pensamento. Não se trata, Buber cita Landauer, de criar medidas de segurança definitivas para um reino milenar ou, para toda a eternidade, mas de criar um grande equilíbrio geral e a vontade de restabelecer, periodicamente, esse equilíbrio. A rebelião como regime, a transformação e reorganização como norma constante, a ordem através do espírito como propósito; essa era a grandeza e a sociabilidade da sociedade organizada por Moisés. É disso que necessitamos novamente: de uma nova regulamentação e de uma revolução através do espírito, que não fixe, definitivamente, as coisas e as instituições, mas que se declare, a si mesma, como permanente" (O Socialismo Utópico, p. 76). A utopia para Buber se funda na fidelidade ao espírito. Buber foi fiel ao espírito assim como os profetas o foram. Em um de seus mais notáveis e sugestivos textos "Exigências do espírito e a realidade histórica", ele estabelece um paralelismo entre Platão e lsaías, o profeta, fiel ao espírito que não é portador de uma idéia mas encarregado de uma mensagem. Não cabe ao profeta fundar uma instituição; ele tem uma só proclamação a proferir, proclamação de críticas e exigências. O profeta, segundo Buber, não é portador de uma verdade abstrata inscrita no céu das idéias. Ele não propôs aos homens, como o fez Platão, um ideal de perfeição absoluta, ideal igualmente válido para todos, em qualquer tempo e lugar, ideal utópico por ser "pan-tópico". Assim uma solução política, por exemplo, elaborada no abstrato com a pretensão de ser válida em todo tempo e lugar corre sério risco em não poder ser aplicada em lugar algum. Ao passo que uma proposta de encaminhamento à uma questão política elaborada para ser aplicada em um lugar e em um momento determinado, que tenha sucesso ou não nas circunstâncias para as quais ela foi elaborada, poderá conservar seu valor em outras épocas e lugares. A utopia é em Buber a expressão de uma fé profunda cujas raízes conduzem à Bíblia. Fé, utopia e esperança reúnem-se convergindo para o Tu Eterno, esteio para a esperança do homem. "A única coisa que pode vir a ser fatal ao homem é crer na fatalidade, pois esta crença impede o movimento da conversão" (Eu e Tu, p. 67). Conversão como retorno e não como arrependimento. "0 retorno, diz Buber, é um acontecimento tão pouco 'psíquico' como o nascimento e a morte do homem; sobrevem à pessoa inteira, é realizado pela pessoa inteira, e não ocorre na relação do homem consigo mesmo, mas na simples realidade da reciprocidade primordial". O retorno é a maior forma de "principiar". A conversão( Umkher) não é, continua Buber, o retorno a um estado anterior "sem pecado", mas é uma reviravolta do ser. Conversão para a disponibilidade ao diálogo, ao inter-humano, à construção de novas comunidades. Mais que utopista, Buber é o mensageiro, aquele cuja tarefa é indicar a direção. A cada um cabe descobrir e traçar seu caminho numa tarefa que mobilize as potencialidades de sua alma. "Eu não tenho ensinamento algum. Eu conduzo um diálogo." (*) Publicado em Reflexão, Pontifícia Universidade Católica de Campinas. no.32 maio/agosto 1985 ________________________________________ © Newton Aquiles von Zuben Doutor em Filosofia - Université de Louvain Professor Titular - Faculdade de Educação da UNICAMP E-mail: navzuben@obelix.unicamp.br…

Saiba mais…
Sobre a Utopia do Possível Kibutz. Dario Teitelbaum Kibbutz Gvulot – Israel julho de 2002 Há alguns anos um amigo (e ex-chaver do meu Garin “Netzaj” – Gvulot, 1979) visitou-me em meu Kibutz com quem o relacionamento foi retomado no momento em que nos conhecemos. embora vivamos em países diferentes, falamos línguas diferentes, etc. Mais que um amigo, um irmão. Tarde da noite, e bebendo uma garrafa de vinho tinto que me trouxe de presente, ele me disse: "Estou profundamente desapontado com o atual kibutz, acho que perdeu todo o sentido...", "Parece-me que sua vida atual no kibbutz é resultado de concessões ...", "Você é o último dos moicanos ..." e outras frases dessa natureza. Eu soube imediatamente que essas frases não foram ditas com maldade, mas com saudade de um kibutz diferente em que vivíamos no final dos anos 70 e com sincera preocupação com o meu futuro. Eu o avisei que ele estava falando sobre duas questões diferentes, uma criticando a chamada sociedade Kibbutz, ao invés de uma sociedade 'marca registrada'. e a segunda que tem a ver com a forma como me manifesto diante das mudanças. E, sem muita hesitação, contei a ela a história da minha faca Bobe, uma faca que ela dizia ter mais de 100 anos, embora parecesse nova e brilhante. Cumprindo a predestinada função de neto, quando lhe perguntei como é possível que a faca esteja tão impecável apesar da idade, ela respondeu: "A cada 5 anos troco o cabo e a cada 5, a lâmina..." Não, eu não estou tentando situar a análise no campo irracional, mítico. Pelo contrário, Para mim, o kibutz é uma sociedade humana viva, real. Já coloquei minhas perguntas no título: dúvidas existenciais sobre a qualidade do ambiente humano e ideológico do qual decidi fazer parte. A formação do Kibutz foi possível no quadro de uma sociedade judaico-sionista missionária (não no conceito cristão da palavra, mas indicando a sua qualidade de sociedade que obedece a slogans), ou seja, nos anos de ebulição revolucionária do sionismo e promovido pelas filosofias socialistas do início do século. Na realidade e criticando os nossos próprios mitos, o kibbutz foi um instrumento colonizador por excelência da empresa sionista cuja atracção era a sua própria arrogância: a pretensão de não ser apenas um pioneiro do Movimento Nacional de retorno dos judeus à sua pátria histórica (Realizando o Sionismo), mas também para ser a sociedade exemplar em que se formará o carácter do "novo judeu", isto é, enraizado na sua terra e normalizando as condições de produção que foram alteradas pelo carácter diaspórico da existência judaica. futuro e missão era dar uma resposta completa às necessidades nacionais, sociais e pessoais dos seus membros. De uma forma ou de outra, o Kibbutz é a "faca do meu Bobe", uma marca registrada, uma consciência e um conceito transcendental, além da realidade concreta que hoje vive. E justamente pelo fato de o conceito de "Kibbutz" ter transcendido para além da funcionalidade daquela "pequena vila de colonos - sonhadores" como o chama o psicólogo Bruno Betelhaim durante sua visita a Israel, Permite-nos fazer uma divisão entre o “Nefesh” (Alma) e o “Mamash” (Concreto) deste fenómeno. O Kibbutz como uma “ideia humana” Todos nós queremos igualdade básica entre os homens ou pelo menos “oportunidades iguais para todos os seres humanos”. Todos nós queremos democracia. Todos nós queremos uma "vida significativa." Todos nós queremos "desenvolvimento pessoal e autorrealização." Todos nós queremos viver em sociedade. Todos nós queremos "fazer mais do que comer-trabalhar-dormir-procriar. " , diferente". Todos queremos ser diferentes da geração que nos precede. Todos queremos “deixar a nossa marca” na história do nosso povo e na história da humanidade. Todos queremos liberdade sem oprimir os outros… Ora, ora, Pode-se dizer com alto grau de certeza que o Kibbutz em sua “Idéia Pura” colocou como objetivo utópico a combinação dos desejos (“Todos queremos”) de uma juventude efervescente, traduzindo-a em um “modelo exemplar de vida ", totalmente antagônica aos modelos de vida judaico-humana na diáspora no início do século XX. Tudo indicaria que justamente a "Idéia Humana" despertou paixões por pelo menos 60 anos, levando a "Sociedade Kibutziana" a um boom sem igual, não passando de 4% da população israelense em meados dos anos 60. Pelo menos três gerações viram o Kibbutz como uma "Bússola Moral", e mesmo aqueles que por motivos pessoais não quiseram ingressar naquela sociedade reconheceram seu caráter "exemplar". O kibutz era uma parte central da narrativa épica sionista. Paralelamente ao desenvolvimento da Ideia Humana, desenvolveu-se o sistema específico do Kibbutz, baseado na referida ideia utópica e adaptado às novas circunstâncias do Ishuv em Israel (e posteriormente do estado de Israel), mas também marcando contradições entre a ideia e seu funcionamento. . Obviamente é difícil falar de "O Kibutz" e realmente teríamos que falar de mais de 250 kibutzim, cada um deles com suas características específicas influenciadas pela estrutura de sua população, suas origens e origens, sua localização geográfica, etc. . Apesar disso, em termos gerais, o denominador comum dessas aldeias cooperativas (baseadas na Ideia Humana) poderia ser resumido em algumas frases que talvez não contenham a complexidade ou o significado da empresa, mas dão uma perspectiva compreensível ainda hoje em dia. 1) Copropriedade dos meios de produção 2) Igualdade (mecânica ou progressiva) entre os membros 3) Democracia participativa e direta 4) Responsabilidade Mútua 5) Missão Popular-Nacional 6) Autossuficiência econômica, social e cultural 7) Coletivismo Ideológico A esta síntese da "Idéia Humana" poderiam ser acrescentados conceitos adicionais (e diferenciais entre cada um dos Movimentos Kibbutz), mas acho que são a essência do que conhecemos como "Movimento Kibutz" O Kibutz cotidiano. "As contradições e os desconfortos são o motor da mudança" dizia em 1935 Antonio Gramsci, famoso intelectual e filósofo italiano. Esta frase parece ter sido pensada em função do que aconteceria no Kibutz ao longo de seu desenvolvimento concreto. Deixe-me mencionar os fatores centrais que levaram às mudanças no Kibutz e na Kibutz Society, sejam esses fatores exógenos ou endógenos do Kibutz. I) Mudança Geracional (O Kibbutz como uma sociedade multigeracional) II) Mudanças na Sociedade Israelense (Normalização?) III) Mudanças na Sociedade Judaica (Em Israel e na Diáspora) IV) Estabelecimento do Estado de Israel V) Mudanças Globais (E principalmente a suposta "Queda das Ideologias") Diante de todos os fatores de mudança mencionados, o Kibbutz desenvolveu um processo gradual (mas contínuo) de mudança, gerindo entre três tensões contraditórias presentes em qualquer discussão real ou virtual. Bases Fundamentais - Funcionamento Prático - Vontades Pessoais Permito-me aqui referir um dos factores mais conflituosos neste processo de mudança: operação prática Uma das discussões centrais sobre como o kibutz desenhou seu sistema de vida pode ser resumida com a seguinte questão: "Se a funcionalidade gerou a ideologia ou a ideologia projetou a operação" Como a vida é complexa, e evidentemente o julgamento que fazemos é "Post - Actum ", inclino-me a acreditar que na resposta (ou respostas) a esta pergunta podemos encontrar precisamente as contradições entre "A Ideia Humana" e a "Vida Real". Do meu ponto de vista, ideologia e funcionalidade se misturam ao longo do desenvolvimento da sociedade kibbutziana, e ambas servem de razão e/ou pretexto para o terceiro fator de tensão e contradição mencionado acima: as vontades pessoais. Vale dizer que para alguns a ideologia é o motivo central (desde que responda à sua vontade pessoal), e para outros é um pretexto para a sua vontade pessoal (ou dada a impossibilidade de assumir a mudança). Assim, em seu esforço para manter a estrutura experiencial do kibutz de acordo com seu próprio mito, o sistema do kibutz se apega à sua própria funcionalidade, apesar do fato de que pode incluir contradições com relação à "Idéia Humana" e até mesmo distorcê-la. A sociedade kibutz via-se como um "complexo" sinérgico, no qual fatores ideológicos, funcionais e pessoais comungavam em uma criação total e indivisível, na qual tais fatores tinham um peso específico semelhante ou igual, misturando conceitos de "valores" e "objetivos" e "significa", e de fato tal mistura fez com que "Comer juntos" seja talvez mais importante do que "Ser solidário entre nós e nosso entorno". E justamente para ilustrar as possíveis contradições, gostaria de apresentar uma série de questões. i) É necessário que os coproprietários dos meios de produção comam juntos? ii) Até que ponto a democracia participativa é o caminho prático que permite tomar e executar decisões? iii) Qual a importância da missão voluntária quando o estado de Israel já existe? iv) Até que ponto o kibutz realmente permite o pleno desenvolvimento do potencial humano de seus membros? v) Numa sociedade de múltiplas identidades, é possível manter um "coletivo ideológico"? vi) O que acontece quando o principal meio de produção não é o trator, mas a capacidade e criatividade do indivíduo kibutz? vii) Como convivem três ou quatro gerações? (Avós – Fundadores, Filhos – “Produto Clássico ou Vítima do Sistema”, Netos “Reformistas ou Neo-Revolucionários”) E por fim: “Sendo o Kibutz uma ilha cooperativista-socialista num mar capitalista, é possível manter uma sistema (Kibbutz) com seus próprios padrões morais e comportamentos e ao mesmo tempo relacionar-se com o exterior a partir do padrão “vale tudo” sem que isso influencie a vida interna do kibutz e seus padrões? Acredito que as perguntas refletem a complexidade do assunto, e justamente minha resposta pessoal é mais simples do que as propostas apresentadas anteriormente, resposta essa que não está isenta de contradições já que a própria vida está repleta delas. Na verdade, essa contradição está no título, Utopia ßà Possible. Já entrando na contradição, e percebendo as mudanças pelas quais o Movimento Kibbutz e seus Kibutzim estão passando e sem abrir julgamentos ou lidar com preconceitos, gostaria de dizer que "Kibbutz Life" pode se apresentar como uma Oportunidade ou como um Risco, especialmente para os que consideram que a "Utopia" é nobre, é humana, é justa, é válida mesmo nos dias em que parece que "o Dinheiro triunfa", é digna e dignifica quem pauta a sua vida por um compasso moral e justo . Digo Oportunidade, pois considero que o atual Sistema Kibutz, além de sua importância na façanha nacional-social e de seu papel na empresa sionista, afastou-se significativamente de seu caráter de "Sociedade Utópica" e, apesar disso, Continua a ser uma das sociedades mais justas e humanas do mundo. Digo Risco porque o que conhecemos como "Atual Kibutz" pode desesperar os jovens que veem a Utopia como uma bússola, mas desistem diante da impossibilidade de ver o dito "Atual Kibutz" como um canal viável para suas vidas. É por isso que a Utopia do Kibutz Possível é um desafio que pode ser enfrentado tanto dentro do Kibutz Atual, voltando às essências e sem ser aprisionado por sistemas, quanto idealizando novos modelos que não tomem como referência o Kibutz como o conhecemos, mas levar em conta os erros que o distanciaram de seu caráter utópico. Este é certamente um desafio e, como tal, pode não ser relevante para todos. Nem este desafio é absolutamente total, E numa sociedade como a de hoje poderiam ser legítimos modelos “mistos”, em que convivem aqueles que veem a realização (ou a aspiração a realizar) da Utopia como o seu caminho, juntamente com os que adotam uma postura mais pragmática mas aceitam os valores gerais. da dita “Idéia Humana”. Finalmente, quem estiver atento ao que está acontecendo em nosso planeta poderá ver os sinais do colapso dos sistemas globais e da crescente oposição ao neoliberalismo violento e à subjugação econômico-social tanto no Ocidente quanto no mundo. Pode ser justamente um kibutz diferente do atual, no qual os recursos humanos, materiais e culturais de seus membros coagem para alcançar um bem-estar geral,
Saiba mais…

Shabes em Jerusalém - Jayme Fucs Bar

Shabes em Jerusalém - Jayme Fucs Bar
Sábado em Jerusalém. Lá vou eu receber um casal de jovens turistas tipicamente cariocas, da Zona Sul, corpos malhados e com
a beleza exposta para se admirar.
O problema é que eles estão localizados num hotel na fronteira com Mea Shearim, um bairro muito religioso de Jerusalém. No lobby do hotel, a maioria dos hóspedes são religiosos tipicamente vestidos para um shabat.
O casal de turistas chega pronto para passear pelo Mar Morto, vestindo a moda carioca, de um jeito que, mesmo com toda a ajuda de Deus, não tem nenhum religioso que resista olhar de forma discreta para o corpo esculpido da minha cliente carioca.
Até mesmo as religiosas não se seguram e dão uma olhadinha no Deus Apolo, com seu corpo sensual e atlético.
É uma situação quase incompreensível, uma realidade onde dois
mundos diferentes se encontram e convergem em todas as diferenças.
Saímos para o passeio, com o carro estacionado em um lugar estratégico para não incomodar os nervos dos mais radicais.
Passamos um dia lindo e maravilhoso, apesar do calor quase insuportável do Deserto de Judá. Voltamos cansados a fim de matar o calor com uma cerveja gelada!
É fim de tarde em Jerusalém. Ainda é shabat, por isso, levo o jovem casal de turistas a conhecer as ruelas de Jerusalém, dominadas por jovens que procuram uma alternativa diferente de cumprir o seu shabat.
Estamos sentados numa mesa no meio da rua, música latina toca para alegrar o ambiente. O cheiro da cannabis é mais forte do que o cheiro da cerveja, tudo muito descontraído, um carro da polícia passa entre as cadeiras e mesas espalhadas na rua, o guarda sorri como se estivesse entendendo a situação! Um jovem grita shabat shalom! E o guarda responde!
Para consagrar o shabat, um pequeno grupo de ultrarreligiosos invade o lugar aos gritos: Shabes, shabes, shabes!
Um jovem, já bastante alegre, grita: “Shabat shalom, somos todos
irmãos!”.
Os turistas cariocas me perguntam o que está acontecendo. Eu digo:
“É shabat em Jerusalém”.
O rapaz, muito sem entender, me diz: “Me parece que estamos em
outro planeta, o Planeta Shabes”
Shabat Shalom!
Saiba mais…

Em homenagem à professora Anita Waingort Novinsky

Em homenagem à professora Anita Waingort
Novinsky
Tomei a liberdade de publicar uma entrevista que G. David Sedrez — Conde do blog Good Time — realizou com a professora Anita
Waingort Novinsky, em maio de 2011, quando podemos ver e sentir, por meio de suas próprias palavras, como essa grande mulher judia não somente foi considerada a mais importante historiadora da temática dos cristão-novos no Brasil e no mundo, mas também em toda a sua vida foi uma guerreira, que lutou sem trégua contra qualquer tipo de intolerância, antissemitismo, preconceitos e desumanização do ser.
Professora Anita Novinsky partiu desse mundo em julho de 2021,
mas sua memória e o seu legado estarão para sempre guardados em nossos corações!
Entrevista com Anita Waingort Novinsky
G. David Sedrez, Conde do blog Good Time
1. O que fez de mais importante em sua vida?
O mais importante que fiz em minha vida, além de constituir minha
família, foi ter introduzido os estudos sobre os cristãos-novos e a Inquisição na Universidade de São Paulo e ter aberto na história do Brasil um capítulo novo, praticamente desconhecido, sobre o papel que os judeus (marranos, anussim, cristãos-novos, conversos) representaram na construção e colonização deste país. Hoje, com as pesquisas realizadas em fontes primárias, esse fato não pode mais ser ignorado.
2. O que lamenta não ter feito, ou ainda deseja fazer, de importante?
Há muita coisa que eu lamento não ter feito na minha vida. Uma
delas é não ter convivido mais tempo com meus filhos e com as pessoas que amei. Para realizar as outras que eu lamento não ter feito, eu teria de viver muitas vidas.
3. Diante da multiplicidade de disputas e conflitos étnicos e raciais
se generalizando em todo mundo, você acha que a humanidade caminha para tempos sombrios?
Lamentavelmente, os acontecimentos que temos presenciado no
mundo não são muito promissores. Os grandes perigos são a xenofobia, os nacionalismos e o antissemitismo. O ódio aos judeus é apenas um dos sintomas dos tempos tenebrosos que vivemos. Se em alguns anos esses fenômenos crescerem, e todos os povos não compreenderem que têm de conviver amigavelmente e em paz, sucumbiremos todos como loucos.
4. Você concorda com o balizamento estatal ou religioso nas opções e preferências pessoais de cada indivíduo, incluindo comunicação, opção sexual, vestimenta, fumo e bebida?
A meu ver, todos os povos devem ter a liberdade de seguir os costumes, rituais e crenças de sua origem, uma vez que esses costumes não perturbem ou prejudiquem seus semelhantes. O Estado não tem o direito de impor maneira de vestir ou comportamento a um grupo estrangeiro, a não ser que seja uma lei de toda a nação. Se um país distante violar os direitos universais do homem, o mundo tem a obrigação de se manifestar e intervir, porque os direitos humanos foram idealizados para toda humanidade, e não apenas para as nações ocidentais. Se a tradição
de um povo o levar a cometer atos que mutilem o corpo humano e causem sofrimento, contra a vontade dessa pessoa, ou se violar o princípio máximo que é a vida, as nações livres e democráticas do mundo têm a obrigação moral de interferir.
Caso eu vivesse numa sociedade totalitária e fascista, sem poder falar e escrever livremente, eu procuraria minar esse governo, criando movimentos clandestinos, esclarecendo através da palavra companheiros, vizinhos e colegas, mas sem armas e sem violência. Criaria um movimento de resistência, semelhante ao da Segunda Grande Guerra, distribuindo panfletos secretos, mobilizando a juventude, fazendo-a compreender, como disse Walter Benjamin, que “privar o homem da palavra é o mesmo que privá-lo de pão”.
Saiba mais…
Discurso de Chico Buarque - Prêmio Camões
E o seu relato sobre as suas origens judaica ( Cristãos Novos)
Cerimônia de entrega - dia 24 de abril de 2023, Palácio Nacional de Queluz, às 16.00 horas.
Ao receber este prêmio penso no meu pai, o historiador e sociólogo Sergio Buarque de Holanda, de quem herdei alguns livros e o amor pela língua portuguesa. Relembro quantas vezes interrompi seus estudos para lhe submeter meus escritos juvenis, que ele julgava sem complacência nem excessiva severidade, para em seguida me indicar leituras que poderiam me valer numa eventual carreira literária. Mais tarde, quando me bandeei para a música popular, não se aborreceu, longe disso, pois gostava de samba, tocava um pouco de piano e era amigo próximo de Vinicius de Moraes, para quem a palavra cantada talvez fosse simplesmente um jeito mais sensual de falar a nossa língua.
Posso imaginar meu pai coruja ao me ver hoje aqui, se bem que, caso fosse possível nos encontrarmos neste salão, eu estaria na assistência e ele cá no meu posto, a receber o Prêmio Camões com muito mais propriedade. Meu pai também contribuiu para a minha formação política, ele que durante a ditadura do Estado Novo militou na Esquerda Democrática, futuro Partido Socialista Brasileiro. No fim dos anos sessenta, retirou-se da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo em solidariedade a colegas cassados pela ditadura militar. Mais para o fim da vida, participou da fundação do Partido dos Trabalhadores, sem chegar a ver a restauração democrática no nosso país, nem muito menos pressupor que um dia cairíamos num fosso sob muitos aspectos mais profundo.
O meu pai era paulista, meu avô, pernambucano, o meu bisavô, mineiro, meu tataravô, baiano. Tenho antepassados negros e indígenas, cujos nomes meus antepassados brancos trataram de suprimir da história familiar. Como a imensa maioria do povo brasileiro, trago nas veias sangue do açoitado e do açoitador, o que ajuda a nos explicar um pouco. Recuando no tempo em busca das minhas origens, recentemente vim a saber que tive por duodecavós paternos o casal Shemtov ben Abraham, batizado como Diogo Pires, e Orovida Fidalgo, oriundos da comunidade barcelense. A exemplo de tantos cristãos-novos portugueses, sua prole exilou-se no Nordeste brasileiro do século XVI. Assim, enquanto descendente de judeus sefarditas perseguidos pela Inquisição, pode ser que algum dia eu também alcance o direito à cidadania portuguesa a modo de reparação histórica. Já morei fora do Brasil e não pretendo repetir a experiência, mas é sempre bom saber que tenho uma porta entreaberta em Portugal, onde mais ou menos sinto-me em casa e esmero-me nas colocações pronominais.
Conheci Lisboa, Coimbra e Porto em 1966, ao lado de João Cabral de Melo Neto, quando aqui foi encenado seu poema Morte e Vida Severina com músicas minhas, ele, um poeta consagrado e eu, um atrevido estudante de arquitetura. O grande João Cabral, primeiro brasileiro a receber o Prêmio Camões, sabidamente não gostava de música, e não sei se chegou a folhear algum livro meu.
Escrevi um primeiro romance, Estorvo, em 1990, e publicá-lo foi para mim como me arriscar novamente no escritório do meu pai em busca de sua aprovação. Contei dessa vez com padrinhos como Rubem Fonseca, Raduan Nassar e José Saramago, hoje meus colegas de prêmio Camões. De vários autores aqui premiados fui amigo, e de outras e outros – do Brasil, de Portugal, Angola, Moçambique e Cabo Verde - sou leitor e admirador. Mas por mais que eu leia e fale de literatura, por mais que eu publique romances e contos, por mais que eu receba prêmios literários, faço gosto em ser reconhecido no Brasil como compositor popular e, em Portugal, como o gajo que um dia pediu que lhe mandassem um cravo e um cheirinho de alecrim.
Valeu a pena esperar por esta cerimônia, marcada não por acaso para a véspera do dia em os portugueses descem a Avenida da Liberdade a festejar a Revolução dos Cravos. Lá se vão quatro anos que meu prêmio foi anunciado e eu já me perguntava se me haviam esquecido, ou, quem sabe, se prêmios também são perecíveis, têm prazo de validade.
Quatro anos, com uma pandemia no meio, davam às vezes a impressão de que um tempo bem mais longo havia transcorrido. No que se refere ao meu país, quatro anos de um governo funesto duraram uma eternidade, porque foi um tempo em que o tempo parecia andar para trás. Aquele governo foi derrotado nas urnas, mas nem por isso podemos nos distrair, pois a ameaça fascista persiste, no Brasil como um pouco por toda parte. Hoje, porém, nesta tarde de celebração, reconforta-me lembrar que o ex-presidente teve a rara fineza de não sujar o diploma do meu Prêmio Camões, deixando seu espaço em branco para a assinatura do nosso presidente Lula. Recebo este prêmio menos como uma honraria pessoal, e mais como um desagravo a tantos autores e artistas brasileiros humilhados e ofendidos nesses últimos anos de estupidez e obscurantismo.
Muito obrigado
Saiba mais…

Yom HaShoah nas ruas de Israel - Jayme Fucs Bar

Yom HaShoah nas ruas de Israel - Jayme Fucs Bar
São 8 h 45 min da manhã de Yom HaShoah. Esse é um dia de sol
muito agradável, especialmente após o dia anterior, que foi de chamsim, os ventos quentes que vêm do deserto e que, em Israel, sempre anunciam que algo inesperado vai acontecer no dia seguinte.
Saio para mais um dia de trabalho. Terei uma reunião numa casa
de café na cidade de Rehovot! No rádio, ouço os depoimentos e as
reportagens sobre sobreviventes da Shoah, cartas traduzidas jamais lidas em público, visitas de filhos daqueles que sobreviveram aos campos “Shoah” [literalmente “catástrofe”, em hebraico] é um termo que designa o Holocausto cometido pelos nazistas na Europa. de extermínios na busca de compreender o impossível. Junto de cada depoimento, uma só palavra continua vindo ao pensamento: “lizkor”! Lembre! Não esqueça!
Neste dia, em Israel, cada momento é acompanhado de reflexões
profundas que confundem o ritmo acelerado com que levamos nossas próprias vidas, as reuniões, os compromissos de trabalhos, os deveres domésticos... Mas, nesse dia, a mensagem é fria, clara e direta: “lizkor”! Lembre! Não esqueça!
Estou em Rehovot para um encontro importante!
Mesmo que seja um encontro sem nenhum valor, comparado a esse dia!
Os pensamentos não me deixam me concentrar no tema da reunião, penso nos tios, tias, primos e primas que ficaram na Polônia e que jamais conheci.
Penso na pequena Hana Fuksman, da cidade onde nasceram meus avós, Bilgoraj, perto de Lotz. A mala dela apareceu diante dos meus olhos na minha única e última visita ao Campo de Concentração de Auschwitz, na Polônia.
São 9 h 55 min. Já não consigo me concentrar na conversa, peço
para me retirar por uns momentos, fico do lado de fora, compenetrado nos meus próprios pensamentos.
Começa o toque da sirene, 10 h. São dois minutos de eternidade!
Observo as pessoas, os carros parados na rua, todos imóveis, como
se o tempo tivesse congelado neste momento. Observo os olhares tristes das pessoas, fico imaginando o que elas estão pensando agora.
São dois minutos de eternidade! A sirene é como um grito desesperador, um choro profundo e sufocante!
Penso se a palavra “humanidade” continua a ter sentido depois da
Shoah!
Penso se este mundo ainda tem alguma chance de sobreviver à bestialidade humana!
Penso nas crianças que foram arrancadas dos braços de suas mães
pelos carrascos nazistas!
Penso em como viver como ser humano, com dignidade num mundo que deixou de ser digno depois da Shoah!
Penso no Estado de Israel e no ato de sua criação, as esperanças trazidas a um povo totalmente dilacerado!
Penso em como esse povo conseguiu se reerguer das cinzas e das
chamas do inferno!
Penso na forma com que os sobreviventes voltaram à terra de Sion.
Penso que Israel é uma nova Bereshit [Gênesis] para o povo hebreu,
um novo chamado “Lech lecha”, que quer dizer “Vá a si mesmo”!
Isso significa caminhar em direção à essência da vida e não perder as esperanças que ainda existem, especialmente naquele momento tão difícil que era o contexto da criação de Israel em 1948.
São 10 h 2 min. A sirene silencia.
As pessoas e os carros estão de novo em movimento, volto para a
reunião. Nada mais simbólico do que ouço de Yonatan, o meu companheiro de reunião: “Aqui a vida continua”.
Saiba mais…

Humanistas, Deus e Moisés - Jayme Fucs Bar

Humanistas, Deus e Moisés - Jayme Fucs Bar
Em um mundo tão conturbado, com tanta violência, tantos preconceitos e tanta corrupção, penso em uma conversa que tive com uma amiga sobre a passagem de Êxodo em que Deus manteve um diálogo profundo com o Profeta Moisés, que provavelmente teve de transcender os conceitos de tempo e de espaço para poder chegar mais perto de Deus.
Deus vai anunciar um dos mais importantes eventos da humanidade, no qual todos os seres humanos serão representados, ali, pelo Profeta Moisés, que receberá as Tábuas da Lei. De fato, esse será o pacto profundo entre Deus e o ser humano, entre o ser humano e si mesmo. Esse pacto vai ser escrito em pedra lavrada, os denominados Dez Mandamentos. Em outras palavras, esse será o código moral e ético que deverá reger toda a humanidade.
Talvez o nosso Profeta Moisés, nesse diálogo tão humano, ainda
tenha tido a coragem de perguntar a Deus: “E agora, Deus? O que
vai acontecer? Para onde vamos?”.
E talvez Deus tenha respondido: “A partir de agora, vocês têm o código da moral e da ética a ser cumprido, portanto, se ‘virem!’”.
E parece que Deus nos deixou a “se virar por aqui” e foi para o seu
tempo-espaço, “o Sempre”, o mundo Celestial.
Estamos nessa jornada já há muito tempo, procurando “se virar” sem grandes resultados! Já se passaram mais de 4 mil anos e as metas de moral e da ética das Tábuas da Lei ainda estão muito longe de serem alcançadas pela humanidade. E essa, talvez, seja a grande missão que devemos assumir em nossas vidas como seres humanos aqui na Terra.
No judaísmo, temos “dois amores”, dois pilares inseparáveis um do
outro: “Amar a Deus” e “amar ao próximo, o ser humano”.
Não é suficiente somente amar a Deus se não somos capazes de amar os seres humanos!
O filósofo humanista Kenneth Phife define essa questão de forma
muito interessante:
“O humanismo nos ensina que é imoral esperar que Deus aja por
nós. Devemos agir para acabar com as guerras, os crimes e a brutalidade desta e das futuras eras. Temos poderes notáveis. Termos um alto grau de liberdade para escolher o que havemos de fazer. O humanismo nos diz que, não importa qual seja a nossa filosofia a respeito do universo, a responsabilidade pelo tipo de mundo em que vivemos, em última análise, cabe a nós mesmos.”
Shabat Shalom e Chag Pessach Sameach!
Saiba mais…

Uma nova versão da história Lilith - Jayme Fucs Bar

Uma nova versão da história Lilith - Jayme Fucs Bar
Eu sempre tive muita curiosidade sobre a História de Lilith principalmente de entender o porquê ela foi tirada do livro de Gêneses, E porque a trasformaram num demônio e numa feiticeira.
Para isso foi necessário assumir um desafio, de escrever esse pequeno texto fazendo uma nova versão de Lilith.
No contexto Judaica Lilith seria anterior a Hava (Eva), consideranda a primeira mulher de Adão, e viviam no Jardim do Éden ,e foram criados como está escrito na Biblia a imagem e semelhança do Criador, Adão e Lilith assumiram uma união carnal, ela leva Adão ao delírio, que vai desejar Lilith como nunca,e com o tempo seus desejos por ela somente cresce, é tão grande que vai leva – lo a se distanciar do Criador, venerando somente o seu prazer por Lilith.
Lilith se vê uma mulher de igualdade na sua relação com Adão,e exige a sua liberdade de escolha, mas Adão somente aceita que a relação fosse de seu jeito,mas Lilith não aceitava esse seu domínio.
A exigência maior de Lilith era que ela também ficasse por cima de Adão, mas Adão não a escutava e nem mesmo a compreendia, somente via os seus desejos e suas necessidades e isso vai deixar Lilith desapontada e inconformada com Adão.
Lilith deve ter perguntado a Adão!
"Por que devo deitar-me embaixo de ti? Contudo, eu também fui feita de pó e por isso somos de iguais direitos".
O Conflito entre Lilith e Adão vai se agravar cada vez mais e ela decide pela separação, mas Adão, não aceita, e mesmo apaixonado pela sensualidade e beleza de Lilith, acredita que essa é a ordem e a forma natural de se relacionar, Lilith quer seus direitos, sua liberdade e sente como está longe Adão de entender sua condição de igualdade.
Lilith se revolta! Aclama pelo Criador pede sua intervenção, mas parece que o Criador já tinha novos planos para Lilith e a deixa a seguir seu rumo e ela abandona o Eden, e segue para uma aventura a procura de sua liberdade.
Esse é o primeiro divórcio na história da Humanidade, onde o Juiz e o Todo-poderoso aceita essa separação!
Adão sente triste, traido e abandonado e o Criador vê o sofrimento de Adão e o oferece a ele uma nova mulher Hava (Eva) uma mulher diferente daquela que foi Lilith!
Adão vai ter uma nova mulher dentro de seus moldes, mas não deixa de sonhar todas as noites com Lilith e a procura por todos os lugares do Eden sem poder encontra-la, Adão não sabia que ela fugiu para o deserto e chegou até o mar vermelho.
O Criador que levou Lilith para longe de Adão no meio do deserto vai oferece – la o direito de viver num mundo do livre árbitrio, antes mesmo do " pecado original" de Adão e Hava.
Lilith ganha sua liberdade mas a vida toda terá que saber enfrentar um eterno desafio que será de sobreviver num mundo cheio de perigo,ameaças e preconceitos, mas essa será a oportunidade única de ser uma mulher livre e não mais subjulgada.
Lilith somente deseja a sua liberdade e está disposta a pagar o preço de ser considerada por muitas culturas e tradições como um demônio, a feiticeira, uma vampira das trevas ou a amaldiçoada coruja da noite, mas as Culturas antigas necessitam demonizar Lilith pois ela é uma ameaça ao sistema patriarcal predominante até os dias de hoje.
Mas o Criador é o Único responsável por tudo em sua criação, seu objetivo é o equilíbrio e vai fazer que Lilith tenha um novo homem, na verdade um anjo de nome Samael considerado nas culturas antigas um "Anjo das trevas" , mais não existe "anjos das trevas" no mundo dominado pelo Criador.
Samael será o amante ideal para Lilith, que dará a luz a toda uma descendência de "Lilioth ", que vivem e estão expalhadas por todo o mundo, onde dizem que podemos indentificar os seus decendentes nas mulheres de grande sensualidade, inteligência, de postura rígida que não se deixam dominar pelos homens.
Diferente do que foi escrito em muitas histórias, fábulas e contos o Criador Jamais abandonou Lilith ao contrário,o Criador à protegeu e deixou muitas "Lilioth " presente entre nos!
Acreditem elas não são demônios, são frutos do Criador e ela pode estar ai nesse momento ao seu lado!
Quer ler mais esses tipos de historias e contos?
Saiba mais…

Livro Memórias de um rabino secular humanista

Apresento a vocês o meu segundo livro, resultado de um trabalho de 12 anos. Quem desejar, pode adquirir diretamente o livro no site da Editora. https://souleditora.com.br/produto/memorias-de-um-rabino-secular-humanista/ Shabat Shalom e agradeço a todos e todas que apoiaram e me acompanharam nesse lindo projeto! Em Memórias de um rabino secular humanista, o autor Jayme Fucs Bar nos apresenta passagens de sua vida marcada pela identidade judaica. Essas memórias misturam-se aos relatos de pensadores e movimentos sociais e judaicos que influenciaram sua visão da história e seu modo de ser e viver: um judeu humanista. Numa narrativa envolvente, o livro traz, ainda, estudos e argumentos que convidam à reflexão sobre povo tão singular. Jayme Fucs Bar, com lirismo e erudição, coloca em segundo plano o fervor religioso e conduz o leitor interessado a compreender melhor como vive um rabino secular humanista. 11419603059?profile=original
Saiba mais…
" Elokim Criou Adam a Sua Imagem Macho e Fêmea" - Jayme Fucs Bar
Conta os sábios no periodo do Talmud que existia um Judeu que era muito tímido e quase não falava em público e quando falava era o mínimo necessário, era um homem bastante fechado e até meio melancólico, mas o curioso que era muito compenetrado no estudo da Torá, e isso chamou a curiosidade de um dos sábios que foi atrás dele pois achava que esse homem guardava um grande segredo.
Chegando na casa do homem, se escondeu de baixo da janela e ficou impressionado com o que viu e ouviu dentro da casa ! Viu que o homem logo que chegou disse com uma voz bem firme e cheia de devoção a sua mulher ,
" Querida, meu amor estou morrendo de saudades de você!" e a beijou com uma grande ternura, e viu que em casa era um homem totalmente diferente ,um homem cheio de vida e até muito falante, era uma casa iluminada de amor e com certeza tinha uma vida de eternos prazeres com sua esposa.
Segundo os sábios esse homem passava parte do tempo pensando no amor que tinha por sua companheira, mesmo que a idade e o tempo passava, ele jamais deixou de ama-la e não importava o tempo , mas sempre que chegava em casa as palavras surgiam para ela sempre cheio de amor e carinho e logicamente esse lar se enchia de felicidades.
Amar e ser amado no Judaismo é uma Mitzva ( preceito) , por isso os sábios dizem que não devemos poupar palavras para provar o carinho para a nossa companheira ou companheiro .
No Judaismo amor a Deus, e a amor ao próximo, são dois pilares inseparáveis, e se queremos chegar próximos a verdadeira ensencia do Judaismo, esse é o caminho !
Sendo que o amor entre homem e mulher, é a forma mais próxima de entender essa ideia, onde em hebraico, a palavra para homem é “Ish” איש, que contém a letra Yud; e a palavra mulher, “Ishá”, אישה contém a letra Hei. Ambas formam um dos nomes de Elokim. Isto nos ensina que quando um homem e uma mulher se unem com amor e harmonia e respeito, podem sentir o gosto do paraíso.
Eu que sei vai parece para muitos meio estranho eu dizer nesses novos tempos modernos que "A União do Homem e da Mulher significa a unidade mais próximo do conceito de divindade!
Talvez vocês pense que eu estou romantizando, mas pensem bem que tipo de sociedade que vivemos, onde todos nos estamos cada vez mais individualizados, somos educado para alcançar as grandes conquistas materiais , e isso nos trasformam em seres altamente competitivivos e sobretudo somos seres bastantes egoístas, e isso que nos leva para os desastres nas nossas relações pessoais e principalmente conjugais.
Como saber se relacionar com o outro ? Como procurar equilibrar esse mundo material com o espiritual ?
E assim está escrito que " Elokim criou Adam a sua imagem Macho e Fêmea", isso nos faz entender que Elokim é tudo! e sobre tudo um andrógina, Deus é tomado em muitas culturas como uma dinvidade masculino e isso é um erro gravíssimo em dizer " Deus Criou o Homem a Sua Imagem Macho e Fêmea " Deus Criou Adam", אדם que em Hebraico não é Homem e sim ser humano בני אדם e mais precisamente vem da palavra Adama אדמה = Terra.
Adam אדם, implica no conceito material a criação da terra e no sentido espiritual é um Andrógina.
Muitas das respostas que procuramos está em nossa frente, mais não conseguimos ver , pois estamos muito ocupado com o nosso Ego e assim nunca podemos observar o outro !
Veja e observe o que está escrito na Torá a unidade do homem e da mulher é a forma que mais nos aproxima de entender esse conceito "Que somos a Imagem de Deus"
È um fato ! Quando estamos unidos no ato do prazer e do amor, essas duas partes ( Homem e Mulher) se trasformam na sua total plenitude em uma Unica, isso nos dá a possibilidade de sentir o que se refere que antes de ter sido trasformados em Homem e Mulher, eramos Adam um Andrógina.
O ato de Amar, nos trasforma num andrógina, onde estamos unido numa Unicidade, Única! È nesse ato de Amor que geramos a vida e em consequência o amor incondicional que temos por nossos filhos .
Amar a Deus é fácil! Amar o Proximo é muito difícil!
Hoje a maioria das pessoas no mundo amam a Deus e veja o desastre que caminha a humanidade, isso é porque a maioria das pessoas amam um Deus pessoal, particular, egoísta, que acreditam em nome de Alah, Adonai, Jesus etc, tem o direito de dominar, matar, destruir e escravizar o outro ! Isso eu chamo de neo paganismo dos tempos moderno!
Religiões e culturas que deveriam ser um elo de amor, Paz e solidariedade entre seres humanos foram em muitos trasformados em sistemas de poder de dominação ao outro através da História!
Todas as religiões e crenças são legitimas, mais nunca esquecer que Deus jamais criou religiões com seus dogmas tudo isso não tem nada haver com Deus e sim criação humana.
Não existe a possibilidade de uma elevação espiritual Humana se não sabemos entender essa Unidade entre Amar a Deus e Amar o próximo no sentido mais amplo possível !
O Judaismo tem claro que esse ato de Amar o próximo é algo muito difícil de se praticar,mas a forma de aprender a praticar essa difícil Mitzva é pensar o quanto estamos dispostos a dar e a sacrificar por uma outra pessoa e o que significa saber abrir espaço dentro de si próprio para deixar o outro entrar.
A forma mais logico de nos elevar espiritualmente nesses ensinamentos é começar a praticar isso em casa com o nosso companheiro ou companheira, Se não teve sorte na sua primeira escolha não crie um desanimo aprenda com os erros , procure ter a uma segunda ou até mesmo a terceira chance, jamais desista de abrir mão de poder te dar uma oportunidade em vida de chegar na sua relação conjugal ao nível mais próximo do conceito da criação!
" E Deus criou Adam a sua imagem Macho e Femea"
יום שישי ''ויברא אלוהים את-האדם בצלמו, זכר ונקבה
SHABAT SHALOM!
Saiba mais…

Ser judeu - LU ANASTACIO

Ser judeu - LU ANASTACIO
Passos que caminham há mais de 3 mil anos
Que se expandem pelo mundo
E se unem a tantos outros
Passos que partem do coração e a ele voltam
“Vá para si mesmo!”
Ser judeu para além do sangue,
pacto moral.
Sou judeu, resisto no tempo.
Sou judeu por meus valores.
Sou judeu, força, resistência.
De que é feito o coração judaico?
Esperança e amor
SHABAT SHALOM!
Saiba mais…

Quero contribuir para este artigo muito interessante sobre as ligações entre judeus e ciganos. No século XVIII, de acordo com uma estimativa conservadora, dez por cento da população alemã levavam a vida de pessoas vadias. O historiador israelense Jacob Toury estima que antes de 1780, entre 60 e 75 % da população judaica na Alemanha pertencia a essa camada marginalizada e vagabunda. "Esta população vadia, que no final do Regime Antigo incluía mascates, mendigos, músicos ou itinerantes de artesanatos como amolador de tesoura, e até certo ponto judeus e ciganos, tinham uma língua franca, o Rotwelsch [rot significando mendigo, welsch estrangeiro], cujas principais fontes são o iídiche (pelo menos 30% do vocabulário) e (a partir do século 15) o cigano" (Gerber, p.60-63). 

 

Se o “Rotwelsch” é um documento linguístico do entrelaçamento principalmente de judeus e sinti/roma/ciganos, isto também se aplica a muitos sobrenomes que são comuns entre os judeus tanto como entre “ciganos”. Por exemplo os seguintes músicos favoritos meus, representantes do “gypsy swing”, todos identificando-se como sinti/roma/ciganos; para cada sobrenome pesquisei e informei entre parênteses o número de vítimas da Shoah registrado no Yad Vashem: Adler (14.680) e Lehmann (2.297), Limberger (9) e Bamberger (571), Feller (1.199) e Winterstein (365), Reinhardt (271) e Schwarz (55.923), Roth (16.063) e Weiss (63.811). Meu avó materno, alias, agricultor católico com esposa de ascendência judaica, gostava de relatar que ele na sua árvore genealógica tinha três sobrenomes de cor, quer dizer os mencionados Schwarz (preto), Rot (vermelho) e Weiss (branco).

Após a Shoah, Raul Hilberg observa: “No passado, os ciganos sempre foram contados entre os judeus, tanto na opinião popular como nos estudos científicos. Um escritor alemão do século XVII, Johann Christof Wagenseil, escreveu um livro no qual queria provar que ‘os primeiros ciganos ... eram judeus nascidos na Alemanha’.Os nazistas não estavam tão seguros sobre as origens dos Ciganos; no entanto, eles também acreditavam que havia um parentesco racial com os judeus” (Hilberg 1982, p.677-678).

 

Fontes:

Gerber, Barbara: Jud Süß. Ascensão e queda no início do século XVIII. Uma contribuição à pesquisa histórica sobre o anti-semitismo e sua recepção. Hamburgo 1990.

Hilberg, Raul: Die Vernichtung der europäischen Juden. A história completa do Holocausto. Berlim 1982.

Riggenmann, Konrad Yona: Die Schwarze Lis. Biografia abreviada da ladra e puta de judeu Elisabetha Gassnerin. Uma peça teatral histórica. Norderstedt 2018.

 

Como o Jayme Fucs Bar, gostaria de terminar com uma história bem pessoal, também em torno de uma mulher, mais precisamente da protagonista da minha peça teatral histórica sobre a Elisabeta Gassner, chamada Schwarze Lis, uma mãe de cinco filhos, famosa como ladra no século XVIII, mulher que pertencia a essa camada vadia da população onde judeus e ciganos conviveram na época. Nos interrogatórios, ela havia falado repetidamente, com expressão tipicamente judaica e premonição da própria morte, daquele "outro mundo" que também se destaca numa bênção para lavar as mãos que o historiador Amílcar Paulo ouviu de judeus portugueses cripto-judaicos em 1985: “Dai-me neste mundo paz, e no outro salvação”. Como a Lis Gassner, née Ebner (sobrenomes com 374/382 registros em Yad Vashem)  havia sido retratada por um pintor antes de sua execução, reconheci uma semelhança impressionante entre ela e meu amigo de infância Sepp (José) Gassner, com quem eu tinha compartilhado a barraca no acampamento do grupo juvenil católico, e corrido através do campo de futebol do clube esportivo da nossa aldeia. Seu sobrinho Thomas, o filho de meu colega de turma Johannes Gassner, foi aluno meu até que depois da quarta série entrou no colégio.

Porque um jovem motorista de carro estava, por poucos segundos, mais ocupado trocando um CD do que observando o transito, o Sepp morreu num acidente de moto em 15 de agosto de 1994, por acaso na mesma idade de 46 anos como a Elisabeta, decapitada em 16 de julho de 1788 e não por acaso no presidio particular do Conde Schenk, de quem ela havia roubado, anos antes, ao ele sair da igreja após o culto, uma bolsa contendo 1700 gulden, soma bonita com que se podia comprar mais de cinquenta bons cavalos ou setenta vacas, ou três pequenas fazendas completas. O Conde tinha preparado este dinheirinho para o jogo de cartas da tarde, porque seu convidado naquele dia era ninguém menos do que o herdeiro ao trono, e mais tarde Czar da Russia, Pavel I.

No final do mesmo verão após o acidente fatal de Sepp, seu filho Stefan tornou-se meu aluno do sétimo ano e, nos três anos seguintes, foi um exemplo de iniciativa e atitude social numa turma boa. Na 8ª série, nas aulas de história, apresentei a Elisabeta Gassner, née Ebner, como um exemplo das condições sociais injustos daqueles tempos feudais tardios, pré-revolucionários. Quase pedindo desculpa, falei para Stefan que ele possivelmente poderia estar distantemente relacionado a essa ladra famosa. Depois da escola, Stefan abandonou o aprendizado de açougueiro (profissão do pai dele) e tornou-se paramédico de pronto-socorro. Só agora ele me disse um dia que após aquela aula sobre a ladra, ele tinha perguntado em casa, e sido informado que sua família realmente originava do vilarejo onde a Lis morava. E sobre a nova versão da minha peça, Stefan me escreveu em 2018: "Também ninguém em nossa família se incomoda de constar no livro como descendente dela. Porque faz parte da nossa história familiar.”

Saiba mais…

Kibutz Nachshon: lavando a alma. Por Wladimir Weltman

Kibutz Nachshon: lavando a alma. Por Wladimir Weltman

… quando fui para lá morar no Kibutz Nachshon, buscava meu sonho juvenil socialista na terra dos meus ancestrais. Era o excitante projeto de voltar a terra prometida depois da diáspora de 2000 anos…

https://www.chumbogordo.com.br/wp-content/uploads/2022/06/nachshon2-300x150.jpg 300w" sizes="(max-width: 389px) 100vw, 389px" />Em 1977, com 22 anos de idade, fui morar em Israel, num kibutz.

Para quem não sabe, o kibutz foi uma experiência única e de sucesso por muitos anos; pequenas fazendas coletivas-socialistas que garantiram as fronteiras de Israel e a comida no prato do povo. Os kibutzim (plural de kibutz) operavam sob o princípio de que as receitas geradas pelo trabalho coletivo iam para um fundo comum. Essa renda era usada para administrar o kibutz, fazer investimentos no local e para a subsistência de cada membro. Cada um recebia o mesmo, independentemente de cargo ou tarefas. O kibutz era uma democracia participativa, onde cada indivíduo tinha seu voto nas decisões da comunidade. E isso foi assim, com bons resultados, até recentemente. Os kibutzim em Israel começaram a mudar nos anos 80 e 90. Muitos passaram de fazendas à fábricas. O que antes era coletivizado agora é privatizado. Do socialismo passaram ao capitalismo. O que de certa forma muito tem a ver com a própria história de Israel…

Mas quando fui para lá morar no Kibutz Nachshon, buscava meu sonho juvenil socialista na terra dos meus ancestrais. Era o excitante projeto de voltar a terra prometida depois da diáspora de 2000 anos. Minha ingênua perspectiva de Israel, colorida por livros como “Exodus” (Leon Uris), “Meus Gloriosos Irmãos” (Howard Fast), “A Fonte de Israel” (James A. Michener) e filmes como “A Sombra de Um Gigante”, “Resgate em Entebe” e “Os Dez Mandamentos”, bateu de frente com um país em plena transformação, após a Guerra dos Seis Dias. Como diz o grande Rabino Woody Allen: “Se você quer fazer Deus rir, conte a ele sobre seus planos”.

https://www.chumbogordo.com.br/wp-content/uploads/2022/06/Nachshon-1977-os-3-300x260.png 300w, https://www.chumbogordo.com.br/wp-content/uploads/2022/06/Nachshon-1977-os-3-768x666.png 768w, https://www.chumbogordo.com.br/wp-content/uploads/2022/06/Nachshon-1977-os-3.png 790w" sizes="(max-width: 426px) 100vw, 426px" />Para mim e para meus amigos, que como eu imigraram pra Israel e o kibutz (éramos 25 brasileiros), essa experiência foi transformadora, um pouco traumática e, em muitos momentos, dolorosa. A morte de um sonho sempre dói. Ainda mais para o meu grupo formado por jovens brasileiros de classe média, a maioria com tendencias intelectuais e artísticas – fotógrafos, jornalistas, músicos, atores, bailarinos, designers, psicólogos, acadêmicos etc. Nós caímos de paraquedas numa fazenda, tendo que do dia para a noite aprender a criar galinhas, arar a terra, pastorear ovelhas, limpar esterco e demais atividades agrícolas, nem sempre as mais agradáveis. E o pior, onde nossos projetos profissionais pessoais,  próximos as nossas próprias aptidões, eram considerados “hobbies burgueses”. Com poucas exceções, a maioria deixou o kibutz e, posteriormente, Israel.

https://www.chumbogordo.com.br/wp-content/uploads/2022/06/haaretz-300x52.png 300w" sizes="(max-width: 226px) 100vw, 226px" />Passados 45 anos, esta semana, um de meus companheiros do kibutz, meu irmão Sergio Zalis, me enviou um artigo publicado no jornal israelense HAARETZ, que literalmente me lavou a alma e restituiu em parte meu carinho por Israel e pelo kibutz, abalados pelas políticas recentes do Estado Judeu, que tanto me entristecem.

O artigo tratava de um documento de 55 anos atrás recém-descoberto de uma reunião importante do Kibutz Nachshon, (o meu kibutz) – estabelecido em 1950 no Vale de Ayalon por membros do movimento juvenil sionista de esquerda Hashomer Hatzair. Nessa reunião eles discutiam qual seria a atitude deles quanto as terras árabes, que ficaram nas mãos de Israel, depois da Guerra dos Seis Dias. A tal reunião aconteceu em julho de 1967, um mês após a guerra. As decisões da tal reunião foram impressas no boletim informativo do kibutz, mas alarmados com a possível reação externa ao seu conteúdo, lacraram o documento. Finalmente o relatório censurado foi revelado nesse artigo do HAARETZ.

A discussão em questão tratava do destino de três aldeias árabes onde os habitantes foram expulsos e as casas demolidas durante a Guerra dos Seis Dias – Imwas, Bait Nuba e Yalo, todas elas na área de Latrun. Os habitantes foram expulsos para a área de Ramallah e, ​​em seguida, tratores arrasaram as casas.

Lavando a alma - Nachshonhttps://www.chumbogordo.com.br/wp-content/uploads/2022/06/Latrun-2-300x189.jpg 300w" sizes="(max-width: 444px) 100vw, 444px" />O boletim de Nachshon dizia o seguinte: “Temos sofrido recentemente com sentimentos contraditórios. Visitamos o Mosteiro Trapista (Latrun), fizemos contato com os monges, vimos seu salão, a adega e a igreja, e quase nos esquecemos de Imwas, de pé em suas ruínas além dos muros do mosteiro, e dos habitantes exilados e privados de suas propriedades. Mal terminou a alegria pela vitória e já estamos preocupados com o resultado da luta política. Também há preocupações relacionadas ao trabalho nas terras dos aldeões e às suas colheitas.”

O editorial que acompanhava o boletim do kibutz era intitulado: “Não tomaremos essas terras”. Isso expressava a decisão dos membros do kibutz de não participar do saque da propriedade abandonada ou da coleta de espólios das aldeias arrasadas. A ata da reunião determinava que o pessoal do kibutz se dispunha a fazer o seguinte: “Tentar localizar os proprietários e devolver a propriedade a eles. Foi decidido que não vamos cultivar as terras e vamos lutar para impedir que outros as tomem e as cultivem.”

Em última análise, apenas um membro na votação do kibutz apoiou a tomada das terras e a colheita de grãos dos aldeões árabes. Todos os demais votaram contra. Os membros do kibutz também votaram quanto a “conduzir uma séria luta pública pela questão da destruição das aldeias”.

Lavando a alma - Nachshonhttps://www.chumbogordo.com.br/wp-content/uploads/2022/06/refugiados-300x213.jpg 300w, https://www.chumbogordo.com.br/wp-content/uploads/2022/06/refugiados-1024x728.jpg 1024w, https://www.chumbogordo.com.br/wp-content/uploads/2022/06/refugiados-768x546.jpg 768w, https://www.chumbogordo.com.br/wp-content/uploads/2022/06/refugiados-640x455.jpg 640w, https://www.chumbogordo.com.br/wp-content/uploads/2022/06/refugiados-1320x939.jpg 1320w" sizes="(max-width: 426px) 100vw, 426px" />Perguntei a meu amigo Bentzion Laor, que também fazia parte do nosso grupo de brasileiros em Israel e que ainda hoje vive lá, quem foi responsável pela destruição das três aldeias árabes. Ele me contou que a ordem partiu de Moshé Dayan, comandante das forças israelenses na Guerra dos Seis Dias. O motivo seria o trauma que ele e boa parte dos israelenses tinham da Batalha de Latrun, durante a Guerra de Independência de Israel, em 1948, uma das poucas derrotas que sofreram naquele conflito.

A Batalha de Latrun foi uma série de confrontos militares entre as forças israelenses e a Legião Árabe da Jordânia nos arredores de Latrun entre maio e julho de 1948. Latrun é o mosteiro na junção das estradas Jerusalém-Tel Aviv e Gaza-Ramallah (Nachshon fica exatamente em frente ao mosteiro e a estrada). Apesar de atacar o forte de Tegart em Latrun cinco vezes, Israel não conseguiu tomar a posição, que ficou sob controle jordaniano até a Guerra dos Seis Dias. A Batalha de Latrun deixou sua marca no imaginário coletivo israelense. Os combates custaram a vida de 168 soldados israelenses, sendo que a maioria eram sobreviventes do Holocausto.

Hoje no local existe um museu militar israelense e um memorial aos combatentes de 1948. O Moshav (fazenda cooperativada israelense) Mevo Horon foi estabelecido nas terras da aldeia de Bait Nuba e um parque florestal, o “Canada Park”, agora fica nas terras das aldeias Imwas e Yalo. Nachshon jamais se apoderou dessas terras e até hoje muita gente do kibutz não frequenta o “Canada Park”.

Graças a essa reportagem fiz as pazes com meu antigo kibutz. Não consegui me adaptar a vida de fazendeiro socialista e minhas críticas a Nachshon hoje as deixo em segundo plano, principalmente porque a luz desses fatos reportados, vejo que eles pensavam exatamente como eu e meus companheiros brasileiros do kibutz. Todos nós fomos do Hashomer Hatzair, organização juvenil judaica de esquerda, de onde surgiram figuras como Mordechai Anielewicz, o líder da revolta do gueto de Varsóvia; Leopold Trepper, cabeça da espionagem soviética na Segunda Guerra Mundial na Europa, conhecida como a “Orquestra Vermelha” e o candidato a presidência americana, Bernie Sanders.

Lavando a alma - Nachshonhttps://www.chumbogordo.com.br/wp-content/uploads/2022/06/Park-Canada-300x147.jpg 300w, https://www.chumbogordo.com.br/wp-content/uploads/2022/06/Park-Canada-768x377.jpg 768w, https://www.chumbogordo.com.br/wp-content/uploads/2022/06/Park-Canada.jpg 1024w" sizes="(max-width: 503px) 100vw, 503px" />A reportagem serve também para mostrar aos detratores de Israel, que vivem acusando o país de ser intolerante ante as reivindicações palestinas e ao destino trágico dos refugiados, que existe muita gente justa e correta em Israel, que desde sempre se preocupou e ainda se preocupa com seus vizinhos árabes.

Se houver boa vontade de ambas as partes, um dia, quem sabe, a paz será viável.

 

Saiba mais…

Renovação e adaptação — A criação de Simcha Torá — Jayme Fucs Bar

Shemini Atzeret é um feriado descrito na Torá que começa no dia 22 de Tishrei, um dia após o sétimo e último dia de Sucot.
O termo SHEMINI ( 8 ) ATZERET (assembleia) indica que, no período do templo, as pessoas se reuniam na sucá no oitavo dia para oração e realização do sacrifício no templo.
Atualmente comemoramos também um outro feriado chamado SimchaTorá, que na verdade é mais uma tradição do que um feriado determinado na Torá. É importante saber que Sheminit Atzeret e SimchaTorá não são o mesmo feriado.
O costume de se comemorar SimchaTorá foi criado pelos judeus da Babilônia nos séculos VI-VII, quando os nossos sábios sentiram a necessidade de redefinir o fim da leitura da Torá, que aconteceria uma vez por ano, bastante diferente do costume do período bíblico em que se comemorava o fim da leitura da Torá a cada três anos e meio.
A criação desse novo festejo SimchaTorá era uma forma prática e pedagógica de marcar um ciclo de leitura da Torá dentro do mesmo ano do calendário judaico e também o fim de Sucot. Foi uma data escolhida de forma sábia para essa adaptação a fim de fortalecer a identidade judaica.
As mudanças nos costumes e na tradição judaica são constantes, mas é uma pena que as pessoas não tenham consciência disso; muitos acreditam que o judaísmo é algo estático, sem movimento ou que tudo o que fazemos hoje faz parte das leis da Torá. Na verdade, hoje em dia vivemos muito mais o judaísmo do Talmud do que o judaísmo da Torá.
É lamentável que existam certos grupos religiosos que têm uma grande resistência de dar continuidade ao que os nossos sábios fizeram no passado, pois eles souberam adaptar o judaísmo ao seu tempo, à realidade e às condições do mundo que viviam — graças a eles, o judaísmo continua vivo.
Importante saber que o judaísmo conseguiu uma proeza única na história: sobreviver durante 2000 anos na diáspora depois da destruição do segundo templo. E isso se deu em razão de dois princípios básicos, a Renovação e a Adaptação.
Renovação e Adaptação sim! Esses são os principais fatores que tornaram a civilização judaica dinâmica, viva e relevante para as futuras gerações.
Se desejarmos preservar o judaísmo, devemos manter, sem temer, o seu dinamismo e sua forte capacidade de sobrevivência.
Enfim, seja qual a corrente à qual você pertence ou o tipo de judaísmo que você pratica (ortodoxo, reformista, secular humanista, cabalista, reconstrucionista, conservador etc.), todos são manifestações legítimas e desempenham um papel importante para a preservação e a sobrevivência do judaísmo.
Chag Simcha Torá Sameach!

Saiba mais…

“O Grito Manso” do Sábio Hillel - Jayme Fucs Bar

“O Grito Manso” do Sábio Hillel - Jayme Fucs Bar
Quando escrevo algo sempre vem de algum acontecimento meio imprevisto nada programado que me leva a pensar e a refletir e no final vem a necessidade de escrever e divulgar, na semana passada , não sei como explicar, mas me deparei quase todos os dias com textos e frases de Hillel, que chegaram de locais e idiomas diferentes me levando a necessidade de escrever sobre esse iluminado sábio Hillel e a sua “Grande Paciência”.
Podemos dizer que se existiu no período Bíblico um personagem que ensinava e praticava um Judaísmo cheio de Benevolência, humanismo, amor ao próximo, humildade e sobretudo muita paciência ao outro esse sábio se chamava Hillel.
Ele nasceu na Babilônia e viveu na terra de Israel no período do reinado de Herodes o Grande, e do domínio romano, será um período de grandes turbulências e desafios que o judaísmo terá que enfrentar para poder sobreviver.
Dizem que Hillel, viveu por volta dos 120 anos talvez por isso ganhou o apelido carinhoso de Hillel Hazaken (O Ancião) e morreu no ano 9 d.C.
O sábio Hillel terá um papel fundamental nesse período bastante turbulento na nossa história ele vai entender a necessidade de ampliar a propagação da Lei oral entre a população judaica, contrapondo com a corrente dos saduceus, que ainda eram as autoridades máximas no templo de Jerusalém até a sua destruição em 70 d.C.
Esse movimento será muito criticado em sua época por outras correntes judaicas, que considerava como um grande “Reformismo” do judaísmo e de suas leis, essa tensão e controvérsia sempre foi muito comum no judaísmo e será isso que vai levar a criação e o crescimento de um popular movimento chamado os Tanaim, que em aramaico, significa “repetir (o que foi ensinado)”.
Imaginem vocês que revolução bem estruturada foi realizado nesse período, pelos Tanaim, eles organizavam pequenos grupos de estudos com seus mestres e depois de um período de aprendizagem parte desses alunos se tornavam mestres e criavam seus próprios grupos, mas sempre tendo como autoridade central um grande sábio rabino que era chamado de Nasi (Príncipe).
Sem dúvida essa estrutura, na verdade muito pedagógica para sua época, será uma grande revolução um “ Grito Manso” dentro do mundo judaico, será uma tentativa prática e bem sucedida de criar formas para o judaísmo sobreviver das forças ameaçadoras que terá que enfrentar para a sua existência física, cultural e espiritual.
E aqui que entra na História do nosso sábio Hilel que vai fundar sua própria escola o Beit Hillel que tinha paralelo a ele uma outra escola a do sábio chamado Shamai ( Beit Shamai) que era bem mais rígida, com uma postura, muito integra, mas nada tolerante.
A Pergunta que devemos fazer como Hillel Hazaken chegou construir a sua própria escola sendo um simples e pobre aluno?
Hillel nasceu na Babilônia e com cerca de trinta anos chegou a Jerusalém e foi estudar com os sábios Shemaia e Abtalion , não tinha dinheiro suficiente para pagar seus estudos e seu sustento, era trabalhar como um simples lenhador e vivia em condições de grandes sacrifícios e pobreza.
Existe uma passagem que nos relata que Hillel era um simples e pobre estudante em Jerusalém, contam que a sua situação era tão difícil que não conseguia pagar seus estudos e foi barrado na entrada da escola por seus mestres.
Hillel não abriu mão da possibilidade de ficar sem frequentar a escola e subiu no telhado em pleno inverno e, deitado sobre um buraco no teto ouvia as discussões e os ensinamentos, ficou tão concentrado nos estudos que não sentiu que nevava.
No dia seguinte quando abriram a escola alguém viu no teto algo estranho que se via o contorno de um homem, subiram ao teto e descobriram Hillel coberto de neve e congelado e quase morto pelo frio, onde levaram para dentro da escola e colocaram ao lado de uma lareira para aquecer seu corpo e mudaram sua roupa.
A partir daquele dia os mestres da academia entenderam que mesmo sem dinheiro, jamais poderiam negar os estudos de Hillel, que não somente conseguira terminar seus estudos, mas depois da morte de seus mestres Shemaia e Abtalion será eleito para liderar essa academia.
Hillel agora como líder de sua própria academia ( Beit Hillel) será diferente de todas as outras existentes, pois Hillel era quem falava a linguagem do povo, entendia suas dores e seus aflitos e era sempre humilde, paciente e tolerante com seus alunos e com todos que estavam em sua volta, ele ensinava a ética judaica através das passagens da Torá e fazia refletir na atualidade e no seu cotidiano.
Vejam algumas frases do sábio Hillel para entender um pouco do seu rico pensamento e prática:
"Não faça aos outros o que não quer que façam a você. Aí está toda a Torá. O resto é mero comentário.”
.” Sejam como os discípulos de Aarão, amando e buscando a paz, amando a humanidade e aproximando-a da Torá”.
Hillel será um dos grandes responsáveis para adaptar o judaísmo nesses tempos difíceis que serão ainda maior com a destruição do segundo templo e as consequências que levará ao judaísmo a quase o colapso de sua existência.
Ele é considerado um dos primeiros autores da Mishná e foi o primeiro a estabelecer o princípio do amor fraterno como condição principal para todos os mandamentos da Torá.
Na tradição conta que um dia, quando os sábios estavam reunidos na cidade de Jerico conversando de repente ouviram uma voz celestial que exclamou:
“Entre os presentes aqui está um homem a quem o Espírito do Todo-Poderoso descansaria, se seu tempo fosse digno disso” — “. Todos os olhos estavam fixos em Hillel!”
Mas Hillel nunca fez nenhum milagre ou talvez nunca tenha precisado deles, pois o verdadeiro milagre estava sempre em suas intenções de ensinar e praticar a humildade, a benevolência, amor ao próximo e tinha muita paciência .
Hillel, viveu sem pedir nenhum reconhecimento ou gloria simplesmente fez o que nos seres humanos temos a grande dificuldade de realizar em nossas vidas que é:
“Se não eu por mim, quem por mim? Se eu for só por mim, quem sou eu? Se não for agora, quando?” palavras do sabio Hillel.
Pode ser uma imagem de 1 pessoa e ao ar livre
Compartilhar
Saiba mais…

Tópicos do blog por tags

  • e (5)

Arquivos mensais