Todos os posts (1538)
Reportagem do jornal italiano Corriere della Sera, sobre o antisemitismo dos revolucionários líbios (09/04/2011)
Em teoria, fazendo uma generalização, por vezes imprecisa, mas de acordo com a lei judaica (Halachá), seria todo filho de mãe judaica, que passasse pelo ritual da circuncisão (Brit Milá). Isso o colocaria no pacto de Abraão que simboliza sua pertinência ao povo judeu. Isso não exime o judeu de outros dois aspectos fundamentais: o conhecimento da Lei (Torá) e a prática dos preceitos (mitzvot), que são o tripé básico do Judaísmo, de maneira simplificada: Brit (Pacto), Torá (Lei) e Mitzvot (Preceitos). Não creio que nenhum rabino ortodoxo, ou liberal, reformista ou conservador se oponha em princípio a esta definição básica. Alguns rabinos ou pensadores podem derivar desta conceituação, algumas condições e preceitos e complementá-la com argumentos e detalhes.
Porém a pergunta que se faz é a seguinte: quantos de nós podemos ser considerados judeus segundo esta definição “básica”. Quem conhece de maneira sucinta e simplificada a Lei (Torá) e pratica de alguma maneira os preceitos (mitzvot), seja numa versão ortodoxa ou neo-ortodoxa, seja de uma maneira liberal ou conservadora? Ou seja, deixamos de ser judeus, apesar de sermos filhos de mães judias e sermos circuncidados (os homens judeus, obviamente)? Ser ou não ser, eis a questão.
Viajemos na história. Reflitam comigo e ousem pensar sem preconceito.
Nosso primeiro exemplo vem da Idade Média, na Europa Ocidental. No período das Cruzadas (1096 a 1250) em países como a França e a Alemanha (1ª Cruzada) e na Inglaterra (3ª Cruzada) judeus são colocados entre e espada e a cruz: converter ou morrer. A grande maioria opta por morrer em Santificação do Nome Divino (Al Kidush HaShem). Uma minoria opta pela conversão. Isso se explica pela pouca integração dos judeus no meio em que viviam. Ser judeu ou morrer. São os mártires das Cruzadas. Isso está descrito no último livro editado por meu mestre e orientador Nachman Falbel. Na seqüência vemos outro fato ocorrer, mas de maneira diferente, no sul da Europa.
Após alguns séculos de vida judaica na Península Ibérica, já no século XIV, se configura o inicio de uma prolongada crise. Em 1391, estala em Sevilha um violento pogrom antijudaico, deflagrado por um frei. Este se espalha por toda a Espanha atual (na época reinos de Castela e Aragão), menos em Portugal aonde o rei protege os judeus. O resultado desta violência foi surpreendente: um elevado número de judeus optou por se converter ao Cristianismo, ao invés de morrer em “Santificação do Nome Divino” (Al Kidush HaShem). Isso devido ao fato dos judeus ibéricos serem muito integrados ao meio em que viviam e a crença de que após a crise poderiam retornar à sua fé ancestral. Surge um grupo numericamente grande de “cristãos novos”. Alguns judeus, não chegam a ser convertidos à força e conseguem permanecer judeus; alguns (minoria) preferem morrer sem profanar a fé de seus ancestrais. Entre 1391 e 1492, convivem nos reinos ibéricos alguns grupos étnico-religiosos: cristãos velhos, cristãos novos, judeus e muçulmanos. A convivência por vezes se torna tensa. Inúmeras campanhas tentam converter os judeus ao catolicismo. Os cristãos novos são discriminados em Toledo (1449) pelo estatuto de pureza de sangue. Trata-se de um antecessor ibérico das leis racistas que surgirão no século XX. Os cristãos novos são proibidos de exercer determinados cargos, de cobrar os impostos reais e de ter poder sobre a casta dos nobres e burgueses cristãos velhos. Trata-se de uma lei racista que exclui cristão e os discrimina pela sua pretensa origem “judaica”. Paira sobre os cristãos novos a mesma desconfiança que os judeus sofriam. Uma continuidade do preconceito, com os recém convertidos e uma restrição “racial” (numa época que este conceito ainda não existe!), aos descendentes de judeus.
Há alguns cristãos novos que se integram à nova fé, e tratam de mostrar que são fiéis e confiáveis. Há diversos cristãos novos que se dedicam a carreiras eclesiásticas, se tornando monges, padres e bispos. São por vezes fervorosos, talvez até para mostrar sua fidelidade.
Uma minoria dos convertidos opta por seguir praticando as escondidas a crença de seus ancestrais judeus: surge o cripto-judaísmo ou marranismo. Este grupo vive sob o risco de ser acusado de apostasia ou de heresia, algo inaceitável sob a ótica católica. Uma vez batizado, mesmo contra a vontade, não há retorno ao fiel. Um cristão (católico) nunca poderia abandonar a sua fé. Nestes casos, havia o risco de ser condenado por um tribunal inquisitorial que poderia levá-lo à fogueira. Isso não tardou em ocorrer. Os Reis Católicos (Fernando de Aragão e Isabel de Castela) instauram a Inquisição em seus domínios, na segunda metade do século XV (c. 1476) e começam a inquirir e condenar inúmeros cripto-judeus. Já não são judeus, pois a Inquisição não poderia julgar infiéis judeus, mas sim cristãos heréticos. Pelo catolicismo, são cristãos e são julgados por apostasia e heterodoxia. Pelo judaísmo, não são mais judeus, já que se converteram ao catolicismo, participaram da missa, e dos sacramentos. Geralmente não eram circuncidados e portanto não realizaram o Brit Milá, não sendo membros do Pacto, ou seja judeus.
Morrem na fogueira por crime de heresia judaizante: são cristãos que realizam rituais judaicos, herdados de seus ancestrais que foram judeus. Nem em termos judaicos e nem em termos cristãos, podem ser chamados de judeus. Mas fica a sensação de que morrem em “Kidush HaShem”, da mesma maneira que os judeus vitimados durante as Cruzadas. A minha lógica fica estreita e minha razão se atrofia quando penso que morreram como judeus, mesmo sem serem considerados assim, nem pelos membros do Pacto de Abraão e tampouco pelos seus algozes da Inquisição. Morreram por professar um certo tipo de Judaísmo. O que você acha? Seria uma maneira de “ser” judaica, em pessoas legalmente não judias? Seria “Kidush HaShem”? Os judaizantes não seriam judeus?
Passemos ao século XIX e XX. Surge o Racismo Europeu, na esteira da expansão colonial. Distorcendo a teoria de Charles Darwin e inserindo nesta a semente do nacionalismo europeu do século XIX, com uma forte dose de preconceito aos povos “não europeus”, incultos e inferiores. Buscando justificar a ocupação colonial da África e da Ásia, pelos caucasianos (leia-se brancos europeus), que buscavam mercados consumidores e matérias-primas para a expansão da Revolução Industrial. Assim, na esteira da expansão industrial européia se consolida um preconceito aos “outros” que será adotado pela teoria racial nazista. Os judeus são vistos por muitos europeus como asiáticos, infiltrados no seio da população européia. Uma espécie de figura “non grata”, um paria racial que contaminava a pureza ariana. Mas muitos judeus se integram e se afastam de suas raízes. Casam com não-judeus e se convertem ao cristianismo. Outros se tornam socialistas e cosmopolitas e deixam de ser judeus. De diversas maneiras tratam de se integrar numa sociedade que os vê como infiltrados, estranhos e “não europeus”. Esses judeus que abandonam sua identidade serão apanhados por uma “armadilha da História” tal como os judaizantes da Península Ibérica, o foram.
Em 1933, ascende ao poder o Nacional Socialismo (Nazismo), na Alemanha. No seu ideário político o mito ariano tem papel fundamental. A pureza racial é almejada para fortalecer uma política de fortalecimento do Reich alemão. Os arianos seriam os “senhores do futuro” e construtores do Império Alemão: o Reich de Mil Anos. Os judeus deveriam ser escravizados e eliminados. Mas e os judeus que haviam se convertido? E os meio judeus? E os que tinham um quarto de sangue judaico? Cria-se o conceito de Mischlinge. Seriam meio judeus.
As Leis de Nuremberg (1935) excluem os judeus de direitos de cidadania e apontam uma categoria diferenciada para os que fossem um quarto, metade ou três quartos judeus. Muitos são discriminados, excluídos de direitos e por vezes exterminados. Outros são integrados ao exercito ou a grupos de elite, sendo provados em sua fidelidade e lealdade ao Reich. Um destino diferente perseguiu alguns. De acordo com a vontade de Himmler, ora eram levados aos campos, ora eram aproveitados no esforço de guerra nazista. Quase todos já não se consideravam judeus: eram por vezes netos de um judeu e três arianos. Ora eram netos de dois avós judeus, mas de outros dois avós não judeus (arianos) e ambos os pais não professavam o judaísmo. Muitos foram mandados as câmaras de gás, como se fossem judeus, mesmo se fossem filhos de mães não-judias, mesmo se não fossem circuncidados e não se identificassem como judeus. Não praticavam o judaísmo e não eram judeus de acordo a Lei (Halachá). Mas morreram como judeus e por terem sangue judaico. Como analisar estas mortes?
A nossa análise pode se prolongar. Mas não queremos gerar conclusões e certezas. Neste momento preferimos gerar polêmica e dúvidas. Seriam judeus, os judaizantes hispânicos mortos pela Inquisição? Seriam judeus aqueles Mischlinges não poupados por Himmler e chacinados, por possuírem sangue judaico, mesmo se suas crenças e práticas não o fossem? E somos, nós mesmos judeus, se não praticamos os preceitos e não conhecemos a Lei (mesmo se for sob uma ótica moderna, conservadora ou reformista)? Basta ser filho de mãe judia e ser circuncidado para ser judeu? E quem foi convertido por um rabino não-ortodoxo não pode ser considerado judeu? Pessoalmente não aceito o monopólio da minoria ortodoxa e creio que a diversidade judaica é condição “sine qua non” para a sobrevivência e a continuidade da identidade judaica.
* Sergio Feldman é professor adjunto de História Antiga do Curso de História da Universidade Tuiuti do Paraná e doutor em História pela UFPR.
Estamos às vésperas de Purim, a data no calendário judaico em que comemoramos uma vitória contra o antissemitismo. Purim tem, para mim, também o significado da repulsa a todos os tipos de antissemitismo em todas as gerações. Para mim não é dia de festa, pois na maior parte dessas ocasiões os judeus não tiveram uma rainha Ester que tivesse acesso ao poder.
É para mim um dia de reflexão sobre a ilusão do acesso privilegiado circunstancial ao poder, e sobre a necessidade de empoderamento maior de um grupo social no sentido de se proteger contra agressões cometidas por pessoas individuais ou pertencentes a grupos intoxicados pelo ódio e pela intolerância.
Não gosto de Purim. Me sinto mal ao pensar em morder aquele doce delicioso, o Humentasch, com passas e nozes, mas que está associado a uma simbologia bárbara, do revanchismo típico do “olho por olho”, aquela de comer a orelha de Haman (“Humen” é a pronúncia de Haman em idishe, e o tasch significa orelha). Me faz pensar no Fernandinho Beiramar, que se vangloriava de arrancar com os dentes as orelhas dos seus desafetos. Embora deseje do fundo do coração que vão para o Inferno os Hitlers, Gaddafis, Ahmadinejads, Chavez, e outras pessoas de mau caráter que nós judeus também temos (Avigdor Liberman é só o primeiro nome que vem à mente), e queira distância de todos que alguma vez mostrem qualquer tipo de amizade ou admiração em relação a essas pessoas, EU NÃO DESEJO QUE NINGUÉM LHES COMA AS ORELHAS.
Não gosto de Purim porque teria sido o primeiro Holocausto. Não ter sido o primeiro é motivo para alívio, mas em algum momento histórico perdido no tempo aconteceu o primeiro, e foi seguido por muitos outros, até chegar à Shoá, causada não por um único Haman, mas por uma sociedade doente que o produziu. E incluo nessa série de holocaustos, que eu gostaria de ver celebrados em conjunto, aqueles da Bósnia, de Ruanda, do Camboja, dos armênios na Turquia, dos índios norte-americanos e brasileiros, dos Gulag´s de Stalin, dos 20 milhões de soviéticos mortos na Segunda Guerra, dos palestinos de tantas aldeias destruídas (ainda hoje), dos 20 milhões de negros vítimas do tráfico negreiro que vicejou durante séculos e nem porisso é menos triste. Corrijam-me nos números os historiadores.
Purim é para mim um momento de reflexão sobre a doença social que produz Haman´s e as multidões que os seguem cegamente. Não merece um carnaval de máscaras, e sim meditação sobre o mal que existe em cada um e em todos nós, e que pode um dia nos cegar perante a injustiça. Um dia para a celebração da responsabilidade individual e do livre arbítrio.
Purim teria significado digno de eu celebrar, se revelasse às crianças e jovens esse livre arbítrio que nos leva a honrar também o bem que existe naqueles que estão no lado opressor e se rehumanizam na compaixão e na prática da justiça a qualquer preço.
O Purim do "olho por olho" eu não consigo celebrar.
Celebraria se pudéssemos o nosso Purim a todos os outros povos vítimas de genocídios, intolerâncias, e também de desastres causados pelo próprio homem, como a tragédia em Fukushima, que além dos sentimentos de compaixão nos traz a consciência da arrogância, a “hubris” das tragédias gregas. Fukushima poderá ser um dia Angra. Golfo do México poderá ser um dia Juqueí até Itanhaém. Há responsabilidades individuais e coletivas em cada um desses acontecimentos. Purim me leva a refletir sobre isso e sobre a parte que me cabe no latifúndio do nosso Tikkun Olam, o termo hebraico para o dever judaico supremo de cada um e de todos: a “cura do mundo”.
Purim é o dia em que eu gostaria de celebrar a responsabilidade individual de todo e qualquer ser humano pelos direitos humanos de todos os demais, e pelo planeta em que vivemos. Meu herói em Purim seria o chefe Seattle cujas palavras nos foram trazidas pela Marcelinha, de 14 anos, que adotei como afilhada.
Um Purim humanista seria antes de tudo universalista, e poderia estar associado à Alameda dos Justos do Yad Vashem, onde temos, nós judeus, um patrimônio moral da humanidade que é a capacidade de reconhecer os Justos de todas as nações. E que é a prova histórica de que a única forma de termos segurança e paz é agindo no sentido de que todos os seres humanos tenham segurança e paz.
Agnóstico que sou, mesmo assim busco o Poder da Oração ensinado pelo monge budista Thich Nhat Nhan,dirigindo as energias do pensamento e do coração neste Purim, para que Obama e Dilma tenham boas conversas, e para que Obama e Dilma digam algumas poucas palavras decisivas a Netanyahu, e que possam resultar, como acredito que podem, numa guinada que nos faça desviar do precipício. Acredito nas palavras. Poucas palavras poderão ser suficientes. Está em tempo.
Por que Dilma? Porque acho que o Brasil deverá adotar Gaza.
Oxalá eu possa estar alegre no Purim em 2012.
nota adjunta: LA PRESENCIA DEL TERROR.pdf
É com prazer que informamos que já está em fase de elaboração a Edição de Pessach da Revista Amazônia Judaica.
Após o enorme sucesso e a boa receptividade da Edição Especial de 200 Anos da Imigração Judaica para a Amazônia, nosso entusiasmo cresceu e resolvemos lutar pela continuidade, melhorar ainda mais o padrão de qualidade gráfico e jornalístico, além de ampliar o universo temático e de atingimento da revista.
Assim esta edição terá como destaques, matérias e artigos super interessantes sobre: Pessach ( História da Hagadá e a Festa da Mimona, tradição singular marroquina e do Norte da África); artigos sobre os judeus sefaraditas no Brasil e Espanha e os cristãos novos em Portugal, entre outros.
Visando manter este belo projeto, convidamos você a conhecê-lo e apoiá-lo. Você pode fazê-lo de 2 formas:
1. Colocando uma mensagem de Pessach em nome de sua família – valor: R$300,00
2. Fazendo uma assinatura anual da revista – valor: R$180,00
Caso esteja interessado em nos apoiar, contate-nos pelo e-mail portal200anos@gmail.com
Gratos.
David e Elias Salgado – Amazônia Judaica
Feminismo
Por que 8 de março é o Dia Internacional da Mulher?
Resseguros do Brasil, primeira empresa
no Brasil a ter uma creche para filhos
das funcionárias. Foto: Divulgação.
As histórias que remetem à criação do Dia Internacional da Mulher alimentam o imaginário de que a data teria surgido a partir de um incêndio em uma fábrica têxtil de Nova York em 1911, quando cerca de 130 operárias morreram carbonizadas. Sem dúvida, o incidente ocorrido em 25 de março daquele ano marcou a trajetória das lutas feministas ao longo do século 20, mas os eventos que levaram à criação da data são bem anteriores a este acontecimento.
Desde o final do século 19, organizações femininas oriundas de movimentos operários protestavam em vários países da Europa e nos Estados Unidos. As jornadas de trabalho de aproximadamente 15 horas diárias e os salários medíocres introduzidos pela Revolução Industrial levaram as mulheres a greves para reivindicar melhores condições de trabalho e o fim do trabalho infantil, comum nas fábricas durante o período.
O primeiro Dia Nacional da Mulher foi celebrado em maio de 1908 nos Estados Unidos, quando cerca de 1500 mulheres aderiram a uma manifestação em prol da igualdade econômica e política no país. No ano seguinte, o Partido Socialista dos EUA oficializou a data como sendo 28 de fevereiro, com um protesto que reuniu mais de 3 mil pessoas no centro de Nova York e culminou, em novembro de 1909, em uma longa greve têxtil que fechou quase 500 fábricas americanas.
Em 1910, durante a II Conferência Internacional de Mulheres Socialistas na Dinamarca, uma resolução para a criação de uma data anual para a celebração dos direitos da mulher foi aprovada por mais de cem representantes de 17 países. O objetivo era honrar as lutas femininas e, assim, obter suporte para instituir o sufrágio universal em diversas nações.
Com a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) eclodiram ainda mais protestos em todo o mundo. Mas foi em 8 de março de 1917 (23 de fevereiro no calendário Juliano, adotado pela Rússia até então), quando aproximadamente 90 mil operárias manifestaram-se contra o Czar Nicolau II, as más condições de trabalho, a fome e a participação russa na guerra - em um protesto conhecido como "Pão e Paz" - que a data consagrou-se, embora tenha sido oficializada como Dia Internacional da Mulher, apenas em 1921.
Somente mais de 20 anos depois, em 1945, a Organização das Nações Unidas (ONU) assinou o primeiro acordo internacional que afirmava princípios de igualdade entre homens e mulheres. Nos anos 1960, o movimento feminista ganhou corpo, em 1975 comemorou-se oficialmente o Ano Internacional da Mulher e em 1977 o 8 de março foi reconhecido oficialmente pelas Nações Unidas.
"O 8 de março deve ser visto como momento de mobilização para a conquista de direitos e para discutir as discriminações e violências morais, físicas e sexuais ainda sofridas pelas mulheres, impedindo que retrocessos ameacem o que já foi alcançado em diversos países", explica a professora Maria Célia Orlato Selem, mestre em Estudos Feministas pela Universidade de Brasília e doutoranda em História Cultural pela Universidade de Campinhas.
No Brasil, as movimentações em prol dos direitos da mulher surgiram em meio aos grupos anarquistas do início do século 20, que buscavam, assim como nos demais países, melhores condições de trabalho e qualidade de vida. A luta feminina ganhou força com o movimento das sufragistas, nas décadas de 1920 e 30, que conseguiram o direito ao voto em 1932, na Constituição promulgada por Getúlio Vargas. A partir dos anos 1970 emergiram no país organizações que passaram a incluir na pauta das discussões a igualdade entre os gêneros, a sexualidade e a saúde da mulher. Em 1982, o feminismo passou a manter um diálogo importante com o Estado, com a criação do Conselho Estadual da Condição Feminina em São Paulo, e em 1985, com o aparecimento da primeira Delegacia Especializada da Mulher.