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Yom Hashoa - Yizkor Abba Kovner

Yizkor
Abba Kovner


Recordemos de nossos irmãos e irmãs, as casas na cidade e nos campos,
As barulhentas ruas da aldeia como um rio
E o pequeno bar solitario no caminho
O anciao pelos tracos de sua face
A mae pelo seu sueter
A jovem por suas tranças
O bebê
As milhares comunidades de Israel e suas familas humanas
Todas as coletividades judias
Que sucumbiram no extermínio nas mãos do assassino nazista.
Aquele que berrou de repente e por seu berro morreu.
A mulher que abracou seu bebê perto de seu coracao e seus ombros despencaram.
O bebê cujos dedos procuram o mamilo da mãe e este esta azul de frio.
As pernas
As pernas que pediram refugio e ja nao havia mais saida.
Aqueles que fecharam suas mãos em punhos
E os punhos que envolveram o ferro
E o ferro que se transformou em uma arma de esperança, desespero e rebelião
Aqueles de coração generoso
Aqueles de olhos perspicases
Aqueles que se arrojaram sem possibilades de salvar.
Recordemos o dia.
O meio dia.
O sol que ascendeu sobre o foco sanguento
O ceu alto e mudo
Recordemos os montes de cinzas sob os jardins floridos.
Recorde os vivos seus mortos
Porque eles nos enfrentam
Com seus olhares alredor
E não vai cessar, não cessará até que sejamos dignos de sua memória

Do hebraico – Nelson Rosembaum
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Yom Hashoa - Resistência / Haim Guri

Resistência / Haim Guri

Resistiu quem conseguiu um pedaço de pão.
Resistiu quem deu aula às ocultas.
Resistiu quem escreveu e distribuiu um jornal clandestino,
advertindo e pondo fim às ilusões.
Resistiu quem introduziu secretamente um Sefer Torá.
Resisitiu quem falsificou documentos “arianos” que salvaram vidas.
Resistiu quem conduziu os perseguidos de uma terra a outra.
Resisitiu quem descreveu os acontecimentos e enterrou o papel.
Resistiu quem ajudou aos mais necessitados ainda.
Resistiu quem pronunciou as palavras que trouxeram seu próprio fim.
Resistiu quem se ergueu com mãos nuas contra seus assassinos.
Resistiu quem transmitiu mensagens entre os sitiados,
e conseguiu trazer instruções e algumas armas.
Resistiu quem sobreviveu.
Resistiu quem combateu armado nas ruas das cidades, nas montanhas e florestas.
Resistiu quem se revoltou nos campos de extermínio.
Resistiu quem se rebelou nos guetos, entre os muros caídos,
na revolta mais destituída de esperança que algum ser humano jamais vivenciou.
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Noé - Antes do dilúvio - Autor: Pr Forrest Keener

Noé - Antes do dilúvio - Autor: Pr Forrest Keener

Vamos voltar na história. Havia passado 1.536 anos depois da criação de Adão. Adão já tinha morrido há 606 anos. Como os homens e mulheres viviam muitos anos e tinham muitos filhos e filhas, certeiramente havia milhões de pessoas sobre a terra. Essas pessoas desenvolveram civilizações avançadas, mas havia um problema terrível. Todos herdaram o pecado de Adão, que ele tomou para si no jardim do Édem. Tornavam mais pecadores continuamente e pensavam em coisas perversas todo o tempo, fazendo que a terra se enchia de violência.

Enquanto Deus olhou para essa cena má, disse, “Vou destruir toda a carne que existe sobre a terra com um dilúvio”. Deus decidiu, porém, salvar algumas poucas pessoas para repovoar a terra. Deus estava planejado isso por gerações, e tinha um homem que Ele tinha guardado para essa tarefa ainda antes do seu nascimento, e tinha cuidado justamente para esse propósito. O nome desse homem era Noé. Deus cuidou que os antepassados de Noé tinham se casado apenas com a linhagem sanguínea de Sete. Então, Noé vinha de gerações puras, pois achou graça aos olhos de Deus.

Noé teve três filhos: Sem, Cão e Jafé. O plano de Deus era salvar esses quatro homens e suas esposas para povoar a terra depois do dilúvio. Então, Deus instruiu Noé a construir uma arca com madeira de gofer. Essa grande embarcação carregaria Noé, seus filhos e amostras de todos os animais que viviam sobre a terra, durante o dilúvio. A arca teria 137 metros, quase um quarteirão e meio. Teria 23 metros de largura por 14 metros de altura. Tão alta quanto um prédio de quatro andares.

Deus disse a Noé para começar a construção quando tivesse 480 anos, aproximadamente 20 anos antes de nascer seus filhos e disse-lhe que teria 120 anos para construir essa grande embarcação antes que o dilúvio viesse.

Quero repetir uma verdade que é óbvia nas Escrituras. Noé não recebeu graça por causa de seus feitos, mais ele os fez porque Deus tinha dado a Noé essa graça.

Perguntas ! NOÉ ! ANTES DO DILÚVIO

1. Havia muitas pessoas sobre a terra quando veio o dilúvio?
2. Essas pessoas eram primitivas ou avançadas?
3. Quanto tempo há entre a criação de Adão e o pronunciamento do julgamento de Deus?
4. Há quanto tempo Adão estava morto?
5. O que desagradava a Deus nessas pessoas?
6. Essas pessoas queriam ser melhores?
7. O que Deus resolveu fazer a esse respeito?
8. Quanto tempo houve entre o pronunciamento de Deus sobre o julgamento e a vinda do dilúvio?
9. Quantas pessoas Deus resolveu salvar?
10. Quem foi a principal pessoa que Deus escolheu salvar?
11. Qual foi a idade de Noé quando começou a construir a arca?
12. Qual foi a idade de Noé quando seus filhos nasceram?
13. Quantos filhos tinha Noé quando veio o dilúvio?
14. Qual foi o bom hábito que Noé costumava fazer?
15. Quanto tempo Noé trabalhou na arca?
16. Qual era o comprimento, largura e altura da arca?
17. De que era feita a arca?
18. Quantos andares tinha a arca?
19. Quantas pessoas iriam entrar na arca?
20. A mãe de Noé era descendente de Sete?

Autor: Pr Forrest Keener
Tradução: Albano Dalla Pria
Revisão: Daniel Aaron Gardner
Edição: Calvin Gardner 04/04
Fonte: www.palavraprudente.com.br
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O Terceiro Seder ( O SEUDAT DE MASHIACH)

Um dos mais importantes elementos de Pêssach, a festa que celebra a liberdade do povo judeu, é que serve como uma preparação para acompleta e eterna Redenção, através da vinda de Mashiach.

Assim, o versículo declara: "Revelarei maravilhas [ao tempo da Redenção Final que serão] similares [àquelas que foram reveladas] aotempo do êxodo do Egito." De fato, o êxodo do Egito tornou possíveis todasas redenções subsequentes, bem como tornará a final.

Os primeiros dias de Pêssach estão mais relacionados ao êxodo do Egito, enquanto que os últimos dois estão conectados à Redenção final.Isto também pode ser observado através da leitura da Haftará durante os doisúltimos dias.

A Haftará do sétimo dia de Pêssach é a Canção de David, pois neste dia (bem como no último dia de Pêssach), há uma referência à Mashiach,descendente de David. Acontece principalmente a respeito da Haftará no últimodia, a qual fala diretamente sobre a Redenção vindoura.

Durante estes dois últimos dias de Pêssach, a maior ênfase na Redenção final encontra-se no último dia, Acharon shel Pêssach, quando aHaftará fala aberta e longamente sobre a Redenção vindoura, e sobre apersonalidade do próprio Mashiach, condutor do mundo àquele tempo, e dacolheita dos judeus.

A relação entre Acharon shel Pêssach e a Redenção vindoura foi revelada de forma ainda mais aprofundada pelo Báal Shem Tov, que instituiuuma terceira refeição especial, antes do término de Pêssach, chamando-a"Seudat Mashiach", porque "este dia é iluminado por um raio daluz de Mashiach."

Mesmo antes do Báal Shem Tov instituir esta refeição adicional, Mashiach era comemorado pela Haftará especial recitada em Acharonshel Pêssach. Qual o significado de celebrar algo tão elevado como a Redençãofutura com uma refeição material a mais?

Comemorando a Redenção vindoura de tal modo, faz com que seu brilho permeie o indivíduo não somente em pensamento e fala (algo conseguido aorecitar-se a Haftará), mas também no corpo físico. Dessa maneira este conceitoé assimilado dentro do próprio corpo da pessoa. Além disso, celebrar ecomemorar por meio de uma refeição salientam a santidade que permeará todo omundo físico quando Mashiach vier. Pois àquele tempo "a glória de D'usserá revelada, e toda carne contemplará..." Esta influência do espiritualsobre o material é melhor percebida pela santificação do alimento. Pois um judeu faz uma refeição comum com a intenção detrazer santidade a este mundo, mais ainda com respeito a uma refeição num diasagrado!

Seguramente, então a "Seudat Mashiach" anual em Acharon shel Pêssach nos permite compreender melhor como toda a parte físicaserá imbuída de santidade ao tempo da Redenção.

O efeito deste evento especial certamente não se limita ao próprio dia de Acharon shel Pêssach. Ao contrário, a idéia é afetar o judeudurante todo o ano, de tal maneira que tudo que faça em relação ao mundo físicoseja permeado com santidade e espiritualidade, como a espiritualidade queimpregnará o mundo quando da chegada de Mashiach.

A lição de Acharon shel Pêssach, entretanto, não está limitada à relação do ser humano ao mundo físico; relaciona-se também ao âmagode cada alma judia. Acharon shel Pêssach proporciona a cada judeu revelar esteâmago durante todo o ano, e desse modo servir a D'us com cada fibra de seu ser.

CHABAD DO PARANA

http://www.chabadcuritiba.com

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Cabalá - Pesaj: la primera transformación

Cabalá - Pesaj: la primera transformación Autor: * Rav Dr. Michael Laitman

Dijo Rabí Shimon: ¡Ay de aquellos que dicen que la Torá viene a contarnos cuentos simples y relatos trillados de Esaú, Laban, etc.!... …sino que todas las palabras de la Torá tratan de cosas elevadas y de secretos sublimes (El Libro del Zohar, Behaalotjá).
Tanto la Torá como la historia de Pesaj describen, con total precisión, lo que acontece en la realidad espiritual, en el interior de cada persona. No importa cuántas veces leamos la Leyenda (Hagadá) de Pesaj o cuánto la analicemos; su verdadero significado se alcanza sólo cuando logramos experimentar nuestro propio éxodo de Egipto y celebramos la fiesta de Pesaj internamente.
Según la Cábala, toda la realidad, tanto la terrenal como la espiritual, consiste en dos fuerzas opuestas: el deseo innato del hombre de disfrutar, el deseo de recibir para uno mismo o Egoísmo y la Fuerza Gobernante de la realidad, el deseo de impartir abundancia, placer y deleite al individuo o la Fuerza Otorgante, el Altruismo. Estas son las fuerzas de las que habla la Leyenda de Pesaj, y en realidad, la Torá en total.
La entrada en la realidad espiritual se logra mediante una similitud con la Fuerza Otorgante. Se trata de un cambio interno en nosotros, de una transformación de nuestra naturaleza egoísta en altruista. No obstante, antes de adquirir el atributo de otorgamiento, debemos familiarizarnos con nuestro egoísmo en toda su magnitud y dominio sobre nosotros hasta que no queramos nada más que liberarnos de él.
En la Hagadá de Pesaj, el Faraón representa la naturaleza egoísta del hombre y Moisés, la altruista.

¿Qué es Pesaj?
Pesaj viene de la palabra hebrea “Pesijá” que significa “dar un salto”, es decir, saltar por encima del carácter humano.
Antes del éxodo de Egipto el individuo permanece cautivo bajo el dominio de su ego, sin influencia alguna sobre su propia vida.
Después del éxodo de Egipto, ya en el mundo espiritual, aprende a participar en la Obra de la Creación y a manejar su vida y la realidad en la que existe, más allá de la experiencia deleitosa de su relación con la Fuerza Superior.

El sendero espiritual de Pesaj
La Emigración a Egipto es el lugar en el que el hombre encuentra seguridad y satisfacción materiales. Tiene posesiones, conocimiento, experiencia, estatus, etc., confiado en que esto lo satisfaría para siempre.
Cuando “se levanta un nuevo rey en Egipto”, el hombre ve que todo lo adquirido hasta entonces pertenece ahora al “Rey“, al egoísmo, al Faraón.
El hombre, que se sentía libre y feliz, descubre repentinamente que se ha convertido en un esclavo de su propio deseo de disfrutar; se da cuenta que nunca ha tomado en cuenta a su prójimo y se llena de una profunda sensación de vergüenza. Además, se ve incapaz de conectarse a la Fuerza Superior y de ser otorgante como Ella. Su trabajo es duro, pero no tiene propósito ni frutos.
Todo lo que creyó haber adquirido se desmorona. Y así, las bellas ciudades de Pitom y Ramsés son “tragadas por la tierra”.
Esto lleva al hombre a preguntarse, ¿por qué me pasa todo esto?, y ¿qué debo aprender para salir de esta situación?
Entonces, se revelan dos fuerzas en el hombre: el egipcio, que piensa sólo en sí mismo y su placer, y el israelita, quien anhela unirse con el Creador, la Fuerza Superior, la Fuente del Placer (Israel=Yashar-Él: derecho hacia el Creador).
EN PESAJ, ISRAEL (YASHAR-ÉL) PREVALECE SOBRE EL EGO.
Cuando el hombre decide fortalecer su aspecto israelí para vencer al egipcio (su egoísmo), pide ayuda, como está escrito en la Torá:
...…y los hijos de Israel gemían a causa de la servidumbre, y clamaron; y el clamor por su servidumbre subió a Dios (Éxodo 2:23).
Es decir, el hombre se dirige a la Fuerza Superior y le suplica que lo libere del dominio del Faraón (su ego).
Así, emerge en el hombre la fuerza interna llamada Moisés que “jala“ a Israel de Egipto (Moshé=Limshot=jalar) y les ayuda a dar el salto mencionado. Sin embargo, y aunque Moisés fue criado en casa del Faraón y lo conoce, sabe que necesita un milagro: la ayuda de la Fuerza Superior.
Los constantes pedidos de Moisés hacen que el Faraón se oponga más y más a la salida del pueblo de Israel de su dominio. Les hace la vida más difícil y recibe un golpe, trata de fortalecer su dominio sobre ellos y recibe otro, hasta que mediante las Diez Plagas, diez discernimientos necesarios, se revelan estas dos fuerzas por completo: el Faraón, quien debe renunciar al control sobre Israel y reconocer la Fuerza Superior como Gobernante; y el Pueblo de Israel, quien debe aceptar que su pedido de auxilio debe ser bien analizado y preciso, o no podrá librarse de la carga de su egoísmo.

Pesaj oportunidad de redención
La redención del egoísmo requiere una preparación meticulosa, ya que se trata de un cambio transformativo. Los cabalistas no esperan el mes de Nisán para festejar Pesaj. En cambio, nos enseñan cómo librarnos del ego todos los días.
Es decir, Pesaj es un estado interno que experimenta el ser humano. No obstante, la fecha especial en que todo el pueblo festeja es para recordar la Meta principal del hombre: saltar por encima de nuestra naturaleza innata y alcanzar nuestra conexión directa con la Fuerza Superior.
Las luces que nos influyen internamente durante los días de Pesaj nos ayudan a cruzar, de manera segura, el “Mar Rojo”, la última frontera del dominio del Faraón para finalmente unirnos con la Fuerza Superior y disfrutar del placer infinito que Ésta ha preparado para nosotros. Y la fiesta de Pesaj, es sólo el comienzo…
* El Rav Dr. Michael Laitman es máster en cibern„ética, doctor en filosofía y Cábala, profesor de ontología y teoría del conocimiento. Es fundador y presidente de Bnei Baruj y del Instituto ARI, en Israel.
Más información en www.laitman.es, www.kabbalah.info/es y www.kab.tv/spa.
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Os sete saberes necessários à educação do futuro.
Edgar Morin.

Os sete saberes necessários à educação do futuro não têm nenhum programa
educativo, escolar ou universitário. Aliás, não estão concentrados no primário, nem no
secundário, nem no ensino universitário, mas abordam problemas específicos para cada um
desses níveis. Eles dizem respeito aos setes buracos negros da educação, completamente
ignorados, subestimados ou fragmentados nos programas educativos. Programas esses que,
na minha opinião, devem ser colocados no centro das preocupações sobre a formação dos
jovens, futuros cidadãos.
O Conhecimento.
O primeiro buraco negro diz respeito ao conhecimento. Naturalmente, o ensino
fornece conhecimento, fornece saberes. Porém, apesar de sua fundamental importância,
nunca se ensina o que é, de fato, o conhecimento. E sabemos que os maiores problemas
neste caso são o erro e a ilusão.
Ao examinarmos as crenças do passado, concluímos que a maioria contém erros e
ilusões. Mesmo quando pensamos em vinte anos atrás, podemos constatar como erramos e
nos iludimos sobre o mundo e a realidade. E por que isso é tão importante? Porque o
conhecimento nunca é um reflexo ou espelho da realidade. O conhecimento é sempre uma
tradução, seguida de uma reconstrução. Mesmo no fenômeno da percepção, através do qual
os olhos recebem estímulos luminosos que são transformados, decodificados, transportados
a um outro código, que transita pelo nervo ótico, atravessa várias partes do cérebro para,
enfim, transformar aquela informação primeira em percepção. A partir deste exemplo,
podemos concluir que a percepção é uma reconstrução.
Tomemos um outro exemplo de percepção constante: a imagem do ponto de vista
da retina. As pessoas que estão próximas parecem muito maiores do que aquelas que estão
mais distantes, pois à distância, o cérebro não realiza o registro e termina por atribuir uma
dimensão idêntica para todas as pessoas. Assim como os raios ultravioletas e
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infravermelhos que nós não vemos, mas sabemos que estão aí e nos impõem uma visão
segundo as suas incidências. Portanto, temos percepções, ou seja, reconstruções, traduções
da realidade. E toda tradução comporta o risco de erro. Como dizem os italianos
“tradotore/traditore”.
Também sabemos que não há nenhuma diferença intrínseca entre uma percepção e
uma alucinação. Por exemplo: se tenho uma alucinação e vejo Napoleão ou Júlio César,
não há nada que me diga que estou enganado, exceto o fato de saber que eles estão mortos.
São os outros que vão me dizer se o que vejo é verdade ou não. Quero dizer com isso que
estamos sempre ameaçados pela alucinação. Até nos processos de leitura isto acontece.
Nós sabemos que não seguimos a linha do que está escrito, pois, às vezes, nossos olhos
saltam de uma palavra para outra e reconstrói o conjunto de uma maneira quase
alucinatória. Neste momento, é o nosso espírito que colabora com o que nós lemos. E não
reconhecemos os erros porque deslizamos neles. O mesmo acontece, por exemplo, quando
há um acidente de carro. As versões e as visões do acidente são completamente diferentes,
principalmente pela emoção e pelo fato das pessoas estarem em ângulos diferentes.
No plano histórico há erros, se me permitem o jogo de palavras, histéricos.
Tomemos um exemplo um pouco distante de nós: os debates sobre a Primeira Guerra
Mundial. Uma época em que a França e a Alemanha tinham partidos socialistas fortes,
potentes e muito pacifistas, e que, evidentemente, eram contrários à guerra que se
anunciava. Mas, a partir do momento em que se desencadeou a guerra, os dois partidos se
lançaram, massivamente a uma campanha de propaganda, cada um imputando ao outro os
atos mais ignóbeis. Isto durou até o fim da guerra. Hoje, podemos constatar com os eventos
trágicos do Oriente Médio a mesma maneira de tratar a informação. Cada um prefere
camuflar a parte que lhe é desvantajosa para colocar em relevo a parte criminosa do outro.
Este problema se apresenta de uma maneira perceptível e muito evidente, porque as
traduções e as reconstruções são também um risco de erro e muitas vezes o maior erro é
pensar que a idéia é a realidade. E tomar a idéia como algo real é confundir o mapa com o
terreno.
Outras causas de erro são as diferenças culturais, sociais e de origem. Cada um
pensa que suas idéias são as mais evidentes e esse pensamento leva a idéias normativas.
Aquelas que não estão dentro desta norma, que não são consideradas normais, são julgadas
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como um desvio patológico e são taxadas como ridículas. Isso não ocorre somente no
domínio das grandes religiões ou das ideologias políticas, mas também das ciências.
Quando Watson e Crick decodificaram a estrutura do código genético, o DNA (ácido
desoxirribonucléico), surpreenderam e escandalizaram a maioria dos biólogos, que jamais
imaginavam que isto poderia ser transcrito em moléculas químicas. Foi preciso muito
tempo para que essas idéias pudessem ser aceitas.
Na realidade, as idéias adquirem consistência como os deuses nas religiões. É algo
que nos envolve e nos domina a ponto de nos levar a matar ou morrer. Lenin dizia: “Os
fatos são teimosos, mas, na realidade, as idéias são ainda mais teimosas do que os fatos e
resistem aos fatos durante muito tempo”. Portanto, o problema do conhecimento não deve
ser um problema restrito aos filósofos. É um problema de todos e cada um deve levá-lo em
conta desde muito cedo e explorar as possibilidades de erro para ter condições de ver a
realidade, porque não existe receita milagrosa.
O Conhecimento Pertinente.
O segundo buraco negro é que não ensinamos as condições de um conhecimento
pertinente, isto é, de um conhecimento que não mutila o seu objeto. Nós seguimos, em
primeiro lugar, um mundo formado pelo ensino disciplinar. É evidente que as disciplinas
de toda ordem ajudaram o avanço do conhecimento e são insubstituíveis. O que existe
entre as disciplinas é invisível e as conexões entre elas também são invisíveis. Mas isto não
significa que seja necessário conhecer somente uma parte da realidade. É preciso ter uma
visão capaz de situar o conjunto. É necessário dizer que não é a quantidade de
informações, nem a sofisticação em Matemática que podem dar sozinhas um conhecimento
pertinente, mas sim a capacidade de colocar o conhecimento no contexto.
A economia, que é das ciências humanas, a mais avançada, a mais sofisticada, tem
um poder muito fraco e erra muitas vezes nas suas previsões, porque está ensinando de
modo a privilegiar o cálculo. Com isso, acaba esquecendo os aspectos humanos, como o
sentimento, a paixão, o desejo, o temor, o medo. Quando há um problema na bolsa, quando
as ações despencam, aparece um fator totalmente irracional que é o pânico, e que,
freqüentemente, faz com que o fator econômico tenha a ver com o humano, ligando-se,
assim, à sociedade, à psicologia, à mitologia. Essa realidade social é multidimensional e o
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econômico é apenas uma dimensão dessa sociedade. Por isso, é necessário contextualizar
todos os dados.
Se não houver, por exemplo, a contextualização dos conhecimentos históricos e
geográficos, cada vez que aparecer um acontecimento novo que nos fizer descobrir uma
região desconhecida, como o Kosovo, o Timor ou Serra Leoa, não entenderemos nada.
Portanto, o ensino por disciplina, fragmentado e dividido, impede a capacidade natural que
o espírito tem de contextualizar. E é essa capacidade que deve ser estimulada e
desenvolvida pelo ensino, a de ligar as partes ao todo e o todo às partes. Pascal dizia, já no
século XVII: “Não se pode conhecer as partes sem conhecer o todo, nem conhecer o todo
sem conhecer as partes”.
O contexto tem necessidade, ele mesmo, de seu próprio contexto. E o
conhecimento, atualmente, deve se referir ao global. Os acidentes locais têm repercussão
sobre o conjunto e as ações do conjunto sobre os acidentes locais. Isso foi comprovado
depois da guerra do Iraque, da guerra da Iugoslávia e, atualmente, pode ser verificado com
o conflito do Oriente Médio.
A Identidade Humana.
O terceiro aspecto é a identidade humana. É curioso que nossa identidade seja
completamente ignorada pelos programas de instrução. Podemos perceber alguns aspectos
do homem biológico em Biologia, alguns aspectos psicológicos em Psicologia, mas a
realidade humana é indecifrável. Somos indivíduos de uma sociedade e fazemos parte de
uma espécie. Mas, ao mesmo tempo em que fazemos parte de uma sociedade, temos a
sociedade como parte de nós, pois desde o nosso nascimento a cultura se nos imprime. Nós
somos de uma espécie, mas ao mesmo tempo a espécie é em nós e depende de nós. Se nos
recusamos a nos relacionar sexualmente com um parceiro de outro sexo, acabamos com a
espécie. Portanto, o relacionamento entre indivíduo-sociedade-espécie é como a trindade
divina, um dos termos gera o outro e um se encontra no outro. A realidade humana é
trinitária.
Eu acredito possível a convergência entre todas as ciências e a identidade humana.
Um certo número de agrupamentos disciplinares vai favorecer esta convergência. É
necessário reconhecer que na segunda metade do século XX, houve uma revolução
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científica, reagrupando as disciplinas em ciências pluridisciplinares. Assim, há a
cosmologia, as ciências da terra, a ecologia e a pré-história.
Tome-se como exemplo a cosmologia, que, efetivamente, utiliza a microfísica, os
aceleradores de partículas para imaginar os primeiros segundos do universo. Ela utiliza a
observação e pratica uma reflexão filosófica sobre o mundo, assim como fizeram Hubert
Reeves, Hawkins, Michel Cassé e tantos outros. Eles refletem sobre o universo incrível no
qual vivemos. Mas o que é importante para a identidade humana é saber que estamos neste
minúsculo planeta perdidos no cosmos. Nossa missão não é mais a de conquistar o mundo
como acreditava Descartes, Bacon e Marx. Nossa missão se transformou em civilizar o
pequeno planeta em que vivemos.
Por outro lado, as ciências da terra nos inscrevem neste planeta formado por
fragmentos cósmicos, resultados de uma explosão de sóis anteriores. Resta saber como
estes fragmentos reunidos e aglomerados puderam criar uma tal organização, uma autoorganização,
para nos dar este planeta. É necessário mostrar que ele gerou a vida, e a nós
somos, filhos da vida.
A biologia, com a teoria da evolução, nos prova como trazemos dentro de nós,
efetivamente, o processo de desenvolvimento da primeira célula vivente, que se
multiplicou e se diversificou.
Quando sonhamos com nossa identidade, devemos pensar que temos partículas que
nasceram no despertar do universo. Temos átomos de carbono que se formaram em sóis
anteriores ao nosso, pelo encontro de três núcleos de hélio que se constituíram em
moléculas e neuromoléculas na terra. Somos todos filhos do cosmos, mas nos
transformamos em estranhos através de nosso conhecimento e de nossa cultura.
Portanto, é preciso ensinar a unidade dos três destinos, porque somos indivíduos,
mas como indivíduos somos, cada um, um fragmento da sociedade e da espécie Homo
sapiens, à qual pertencemos. E o importante é que somos uma parte da sociedade, uma
parte da espécie, seres desenvolvidos sem os quais a sociedade não existe. A sociedade só
vive com essas interações.
È importante, também, mostrar que, ao mesmo tempo em que o ser humano é
múltiplo, ele é parte de uma unidade. Sua estrutura mental faz parte da complexidade
humana. Portanto, ou vemos a unidade do gênero e esquecemos a diversidade das culturas
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e dos indivíduos, ou vemos a diversidade das culturas e não vemos a unidade do ser
humano.
Esse problema vem causando polêmicas desde o século XVIII, quando Voltaire
disse: “Os chineses são iguais a nós, têm paixões, choram”. E Herbart, o pensador alemão,
afirmou: “Entre uma cultura e outra não há comunicação, os seres são diferentes”. Os dois
tinham razão, mas na realidade essas duas verdades têm que ser articuladas. Nós temos os
elementos genéticos da nossa diversidade e, é claro, os elementos culturais da nossa
diversidade.
È preciso lembrar que rir, chorar, sorrir, não são atos aprendidos ao longo da
educação, são inatos, mas modulados de acordo com a educação. Heigerfeld fez uma
observação sobre uma jovem surda-muda de nascença que ria, chorava e sorria.
Atualmente, estudos demonstram que o feto começa a sorrir no ventre da mãe. Talvez
porque não saiba o que o espera depois... Mas isso nos permite entender a nossa realidade,
nossa diversidade e singularidade.
Chegamos, então, ao ensino da literatura e da poesia. Elas não devem ser
consideradas como secundárias e não essenciais. A literatura é para os adolescentes uma
escola de vida e um meio para se adquirir conhecimentos. As ciências sociais vêem
categorias e não indivíduos sujeitos a emoções, paixões e desejos. A literatura, ao
contrário, como nos grandes romances de Tolstoi, aborda o meio social, o familiar, o
histórico e o concreto das relações humanas com uma força extraordinária.
Podemos dizer que as telenovelas também nos falam sobre problemas fundamentais
do homem; o amor, a morte, a doença, o ciúme, a ambição, o dinheiro. Temos que entender
que todos esses elementos são necessários para entender que a vida não é aprendida
somente nas ciências formais. E a literatura tem a vantagem de refletir sobre a
complexidade do ser humano e sobre a quantidade incrível de seus sonhos. Como James
Joyce, por exemplo, que, ao criar um personagem, mostrava que uma pessoa pode ter
sentimentos totalmente diversos. Ou como o herói de Dostoievski, em O Idiota que não
sabe se a jovem está apaixonada por ele e ao fim da trama, depois de ter sofrido muito,
encontra um amigo que lhe diz: “mas que imbecil você é, não entendeu que ela o ama”.
Isto pode acontecer com qualquer pessoa, é a dificuldade de saber o que o outro pensa e
sente.
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Marcel Proust mostrou, em Um amor de Swan, o que ele chamava de intermitências
do coração, ou seja, que uma pessoa pode se apaixonar, esquecer-se da pessoa desejada e
voltar a amá-la. Neste romance o herói sofre durante anos de ciúmes por causa de uma
mulher e quando ele já não está mais apaixonado, diz: “mas eu sofri tanto por uma mulher
que não me amava e que nem era meu tipo”.
Podemos, então, compreender a complexidade humana através da literatura. A
poesia nos ensina a qualidade poética da vida, essa qualidade que nós sentimos diante de
fatos da realidade. Como, por exemplo, os espetáculos da natureza: o céu de Brasília que é
tão bonito. A vida não deve ser uma prosa que se faça por obrigação. A vida é viver
poeticamente na paixão, no entusiasmo.
Para que isso aconteça, devemos fazer convergir todas as disciplinas conhecidas
para a identidade e para a condição humana, ressaltando a noção de homo sapiens; o
homem racional e fazedor de ferramentas, que é, ao mesmo tempo, louco e está entre o
delírio e o equilíbrio, nesse mundo de paixões em que o amor é o cúmulo da loucura e da
sabedoria.
O homem não se define somente pelo trabalho, mas também pelo jogo. Não só as
crianças, como também os adultos gostam de jogar. Por isso vemos partidas de futebol.
Nós somos Homo ludens, além de Homo economicus. Não vivemos só em função do
interesse econômico. Há, também, o homo mitologicus, isto é, vivemos em função de mitos
e crenças.
Enfim o homem é prosaico e poético. Como dizia Hölderling: “O homem habita
poeticamente na terra, mas também prosaicamente e se a prosa não existisse, não
poderíamos desfrutar da poesia”.
A Compreensão Humana.
O quarto aspecto é sobre a compreensão humana. Nunca se ensina sobre como
compreender uns aos outros, como compreender nossos vizinhos, nossos parentes, nossos
pais. O que significa compreender?
A palavra compreender vem do latim, compreendere, que quer dizer: colocar junto
todos os elementos de explicação, ou seja, não ter somente um elemento de explicação,
mas diversos. Mas a compreensão humana vai além disso, porque, na realidade, ela
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comporta uma parte de empatia e identificação. O que faz com que se compreenda alguém
que chora, por exemplo, não é analisar as lágrimas no microscópio, mas saber o significado
da dor, da emoção. Por isso, é preciso compreender a compaixão, que significa sofrer
junto. É isto que permite a verdadeira comunicação humana.
A grande inimiga da compreensão é a falta de preocupação em ensiná-la. Na
realidade, isto está se agravando, já que o individualismo ganha um espaço cada vez maior.
Estamos vivendo numa sociedade individualista, que favorece o sentido de
responsabilidade individual, que desenvolve o egocentrismo, o egoísmo e que,
consequentemente, alimenta a autojustificação e a rejeição ao próximo.
A raiva leva à vontade de eliminar o outro e tudo aquilo que possa aborrecer. De
certa maneira, isto favorece ao que os ingleses chamam de self-deception, isto é, mentir a si
mesmo, pois o egocentrismo vai tramando sempre o negativo e esquecendo dos outros
elementos.
A redução do outro, a visão unilateral e a falta de percepção sobre a complexidade
humana são os grandes empecilhos da compreensão. Outro aspecto da incompreensão é a
indiferença. E, por este lado, é interessante abordar o cinema, que os intelectuais tanto
acusam de alienante. Na verdade, o cinema é uma arte que nos ensina a superar a
indiferença, pois transforma em heróis os invisíveis sociais, ensinando-nos a vê-los por um
outro prisma. Charlie Chaplin, por exemplo, sensibilizou platéias inteiras com o
personagem do vagabundo. Outro exemplo é Coppola, que popularizou os chefes da Máfia
com “O Chefão”. No teatro, temos a complexidade dos personagens de Shakspeare: reis,
gangsters, assassinos e ditadores. No cinema, como na filosofia de Heráclito:
“Despertados, eles dormem”. Estamos adormecidos, apesar de despertos, pois diante da
realidade tão complexa, mal percebemos o que se passa ao nosso redor.
Por isso, é importante este quarto ponto: compreender não só os outros como a si
mesmo, a necessidade de se auto-examinar, de analisar a autojustificação, pois o mundo
está cada vez mais devastado pela incompreensão, que é o câncer do relacionamento entre
os seres humanos.
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A Incerteza.
O quinto aspecto é a incerteza. Apesar de, nas escolas, ensinar-se somente as
certezas, como a gravitação de Newton e o eletromagnetismo, atualmente a ciência tem
abandonado determinados elementos mecânicos para assimilar o jogo entre certeza e
incerteza, da micro-física às ciências humanas. É necessário mostrar em todos os domínios,
sobretudo na história, o surgimento do inesperado. Eurípides dizia no fim de três de suas
tragédias que: “os deuses nos causam grandes surpresas, não é o esperado que chega e sim
o inesperado que nos acontece”. É a velha idéia de 2.500 anos, que nós esquecemos
sempre.
As ciências mantêm diálogos entre dados hipotéticos e outros dados que parecem
mais prováveis. Os processos físicos, assim como outros também, pressupõem variações
que nos levam à desordem caótica ou à criação de uma nova organização, como nas teorias
sobre a incerteza de Prigogine, baseadas nos exemplos dos turbilhões de Born. Analisando
retroativamente a história da vida, constata-se que ela não foi linear, que não teve uma
evolução de baixo para cima. A evolução segundo Darwin foi uma evolução composta de
ramificações, a exemplo do mundo vegetal e o mundo animal.
O homem vem de uma dessas ramificações e conseguiu chegar à consciência e à
inteligência, mas não somos a meta da evolução, fazemos parte desse processo. A história
da vida foi, na verdade, marcada por catástrofes.
No fim da era secundária, a queda do asteróide que matou os dinossauros e
ressecou a vegetação desses animais enormes, matando-os de fome deu oportunidade à
proliferação dos mamíferos. Assim também ocorreu com as sociedades humanas. Todas
sofreram o colapso por uma razão ou outra. Nem mesmo o império romano, que parecia
eterno, conseguiu sobreviver. As sociedades andinas, que eram mais potentes que seus
colonizadores espanhóis e cujas capitais eram muita mais ricas que Paris, Madri ou Lisboa,
foram destruídas por espanhóis que chegaram com cavalos e armas desconhecidas.
As duas guerras mundiais destruíram muito na metade do século XX, depois da
Primeira Guerra Mundial. Três grandes impérios da época, por exemplo, o romanootomano,
o austro-húngaro e o soviético, desapareceram.
Isto nos demonstra a necessidade de ensinar o que chamamos de ecologia da ação: a
atitude que se toma quando uma ação é desencadeada e escapa ao desejo e às intenções
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daquele que a provocou, desencadeando influências múltiplas que podem desviá-la até para
o sentido oposto ao intencionado.
A história humana está repleta de exemplos dessa natureza. O mais evidente no
final do século XX foi o projeto político de Gorbatchev, que pretendeu reformar o sistema
político da União Soviética, mas acabou provocando o começo de sua própria
desagregação e implosão.
Assim tem acontecido em todas as etapas da história. O inesperado aconteceu e
acontecerá, porque não temos futuro e não temos certeza nenhuma do futuro. As previsões
não foram concretizadas, não existe determinismo do progresso. Os espíritos, portanto, têm
que ser fortes e armados para enfrentarem essa incerteza e não se desencorajarem.
Essa incerteza é uma incitação à coragem. A aventura humana não é previsível, mas
o imprevisto não é totalmente desconhecido. Somente agora se admite que não se conhece
o destino da aventura humana. É necessário tomar consciência de que as futuras decisões
devem ser tomadas contando com o risco do erro e estabelecer estratégias que possam ser
corrigidas no processo da ação, a partir dos imprevistos e das informações que se tem.
A Condição Planetária.
O sexto aspecto é a condição planetária, sobretudo na era da globalização no
século XX – que começou, na verdade no século XVI com a colonização da América e a
interligação de toda a humanidade. Esse fenômeno que estamos vivendo hoje, em que tudo
está conectado, é um outro aspecto que o ensino ainda não tocou, assim como o planeta e
seus problemas, a aceleração histórica, a quantidade de informação que não conseguimos
processar e organizar.
Este ponto é importante porque existe, neste momento, um destino comum para
todos os seres humanos. O crescimento da ameaça letal se expande em vez de diminuir: a
ameaça nuclear, a ameaça ecológica, a degradação da vida planetária. Ainda que haja uma
tomada de consciência de todos esses problemas, ela é tímida e não conduziu ainda a
nenhuma decisão efetiva. Por isso, faz-se urgente a construção de uma consciência
planetária.
Conhecer o nosso planeta é difícil: os processos de todas as ordens – econômicos,
ideológicos e sociais – estão de tal maneira imbricados e são tão complexos, que
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compreendê-los é um verdadeiro desafio para o conhecimento. Ortega y Gasset dizia: “não
sabemos o que acontece, isto é o que acontece”.
É necessária uma certa distância em relação ao imediato para podermos
compreendê-lo. E, atualmente, dada a aceleração e a complexidade do mundo, é quase
impossível. Mas, faz-se necessário ressaltar, é esta a dificuldade. É necessário ensinar que
não é suficiente reduzir a um só a complexidade dos problemas importantes do planeta,
como a demografia, ou a escassez de alimentos, ou a bomba atômica, ou a ecologia. Os
problemas estão todos amarrados uns aos outros.
Daqui para frente, existem, sobretudo, os perigos de vida e morte para a
humanidade, como a ameaça da arma nuclear, como a ameaça ecológica, como o
desencadeamento dos nacionalismos acentuados pelas religiões. É preciso mostrar que a
humanidade vive agora uma comunidade de destino comum.
A Antropo-ética.
O último aspecto é o que vou chamar de antropo-ético, porque os problemas da
moral e da ética diferem a depender da cultura e da natureza humana. Existe um aspecto
individual, outro social e outro genético, diria de espécie. Algo como uma trindade em que
as terminações são ligadas: a antropo-ética. Cabe ao ser humano desenvolver, ao mesmo
tempo, a ética e a autonomia pessoal (as nossas responsabilidades pessoais), além de
desenvolver a participação social (as responsabilidades sociais), ou seja, a nossa
participação no gênero humano, pois compartilhamos um destino comum.
A antropo-ética tem um lado social que não tem sentido se não for na democracia,
porque a democracia permite uma relação indivíduo-sociedade e nela o cidadão deve se
sentir solidário e responsável. A democracia permite aos cidadãos exercerem suas
responsabilidades através do voto. Somente assim é possível fazer com que o poder
circule, de forma que aquele que foi uma vez controlado, terá a chance de controlar.
Porque a democracia é, por princípio, um exercício de controle.
Não existe, evidentemente, democracia absoluta. Ela é sempre incompleta. Mas
sabemos que vivemos em uma época de regressão democrática, pois o poder tecnológico
agrava cada vez mais os problemas econômicos. Na verdade, o é importante orientar e
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Midrash sobre Avraham Avinu

Midrash sobre Avraham Avinu


Midrash Agadá

Costumava o velho Tera construir ídolos e vendê-los no mercado. Diariamente mandava um filho ao mercado, com um cesto cheio de deuses grandes e pequenos, caros e baratos.

Certo dia, coube a Abraão ir ao mercado com o cesto de deuses. Ele os tirou do cesto e deitou sobre o tabuleiro, os maiores por cima, os médios no meio , e os pequenos por baixo. Achegou-se um homem avançado em anos, mas ainda forte, que falou:

- Abraão, dá-me um bom deus, tão grande e forte como eu mesmo.

Mostrou-lhe Abraão o maior, o que estava bem em cima e falou:

- Aquele que é o maior de todos é também o mais forte; mas os meus deuses têm um defeito; antes de ver o dinheiro eles não se mexem do lugar.

O velho pagou-lhe, pegou o deus e quis ir embora.

- Quantos anos tendes? – perguntou-lhe Abraão.

- Setenta anos – respondeu-lhe o velho.

- É lamentável que tenhais tão pouco juízo. – disse Abraão - Vós mesmo tendes setenta anos e quereis curvar-vos perante um deus que acaba de ser feito.

O velho lhe atirou o deus dentro do cesto e exigiu o dinheiro de volta. Abraão devolveu-lhe a paga e o deixou em paz.

Veio então uma mulher velha e disse:

- Abraão, dá-me um deus bem barato, tão pequeno e ordinário como eu sou.

Ele lhe designou o menor, bem embaixo e disse:

- Este é bem da vossa medida: pequeno, baixo e deitado sob todos os outros.

Depois que ela lhe pagou o pequeno preço, Abraão perguntou-lhe:

- Quantos anos tendes?

- Ah! Muitos – respondeu a mulher. Eu mesma já não me lembro quantos.

- Que vergonha – disse Abraão. – Uma anciã como vós curvar-te perante um pequeno deus que só ontem foi feito.

Ao ouvir isso, a mulher pegou seu dinheiro de volta e foi embora sem o deus.

Abraão fez o mesmo com todos os compradores. (*)


A história de Abraão acima não consta no texto bíblico. É um Midrash, que retrata de forma pictórica e acessível um complexo episódio teológico, o nascimento do monoteísmo e sua aceitação por Abraão.


(*) GUINSBURG, Jacob (org.) Histórias do Povo da Bíblia: relatos do Talmud e do Midrasch. São Paulo: Perspectiva, 1967. p.78-79.
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Pessach: O lugar das mulheres - Por Sandra Kochmann

Pessach: O lugar das mulheres
Por Sandra Kochmann

Se nos perguntarmos qual é o lugar que “tradicionalmente” ocupam as mulheres durante a celebração da festa de Pessach, a primeira – e até “instintiva”- resposta que surge é...a cozinha!!!
Esta resposta pode gerar um sorriso de orgulho ou de resignação em nós mulheres, ou talvez de aprovação e soberba em alguns homens. Mas, com certeza, deveria gerar em todos a sensação de insuficiência, de que “podia ser melhor ainda”...
O cuidado da casa, das regras alimentícias de Pessach e a preparação da comida festiva tão especial desta celebração – essa que fica em nossa memória de “cheiros e sabores inesquecíveis” e que nos marcam para toda a vida - fazem parte das grandes responsabilidades das mulheres judias no lar, na família e na transmissão das tradições e costumes judaicos às próximas gerações...
Mas – embora todas elas sejam muito importantes - estas não constituem as únicas “opções” de participação da mulher judia em Pessach!
Na busca de tornar a noite do Seder ainda mais especial para as mulheres – e, em conseqüência, para toda a família-, surgiram novas propostas e idéias que vão se transformando aos poucos em novas “tradições” desta festividade.
Como, por exemplo, Hagadot feministas” (ou “femininas”...) que, além das rezas e narrativas “tradicionais”, lembram as mulheres que participaram ativamente da história do êxodo do Egito. Entre elas, as parteiras que se recusaram a cumprir a ordem do Faraó de jogar no rio Nilo os meninos recém-nascidos do povo hebreu; ou Miriam, a irmã de Moshé, considerada uma profetiza, que ficou cuidando do seu irmãozinho flutuando na “cestinha” e cuja presença – no midrash - é relacionada com uma fonte d’água que acompanhou o povo ao longo da sua travessia pelo deserto; ou ainda Tzipora, a mulher de Moshé, que o salvou da morte ao fazer ela mesma o “Brit Milá” – o pacto da circuncisão - em seu filho...
Existe também a proposta de lembrar, paralelamente aos “Quatro Filhos” que – “tradicionalmente”- representam os diferentes tipos de pessoas que compõem o povo judeu, as “Quatro filhas” que compartilham junto e apesar das diferenças de gênero e de temperamento, a noite do Seder.
Finalmente, há propostas de incluir novos “símbolos” ao lado dos símbolos “tradicionais” da festa, para incentivar novas perguntas:
Um deles é o “Kos Miriam” - a “Taça de Miriam” - que é colocada ao lado da taça do Profeta Eliahu, mas com a diferença de estar repleta de água, lembrando o relato do midrash que relaciona a irmã de Moshé com este elemento vital.
Outro costume novo, que revela uma história interessante, é colocar uma “laranja no meio da Keará”, bem no centro do prato ritual de Pessach.
E que história é essa? Nos anos 80, a Dra. Susannah Heschel estava dando uma palestra sobre a possibilidade das mulheres serem ordenadas Rabinas. Foi interrompida por um homem que se oponha veementemente à ideia e disse: “Uma mulher no púlpito é como uma laranja no meio do prato de Pessach”.
Aquela afirmação, que parecia ser o cúmulo do contra-senso e que tinha a intenção de envergonhar as mulheres, foi muito pelo contrário, adotada como uma idéia a favor da luta das mulheres por um lugar mais igualitário dentro do Judaísmo em geral. Foi transformada em símbolo do anseio por igualdade, em todos os momentos da vida da mulher judia e no Seder de Pessach em particular.
Uma laranja no meio da Keará é uma novidade que chama a atenção e gera perguntas, que é justamente um dos objetivos do Seder de Pessach e dos símbolos colocados à mesa! É importante sublinhar que não é de maneira alguma prática proibida. Dá uma imagem nova e diferente à Keará, transmite cor, sabor e cheiro à nossa “tradição”, e.... “preenche um vazio” bem “no meio” da Keará, num lugar central das nossas comemorações!!!

“Ma nishtaná halaila hazé?...
Por que esta noite é diferente de todas as outras?”
É a pergunta “tradicional” desta festividade...
“Ma nishtaná?...”
Qual é o lugar “diferente” – renovado, mais central, acrescido - que a mulher pode – e deve - conquistar em nossos lares em Pessach?”
É a pergunta que deveria motivar-nos - tanto mulheres como homens -, a buscar novas idéias e propostas capazes de nos ajudar a renovar nossas “tradições” e rituais.
É assim que, sem perder nossa essência, jamais, mas procurando, através das inovações, cumprir os rituais riquíssimos de nossa tradição com renovado entusiasmo, vamos conseguir transmitir nossa herança para as novas gerações, e sentirmos – todos e todas JUNTOS! - como se “cada um, cada uma, tivesse mesmo saído de Egito”....
Chag HaPessach Kasher ve Sameach!

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Parashat TZAV (Shabat HaGadol)

"Esta é a lei referente da oferta de elevação (korban ha'olá)..." (Vaicrá/Levítico 6:2)
Em hebraico, este versículo pode também ser lido: este é o princípio de uma pessoa arrogante. Em hebraico haolá significa arrogante.
Tzav, nos anos normais (os anos que não são bissextos no calendário hebraico), é sempre a parashá lida no Shabat HaGadol, o Shabat que antecede a festa de Pessach. É a altura do ano em que as famílias judaicas estão ocupadas com a limpeza da casa antes de Pessach. Um grande esforço é feito para eliminar todo o chametz, como nos ordena a Torá.
Porém, além do chametz que se encontra nas panelas, nos armários e no forno da cozinha, é essencial eliminar o chametz que se encontra dentro de nós mesmos. Na preparação para a festa que celebra a nossa libertação do Egito para sermos um Povo livre que se submete apenas a D'us, temos de eliminar todos os traços de altivez e arrogância do nosso caráter.
O arrogante é aquele que, mais do que outra coisa, se preocupa consigo mesmo. A sua vontade está à frente de todos os outros. Pela sua maneira de ser ele é causa de discussões com as pessoas que se encontram à sua volta. O arrogante na Torá é representado por Korach, Datan e Aviram, homens conflituosos que, com todo o seu orgulho causaram a destruição de si mesmos e daqueles que estavam ao seu redor.
Ao eliminarmos o chametz de nossas casas lembremo-nos que o chametz é aquilo que faz o pão se tornar levedado e "inchado". Sendo "inchado", passa a ser impróprio para Pessach. Em todo o Seder de Pessach somos chamados a sentir-nos como se nós mesmos saíssemos da escravidão do Egito. Tal como nessa ocasião, os nossos antepassados eliminaram a sua ligação ao modo de vida egípcio: uma civilização conhecida pela sua opulência e orgulho. Ou seja, plena de chametz. Para nos tornarmos dignos da libertação de Pessach, temos de nos tornar humildes como a matzá.
No mundo do arrogante só existe lugar para ele próprio. Pelo contrário, num mundo onde queremos ter uma relação com D'us, a primeira medida a ter em conta é a humildade. É que, tal como nos ensinou o Rebbe de Kotzk: "Onde está D'us? Em todo o lugar onde O deixam entrar". E quando a pessoa está cheia de si mesma, não existe espaço para D'us.
Boaz Gabriel Canhoto (Portugal), kollel

grupo "Yeshivat Hakotel"

Tenhamos todo um delicioso e abençoado Shabat...


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Parashat “Tzav'' Autor: Dr. Iair Paz*

Parashat “Tzav'' Autor: Dr. Iair Paz*

Interpretación y comentario
La parashá “Tzav'' describe los detalles de las leyes de los distintos tipos de sacrificios y al final resume: “Ésta es la ley que rige para el holocausto, para el sacrificio expiatorio por error y para el sacrificio expiatorio por culpa y para los sacrificios en honor de la investidura, y para los sacrificios de paz. Lo que había prescripto Dios a Mo- shé en el Monte Sinai, en el día que Él había prescripto a los hijos de Israel ofrecer sus sacrificios ante Dios, en el desierto'' (Levítico 7:37-38).
Uno de los desafíos intelectuales apasionantes que se presentan ante el público tradicionalista-moderno, es la relación con determinadas partes del libro del Levítico que se ocupan del hecho de traer animales al Gran Templo de Jerusalén y sacrificarlos como parte del proceso de culto a Dios y de la elevación espiritual. Uno de los ejemplos interesantes de un enfrentamiento a este desafío, está relacionado con el establecimiento de la Universidad Hebrea de Jerusalén sobre el Monte Scopus (Har Hatzofim) frente al Monte del Templo, y las ideas espirituales que acompañaron su establecimiento justo en ese sitio.
En el año 1913, el Congreso Sionista trató el establecimiento de la Universidad. Por un lado, el establecimiento de la misma expresó una necesidad académica funcional, especialmente frente a las limitaciones que se impusieron al ingreso de judíos a las universidades de Europa. Pero, por otro lado, la voluntad de establecerla allí expresó una necesidad nacional-simbólica.
Dos de las personalidades centrales que se expresaron sobre este asunto, lo hicieron de manera parecida. Menachem Ussishkin, -uno de los primeros líderes sionistas y más adelante también presidente del Keren Kayemet Le Israel-, dijo en su discurso en el Congreso, en el mes de Av 5673: “...En el noveno día de Av de este año, se cumplirán 2.500 años desde el día en que el enemigo entró al lugar sagrado y destruyó nuestro Santuario (...). Hace 2.500 años fue destruído nuestro Santuario nacional y Templo de Dios que estaba sobre el Monte Moriá. Ahora, nosotros venimos llenos de fe y esperanza, a contruir un nuevo `Santuario' nacional, un `Templo' de sabiduría y ciencia sobre el Monte Sión''.
También Jaim Weitzman, presidente de la Organización Sionista, pensó mucho sobre el discurso sobre este tema. En una carta a su esposa Vera, él comparte sus pensamientos: “Se despierta en mí un sentimiento de gran responsabilidad ante el discurso que tengo que preparar para el Congreso. Es cierto que entre la Universidad Hebrea y la tumba de Jesús no hay ningún punto en común, pero no podemos renunciar a Jerusalén. ¡Tenemos que arriesgarnos! Es lo único que puede levantar eco: `La Universidad Hebrea en el Monte Sión'. ¡El tercer Templo!''
Con el tiempo, sin embargo, la Universidad fue establecida en la cima del Monte Scopus y muchos continuaron comparándola con un “nuevo Santuario'' en discursos, en la preparación de ceremonias, en la arquitectura e, incluso en el día de su inauguración, recibió en los titulares de los diarios un título basado en Isaías 2:2: “Acontecerá en el final de los tiempos que será confirmado el monte de la casa de Dios como cabeza de los montes, y será exaltado sobre los collados y correrán a él todas las naciones''.
Surge la pregunta: ¿por qué el movimiento nacional moderno necesita una imagen evidente de una institución religiosa -el Gran Templo- para fortalecer la concientización de sus instituciones modernas? ¿Y por qué justamente la Universidad de Jerusalén tuvo el mérito de esa comparación metafórica con esta institución religiosa superior (incluso más que una simple comparación) y no -por ejemplo- la Legislatura o la Corte Suprema de Justicia?
La respuesta es compleja, pero uno de los núcleos de la misma la encontramos en el Midrash Tanjuma sobre el versículo con el cual comenzamos: “¿Y de dónde sale? `Ésta es la ley que rige para el holocausto, para el sacrificio expiatorio por error y para el sacrificio expiatorio por culpa y para los sacrificios en honor de la investidura, y para los sacrificios de paz'. No hay que leerlo así, sino: `Ésta es la ley (la Torá), no el holocausto, ni el sacrificio expiatorio por error, ni el sacrificio expiatorio por culpa, ni los sacrificios en honor de la investidura, ni los sacrificios de paz'. Es decir: deben ocuparse de la Torá y eso será tan importante para Mí como si estuvieran ofreciendo delante Mío todos los sacrificios'' (Tanjuma Vaikrá 14, Edición de Varsovia).
Es decir, contrario al género de interpretaciones que se refieren a los rezos como sustitución de los sacrificios perdidos, el estilo de este midrash pertenece a la versión que niega los sacrificios y propone una sustitución a los mismos desde un principio.
Esta idea continúa y se desarrolla entre los más audaces de los pensadores judíos, como Maimónides y el Rab Kook, y ellos no siempre fueron comprendidos por el gran público. Y así también, los discípulos del movimiento intelectual nacional buscaron el sentido cultural-judío moderno a su acción pionera, y de ahí la relación entre la Torá moderna en una institución académica superior con el antiguo Gran Templo.
* Jefe de Cátedra de Estudios de la Tierra de Israel del Instituto Schechter de Estudios Judaicos, Jerusalén.
Editado por el Instituto Schechter de Estudios Judaicos, la Asamblea Rabínica de Israel, el Movimiento Conservador y la Unión Mundial de Sinagogas Conservadoras.
Traducción: rabina Sandra Kochmann.
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TUDO SOBRE O KADISH - MAURICE LAMM


O Kadish foi considerado tão vital para a vida religiosa do Judeu que ele era recitado em aramaico, a língua falada dosJudeus em tempos antigos, de forma a permitir que todo indivíduopudesse entendê-lo.

O Kadish é uma vigorosa declaração de fé. É uma das mais belas, espiritualmente tocantes e profundamente significativas preces naliturgia judaica. É um antigo poema aramaico, uma oração cujas palavras,ritmos fortes, sons comoventes e respostas alternadas entre condutor econgregação espalha uma energia totalmente hipnótica sobre os ouvintes.Já se comentou bastante que o Kadish é o eco de Iyov em seu livro deorações: “Apesar d’Ele poder me destruir, mesmo assim eu confio n’Ele”. Éum chamado a D’us desde as profundezas da catástrofe, exaltando SeuNome e louvando-O, apesar do fato d’Ele ter acabado de arrancar um serhumano da vida. Como a oração de Kol Nidrei no “Dia do Perdão”, aimportância do Kadish é geralmente aceita como certa. É uma resposta dasprofundezas da alma, quase uma primitiva e fascinante resposta àsagrada necessidade de santificar o Todo-Poderoso. Sua apaixonadarecitação inspirou uma “saudável e alegre coragem” em uma época deprofunda tristeza.

O Kadish aparece nos serviços religiosos tradicionais não menos que treze vezes. Ele é recitado ao final de todas as principaisorações e no final das rezas. Ele também serve como um marco a cadatransição nas rezas. É recitado após um período de estudo do Talmud, nocemitério após o enterro, nas rezas durante o ano de luto, e em todoyohrtzeit. Os Sábios disseram que aquele que recita o Kadish com todasua força interior e convicção merecerá a anulação de qualquer decretoDivino severo dirigido contra ele. De fato, eles afirmaram que o mundointeiro, aparentemente, é mantido devido à sua recitação, e que eleredime o falecido especificamente da destruição.


O Kadish foi considerado tão vital para a vida religiosa do Judeu que ele era recitado em aramaico, a língua falada dos Judeus emtempos antigos, de forma a permitir que todo indivíduo pudesseentendê-lo. Como testemunho de sua força contínua, ele ainda é recitadoneste idioma até os dias de hoje. Outro motivo sugerido para o uso doidioma aramaico comum é o de que ele funcionava como um instrumentoeducacional. Ele ensinava que a vida cotidiana secular deve serinspirada e imbuída de santidade, o resumo do que é expresso no Kadish.Inevitavelmente, o Kadish se tornou tão popular que os Sábios tiveramrealmente de prevenir o povo para que não viessem a depender dele comoalgo com poderes mágicos, nem que aumentassem o número de suasrecitações, possivelmente levando à conseqüência indesejável de que umaprece para os mortos pudesse se tornar central ao serviço religioso.

Por toda sua majestade, esplendor e importância, as origens do Kadish estãoenvoltas na obscuridade de nossa antiga tradição religiosa. Dasesparsas e breves, embora enfáticas, referências ao Kadish no Talmud,fica evidente que a recitação da essência do Kadish - Yehei shmeirabbah, “Possa Seu grande nome ser abençoado” - era um costume tão bemestabelecido que sua origem e importância sempre foram tomadas comocertas. É provável que o Kadish tenha sido formulado após a destruiçãodo Primeiro Templo e era recitado, a princípio, após uma aula oudiscurso sobre algum tema da Torá. Ele, então, escorregou facilmentepara o serviço religioso no qual seus temas e respostas se adaptaramadmiravelmente.

Surgiram, então, cinco variações do Kadish básico que expressavam o Yehei shmei rabbah, o núcleo central de todo Kadish:

1. A forma abreviada, chamada “Meio Kadish”, é usada como um tema de transição entre determinadas seções das rezas.

2. O “Kadish Completo” é usado para finalizar seções importantes das rezas e, assim, inclui a oração Titkabel pedindo a D’usque aceite as rezas sinceras que acabaram de ser pronunciadas.

3. O “Kadish DeRabanan” [dos Rabinos] é usado como um epílogo ao estudo de literatura rabínica e contém a rubrica al Yisrael, umaoração pelo bem-estar dos estudantes de Torá e de todo Israel – naesperança de que eles possam devotar a si mesmos, ininterruptamente, àsua sagrada tarefa.

Até este ponto em sua história, o Kadish era considerado altamente importante, mas seu valor era apreciado somente pelosestudiosos e alunos que entendem o profundo significado das rezas. Notratado talmúdico Soferim, um documento da era medieval, somosinformados que ele logo veio a ser usado como uma recitação solene nofinal do período de shivah, durante o luto pela morte de um Sábio. OKadish começou a estar no topo da popularidade quando, para que fossemevitadas distinções embaraçosas entre os estudiosos e os leigos, elecomeçou a ser usado para todos aqueles que faleceram e por todos,especialmente jovens, que não sabiam como recitar as preces ou estudar aLei Oral. Ele, então, começou a juntar as mentes de todos os Judeus,sábios ou iletrados, e era recitado no fechamento de todo túmulojudaico.

4. Assim, surgiu uma quarta forma do Kadish, o “Kadish do Funeral”, que acrescenta um parágrafo que se refere à ressurreição dosmortos e a restauração do Templo. Ele, assim, ficou associado com asmais profundas emoções do homem.

5. O próprio serviço logo incorporou uma quinta forma de Kadish, o “Kadish dos Enlutados”, que era recitado durante o primeiroano após o enterro, tornando-o a reza principal para o Judeu enlutado dequalquer idade. Apesar de não haver nada explícito no “Kadish dosEnlutados” que se refira ao túmulo, ao morto ou à vida após a morte, arecitação do Kadish era tão bem adequada ao humor do enlutado que ele setornou uma apreciada prática do Povo Judeu, independentemente de suadenominação

A Função do Kadish

O “Kadish dos Enlutados” executa duas funções pragmáticas: a) Ele se mescla ao espírito interno do enlutado, curando de formaimperceptível suas feridas psicológicas; e b) Ele ensina ao enlutadolições profundas e vitais sobre a vida e morte, e a conquista do mal.Então, não é acidente da história espiritual que o Kadish tenha setornado tão importante para aqueles atingidos pelo sofrimento, e que, nocurso dos tempos, ele tenha se tornado a marca do luto.

O Kadish como Consolo

Além dos conceitos encontrados no Kadish, as palavras oferecem conforto implícito.


Em tempos antigos, o Kadish era associado, embora indiretamente, com consolação (nechamah). Na mais antiga fonte que tratado “Kadish dos Enlutados”, encontramos que o condutor das rezas sedirigia ao fundo da sinagoga onde os enlutadas estavam reunidos e osconfortava publicamente com a bênção dos enlutados e o Kadish. Deve serregistrado que a recitação do Kadish coincide com o período de tempodurante o qual a tradição impõe ao Judeu para que conforte os enlutadospor seus parentes, ou seja, doze meses. (Somente depois a tradiçãoreduziu este período para onze meses).

Em um espírito de consolação, esta bela liturgia começa com a admissão de que o mundo que é conhecido somente por Ele, o CriadorOnisciente do universo, permanece misterioso e paradoxal para o homem.Ele termina com uma esperança apaixonada, expressada nas palavras dosamigos de Iyov que tentavam confortá-lo - oseh shalom bimromav, que Eleque é suficientemente poderoso para fazer a paz entre os corposcelestiais, possa também trazer paz a toda a humanidade.

Finalmente, rezamos para conseguir, nas palavras do Kadish, a nechemata, a consolação de todos do Povo Judeu, não somente por seusmortos, mas pela destruição de seu antigo Templo e sua cidade sagrada,Jerusalém. De fato, muitos Rabinos mantêm que o Kadish encontra suaorigem na reza composta pelos homens da Grande Assembléia,especificamente para o consolo da população em seguida à destruição doPrimeiro Templo e seu exílio subseqüente. Foi, na verdade, em resposta aesta histórica tragédia que Ezequiel primeiro grita as palavras dasquais a tradição extraiu as palavras iniciais do Kadish: “Eu louvei esantifiquei Meu nome e O tornei conhecido aos olhos de todas as nações, eeles saberão que Eu sou o Senhor”. O Mestre de tudo trará salvação aSeu povo.

Além dos conceitos encontrados no Kadish, as palavras oferecem conforto implícito. Por causa da acentuação e repetição dospensamentos positivos de “vida” e “paz”, estes valores se tornammarcados no perplexo e naqueles de coração entristecido. Ele transfere,subliminarmente, o olhar fixo e interior do enlutado daquele que partiupara o vivo, da crise à paz, do desespero à esperança, do isolamento àcomunidade.

De fato, o momento mais crucial quando a fé do homem é mais abalada, quando muito provavelmente ele se rebelará contra D’us pelamorte que se abateu sobre ele, ele se levanta e recita os louvores aoCriador: Yisgadal v’yiskadash..., exaltado e santificado seja Ele quecriou o universo... Todas as leis da natureza operam de acordo com Suaprópria vontade. Justo no momento quando o foco do homem está sobre oReino dos Céus, o mundo dos mortos, destino de seu amado, o Kadish,serenamente e quase imperceptivelmente, transfere sua contemplação aoreino de D’us na terra, entre os vivos -- v’yamlich malchusaib’chayechon u’vyomechon, “Possa Ele estabelecer Seu reinado por toda asua vida e em seus dias”. Quando a visão do mundo está embaçada comimagens de uma estrutura sem respiração, com mortalhas, caixão e túmulo,com a decadência e decomposição finais do ser humano, o Kadish enche amente do enlutado com “vida” e “dias” e “este mundo” pela repetiçãoconstante e hipnótica, dia e noite, das palavras chayim e yamim e olam.Quando o enlutado experimenta desorientação e rompimento, um sentimentode agitação e conflito e culpa, o Kadish o hipnotiza com pensamentos dedescanso e quietude eterna, e enfatiza cada vez mais a paz que D’us feznos céus e o shalom que ele traz às pessoas na terra.

Uma outra importante técnica de consolação no Kadish é a insistência, porque é uma prece de santidade que deve ser recitadasomente em quorum público, nunca privadamente. A recitação, geralmentefeita ao lado de outros enlutados, cria uma camaradagem entre osenlutados em uma época de profundo isolamento e desamparo. Ele ensina,implicitamente, que outros também experimentaram dores similares; que amorte é um fim natural, geralmente fora de hora, de toda a vida, que oritmo do homem seguiu a mesma batida desde os dias quando Adamrecusou-se a comer o fruto da Árvore da Vida.

O Kadish é, assim, uma oração reconfortante, grandiosa em sua concepção espiritual, dramática em seus ritmos e melodia e profunda emseus insights psicológicos.

Quando os Enlutados Consolam o Mestre

Quando recitamos o Kadish, oferecemos consolo a D’us por Sua perda


Um grande Sábio chassídico disse que a morte de cada uma das criaturas de D’us causa uma lacuna nos exércitos do Rei louvado. OKadish, disse ele, é recitado com a esperança de que aquela lacuna serápreenchida. Coube ao laureado poeta de Israel, S. Y. Agnon, interpretaristo com uma bela analogia.

O Reis dos Reis, D’us Todo-Poderoso, não é como um rei humano. Quando um rei de carne e sangue comanda seus exércitos em umabatalha, ele vê somente os grandes efeitos, a logística massiva e ogrande objetivo. Ele não conhece os homens individualmente. Eles não sãodistinguíveis um do outro. Eles são máquinas humanas que carregamrifles e executam uma função. Se ele perder metade de seu regimento, elesinceramente lamentará a morte das massas. Mas ele não se lamentará pornenhum ser humano específico.

Não é assim com o Rei dos Reis. Ele é o Mestre do mundo; ainda assim, ele se importa com cada vida individual. Homens não sãomáquinas ou cifras. Eles são seres humanos. Quando os soldados de D’usmorrem, Ele lamenta, por assim dizer, cada homem. Seu Reino experimentaum terrível vazio. D’us sofre, aparentemente da mesma maneira que umhumano enlutado sofre.

Quando recitamos o Kadish, oferecemos consolo a D’us por Sua perda. Nós dizemos Yisgadal: Teu nome foi diminuído; que Ele sejaexaltado. Yiskadash: Tua santidade foi diminuída; que Ela sejaaumentada. Yamlich malchusoi: Teu Reino sofreu uma perda súbita; que Elereine eternamente.

Esta surpreendente interpretação do Kadish – que o vê como a tentativa do enlutado de oferecer consolo ao Mestre de todos os homens –é, ele próprio, uma consolação para a pessoa que está de luto. Oconhecimento de que D’us se importa com cada homem e que Ele sofre pelaperda de cada uma de Suas criaturas feitas à Sua própria imagem é umafonte de calor e conforto.

O Kadish Como Educação

Por baixo da superfície, a declaração do Kadish expressa um pensamento básico para um entendimento da atitude judaica em relação àvida: a aceitação da aparentemente injusta dor e tragédia irracional navida como sendo o justo – mesmo que paradoxal – ato de D’us Sábio. Areza do Kadish é, assim, encontrada em fontes antigas delineadas com otzidduk ha’din, a oração que justifica os éditos de D’us. Esta prece érecitada no momento do enterro e proclama: “O Senhor deu e o Senhortirou. Seja abençoado o Nome do Senhor”.

O Kadish ecoa este tema: “Seja Seu grande Nome abençoado para sempre”. É o espírito de reconhecimento de que o D’us Todo-Poderosoconhece nossos segredos mais íntimos; que Ele, de forma confiante ejusta, nos recompensa e pune; que Ele sabe o que é melhor para ahumanidade, e que tudo que Ele faz é para o benefício eventual de toda araça humana. É somente pela virtude desta aceitação da morte como ojusto e inexorável término da vida que a vida pode ser vivida em suaplenitude. É somente através do difícil, porém necessário,reconhecimento de que somente o Criador do universo entende o plano deSua criação que nós evitamos nos tornar incapacitados pelo teimosoquestionamento do imponderável que pode desgastar nossa própriaexistência. Assim nós recitamos nas palavras do Kadish: “Exaltado esantificado seja Seu grande Nome, no mundo que Ele criou segundo Suavontade”. É um mundo cujos caminhos ultrapassam nossa compreensão e seadequam somente à Sua vontade. Como podem nossos limitados intelectoscompreender Sua louvada grandeza ou avaliar as infindáveis profundezasda mente Divina? Se a tragédia nos atinge, se nossas famílias sãoassaltadas pelas circunstâncias maléficas, nós temos fé de que o justoD’us agiu de forma justa.

A Importância do Kadish

Uma Reflexão Sobre o Amor aos Pais

O Kadish é um aperto de mão espiritual entre as gerações que conecta duas vidas


A verdadeira função do Kadish vai ainda mais fundo. Além da cura psicológica que ele encoraja, além de educar o enlutado a seajustar à tragédia, não haverá alguma influência misteriosa, algum poderfantástico que afeta tão maravilhosamente a alma do enlutado? Como oKadish está relacionado ao luto pelos pais?

Colocado de forma simples: o Kadish é um aperto de mão espiritual entre as gerações que conecta duas vidas. Que melhor consoloexiste para o enlutado que o conhecimento de que as idéias, esperanças,interesses e compromissos do falecido continuam existindo na vida de suaprópria família? A recitação pelo filho do Kadish representa umacontinuação daquela vida; ela arrebata o mais profundo valor doindivíduo das garras tenebrosas da morte.

Como isto acontece? A tradição judaica reconhece a influência importante do pai sobre o filho durante a vida daquele. O “mérito dosPais” é um tema ousado e importante na literatura rabínica. Deve serlembrado que, coletivamente, os Judeus pediram por misericórdia a D’usem reconhecimento das ações justas dos Patriarcas de quem somosdescendentes. A tradição também reconhece que os pecados dos pais –motivos impuros, riqueza de origem obscura, vidas sem propósito, e assimpor diante – podem ter produzido conseqüências nas vidas de seus filhospor muitas gerações. A alma do filho carrega, de forma indelével, amarca dos pais, quer achemos ser isto justo ou não. Por tudo isto,entretanto, o pensamento judaico nunca considerou os pais capazes deredimir um filho errante pela virtude de suas próprias boas açõesperante D’us. Avraham não pode salvar seu rebelde filho Ishmael.Yitschak não pode salvar seu filho avarento, Esav.

Curiosamente, entretanto, no complicado cálculo do espírito, o reverso é possível! As ações do filho podem redimir a vida dos pais,mesmo depois de seus falecimentos!

É uma troca perfeita, um “mérito dos filhos”. As virtudes éticas, religiosas e sociais dos filhos colocam auréolas em seus pais. OTalmud declara bera mezakeh aba, o filho favorece o pai. O Rabbi Shimonbar Yochai também diz mah zar’o bachayim, af hu bachayim, enquanto seusfilhos vivem, também os pais vivem. Aqueles que deixam filhos dignosnão morrem em espírito. Seus restos mortais são enterrados na terra, masseus ensinamentos permanecem entre os homens.

Apesar de ser verdade que nenhum indivíduo pode interferir com D’us em relação à vida de outro – nem os pais pelos filhos, nem ofilho pelos pais – uma pessoa pode, seguramente, modificar a importânciada vida de outra pessoa e conceder significado e valor a ela. Como aárvore é julgada por seus frutos e o artesão por seu produto, assimtambém um pai alcança importância pessoal pelo sucesso moral de seufilho. De David, que deixou um filho digno dele mesmo, o Talmud serefere à sua morte como “ele dormiu”, indicando a continuidade da vida.De Joab, que não teve filho que pudesse herdar sua grandeza, foi dito“ele morreu”, significando finalização. O reflexo do filho sobre seuspais é verdade em vida e é verdade também após a morte.

É precisamente em relação a isso que o Kadish atinge seu mais profundo valor. O Kadish serve como um epílogo à vida humana da mesmaforma que, historicamente, ele serviu como um epílogo ao estudo da Torá.Foi aquela vida marcada primariamente por bondade, dignidade e nobreza,ou pela vergonha e desgraça, por estupidez e fraqueza? Em qualquercaso, o Kadish é eficiente. Os Sábios afirmam que as recitações doKadish pelo filho confirmam uma vida dos pais de bondade por um lado,enquanto, por outro lado, produz arrependimento pela vida de pecados dospais.

De fato, os rabinos declaram que somos obrigados a honrar os pais na morte assim como em vida. O Kadish é a demonstração verbal daprofunda e constante honra que os Judeus foram ordenados a dar aos paisdesde o dia que o quinto mandamento foi pronunciado no Sinai. A duraçãoda recitação do Kadish pelos pais é um amplo testemunho daquelerespeito. Pois, como é dito que a alma perversa se submete a umjulgamento durante todo um ano, o filho, em reverência ao seu pai,termina o Kadish aos onze meses, testemunhando, em um mês de eloqüentesilêncio, a bondade daqueles que a possuíam.

Não é a recitação do Kadish sozinha que é emblemática dos ensinamentos dos pais, mas também o fato do enlutado provocar umaresposta de santidade dos outros, fazendo com que os outros proclamem agrandeza de D’us com ele – que os Sábios chamam Kidush Ha’Shem,santificação do Nome. O enlutado anuncia “Que seja exaltado esantificado Seu grande Nome” e seus companheiros respondem “Que Seugrande Nome seja abençoado por toda a eternidade”. O enlutado continua“Que seja bendito e louvado, glorificado, elevado e enaltecido, honrado,adorado e exaltado o Nome do Santo, bendito seja Ele” e a congregaçãoresponde “Bendito seja Ele”. O Kadish é, assim, uma santificação públicado Nome de D’us. É uma reza em miniatura, independente, que alcança asalturas da santidade e é este grande triunfo espiritual que se refletena vida da mãe ou pai e confirma a exatidão de seus ensinamentos.

Se, por outro lado, os pais tenham enganado ou pecado, e tenham profanado o nome de D’us (chilul ha’shem), o Kadish, que é asantificação do nome (kidush ha’shem), é considerado verdadeiroarrependimento pelo falecido e o salva da retribuição. O Kadish não éuma reza explícita por esta redenção dos pais, mas sua recitação é umaindicação que o bem nasceu deles e é, portanto, salvador.

O incidente fundamental e mais freqüentemente relatado em relação ao Kadish é a visão mística do grande sábio Rabbi Akiva. Esteincidente é encontrado em numerosas fontes: o Talmud, Midrash, Zohar eoutros trabalhos literários, o que atesta sua ampla aceitação e suapopularidade. Rabbi Akiva teve uma visão de um bem conhecido pecador quemorrera e fora condenado a uma intolerável punição. O pecador informouao Rabbi em sua visão que somente se seu filho, ainda vivo, recitasseBarechu e o Kadish ele seria redimido. O Rabbi foi e ensinou ao jovemestas rezas. Assim que o rapaz começou a recitar o Kadish, ele salvouseu pai da perdição. O filho favorece o pai!

Além disso, este conceito do “mérito dos filhos” está historicamente associado com o núcleo e a resposta centrais do Kadish. Atradição registra um diálogo entre o velho patriarca, Yaacov, e seusdoze filhos. Yaacov estava ansioso sobre o futuro. Ele não estava certose alguns de seus filhos seguiriam os passos de seu tio Esav ou tio-avôIshmael. Algum de seus filhos desertará da fé de seus pais? Quando, comgrande consternação, ele confrontou seus filhos, eles declararam juntos“Ouve Ó Yisrael (Yaacov), D’us é o Senhor, D’us é Um”. Com grande alívioao se assegurar do mérito de seus filhos, Yaacov respondeu em completagratidão “Bendito seja o nome da glória de Seu reino por toda aeternidade”. Esta resposta tem sido santificada como o versículoimediatamente seguinte ao Shemá, Baruch shem kevod malchuto leolam vaed,“Bendito seja Seu grande nome por toda a eternidade”. O Kadish é umfirme aperto de mão entre as gerações!

Quando a morte se aproxima de nossos lares, ela traz um fim à vida física. A corrente é cortada. Isso é tudo. Mas o espírito é maispoderoso que o túmulo. Os pensamentos e as emoções, os ideais e asatitudes de seus herdeiros atestam a influência imortal dos falecidos. Arecitação do Kadish é uma demonstração pública de que a vida dos paisnão foi vivida sem apoiar, em um certo sentido, a causa do bem. Não éexagero dizer que o aperto de mão espiritual do Kadish ajudou aassegurar a sobrevivência contínua do Povo Judeu, da religião judaica,da sinagoga e de suas principais instituições.



Tradutor: Moishe (a.k.a. Maurício) Klajnberg

Traduzido do original em inglês em (http://www.chabad.org/library/article.asp?AID=336516).


Este texto foi enviado carinhosamente por Moreh Marcel Berditchevsky




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Atualizado em 16/03/2010



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Saiba mais…

Parashat “Vaikrá”

Autor: Rabino Avi Deutsch*

Interpretación y comentario
La parashá “Vaikrá” trata sobre los sacrificios; sacrificios que en la mayoría de nosotros despiertan rechazo. Este rechazo no nos permite estudiar el tema de los sacrificios de manera detallada; detalles que nos enseñan mucho sobre ceremonias. De hecho, la parashá “Vaikrá” es la primera que describe de manera ordenada los requisitos que debe cumplir quien desea acercarse a Dios. Y es en este sentido que esta parashá se constituye en la base de la estructuración de ceremonias en general y de ceremonias religiosas en particular.
La parashá comienza con la descripción de los sacrificios “olá” y “minjá”, que indican la manera de ofrendar sacrificios a Dios. Está determinado que esta ceremonia exige la elección del animal adecuado y sin defectos, que también debe ser del género considerado “correcto” según el discurso bíblico: macho.
Posteriormente, exige presentarse en un lugar sagrado la entrada de la Tienda de Reunión- y ofrecer el sacrificio para Dios. La ceremonia de ofrenda en sí misma incluye colocar las manos sobre la cabeza del sacrificio, lo que representa la ceremonia de expiación. Después de ello, la persona mata al animal que va a ofrendar y el Cohén derrama la sangre del mismo sobre el altar, le saca el cuero, lo corta en partes y lo quema sobre el altar. Veremos que esta ceremonia constituye, de hecho, la base de la ceremonia de contacto con Dios.
Aprendemos que la ceremonia exige el uso de materiales adecuados; debe ser realizada en un lugar destinado al encuentro con Dios (la Tienda de Reunión); la esencia de la ceremonia es siempre la expiación de pecados, también en caso de que no haya sido destinado específicamente para ello; y la misma está compuesta de cuatro partes centrales: la colocación de las manos, la matanza, el derramamiento de la sangre sobre el altar y la quema de toda la ofrenda.
El sacrificio tiene dos niveles: la ofrenda a Dios y el hecho de representar a la persona que se acerca a Dios. La entrega de la ofrenda nos demuestra la necesidad de dar una ofrenda que viene de un lugar personal, en una acción de entrega que incluye el toque de manos entre el que ofrece, que se desprende de lo que posee y lo pasa de manera completa y definitiva a quien lo recibe. La persona es representada en el acto en que coloca las manos sobre el animal, momento en el que estaría trasnfiriéndose a sí misma al animal. En la matanza, sería como si la persona se separara de una parte de sí misma y arrojara su alma frente a Dios (la sangre). Así culmina la ofrenda de sí misma a Dios.
Consecuentemente, vemos aquí que para acercarse a Dios se necesita un lugar sagrado, elegir una ofrenda adecuada, estar presente en el encuentro y entregar totalmente su “yo” a Dios. Algo nuevo que podemos aprender de aquí es la suposición de que antes del “encuentro” con Dios, el ser humano debe examinarse a sí mismo. Los sacrificios reflejan el arrepentimiento por el “pecado” y el sacrificio expresa ese arrepentimiento. La manera de expiar los pecados es la disposición de entregar el alma a Dios y sólo después, el cuerpo.
Es así que de aquí surge que en el encuentro con Dios en el rezo, hay necesidad de un lugar sagrado y de la disposición para la entrega; una entrega, en primer lugar, de la carga espiritual y de su desmantelamiento gota a gota delante de Dios. Después de ello, se necesita la disposición de entregar el cuerpo y la acción cotidiana para liberarse del pecado. Esta lectura nos muestra que también en nuestro mundo, -ocupado y preocupado por la búsqueda del camino correcto y relevante para el encuentro con Dios-, hay lugar para el análisis detallado de la ceremonia de la ofrenda de sacrificios y para adoptar de la misma algunos principios para nuestras propias vidas.

Estudio y análisis
Rabino Dr. Alexander Even-Jen
Profesor de Pensamiento Judío, Instituto Schechter de Estudios Judaicos Jerusalem
“Una persona, cuando incurriere en pecado oyendo conjuro, siendo testigo o vio o tuvo conocimiento, si no declarare, cargará con su iniquidad”. (Levítico 5:1)
¿Por qué? ¿Acaso no dar testimonio es un crimen? ¿Es obligatorio atestiguar en todo tipo de crimen? ¿Robo? ¿Asesinato?
¿Es este versículo “correcto” para crímenes “futuros”, los cuales el “testimonio” podría evitar? ¿O es para crímenes que ya fueron cometidos?
“No declarare”, ¿a quién? Y si no “declara” porque intentó por sus propios medios evitar el crimen, ¿es una transgresión?
Y si “no declara” porque supone que no se trata de un crimen, ¿es también un pecado?
Y si “no declara” porque el “crimen” se cometió hace 30 años, ¿es una transgresión?
¿Y si “no declara” porque piensa que “los gobernantes” no van a entenderlo?
Y si “no declara” porque, según su entender, no se trata de una transgresión “grave” y por su relación cercana con “el acusado” sabe que el mismo siente un profundo arrepentimiento y no volverá a realizar la misma acción, ¿es también una transgresión?
“Rabi Elimelej dijo: Tengo asegurado un lugar en el mundo venidero. Cuando me presente ante el Tribunal Celestial me van a preguntar: -¿Te ocupaste de la Torá y de los preceptos? Diré: -No.
Después me preguntarán: -¿Rezaste como fue ordenado? De nuevo responderé: - No.
¿Hiciste buenas acciones como fue ordenado? Y tampoco esta vez podré dar una respuesta diferente.
Enseguida dirán el veredicto: - Tú dices la verdad. Por decir la verdad, te mereces tener un lugar en el mundo venidero”. (Martín Buber, “Or haganuz”, pp.233).
1- ¿Será que en el Tribunal Terrenal hubieran actuado de la misma manera?
* Comunidad Maayanot, Jerusalem
Editado por el Instituto Schechter de Estudios Judaicos, Asamblea Rabínica de Israel, Movimiento Conservador y Unión Mundial de Sinagogas Conservadoras.
Traducción: Rabina Sandra Kochmann.

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lula visita oriente

shalom desde siao s yehudim humanista,tenho acompanhado por aqui no brasil,a visita do chefe de estado do brasil.o exmo.sr.presidente luis inacio lula da silva.durante a sua estada em israel,assisti pelos meios de comunicaçao d'aqui,o seu pronunciamento no knesset,falando do processo de paz entre israelitas e palestinos,pergunto:que paz ele quer levar para ambos os estados,israeli e palestinos? sendo que o pais aqui esta em gerra civil no rio de janeiro por trinta longos anos e ele nao propoe nunhum projeto de resoluçao para o rio de janeiro e outros estados,pois brasil foi essa semana citado por um organismo internacional como um dos paises que tem a policia entre as mais brutas no mundo,que utiliza metodos arcaicos como tortura para extrair uma confissão de alguem.

por outro lado,lula que carrega um sobre nome de origem marrana,conforme foi constatado em pesquisas,deveria se alegrar de saber que carrega o gen dum povo primordio,mas negou a sua geneticidade,deixando de visitar a lápide do idealizador do sionismo nosso heroi theodor herlz,e consequentemente depositando culunas de flores no túmulo de yasser araft.

fica claramente expressa a ideologia desse governo anti-semita.

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Pesaj , Una vision Libertaria - Dario Teitelbaum

Pesaj , una vision libertaria.

Javerim Shalom y Jag Sameach!

‘Y relataras a tu hijo “ es el lema del Jag Pesaj que se aproxima.

El relato milenario de la Hagada de Pesaj , texto secular que relata el Exodo de los Hebreos desde Egipto a Canaan , se ha trasformado a traves de los años en un canto de la libertad no solo para el pueblo judio , sino para toda la humanidad.

Si bien es cierto que el relato del Exodo (tanto la Hagada como relato popular como el texto biblico) esta lleno de actos milagrosos , se podria decir que este ethos historico (del cual no existen restos arqueologicos o registros historicos concretos que podrian confirmar su real existencia) es uno de los “textos fundacionales” del pueblo judio en el cual se explica el desarrollo de la Nacion Judia desde la esclavitud (Recuerda que esclavo del Faraon fuistes en tierra de Egipto) y hasta los dias de la liberacion (En proximo año en Jerusalem).

Ahora bien , la tradicion judia , trasmitida fundamentalmente por la practica ortodoxa - religiosa a lo largo de los siglos , dio prioridad suprema al “ceremonial” de Pesaj , fijando pautas concretas de observancia estricta de preceptos y leyes ( Seder Pesaj que proporciona el “Orden” de lectura , las diversas prohibiciones relacionadas con Pesaj – Kashrut , Matza - Pan Azimo , ect ) y dio caracter “sectario y etnocentrista” al relato del Exodo , especificandolo unicamente en la epopeya del Pueblo de Israel y sin marcar la implicancia humana de sus mensajes , que sin duda son vigentes aun hoy.

El cantico “Shlaj na et Ami” – “Libera a mi pueblo” , que citamos no solo en el Seder de Pesaj sino en un pasado no tan lejano mencionamos en el contexto de la exigencia a la Union Sovietica de permitir a los judios emigrar a Israel , expresa no solo el anhelo de la libertad del Pueblo Judio , sino podria verse igualmente como un llamado general a la libertad de los pueblos.

Y justamente , en visperas de la fiesta , podria ser una oportunidad de por un lado asumir nuestra tradicion ancestral de celebrar la epopeya de la liberacion , pero asimismo – y en nuestra condicion de judios libres – ser criticos al mismo relato , comprender sus mensajes universales y concientizarnos acerca de las multiples esclavitudes existentes en nuestros dias.

La salida de egipto y el proceso de conformacion que pasa el pueblo judio en los 40 años en el desierto (nuevamente , esto observando el relato tradicional sin rigor historico , pero identificandose con sus escencias) parece ser un “Laboratorio” en el cual se ponen en prueba la voluntad popular de finalizar la opresion por parte de los egipcios , se detallan actos de diferenciacion (de los hebreos) , se manejan diferentes modelos liderazgo (Moises , Aharon) , se presentan y se resuelven dilemas mundanos (Como dar de comer y beber al pueblo en campaña , como trasmitir mensajes , ect) y morales (Perdida de la fe , Adoracion al becerro de Oro , ect) y se imponen nuevas reglas eticas de convivencia que guiaran al pueblo en el futuro (Monoteismo , las tablas de la Ley) a ser implementadas en la Tierra Prometida.

Es evidente que el Pueblo de Israel no solo “vago en el desierto “ sino paso todo un proceso de trasformacion , y quienes llegaron a Canaan eran “diferentes” de aquellos que salieron de Egipto , y por sobretodo , atravesaron en su paso por el desierto un camino de avance , con orientacion y meta , y con desarrollo y progreso humano.

Justamente el lema anteriormente mencionado “Y relataras a tu hijo” , nos motiva a no solo continuar la tradicion del relato , sino tambien a adoptar su escencia y adaptarlo a las circunstancias actuales de nuestro mundo actual , en favor de dicho progreso humano.

Pero no solo adaptar. Justamente dicha tradicion que nos instruye a “relatar” , tiene elementos contradictorios y quizas opresivos , ya que por un lado se presenta como tradicion eterna , y por el otro lado nos llama a identificarnos con aquellos que inicaron el exodo “Cada uno debe ver asimismo como si hubiera salido de Egipto”. Y justamente se nos presenta el dilema de la eleccion.

Ya que si solo seguimos la tradicion , no cambiamos nada , no en nosotros mismos , no en nuestro ambiente y sociedad , no en nuestro compromiso de “No solo relatar , sino cambiar en nuestra generacion el curso de la historia

En estos dias ( y en todos los dias) , podemos ver tantas esclavitudes , tantos atropellos a lo humano , tantas violaciones a los derechos naturales de los seres humanos , tantas insensibilidades al dolor ajeno , tanta discriminacion ( racial , nacional , sexual , economica) y tantos otros males de los que adolece la humanidad , y enteder que la real importancia del relato del Exodo es en su mensaje libertario que recobra actualidad “De generacion a generacion”.

Seria injusto e innecesario mencionar uno por uno los fenomenos de esclavitud existentes hoy , ya que estos nos son visibles a simple vista , y nos llegan directamente desde la pantalla de la television , de la hojas de un diario , desde la internet o de cualquier otra forma humana de trasmitir mensajes de carencia y/o opresion.

Y de la misma manera que podemos solamente sentarnos en la mesa del Seder y “relatar” , tenemos la libertad de “cambiar” para que dicha opresion y esclavitud desaparezca del paisaje humano dando lugar a la libertad.

“Una vez , una familia decide salir de paseo al Zoologico. Se paran ante la jaula de los monos y miran como ellos hacen “monadas”. Uno de los monos dice al otro :”Mira vos , pobres los humanos que estan…enjaulados”.

Nos deseo que en este Pesaj que se aproxima sepamos ponernos en el lugar de los oprimidos , entender el dolor de la esclavitud y …hacer algo para remediarlo!

Jag Jerut (Libertad) Sameach!

Dario Teitelbaum

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Entre la oralidad y la escritura

Por: Leonardo Cohen

Cada cultura posee sus textos privilegiados. Éstos pueden ser textos que pertenecen al canon sagrado, mas no solamente. Puede tratarse, también, de textos que tienen un lugar y un tiempo específico en los cuales son leídos; textos que son frecuentados por casi todos los miembros de la comunidad; en síntesis, textos cuya reproducción se lleva a cabo de acuerdo con normas bien específicas y que contribuyen de manera central al desarrollo de la identidad cultural y la solidaridad entre los miembros de una comunidad religiosa o cultural.

En la cultura judía tradicional, la existencia de textos privilegiados es bien evidente. El Talmud y el libro de plegarias lo han sido por siglos. Pero también lo ha sido la Hagadá de Pésaj, constituyéndose con toda probabilidad en uno de los textos más populares de la literatura religiosa judía. Por su parte, la cultura judía moderna, en todas sus variantes, no retiró este lugar de honor a la Hagadá, a pesar de las modificaciones y la resignificación que parte del texto tradicional ha sufrido. Así pues, el judaísmo moderno ha conservado la Hagadá de Pésaj como texto privilegiado y sigue otorgándole un lugar especial a la cena en la que la Hagadá es leída.

Se puede decir que en Pésaj el pueblo judío festeja el aniversario de su nacimiento. No se trata de una cuestión científico-histórica sino de un fenómeno de la conciencia. El pueblo hebreo se conformó como tal en el desierto y llegó posteriormente a la Tierra de Israel. Pasó de ser un conglomerado de esclavos a ser un pueblo en libertad. En el primer día de la fiesta de Pésaj, se lleva a cabo el conocido Séder (Orden) de Pésaj, la cena durante la cual se narra y explica el éxodo de Egipto. El ritual se llama Séder porque sigue un orden específico y su núcleo consiste en la lectura del libro de la Hagadá.

La Hagadá de Pésaj es, pues, el libro en el que se compilaron todos los textos que se leen en la noche del Séder. Este libro se fue constituyendo a lo largo de diversas generaciones, capa sobre capa, y es por ello que no acusa una continuidad de contenido, a pesar de que hay ciertas ideas que funcionan como hilos conductores a lo largo del texto.


En sus diversas formas, la Hagadá se deriva de la interacción de la oralidad con la escritura. Algunas de sus partes esenciales figuran en el Talmud como lo son el Ma Nishtaná (Las Cuatro Preguntas) contenidas en el tratado de Pésajim 114-116 y el midrash de Rabí Gamliel sobre los cuatro hijos, así como la obligación del padre de familia de relatar la historia del éxodo de Egipto. No obstante los textos que la componen y el carácter definitivo que una parte de ellos alcanzaron en todas las hagadot tradicionales y no tradicionales también, la Hagadá de Pésaj y, el Séder mismo dejan un espacio de honor a la oralidad como forma de transmitir el mensaje. Por ejemplo, se le encomienda al padre de familia contar la historia de Pésaj, pero éste puede hacerlo con sus propias palabras.

En el judaísmo, al igual que en otras religiones, la palabra oral es parte de la vida ritual. Aun y cuando se trate de las religiones mundiales, apoyadas básicamente en los textos, la oralidad puede seguir cumpliendo una función de primer orden. La Hagadá se lee pues, en voz alta y se insertan comentarios de los participantes que complementan al texto leído. Esta dinámica entre lo escrito y lo oral permitió que la Hagadá siguiera ocupando su lugar central en el rito y que, a su vez, soportase cambios y transformaciones, sin dejar de cumplir la función de aglutinar a la comunidad o a la familia en torno a una cena, y a su vez comunicar la historia del éxodo de Egipto, la historia de la transición del pueblo de la esclavitud hacia la libertad.

Las Hagadot no tradicionales: el ejemplo de las Hagadot kibutzianas

Es extraordinaria la riqueza de Hagadot producidas durante el último siglo. Al seleccionar el tema "Hagadot de Pésaj" en la computadora de la biblioteca nacional de Jerusalem, cualquiera puede sorprenderse de la cantidad de hagadot que pueden hallarse, producto, todas ellas, de la creatividad y la capacidad innovadora de distintos grupos de judíos a lo largo del siglo XX. Bajo el subtítulo de "Hagadot no tradicionales" pueden encontrarse poco más de quinientas. En diferentes ciudades y sobre todo kibutzim de Israel fueron creadas estas hagadot, cada una con sus variantes, con sus propias correcciones, sus canciones preferidas, constituyendo todas ellas en conjunto, una tradición que por sí misma ha persistido por décadas.

A partir de los años veinte fueron compuestas diferentes hagadot en los kibutzim, que expresaban las ideas del sionismo pionero del movimiento kibutziano. Al principio cada kibutz creó la suya propia y posteriormente aparecieron las hagadot comunes de los grandes movimientos kibutzianos. Destaca entre ellas la Hagadá de Yehuda Sharet que viera la luz en el kibutz Yagur en 1936 y que influyó de manera contundente sobre las hagadot que aparecieron a continuación. En esta hagadá, (que se convertiría en la "Hagadá del Movimiento Kibutziano Unificado de 1985") se distingue una aproximación hacia el modelo de la hagadá tradicional pero sin abandonar los temas básicos en los que los kibutzim procuraron innovar. Éstos pueden resumirse en tres puntos:


  1. El movimiento kibutziano acentúa el mensaje nacional y sionista del éxodo de Egipto y continúa la historia más allá de la salida misma hasta la entrada en la Tierra de Israel. De esta manera, retorna al significado bíblico del éxodo de Egipto y lo inserta en la realidad actual de la vuelta del pueblo judío a su tierra, después de creado el Estado de Israel.
  2. La Hagadá kibutziana cita versículos bíblicos relativos al éxodo de Egipto y con ello cumple con el precepto de "contar" la salida de Egipto la noche del Séder (La Hagadá tradicional no relata la historia en su totalidad y deja al padre de familia la posibilidad de completarla de forma oral con sus propias palabras.). La Hagadá kibutziana devuelve a la historia los personajes de Moisés y el faraón, ausentes en la Hagadá tradicional.
  3. La Hagadá kibutziana incluye el significado de Pésaj como fiesta de la primavera en la naturaleza, otorgándole a la festividad un significado no sólo histórico y nacional sino también agrícola.

Diferentes movimientos religiosos

También los movimientos religiosos no ortodoxos del judaísmo elaboraron sus propias Hagadot. En su voluntad por adaptar el judaísmo a la modernidad, el movimiento reformista en Estados Unidos publicó en 1908 The Union Haggadah: Home Service for the Passover Eve. Esta Hagadá ofrece, también, significativas correcciones y agregados, enfatizando, notoriamente, el concepto reformista de la "Misión de Israel". De acuerdo con esta doctrina, los judíos habían sido diseminados por el mundo con el fin de cumplir la misión universal de predicar el profetismo moral en los cuatro rincones de la Tierra. Este concepto permitía legitimar la existencia en la diáspora de los judíos reformistas. La centralidad de las Cuatro Preguntas en esta hagadá es sustituida por una pregunta que dice: ¿Cuál es la característica esencial de este Séder? Y la respuesta es: "el liberado se convirtió en liberador al ser Israel nominado para difundir la religión a toda la humanidad." Ésta es, pura y simplemente, la idea de misión del judaísmo reformista.

Los reconstruccionistas publicaron por su parte, en 1941, su primera Hagadá de Pésaj. Se trata de la New Haggadah for the Pesach Seder (Nueva Hagadá para el Séder de Pésaj), con una decidida inclinación humanista. La Hagadá de los reconstruccionistas suprimió pasajes que denotaban conflicto con los modernos ideales éticos. Un ejemplo de ello es la invocación de la venganza divina en contra de los enemigos de Israel. Otros símbolos como la Matzá (el pan ácimo) adquirían también una resignificación en un sentido humanista: "Aprendamos a encontrar satisfacciones que no provengan de lujos sino de actos de asistencia y benevolencia. Probemos lo que es el hambre para traer igualdad y justicia a todos.


Los conservadores, en cambio, editaron su propia Hagadá recién en 1979. En la introducción de A Passover Haggadah, el editor sugiere que cada individuo cuente su propio éxodo "en el lenguaje que entendemos, con las metáforas que usamos y con el conocimiento que hemos adquirido". Sin embargo, a pesar de estas instrucciones, el texto, como tal, mantiene los elementos básicos de la Hagadá tradicional. Entre sus agregados se encuentra el siguiente: "La radical transformación de las condiciones y circunstancias de la vida judía, desde el Holocausto y hasta el establecimiento del Estado de Israel, deben ser reflejados en la Hagadá, para asegurar que cada generación pueda experimentar la realidad del éxodo de Egipto."

Permanencia y transformación

Por supuesto que en una religión apegada a una tradición escrita es más difícil modificar un texto que dejarlo intacto y reinterpretarlo oralmente. Pero el hecho de que la Hagadá de Pésaj no sea un texto con el peso canónico de la Biblia, la Mishná o el Talmud, ha permitido que diferentes generaciones oscilen entre cambiar o reinterpretar. En cualquier caso, los judíos de cada época procuran volver actual el mensaje de la festividad de Pésaj a través de la lectura de la Hagadá.

Las diferentes hagadot, con sus elementos permanentes y sus partes transformadas, son un reflejo de la experiencia, las aspiraciones y esperanzas de cada generación de judíos. El retorno a la Tierra de Israel, la misión del pueblo judío hacia el mundo, la memoria del Holocausto, la liberación de los judíos soviéticos, la redención de los oprimidos, son temas que, entre otros, ocuparon a los judíos a lo largo del siglo XX, y que reciben su lugar en las modernas hagadot de Pésaj o en los comentarios e interpretaciones que se llevan a cabo en torno a la mesa del Séder. También la tradición implica cambio y ninguna cultura podrá sobrevivir por largo tiempo congelándose como pieza de museo, decidiendo que las cosas deben permanecer tal y como han existido "siempre". Estos cambios podrán suceder a través de nuevas versiones orales que reinterpreten un texto escrito o, tal y como ocurre con la hagadá en varias de sus versiones, a través de modificaciones y agregados del texto mismo. En cualquiera de los casos, la hagadá conserva su centralidad en el rito judío del Séder de Pésaj.

Alguna vez el profesor Eliezer Schweid formuló esta idea con una sencilla frase: "la única innovación del judaísmo ultraortodoxo durante el último siglo, ha sido sostener que en el judaísmo no hay innovación."

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Pessach - Lista de Checagem para Pessac - fonte Shalom

Pessach Lista de checagem para Pessach Chametz (alimentos fermentados) Certifique-se de Eliminar o Chametz amtes de Pessach, alguns costuman vender todo seu Chametz através do seu rabino antes de Pesach. Não esqueça de fazer uma contribuição para o "Fundo da Matzá" ("Maot Chittim") para os necessitados. Durante a noite, busque as crianças na hora certa envolvendo-as com a procura do Chametz e recitando os textos apropriados. Lembre de queimar o Chametz na manhã seguinte BIUR CHAMETZ. Para a mesa(s) Prepare um prato de Seder (Keará) com: - Karpas - aipo, pedaços de batata, pepino - Marror - raiz forte ralada - Chazeret - alface amarga, alface romana - Charoset - use uma recita diferente para cada Seder e para cada Keará - Zeroá - osso assado ou beterraba assada para os vegetarianos - Beitzá - ovo bem cozido que tem uma aparência "amarronzada" - Tigelas pequenas de água com sal devem ser colocadas perto de cada Keará. - Prepare um prato com pano para cobrir a Matzá e três Matzot. Alguns adicionam uma quarta Matzá debaixo do pano para os judeus oprimidos. - Não esqueça de colocar pratos com Matzot comuns. - Quatro copos de vinho Tente usar uma garrafa de vinho israelense para cada um dos quatro copos, talvez começando com vinho seco e concluindo com o doce. Para as crianças e outros, certifique-se de ter suco de uva e para isso existem uvas israelenses também. - Não esqueça de ter um Copo para o Eliahu - o qual alguns enchem com vinho de cada participante e um outro para Miriam Para cada participante Consiga a mesma Hagadá para todos por questões de ordem no seguimento do Seder Consiga uma Hagadá adicional para cada um, com um comentário diferente em cada lugar. Cada um deve ter seu próprio copo de Kidush Um travesseiro para cada participante que queira realmente se reclinar na cadeira Preparação do lider Uma Hagadá marcada com notas, paginas de outras fontes, musicas, comentários, etc. Prêmios para os vários desafios e perguntas para as crianças, especialmente o Afikoman Propostas em varias maneiras para envolver as crianças e adultos durante o Seder * Pense em quem vai estar presente e como envolve-los significativamente e respeitosamente
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marco aurelio garcia em israel

O que eu temia aconteceu. Marco Aurelio Garcia,o nosso Ministro do Exterior para assuntos de esquerda e justiça mundial,e o Presidente Lula,seu acessor(?) se recusaram a depositar uma coroa de flores no túmulo de Theodor Herzl(uso de propósito o plural) acabam de noticiar nesta noite de domingo,os jornais brasileiros.Cabe a pergunta: se não reconhecem Israel como fundado a partir de ideais sionistas,o que foram fazer por lá? O Marco Aurelio Top Top,aquele que se alegrava com o noticiário e fazia top-top enquanto as famílias das vítimas da TAM choravam os seus mortos e se emociona até as lágrimas em entrevista na Piauí, do alto de sua sua soberba neo messianica, aproveita a visita para dar conselhos aos palestinos a se unirem,eles,é claro,nunca tinham pensado no assunto. Parece não ter fim a capacidade de nossos homens ditos de esquerda de aparecerem diante do mundo como herdeiros de uma verdade que lhes foi revelada e lhes permite apoiar o homicídio assistido de prisioneiros de consciencia em Cuba ,enquanto se recusam a um gesto simbólico que,em Israel,significa não reconhecer nem mesmo o estado em que estão pisando como tendo o direito de definir as suas raízes. Como doem em mim os meus anos de passeatas pelo PT.
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Parashat “Vaiakhel-Pekudei”

Parashat “Vaiakhel-Pekudei” Autor: Rabino Jacov Chinitz Interpretación y comentario “Tomad de vosotros ofrenda ante Adonai. Todo generoso de corazón la habrá de traer, a la ofrenda de Adonai. Oro y plata y cobre” (Éxodo 35:5). La construcción del Tabernáculo dependía de la colaboración de muchos voluntarios y del aporte de muchos donantes. Al final, gracias a la gran cantidad de donaciones, Moshé tuvo que declarar: “Todo hombre o mujer no hagan más trabajo para la ofrenda del Santuario” (Éxo-do 36:6). Pero también podemos leer una advertencia entre líneas: el donante debía traer su aporte por sí mismo, y no podía delegar la entrega de su donación a la congregación o a Dios. El noble de corazón tenía la obligación de culminar el trabajo de traer su aporte. Pero, a decir verdad, de cualquier manera, todo pertenece a Dios, como está escrito: “De Dios es la tierra y todo lo que ella contiene” (Salmos 24:1). Al final, si no damos, Dios puede tomar lo nuestro, pero Él prefiere que lo donemos por nuestra propia voluntad. La economía judía religiosa no confía en el voluntarismo. En efecto, la ofrenda al Tabernáculo se describe como una donación de corazón, pero la Halajá (la Ley Judía) no ve el hecho de dar tzedaká (ayuda social) como una opción, sino como una obligación. Hasta la cantidad a ser donada es una mitzvá, un precepto: no menos de un décimo y no más de un quinto de los ingresos de una persona. Además de dar tzedaká en general, -el décimo, que es la décima parte de la producción agrícola-, así como la entrega de otros presentes a los Cohanim y Leviim, y las ofrendas al Tabernáculo son determinadas según las posibilidades de cada persona: Cuanto más bienes la persona tenga, la décima parte de los mismos será mayor. El impuesto a las ganancias progresivo no se encuentra en la Halajá. Además, encontramos una ofrenda unificada en forma de medio shékel, que no dependía para nada de la situación económica de la persona. Cada miembro de la sociedad -pobre o rico- debía ser contado mediante la entrega del medio shékel. Más de una vez fueron criticados los sistemas de donación de las organizaciones como la Magbit (Campaña Judía), por el hecho de usar la presión social, hasta el punto de publicar los nombres de los donantes y la cantidad de sus aportes. Recuerdo un Congreso en la ciudad de Filadelfia, en los Estados Unidos, donde la Dra. Trude Weiss-Rosmarin z”l dio un discurso. Uno de los presentes preguntó: “¿Se nos puede obligar a donar a la Magbit?” La Dra. Rosmarin respondió que la donación es voluntaria. Entonces me levanté y di mi opinión que se oponía a la de ella. Si bien es cierto que en nuestros días es aceptable que la cantidad de la donación sea voluntaria, el hecho de donar no es una opción, sino una obligación que se debe imponer. Si no damos de nuestros bienes, éstos van a ser tomados de nosotros. Si damos a nuestros herederos y ellos no donan, la herencia será tomada de sus manos. Nuestros bienes no son de nuestra posesión, sino que son entregados en nuestras manos sólo para que los cuidemos. Estudio y análisis Rabino Dr. Alexander Even-Jen Profesor de Pensamiento Judío, Instituto Schechter de Estudios Judaicos, Jerusalén. La Torá insinúa acerca de la relación entre el Tabernáculo y el Becerro de Oro utilizando el término “vaiakhe-l” “y congregó”, en dos casos: “Y habiendo visto el pueblo que tardaba Moshé en descender de la montaña, se congregó el pueblo contra Aarón y le dijeron: Levántate, haznos `Elohim' que vaya delante de nosotros, porque a éste, Moshé, el hombre que nos hizo ascender desde la tierra de Egipto, no sabemos qué le ha ocurrido” (Éxodo 32:1). “Y congregó Moshé a toda la Asamblea de los hijos de Israel y les dijo a ellos: Éstas son las cosas que ha prescripto Adonai para hacerlas” (Éxodo 35:1). Maimónides argumenta que el término “Elohim” tiene varios significados: “Todo hebreo sabe que el nombre `Elohim' se aplica tanto a Dios como a los ángeles y a los jueces líderes de los Estados” (“Guía de los Perplejos”, Primera Parte, Capítulo 2). Es decir, cuando el pueblo de Israel pide a Aarón - “haznos Elohim”- “la intención es que les haga un `líder', o `juez' o `ángel' o `dioses”' (alguna imagen divina). Según lo escrito en el versículo y según vuestra opinión, ¿cuál es el sentido del término “Elohim”? ¿Se justifica el pedido del pueblo? ¿Sería la construcción del Tabernáculo como un pacto de conciliación con la realidad? Antes de la presentación de las instrucciones divinas para la construcción del Tabernáculo, Mo- shé dice: “Seis días se habrá de hacer trabajo, más el día séptimo será para vosotros consagrado Shabat, día de descanso ante Adonai. Todo el que hiciere en él trabajo habrá de ser muerto. No encenderéis fuego dondequiera que habitaréis, en el día de Shabat” (Éxodo 35:2-3). Si ya en los Diez Mandamientos le fue transmitida al pueblo la obligación de observar el Shabat, ¿por qué hay necesidad de recordar de nuevo las instrucciones relacionadas con el Shabat? Es de suponer que el pueblo con el que habla Moshé se encuentra en una situación emocional difícil. Después del pecado del Becerro de Oro, muchos fueron “condenados a muerte”. Al pueblo le fue exigido purificarse a sí mismo mediante la muerte de los pecadores: “Les dijo: Así ha dicho Adonai, el Dios de Israel. Poned cada hombre su espada sobre su muslo, pasad y volved, de puerta en puerta en el campamento y matad hombre a su hermano, hombre a su prójimo, y hombre a su pariente”. (Éxodo 32:27). ¿Por qué Moshé ve como correcto transmitir justamente las leyes del Shabat a un pueblo que se supone que aún necesita recuperarse de la pérdida de sus parientes? Editado por el Instituto Schechter de Estudios Judaicos, la Asamblea Rabínica de Israel, el Movimiento Conservador y la Unión Mundial de Sinagogas Conservadoras. Traducción: rabina Sandra Kochmann.
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Clóvis Rossi: Lula pisa campo minado em Israel: JERUSALÉM -

AO desembarcar amanhã à noite em Tel Aviv, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tornar-se-á o primeiro chefe de Estado brasileiro a visitar Israel em exatos 150 anos (o anterior foi dom Pedro 2º). Pena que a efeméride venha acompanhada de uma divergência já contratada: "Sabemos que a posição do governo brasileiro sobre o Irã não coincide com a nossa", admite Dorit Shavit, a responsável por América Latina no Ministério de Assuntos Exteriores israelense. O fundo da divergência é assim resumido por ela: "O governo brasileiro fala em engajamento, e nós sabemos que só sanções podem evitar que o Irã desenvolva a bomba". Não se trata de um desacordo menor, desses que são comuns mesmo entre países com bom relacionamento entre si. Do ponto de vista do governo e da sociedade israelenses, é uma questão vital. As notórias e públicas ameaças do regime iraniano de varrer Israel do mapa poderiam passar de bravata a uma possibilidade real se o Irã tiver a bomba. Por isso, explica-se o fato de Israel estar sendo quase tão ativo quanto os Estados Unidos na tentativa de convencer a comunidade internacional de que, "quanto mais fortes forem as sanções, mais provável será forçar o regime iraniano a escolher entre avançar seu programa nuclear ou tratar de sua própria permanência no futuro", como diz o primeiro-ministro Binyamin Netanyahu. Israel despachou, nos últimos meses, delegações diplomáticas para, entre outros países, o Brasil e a China. Os chineses são o maior obstáculo para as "fortes sanções" desejadas, porque têm poder de veto no Conselho de Segurança. Para convencê-los, seria importante que países que também são contra sanções mas não têm poder de veto as apoiassem, casos de Brasil, Líbano e Turquia. Netanyahu certamente voltará a conversar com Lula sobre o assunto, mas parece impossível que o governante brasileiro altere a sua posição, reiterada tantas vezes, de que não é conveniente "colocar o Irã contra a parede". Outro território minado na visita é do processo de paz entre Israel e palestinos, em que o Brasil tem a declarada intenção de exercer um papel. Mas não é uma questão que se coloque agora, dado que o processo de paz está estancado, e seu mais recente sopro de vida cessou na antevéspera da chegada de Lula. De todo modo, o processo de paz estará no cardápio de Lula, como está de qualquer visitante a Israel e aos territórios palestinos. E tende a ser outro ponto de atrito entre o brasileiro e seus anfitriões israelenses, mesmo que Lula pretenda manter uma posição equilibrada entre os lados em conflito. Afinal, "os palestinos nada mais têm a oferecer neste estágio; estão sem um Estado e enfrentando duras realidades econômicas e sociais devido à continuação da ocupação israelense", como diz Mohamed Elmenshawy, editor-chefe da "Arab Insight", publicação de análises sobre Oriente Médio produzida pelo World Security Institute, baseado em Washington. É puro sentido comum e, portanto, Lula pode repetir essa avaliação tanto em Israel como nos territórios palestinos. Se não o fizer, perde crédito com os palestinos. Se o fizer, Netanyahu discordará com certeza.

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8 de março: As mulheres faziam parte das "classes perigosas"

O dia 8 de março é dedicado à comemoração do Dia Internacional da Mulher. Atualmente tornou-se uma data um tanto festiva, com flores e bombons para uns. Para outros é relembrada sua origem marcada por fortes movimentos de reivindicação política, trabalhista, greves, passeatas e muita perseguição policial. A data foi uma proposta de Clara Zetkin (foto), membro do Partido Comunista Alemão, deputada em 1920, que militava junto ao movimento operário e se dedicava à conscientização feminina. O artigo é de Eva Alterman Blay.

No século XIX e no início do XX, nos países que se industrializavam, o trabalho fabril era realizado por homens, mulheres e crianças, em jornadas de 12, 14 horas, em semanas de seis dias inteiros e freqüentemente incluindo as manhãs de domingo. Os salários eram de fome, havia terríveis condições nos locais da produção e os proprietários tratavam as reivindicações dos trabalhadores como uma afronta, operárias e operários considerados como as "classes perigosas"

Sucediam-se as manifestações de trabalhadores, por melhores salários, pela redução das jornadas e pela proibição do trabalho infantil. A cada conquista, o movimento operário iniciava outra fase de reivindicações, mas em nenhum momento, até por volta de 1960, a luta sindical teve o objetivo de que homens e mulheres recebessem salários iguais, pelas mesmas tarefas. As trabalhadoras participavam das lutas gerais mas, quando se tratava da igualdade salarial, não eram consideradas. Alegava-se que as demandas das mulheres afetariam a "luta geral", prejudicariam o salário dos homens e, afinal, as mulheres apenas "completavam" o salário masculino.

Subjacente aos grandes movimentos sindicais e políticos emergiam outros,
construtores de uma nova consciência do papel da mulher como trabalhadora e cidadã. Clara Zetkin, Alexandra Kollontai, Clara Lemlich,
Emma Goldman, Simone Weil e outras militantes dedicaram suas vidas ao que posteriormente se tornou o movimento feminista.

Clara Zetkin propôs o Dia Internacional da Mulher
Clara Zetkin (1857-1933), alemã, membro do Partido Comunista Alemão,
deputada em 1920, militava junto ao movimento operário e se dedicava à
conscientização feminina. Fundou e dirigiu a revista "Igualdade", que
durou 16 anos (1891-1907).

Líderes do movimento comunista como Clara Zetkin e Alexandra Kollontai,
ou anarquistas como Emma Goldman, lutavam pelos direitos das mulheres
trabalhadoras, mas o direito ao voto as dividia: Emma Goldman afirmava
que o direito ao voto não alteraria a condição feminina se a mulher não
modificasse sua própria consciência.

Ao participar do II Congresso Internacional de Mulheres Socialistas, em
Copenhagem, em 1910, Clara Zetkin propôs a criação de um Dia
Internacional da Mulher sem definir uma data precisa. Contudo, vê-se
erroneamente afirmado no Brasil e em alguns países da América Latina que
Clara teria proposto o 8 de Março para lembrar operárias mortas num
incêndio em Nova Iorque em 1857. Os dados a seguir demonstram que os
fatos se passaram de maneira diferente.

O movimento operário nos Estados Unidos
Assim como na Europa, era intenso o movimento trabalhador nos Estados
Unidos desde a segunda metade do século XIX, sobretudo nos setores da
produção mineira e ferroviária e no de tecelagem e vestuário.

A emergente economia industrial norte-americana, muito instável, era
marcada por crises. Nesse contexto, em 1903 formou-se, pela ação de
sufragistas e de profissionais liberais, a Women's Trade Union Leaguepara organizar trabalhadoras assalariadas. Com as crises industriais de
1907 e 1909 reduziu-se o salário dos trabalhadores, e a oferta de mão-de-obra era imensa, dada a numerosa imigração proveniente da Europa. Grande parte dos operários e operárias era de imigrantes judeus, muitos
com um passado de militância política.

No último domingo de fevereiro de 1908, mulheres socialistas dos Estados Unidos fizeram uma manifestação a que chamaram Dia da Mulher, reivindicando o direito ao voto e melhores condições de trabalho. No ano
seguinte, em Manhatan, o Dia da Mulher reuniu 2 mil pessoas.

Problemas muito conhecidos do operariado latino-americano impeliam
trabalhadores e trabalhadoras a aderir às manifestações públicas por salários e pela redução do horário de trabalho. Embora o setor industrial tivesse algumas grandes empresas, predominavam as pequenas, o que dificultava a agregação e unicidade das reivindicações. O movimento por uma organização sindical era intenso e liderado no setor de confecções e vestuário por trabalhadores judeus com experiência política sindical, especialmente da União Geral dos Trabalhadores Judeus da Rússia e da Polônia (Der Alguemayner Yiddisher Arbeterbund in Russland
un Poyln - BUND
).

Para desmobilizar o apelo das organizações e controlar a permanência dos trabalhadores/as, muitas fábricas trancavam as portas dos estabelecimentos durante o expediente, cobriam os relógios e controlavam a ida aos banheiros. Mas as difíceis condições de vida e os baixíssimos salários eram forte incentivo para a presença de operários e operárias nas manifestações em locais fechados ou na rua.

Uma das fábricas, a Triangle Shirtwaist Company (Companhia de Blusas Triângulo), para se contrapor à organização da categoria, criou um
sindicato interno para seus trabalhadores/as. Em outra fábrica, algumas
trabalhadoras que reclamavam contra as condições de trabalho e salário
foram despedidas e pediram apoio ao United Hebrew Trade, Associação de Trabalhadores Hebreus. Então as trabalhadoras da Triangle quiseram retirar alguns recursos do sindicato interno para ajudar as companheiras mas não o conseguiram. Fizeram piquetes na porta da Triangle, que contratou prostitutas para se misturarem às manifestantes, pensando assim dissuadi-las de seus propósitos. Ao contrário, o movimento se fortaleceu.

Uma greve geral começou a ser considerada pelo presidente da Associação
dos Trabalhadores Hebreus, Bernardo Weinstein, sempre com o objetivo de
melhorar as condições de trabalho da indústria de roupas. A idéia se espalhou e, em 22 de novembro de 1909, organizou-se uma grande reunião na Associação dos Tanoeiros liderada por Benjamin Feigenbaum e pelo Forward.
(http://www.bnai-brith.com.br/content/mail/editar_press_especial.asp?cod
=258#_ftn9
). A situação era extremamente tensa e, durante a reunião, subitamente uma adolescente, baixa, magra, se levantou e pediu a
palavra: "Estou cansada de ouvir oradores falarem em termos gerais. Estamos aqui para decidir se entramos em greve ou não. Proponho que seja declarada uma greve geral agora!". A platéia apoiou de pé a moção da jovem Clara Lemlich.

Política e etnia
No movimento dos trabalhadores as relações étnicas tinham peso
fundamental, razão pela qual, para garantir um compromisso com a greve,
Feigenbaum usou um argumento de extraordinária importância religiosa
para os judeus. Ele perguntou à assembléia: "Vocês se comprometerão com
o velho mandamento judaico?" Uma centena de mãos se ergueram e todos
gritaram: "Se eu esquecer de vós, ó Jerusalém, que eu perca minha mão
direita". Era um juramento de que não furariam a greve.

Cerca de 15 mil trabalhadores do vestuário, a maioria moças, entraram em
greve, provocando o fechamento de mais de 500 fábricas. Jovens operárias
italianas aderiram, houve prisões, tentativas de contratar novas trabalhadoras, o que tornou o clima muito tenso. A direção da greve ficou com a Associação dos Trabalhadores Hebreus e com o Sindicato Internacional de Trabalhadores na Confecção de Roupas de Senhoras International Ladies' Garment Workers' Union - ILGWU).

À medida que as grandes empresas cederam algumas reivindicações, a
greve foi se esvaziando e se encerrou em 15 de fevereiro de 1910 depois
de 13 semanas.

O incêndio
Pouco tinha sido alterado, sobretudo nas fábricas de pequeno e médio
porte, e os movimentos reivindicatórios retornaram. A reação dos
proprietários repetia-se: portas fechadas durante o expediente, relógios
cobertos, controle total, baixíssimos salários, longas jornadas de trabalho.

O dia 25 de março de 1911 era um sábado, e às 5 horas da tarde, quando
todos trabalhavam, irrompeu um grande incêndio na Triangle Shirtwaist
Company,
(http://www.bnai-brith.com.br/content/mail/editar_press_especial.asp?cod
=258#_ftn13
) que se localizava na esquina da Rua Greene com a
Washington Place. A Triangle ocupava os três últimos de um prédio de
dez andares. O chão e as divisórias eram de madeira, havia grande
quantidade de tecidos e retalhos, e a instalação elétrica era precária. Na hora do incêndio, algumas portas da fábrica estavam fechadas. Tudo
contribuía para que o fogo se propagasse rapidamente.

A Triangle empregava 600 trabalhadores e trabalhadoras, a maioria
mulheres imigrantes judias e italianas, jovens de 13 a 23 anos. Fugindo
do fogo, parte das trabalhadoras conseguiu alcançar as escadas e desceu
para a rua ou subiu para o telhado. Outras desceram pelo elevador. Mas a
fumaça e o fogo se expandiram e trabalhadores/as pularam pelas
janelas, para a morte. Outras morreram nas próprias máquinas. O Forward
publicou terríveis depoimentos de testemunhas e muitas fotos.

Morreram 146 pessoas, 125 mulheres e 21 homens, na maioria judeus.

A comoção foi imensa. No dia 5 de abril houve um grande funeral coletivo
que se transformou numa demonstração trabalhadora. Apesar da chuva,
cerca de 100 mil pessoas acompanharam o enterro pelas ruas do Lower
East Side. No Cooper Union falou Morris Hillquit e no Metropolitan
Opera House, o rabino reformista Stephen Wise.

A tragédia teve conseqüências para as condições de segurança no trabalho
e sobretudo serviu para fortalecer o ILGWU.

Para autores como Sanders, todo o processo, desde a greve de 1909, mais o drama do incêndio da Triangle, acabou fortalecendo o reconhecimento dos
sindicatos. O ILGWU, de conotação socialista e um dos braços mais
'radicais' do American Federation of Labour (AFL), se tornou o maior e mais forte dos Estados Unidos naquele momento.

Atualmente no local onde se deu o incêndio foi construída a Universidade de Nova Iorque. Uma placa, lembrando o terrível episódio, foi lá colocada:

"Neste lugar, em 25 de março de 1911, 146 trabalhadores perderam suas
vidas no incêndio da Companhia de Blusas Triangle. Deste martírio
resultaram novos conceitos de responsabilidade social e legislação do
trabalho que ajudaram a tornar as condições de trabalho as melhores do
mundo." (ILGWU)


Mulheres e movimentos sociais
No século XX, as mulheres trabalhadoras continuaram a se manifestar em
várias partes do mundo: Nova Iorque, Berlim, Viena (1911); São Petersburgo (1913). Causas e datas variavam. Em 1915, Alexandra
Kollontai organizou uma reunião em Cristiana, perto de Oslo, contra a
guerra. Nesse mesmo ano, Clara Zetkin faz uma conferência sobre a
mulher. Em 8 de março 1917 (23 de fevereiro no Calendário Juliano),
trabalhadoras russas do setor de tecelagem entraram em greve e pediram
apoio aos metalúrgicos. Para Trotski esta teria sido uma greve espontânea, não organizada, e teria sido o primeiro momento da Revolução de Outubro.

Na década de 60, o 8 de Março foi sendo constantemente escolhido como o
dia comemorativo da mulher e se consagrou nas décadas seguintes.
Certamente esta escolha não ocorreu em conseqüência do incêndio na
Triangle, embora este fato tenha se somado à sucessão de enormes
problemas das trabalhadoras em seus locais de trabalho, na vida sindical
e nas perseguições decorrentes de justas reivindicações.

Lenin: o que importava era a política de massas e não o direito das
mulheres

Mulheres e homens jovens tinham muitas outras preocupações além das
questões trabalhistas e do sistema político. Nem sempre a liderança
comunista entendia essas necessidades, como foi o caso de Lenin e de
muitos outros líderes. Em seu Diário, Clara Zetkin relata o que ouvira
do camarada e amigo Lenin, ao visitá-lo no Kremlin, em 1920. Lenin
lamentava o descaso pelo Dia Internacional da Mulher que ela propusera
em Copenhagem, pois este teria sido um oportuno momento para se criar
um movimento de 'massa', internacionalizar os propósitos da Revolução
de 17, agitar mulheres e jovens. Para alcançar este objetivo, afirmava
ele, era necessário discutir exclusivamente os problemas políticos e não
perder tempo com aquelas discussões que os jovens trabalhadores traziam
para os grupos políticos, como casamento e sexo. Lenin estendia suas
críticas ao trabalho de Rosa Luxemburgo com prostitutas: "Será que Rosa
Luxemburgo não encontrava trabalhadores para discutir, era necessário
buscar as prostitutas?"

Esta visão de Lenin fez escola na esquerda. A experiência do 'amor
livre' nos primeiros anos pós-Revolução trouxe enormes conflitos que
levaram à restauração do sistema de família regulamentado pelo contrato
civil. Temas relativos ao corpo, à sexualidade, à reprodução humana,
relação afetiva entre homens e mulheres, aborto, só foram retomados 40
anos mais tarde pelo movimento feminista.

O 8 de Março no Brasil
No Brasil vê-se repetir a cada ano a associação entre o Dia Internacional da Mulher e o incêndio na Triangle quando na verdade Clara Zetkin o tenha proposto em 1910, um ano antes do incêndio. É muito provável que o sacrifício das trabalhadoras da Triangle tenha se incorporado ao imaginário coletivo da luta das mulheres. Mas o processo de instituição de um Dia Internacional da Mulher já vinha sendo elaborado pelas socialistas americanas e européias há algum tempo e foi ratificado com a proposta de Clara Zetkin.

Nas primeiras décadas do século XX, o grande tema político foi a reivindicação do direito ao voto feminino. Berta Lutz, a grande líder sufragista brasileira, aglutinou um grupo de mulheres da burguesia para
divulgar a demanda. Ousadas, espalharam de avião panfletos sobre o Rio
de Janeiro, pedindo o voto feminino, no início dos anos 20!

Pressionaram deputados federais e senadores e se dirigiram ao presidente
Getúlio Vargas. Afinal, o direito ao voto feminino foi concedido em 1933
por ele e garantido na Constituição de 1934. Mas só veio a ser posto em
prática com a queda da ditadura getulista, e as mulheres brasileiras
votaram pela primeira vez em 1945.

Em 1901, as operárias, que juntamente com as crianças constituíam 72,74%
da mão-de-obra do setor têxtil, denunciavam que ganhavam muito menos do que os homens e faziam a mesma tarefa, trabalhavam de 12 a 14 horas na fábrica e muitas ainda trabalhavam como costureiras, em casa. Como
mostra Rago, a jornada era de umas 18 horas e as operárias eram consideradas incapazes física e intelectualmente. Por medo de serem despedidas, submetiam-se também à exploração sexual.

Os jornais operários, especialmente os anarquistas, reproduziam suas
reclamações contra a falta de higiene nas fábricas, o assédio sexual, as
péssimas condições de trabalho, a falta de pagamento de horas extras, um
sem número de abusos. Para os militantes operários, a fábrica era um local onde as mulheres facilmente se prostituíam, daí reivindicarem a volta das mulheres para casa. Patrões, chefes e empregados partilhavam dos mesmos valores: olhavam as trabalhadoras como prostitutas.

Entre as militantes das classes mais altas, a desqualificação do operariado feminino não era muito diferente: partilhavam a imagem generalizada de que operárias eram mulheres ignorantes e incapazes de produzir alguma forma de manifestação cultural. A distância entre as duas camadas sociais impedia que as militantes burguesas conhecessem a produção cultural de anarquistas como Isabel Cerruti e Matilde Magrassi, ou o desempenho de Maria Valverde em teatros populares como o de Arthur Azevedo .

Como as anarquistas americanas e européias, as brasileiras (imigrantes
ou não) defendiam a luta de classes mas também o divórcio e o amor
livre, como escrevia "A Voz do Trabalhador" de 1° de fevereiro de 1915:

"Num mundo em que mulheres e homens desfrutassem de condições de
igualdade... Vivem juntos porque se querem, se estimam no mais puro,
belo e desinteressado sentimento de amor"
.

A distinção entre anarquistas e comunistas foi fatal para uma eventual aliança: enquanto as comunistas lutavam pela implantação da "ditadura do proletariado", as anarquistas acreditavam que o sistema partidário reproduziria as relações de poder, social e sexualmente hierarquizadas.

No PC a diferenciação de gênero continuava marcante: as mulheres se
encarregavam das tarefas 'femininas' na vida quotidiana do Partido.
Extremamente ativas, desenvolveram ações externas de organização sem ocupar qualquer cargo importante na hierarquia partidária. Atuavam, por exemplo, junto a crianças das favelas ou dos cortiços, organizavam colônias de férias, supondo que poderiam ensinar às crianças novos valores.

Zuleika Alembert, a primeira mulher a fazer parte da alta hierarquia do PC, eleita deputada estadual por São Paulo em 1945, foi expulsa do Partido quando fez críticas feministas denunciando a sujeição da mulher em seu próprio partido.

O feminismo dos anos 60 e 70 veio abalar a hierarquia de gênero dentro
da esquerda. A luta das mulheres contra a ditadura de 1964 uniu,
provisoriamente, as feministas e as que se autodenominavam membros do
'movimento de mulheres'. A uni-las, contra os militares, havia uma data: o 8 de Março. A comemoração ocorria através da luta pelo retorno da democracia, de denúncias sobre prisões arbitrárias, desaparecimentos
políticos.

A consagração do direito de manifestação pública veio com o apoio internacional - a ONU instituiu, em 1975, o 8 de Março como o Dia Internacional da Mulher.

Entrou-se numa nova etapa do feminismo. Mas velhos preconceitos
permaneceram nas entrelinhas. Um deles talvez seja a confusa história
propalada do 8 de Março, em que um anti-americanismo apagava a luta de
tantas mulheres, obscurecendo até mesmo suas origens étnicas.

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