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P R O T E S T O Veteranos da FEB, Ex-Combatentes, Militares da Reserva e Reformados Contra a Visita do Presidente da República Islâmica do Irã Sr. Mahmoud Ahmadinejad ao Brasil Nós, abaixo assinados, Veteranos da FEB, Ex-Combatentes, Militares da Reserva R/1, R/2, R/R, RNR e Reformados das Forças Armadas e Auxiliares do Brasil, Amigos e Simpatizantes, expressamos nosso repúdio e protestamos contra a visita do Presidente da República Islâmica do Irã, Sr. Mahmoud Ahmadinejad ao Brasil. Entendemos que o Brasil não pode ser anfitrião de alguém em missão oficial pregando idéias que vão de encontro aos ideais de igualdade que o nosso país defende. Ao postular a destruição de uma Nação Amiga soberana e negar o Holocausto, desqualifica-se para ser acolhido oficialmente em um país que enviou tropas para combater estes mesmos inimigos da democracia e da liberdade que cometeram o inominável genocídio que passou a ser conhecido como Holocausto durante a Segunda Guerra Mundial. O Brasil, defensor da democracia e dos ideais de liberdade, recebeu de braços abertos milhares de sobreviventes desse terrível massacre que ele nega despudoradamente, Em honra à memória dos milhões de vítimas desprezadas pelo visitante, dos milhares de brasileiros desaparecidos nos torpedeamentos dos navios nacionais, dos combatentes das Forças Brasileiras de Terra, Mar e Ar vitimados nesta luta, dos milhões de soldados e civis desaparecidos, e dos 6 milhões de seres humanos que pereceram brutalmente assassinados no Holocausto cinicamente negado pelo indesejável visitante, protestamos veementemente contra a sua presença nesta terra onde se prega a igualdade e a luta contra a discriminação. Tenente da Marinha MELCHISEDECH AFONSO DE CARVALHO PRESIDENTE DO CONSELHO NACIONAL DA ASSOCIACAO DOS EX-COMBATENTES DO BRASIL Ten Manoel Adão Floriano, Presidente da ANVFEB – Associação Nacional dos Veteranos da FEB – Força Expedicionaria Brasileira.Na FEB foi Sargento do Regimento Sampaio. Ten Juventino da Silva, Presidente da Associação dos Ex-Combatentes do Brasil, Seção de Nova Iguaçú – RJ. Na FEB serviu no Regimento SAMPAIO Major Antonio André, Diretor de Patrimônio da ANVFEB – RJ. Na FEB serviu no Pelotão de Transmissões. Veterano Ten R/2 Dr Israel Rosenthal- ex-combatente da FEB, Presidente do Conselho Deliberativo da ANVFEB Cel R/1 Herbert Andrade de Seixas Duarte, Diretor Secretario da ANVFEB – RJ EUCLYDES BUENO FILHO RG 011570000-7 MIN DA DEFESA General de Brigada Engenheiro R/1 Noaldo Alves Silva, Cel. Art, Ref, EB, Idt 100238840-1 MD, Exérciro Brasileiro, CPF 032406497 72, protesto e associo-me aos abaixo assinados, contra a visita do Pres. da Rep. Islâmica do Irã ao Brasil. Sou também Pres. da AsEFEx, Associação dos Ex-alunos e dos amigos da Escola de Educação Física do Exército. Ten R/2 ART Sérgio Pinto Monteiro Turma 1961 CPOR/RJ - – 019795790-5 MD – Presidente do CONSELHO NACIONAL DOS OFICIAIS DA RESERVA DO BRASIL - CNOR Ten R/2 ART Tu 1965 Egas Moniz de Aragão Daquer- 024994447-20, Juiz de Direito Ten R/2 Marcello Capparelli Moniz de Aragão Daquer – 01846 2613-3 Ten R/2 Clavery – Presidente da Associação de Oficiais da Reserva R/2 de Petrópolis – RJ e membro da ADESG Ten R/2 ART Paulo Coimbra Sauwen – 024377837-68 – Eex-Presidente da Associação dos Ex-Alunos do CPOR/RJ Ten R/2 MAT BEL Ruyberto S. de Oliveira – 582192497/68, Diretor de Mobilização da Associação dos Oficiais da Reserva do Exercito – AORE-RJ Ten R/2 INF Pqd Paulo Sérgio Lima Araújo - Diretor AORE/RJ – Ten R/2 Israel Zukerman- 1G979120 MEX – Diretor da Guarda Bandeira – AORE/RJ Apoio este abaixo assinado. JOAO LOPES DE ARAUJO JR. POSTO: 2 TEN R/2 CPF: 487.127.014-91 Vice-Pres da Associação Paraibana de Oficiais R2 da Reserva do Exército Representante da Liga da Defesa Nacional na Paraíba ZENAIDE MARIA TAVARES DUBOC RI - O40139125-5 - EXÉRCITO BRASILEIRO CPF - 261.857.766.34 FILHA DO VETERANO DA FEB - MAJOR ÁLVARO DUBOC FILHO COLABORADORA DO SITE WWW.ANVFEB.COM.BR JOSE CARLUCIO GOMES DE SOUSA CEL INF R/1 IDT 02044182-1 Dr. Afonso Arlindo, Advogado, Medalha do Pacificador CMG Ref.Henrique Araújo de Souza, Marinha, ID.: 190.012 MM. CEL INF e EM ARNALDO DE LIMA NOVAES-RG 032098090-REFORMADO Alexandre Cherman Solicito a inclusão de meu repúdio contra a visita do presidente do Irã ao Brasil. Alexandre Cherman - Capitão-de-Mar-e-Guerra (RM1-Md) - identidade 319247 – Marinha do Brasil. Faço minhas as palavras de repudio a visita de Ahmadinejad ao Brasil. Dário Sion 1 Ten R/2 Inf CPOR-SP Vice Presidente ABORE –SP Associação Brasileira de Oficiais da Reserva do Exercito. Isaac Dahan 2o. TEN R/2 Infantaria - Turma de 1967 - CPOR/8 Profissão: Médico Exerce atualmente também a função de Oficiante Religioso da Sinagoga de Manaus. RG 1468 CRM-AM ANTONIO JOSE BARROS DA SILVEIRA 1° Ten R/2 Art Turma de 1965 CPOR/RJ Identidade 1G 580.210 BORIS SITNIK - 2o. Ten. R2 de Engenharia. Turma 1966 do CPOR-SP RG 1.688.459-6/PR INSTITUTO CULTURAL JUDAICO-BRASILEIRO BERNARDO SCHULMAN (Comunidade Israelita do Paraná) Luiz Alberto da Costa Fernandes – Ten R/2 Eng - CPF 245293387-20 Milton N. Reis - 2º Ten R2 Art Carlos Jayme S.Jaccoud - 2º Ten R/2- 47.735 M.Ex. Venho protestar contra a visita do Presidente da República islämica do Irá Sr. Mahnoud Ahmadinejad ao Brasil. Aderbal Martins 2º Ten R/2 inf Alessandro ANDREI DEUSCHLE da Silva – 1º Ten R2 Vice-Presidente da AORE/DF Assessor Especial da Delegacia da Escola Superior de Guerra em Brasília-DF Lúcio Fagundes Marcon RG: 113987654-2 MD/EB Filho do Ten Cel Marcon. Ten R/2 ART Tessis – Brasília – AORE-PLANALTO Ten R/2 Ubirajara Caetano Salma- 16-030 306 A (M.Def) Ten R/2 ART Sérgio Emygdio Cabral- 80.1.06.556-6 Ten R/2 Jorge Garcia- 04685-0 Ten R/2 Carlos Alberto Ferraz- 3.426.671 Ten R/2 COM Johnny Veríssimo – 376638775-3 Ten R/2 L.R. Zdanowski, CPOR/RJ INF Tu Mar RONDON 1965 – 10849027-53 Ten R/2 INT Antônio Carlos Leal – 1.781.914 IFP Ten R/2 ART Fernando Ramos Paz F°– CPOR/RJ Tu 1965 - 01580 220-2 M Ex Ten R/2 INT Eliezer de Moura Cardoso– 038310007-00 – Turma Olavo Bilac 1959 CPOR/RJ Ten R/2 Cláudio Madureira – 019098302-3 Ten R/2 Jorge Vaz Turma 1956 – 16819273 Ten R/2 Paulo C.V. Miranda- 80818189.5 IFP 1°. Ten R/2 ART Paulo Grey Ribeiro- 018192970-4 Ten R/2 Miranda – 012319151-2 Ten R/2 Roberto Oliveira-8855538 IPF Ten R/2 INF Tu 1953 Bension Akerman – 042.083.407.97 Tem R/2 Art Israel Blajberg, 3°. Vice-Presidente da AHIMTB. O apoio é de natureza individual. A citação eventual de cargo e/ou entidade não significa adesão desta, apenas mera informação
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Nações não têm amigos, têm interesses, ensina o verbete do manual do cinismo que justifica a existência de relações diplomáticas e comerciais entre países democráticos e paragens comandadas por liberticidas de nascença, assassinos patológicos e outras aberrações da espécie. Não é uma norma edificante. Pois a inversão dos predicados pode tornar as coisas ainda mais abjetas, ensina a política externa da Era Lula. Desde 2003, O Brasil têm amigos, escolhidos por um presidente cujos interesses não têm parentesco com o que interessa à nação.Com a desenvoltura arrogante que só a certeza da impunidade dá, Evo Morales expropriou bens da Petrobras na Bolívia, Rafael Correa prendeu engenheiros da Odebrecht no Equador, Hugo Chávez tranformou em estalagem o prédio da embaixada em Honduras, Fernando Lugo exige a remoção dos alicerces do Tratado de Itaipu. Lula reagiu a tais agressões à soberania que jurou defender com tapinhas nas costas e falatórios de comparsa. Amigos merecem cuidados especiais e muito carinho.Pelos padrões civilizados, o iraniano Mammoud Ahmadinejad é um fanático perigoso, acampado na chefia de um regime primitivo, que reprime opositores com ferocidade, frauda eleições, condena homossexuais à morte, nega às mulheres direitos elementares, sonha com o regresso às cavernas. Para Lula, é um amigo ─ dele e, por consequência, do Brasil. E assim será recebido nesta segunda-feira, em Brasília, pelo anfitrião que, dramaticamente ignorante em geopolítica, de novo escolheu o lado errado.“Eu disse ao Obama, ao Sarkozy e à Angela Merkel que a gente não vai trazer o Irã para boas causas se a gente ficar encurralando ele na parede”, gabou-se Lula nesta semana. “É preciso criar espaços para conversar”. O monoglota que precisa de um tradutor até para conversas em português acha que lhe bastam 15 minutos para que Ahmadinejad cancele o programa nuclear, apaixone-se por Israel, debulhe-se em lágrimas pelos 6 milhões de judeus assassinados pelo Holocausto que até agora nega ter existido e vire torcedor do Corinthians.Chegou a hora de retribuir às muitas gentilezas que lhe fez, imagina o amigo brasileiro. Multidões de manifestantes protestavam no Irá contra as evidências de fraude eleitoral, a contagem dos votos não terminara e a dos mortos mal começara quando Lula resolveu intrometer-se na crise do outro lado do mundo. ”Eu não conheço ninguém, a não ser a oposição, que tenha discordado da eleição do Irã”, pontificou o cara. ”Não tem número, não tem prova. Por enquanto, é apenas uma coisa entre flamenguistas e vascaínos”.Ao reducionismo de jardim da infância, adicionou o raciocínio de colegial repetente: ”O presidente Ahmadinejad teve uma votação de 62,7%. É um número muito grande para a gente imaginar que possa ter havido fraude”. No Brasil, comparou, suspeitas de fraude geralmente ocorrem quando a diferença de votos entre os candidatos é de 1% ou 2%. Ele certamente ignora que Saddam Hussein não admitia ser reconduzido à presidência do Iraque com menos de 100% do eleitorado.A notícia de que a repressão policial já causara 69 mortes não inibiu o improvisador incontrolável. ”Há uma oposição que não se conforma”, explicou. ”O resultado desse conflito são inocentes morrendo, o que é lamentável e inaceitável por parte de qualquer democrata do mundo”. Estaria Lula incluindo o Irã no universo das democracias? “Cada país estabelece o regime democrático que convém ao seu povo”, desconversou. ”É uma decisão soberana de cada nação”. Só não vale para Honduras.A visita de Ahmadinejad é um insulto ao Brasil que presta e, sobretudo, uma afronta aos incontáveis judeus que escaparam do horror e julgaram encontrar aqui o abrigo seguro. “Não estou preocupado com judeus e árabes”, desdenha Lula. ”Estou preocupado com a relação do Estado brasileiro com o Estado iraniano”. O presidente acha que está recebendo um amigo árabe. Não sabe sequer que os nativos do Irã são persas.Persa ou árabe, o visitante jamais seria bem-vindo. Porque Mammoud Ahmadinejad é, antes de mais nada, um crápula.Escrito por: Augusto Nunes - Publicado Na Revista VejaPublicado no site em: 18/11/2009
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Carta aberta ao presidente do Irã.

Artigo perfeito, com um humor ironico e muitas verdades, o jornalista José Roitberg dá as boas vindas de nós brasileiros ao presidente Mahmoud Ahmadinejad, do Irã explicando porque esta será uma viagem inesquecível para o mesmo.Ahmadinejad Seja Bem Vindo ao Brasil"Tenho a certeza de que será uma das piores viagens oficiais de sua vida.Vai encontrar aqui um país cristão, coisa que abomina. Vai ter que se encontrar com políticos e empresários que usam gravatas, acessório proibido pelo código de vestimentas (lei no Irã) porque na visão xiita a gravata simboliza uma cruz em torno do pescoço dos homens. E verá mais de 5 cores de ternos, outra coisa também proibida no Irã.Espero que passe por nossas praias e não fique olhando para o chão do carro, pois precisa se confrontar com a liberdade ocidental de expor o corpo humano vivo e não os cadáveres. Precisará se controlar para não dar uma olhadinha em nossas beldades desnudas não só nas praias, mas com vestidinhos de Geisy por todos os cantos. Imagine o que é isso para alguém que defende a burka? É o próprio Faya, o Inferno muçulmano.Mas seja bem vindo aqui Ahmadinejad. Espero que se encontre com o presidente Lula em seu gabinete, veja a Bíblia sobre a mesa, veja a mezuza na porta ao lado na sala da Clara Ant. E pense muito bem no que fazer: apertar a mão de uma judia comunista de rosto descoberto e tornozelos de fora? Que dilema teológico...Mas seja bem vindo Ahmadinejad. Depois de se esquivar da Clara Ant, que como assessora pode até ser posta de lado, mas aí resta o Marco Aurélio Garcia, que deixa a Clara no ponto mais a direita da esquerda com sua mente sovietizada e cubanizada. Ih Ahamdinejad: você acabou com os comunistas no Irã. O que vai dizer aos nossos aqui (alguns deles o defendem hein...), a maioria, muito mais neo-liberal que de esquerda, mas não tem saída: neo-liberalismo também não é sua praia. E depois de se esquivar de um, sempre virá outro: uma grande lista de judeus e esquerdistas de fato no poder. Não são brinquedinhos buchechudos como na Venezuela. Aqui a esquerda é de raiz!Mas seja bem vindo Ahmadinejad. Venha ver um país de 190 milhões de pessoas de todas as origens e religiões que não se matam e não disputam o poder para matar as outras, se é que isso faz algum sentido para você. Pergunte como se faz uma eleição sem fraude.Tem umas coisas aqui que você precisava conhecer para ampliar seus horizontes mas não vai rolar. Não vai ao Corcovado. Não vai ao Pão de Açúcar, não vai dar uma volta no Saara no Rio ou na 25 de Março em São Paulo. Não vai ter uma almoço fechado no Porcão, até porque você, como muçulmano, come kosher também. Aliás, se quiser levar um salame antes voltar, passe aqui na Bolivar 45. Dá até para parar o carro na baia de descarga e tomar um café: eu pago! Aproveite para ver o que nossos vizinhos cristãos iraquianos pensam de você. Posso até marcar com uns amigos bahais. É! Tem bahais no Brasil também, religião que os xiitas escorraçaram da Pérsia e depois do Irã, tendo que se refugiar em Haifa, ainda no domínio Otomano. Ih, esqueci: tem turco para caramba aqui no Brasil. Tem libanês cristão para todos os lados. Mais libaneses e descendentes de libaneses que no próprio Líbano.Aqui é um lugar interessante para você conhecer, pena que vai ficar acossado entre a mídia e a política e não verá nosso povo.Pessoalmente não tenho nada contra você. Não fico nem um pouco impressionado com mais um líder muçulmano dizendo que vai varrer Israel do mapa. Pode tentar. Em 1948 quando eram fortes e os judeus fracos, não conseguiram. Depois Nasser tinha o seu discurso. Depois Sadat tinha o seu discurso. Depois Shuqueiri e Arafat tinham o seu discurso. Depois Assad (pai) tinha seu discurso. Depois Saddam, seu inimigo mortal tinha o seu discurso. Você é professor. A história lhe interessa. Olhe para trás e veja onde estão e o que conseguiram. Pelo menos podia ser original em seu discurso.Nem seus arroubos de negação do Holcausto a cada vez que o petróleo está baixo me incomodam. Você é o presidente, mas não é o poder. Você não me preocupa e nem sei o quanto dos coisas que faz ou diz são realmente suas ou você é apenas o porta voz da junta teológica que domina os persas.Não é aqui no Brasil que alguém vai te lembrar que é dirigente do único país xiita entre outros 53 países sunitas e que mais ou menos 1 bilhão de muçulmanos não vão com a sua cara enquanto só uns 13 milhões de judeus tem algo contra você. Isso não vão te dizer aqui. Não vão dizer que o Irã tem relações diplomáticas com menos países islâmicos que Israel. E ninguém vai chegar até você numa entrevista e perguntar: "Presidente, para que essa bobagem de dizer que Israel tem que ser varrido do mapa? Seu obejtivo não é triunfar onde seus antepassados xiitas fracassaram e retomar Meca? Abrir Meca para os persas e varrer o domínio árabe sobre o Islã no Golfo?" Não é essa a agenda verdadeira iraniana verdadeira? Vcs também seguem Sun Tzu não seguem? Faça o inimigo achar que vc está longe quando está perto...Sei que você pode jogar a Bomba sobre Israel pois são apenas judeus, cristãos, bahais e sunitas por lá. Todos infiéis na visão. Mas você acredita que Israel tem 300 Bombas. Um monte de gente acredita. É blefe? É real? Mas a família real saudita não tem nenhuma né? Será que alguém ataca você se a Bomba cair em Ryad e não em Jerusalém? Pessoalmente, acho que não. Mas se eu fosse você ficaria com o pé atrás e mandava investigar a fundo todo mundo que está em seu programa nuclear. Você acreditaria se eu disse que algum dos cientistas paquistaneses pode ser um agente taliban da Al Qaeda, sua inimiga mortal, pronto para fazer um ataque suicida nuclear em suas instalações? Vocês são persas. São inteligentes. Sabem quem são seus reais inimigos. Sabem que sempre foram os árabes, os sunitas e agora os talibans. Depois de 10 anos de guerra com os sunitas iraquianos seus aiatolás quase atacaram o Afeganistão sob domínio taliban por 3 vezes. Só não fizeram porque foram um pouco mais espertos e deixaram os ocidentais se ferrarem por lá, como os soviéticos, sem conseguir resolver nada.Mas seja bem vindo. Venha e ouça o que precisa ouvir! Venha e ouça o que precisa ser dito. Vai ser insuportável para você. Assine um contrato para uma área do pré-sal pois seu petróleo está acabando e você sabe disso melhor que ninguém.E tenha uma certeza caro presidente: Israel não vai construir o segundo Yad Vashem, o segundo Museu do Holocausto. Mas se o Irã realmente enveredar pelo caminho da chantagem atômica, vocês poderão acabar tendo que construir o seu primeiro museu....Escrito por: Jose Roitberg - JornalistaPublicado no site em: 18/11/2009
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Sobre a visita do presidente do Irã

Apenas uma visita ?O presidente da República Islâmica do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, chega ao Brasil no próximo dia 23. Cercada de polêmica, a visita, no entanto, faz parte da rotina diplomática, com ênfase em aspectos geopolíticos e comerciais. Os iranianos estão interessados, por exemplo, em comprar terras brasileiras, num esforço para reduzir a dependência de alimentos. Os brasileiros, críticos da chamada doutrina Bush (que, para a solução de impasses, privilegia coação militar, em detrimento de negociações multilaterais) e de olho nas oportunidades abertas pelo mercado de petróleo, querem se colocar como atores importantes no turbulento Oriente Médio. Para isso, constroem um diálogo direto com o Estado iraniano.No centro da polêmica, a figura do presidente Ahmadinejad. Suas reiteradas declarações negando o Holocausto e pregando a destruição do Estado de Israel horrorizam quem não se anestesiou pelo antissemitismo. São ataques tolos, que isolam politicamente o Irã e abastecem o mercado da intolerância.Outro gesto provocador do presidente iraniano foi a recente indicação de Ahmad Vahidi para o ministério da Defesa. Vahidi é procurado pela Interpol desde 2007 por suposto envolvimento no atentado contra a AMIA, em Buenos Aires, em 1994. O ato terrorista deixou 85 mortos.Sobre o que envolve a presença do presidente iraniano em solo brasileiro, temos a declarar o seguinte:1. É ingenuidade acreditar que o jogo das relações internacionais é regido por regras humanitárias e/ou por uma (inexistente) ética universal. Goste-se ou não, é business as usual. Não existem “países inocentes”. Alguns dos que hoje criticam o regime iraniano são campeões mundiais na venda de armas, flertaram com o apartheid sul-africano, deram as mãos a Saddam Hussein (quando era conveniente atacar os xiitas iranianos), assessoraram Esquadrões da Morte na América Central, providenciaram golpes de estado no atacado e/ou instruíram serviços secretos homicidas. No entanto, parodiando o Marco Antônio de Shakespeare, são países honrados ...2. O atual regime iraniano é teocrático, antipopular e antidemocrático. Subverte um dos valores básicos do islamismo xiita: a autoridade islâmica jamais poderia confundir-se com um governo secular. Os clérigos no poder perseguem as oposições e sufocam os movimentos populares.3. É bom, entretanto, não esquecer que a Revolução de 1979 foi um gigantesco movimento de massas, que não era apenas islâmico na origem. Enxotou do poder o xá Reza Pahlevi. Quem era esse soberano ? Um títere pró-ocidental, que chegou ao trono depois de um golpe de estado patrocinado pela CIA, em agosto de 1953. Entregou as reservas petrolíferas do país a consórcios norte-americanos e britânicos, recebendo em troca proteção para censurar os meios de comunicação, perseguir, torturar e matar seus opositores. Tudo em nome da “ameaça comunista”. Quantos dos que hoje se chocam, com razão, com as arengas de Ahmadinejad, levantaram suas vozes e seu poder de pressão contra Reza Pahlevi ?4. Fala-se das intenções militaristas do programa nuclear iraniano. É uma preocupação legítima. O arsenal atômico já existente em outros países é capaz de incinerar o planeta mais de uma vez. A dúvida é: por que só o Irã? Defendemos a desnuclearização completa não só do Oriente Médio, mas de todo o mundo. Que não existam mais áreas secretas, proibidas à inspeção internacional. Que se respeitem com rigor as cláusulas do Tratado de Não Proliferação Nuclear. Os países não signatários devem ser pressionados a aderir.5. Manifestamos nossa solidariedade ao povo iraniano em sua luta por um Estado democrático, que respeite os direitos humanos e promova a justiça social. A conquista da liberdade virá da ação popular organizada, não de intervenções estrangeiras.Rio de Janeiro, 19 de novembro de 2009ASA – Associação Scholem Aleichem de Cultura e RecreaçãoICUF – Ídisher Cultur Farband (Argentina)ACIZ – Asociación Cultural Israelita Dr. Jaime Zhitlovsky (Uruguai)
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Este Holocausto será diferente

Este Holocausto será diferente Published by Nuno Guerreiro Josuéat 2/16/2007 in Israel, Opinião & Comentário and Geral. "English" Translation um ensaio de Benny Morris Benny Morris é professor de História do Médio Oriente na Universidade Ben-Gurion e um dos mais marcantes representantes da esquerda académica israelita. Este ensaio foi publicado em Janeiro de 2007 no Jerusalem Post.

O segundo holocausto não será como o primeiro. Os nazis industrializaram o massacre, claro. Mas, mesmo assim, eram obrigados a ter contacto com as vítimas. Antes de as matarem de forma efectiva, podem tê-las desumanizado nas suas mentes ao longo de meses e anos com recurso a humilhações terríveis, mas, mesmo assim, tinham com as suas vítimas um contacto visual e auditivo, e alguns mesmo táctil. Os alemães, e os seus ajudantes não germânicos, tiveram de tirar de suas casas homens, mulheres e crianças; tiveram de os arrastar e de lhes bater pelas ruas e de os ceifar em bosques circundantes, ou empurrá-los para vagões de gado que comboios transportariam para campos, onde “o trabalho liberta”, separando os sãos dos completamente inúteis que colocavam sob “chuveiros”, matavam com gás e depois retiravam os corpos para a carrada que se seguia. O segundo holocausto será bastante diferente. Numa radiante manhã, daqui a cinco ou dez anos, talvez durante uma crise regional, talvez sem qualquer motivo aparente, um dia ou um ano ou cinco anos após o Irão ter obtido a Bomba, os Mullahs de Qom reunirão numa sessão secreta, sob um retrato do Ayatollah Khomeini com olhar severo, e darão a luz verde ao presidente Mahmoud Ahmadinejad, então no seu segundo ou terceiro mandato. As ordens serão dadas e mísseis Shihab III e IV serão lançados contra Tel Aviv, Bersheva, Haifa e Jerusalém e provavelmente contra alvos militares, incluindo meia dúzia de bases aéreas israelitas e (alegadas) bases de mísseis nucleares. Alguns dos Shihab terão ogivas nucleares. Outros serão meros engodos, carregados com agentes químicos e biológicos, ou simplesmente com jornais velhos, destinados a confundir as bateiras antimísseis israelitas. Para um país com o tamanho e a forma de Israel (20 mil quilómetros quadrados alongados), provavelmente quatro ou cinco ataques serão suficientes. Adeus Israel. Um milhão ou mais de israelitas nas áreas metropolitanas de Jerusalém, Tel Aviv e Haifa morrerá imediatamente. Milhões sofrerão os graves efeitos da radiação. Israel tem cerca de sete milhões de habitantes. Nenhum iraniano irá ver ou tocar um único israelita. Tudo será bastante impessoal. Alguns dos mortos inevitavelmente serão árabes – cerca de 1,3 milhões dos cidadãos de Israel são árabes e outros 3,5 milhões vive no território semi-ocupado da Cisjordânia [Judeia e Samaria] e na Faixa de Gaza. Jerusalém, Tel Aviv-Jaffa e Haifa possuem igualmente minorias árabes substanciais. Existem igualmente grandes concentrações de populações árabes em torno de Jerusalém (em Ramallah-Al Bireh, Bir Zeit, Bethlehem) e nos arredores de Haifa. Aqui também, muitos morrerão, imediatamente ou aos poucos. É duvidoso que um tão grande massacre de muçulmanos perturbe Ahmadinejad e os Mullahs. Os iranianos não gostam particularmente de árabes, especialmente de árabes sunitas, com quem têm guerreado intermitentemente desde há séculos. E eles têm um desprezo particular para com os (sunitas) palestinianos que, apesar de tudo, mesmo sendo inicialmente em número dez vezes mais do que os judeus, não conseguiram impedir durante o longo conflito que eles criassem o seu próprio estado ou controlassem toda a Palestina. Além de tudo isso, a liderança iraniana encara a destruição de Israel como um supremo mandamento divino, tal como um sinal da segunda vinda, e as muitas vítimas colaterais muçulmanas serão sempre encaradas como mártires na nobre causa. De qualquer forma, os palestinianos, muitos deles dispersos por todo o mundo, sobreviverão enquanto povo, tal como o fará a grande Nação Árabe da qual fazem parte. E, com toda a certeza, para se livrarem do Estado judaico, os árabes estarão dispostos a fazer alguns sacrifícios. No saldo cósmico das coisas, valerá a pena. UMA QUESTÃO pode mesmo assim levantar-se nos concílios iranianos: E Jerusalém? Afinal, a cidade alberga os terceiros mais sagrados lugares de culto do islamismo (depois de Meca e Medina): a mesquita de Al Aksa e a Mesquita de Omar. Mas Ali Khamenei, o líder espiritual supremo, e Ahmadinejad muito provavelmente responderiam da mesma forma que o fariam em relação à questão mais lata de destruir e poluir de forma radioactiva a Palestina inteira. A cidade, tal como a terra, pela graça de Deus, em 20 ou 30 anos irá recuperar. E será restaurada para o Islão (e para os árabes). E a outra poluição mais profunda terá sido erradicada. A julgar pelas referências contínuas de Ahmadinejad à Palestina e à necessidade de destruir Israel, e à sua negação do primeiro Holocausto, ele é um homem obcecado. E partilha a obsessão com os Mullahs: todos eles criados sob os ensinamentos de Khomeini, um prolífico antisemita que frequentemente proferia sentenças contra “o pequeno satã”. A julgar pelo facto de Ahmadinejad ter organizado um concurso de cartoons sobre o Holocausto e uma conferência para negar o Holocausto, os ódios do presidente iraniano são profundos (e, claro, descarados). Ele está disposto a pôr em jogo o futuro do Irão, ou mesmo o do Médio Oriente inteiro, em troca da destruição de Israel. Sem dúvida que ele acredita que Allah irá proteger o Irão, de alguma forma, de uma resposta nuclear israelita ou de uma contra-ofensiva americana. Mas, Allah à parte, ele pode muito bem acreditar que os seus mísseis pulverizarão o estado Judaico, destruindo a sua liderança e as suas bases nucleares terrestres, desmoralizando e confundindo de tal forma os comandantes dos seus submarinos nucleares que estes serão incapazes de responder. E, com o seu profundo desprezo pela indecisão frouxa do Ocidente, não levará a sério a ameaça de uma retaliação nuclear americana. Ou poderá muito bem achar, de uma forma irracional (para nós), que uma contra-ofensiva é um preço que está disposto a pagar. Tal como o seu mentor, Khomeini, disse num discurso em Qom em 1980: “Nós não adoramos o Irão, adoramos Allah… que esta terra [Irão] arda. Que esta terra desapareça em fumo desde que o Islão saia triunfante…” Para estes adoradores do culto da morte, mesmo o sacrifício literal da pátria é aceitável se dai sair o fim de Israel. O VICE-MINISTRO israelita da Defesa, Ephraim Sneh, sugeriu que o Irão nem sequer tem de utilizar a Bomba para destruir Israel. A simples nuclearização do Irão poderá intimidar e deprimir os israelitas de tal maneira que eles perderão a esperança, emigrando gradualmente; com investidores e imigrantes a evitarem o estado Judaico ameaçado de destruição. Conjugados, estes factores contribuiriam para o fim de Israel. Mas sinto que Ahmadinejad e os seus aliados não têm a paciência necessária para esperar pelo lento desenrolar desta hipótese; eles procuram a aniquilação de Israel aqui e agora, no futuro imediato, durante as suas vidas. Eles não querem deixar nada à mercê dos vagos ventos da História. Tal como durante o primeiro, o segundo holocausto será precedido por décadas de preparação de corações e mentes, tanto pelos líderes iranianos e árabes, como por intelectuais e órgãos de comunicação social ocidentais. Diferentes mensagens foram dirigidas a diferentes audiências, mas todas (de forma concreta) têm servido o mesmo objectivo – a demonização de Israel. Muçulmanos em todo o mundo têm sido ensinados que “os sionistas/judeus são a personificação do mal” e que “Israel tem de ser destruído.” De forma mais subtil, o mundo ocidental foi ensinado que “Israel é um estado opressor racista” e que “Israel, nesta época de multiculturalismo, é um anacronismo supérfluo”. Gerações de muçulmanos, e pelo menos uma geração no Ocidente, têm sido criados com estes catecismos. O CRESCENDO para o segundo Holocausto (que, curiosamente, irá provavelmente ter sensivelmente o mesmo número de vítimas que o primeiro) tem sido acompanhado por uma comunidade internacional fragmentada e conduzida pelos seus próprios apetites egoístas – a Rússia e a China obcecadas com os mercados muçulmanos; a França com o petróleo árabe; e os Estados Unidos, empurrados a um isolacionismo mais profundo pelo descalabro no Iraque. O Irão tem tido liberdade para prosseguir os seus sonhos nucleares, e Israel e o Irão foram deixados sós para se enfrentarem. Mas Israel, basicamente isolada, não estará à altura da tarefa, tal como um coelho encadeado pelos faróis de um carro que corre contra ele. No Verão passado, liderado por um primeiro-ministro incompetente e por um sindicalista a fingir de ministro da Defesa, utilizando tropas treinadas para dominar gangues de palestiniano mal armados e pior treinados e demasiado preocupados em não sofrer ou infligir baixas, Israel falhou numa mini-guerra de 34 dias contra um pequeno exército de guerrilha financiado pelos iranianos (ainda que bem treinado e bem armado). Essa mini-guerra desmoralizou totalmente as lideranças política e militar de Israel. Desde então, ministros e generais, tal como os seus homólogos ocidentais, limitam-se a observar taciturnamente à medida que os patronos do Hizbullah constróem os arsenais do Apocalipse. De forma perversa, os líderes israelitas podem até ter ficado satisfeitos com as pressões ocidentais a apelar à contenção. Muito provavelmente, eles querem acreditar de forma profunda nas garantias ocidentais de que alguém – a ONU, o G-8 – irá tirar do lume a batata quente radioactiva. Há mesmo quem tivesse acreditado na bizarra ideia de que uma mudança de regime em Teerão, conduzida por uma classe-média laica, acabaria por parar os loucos Mullahs. Mas de forma ainda mais concreta, o programa iraniano apresentava um complexo desafio para um país com um número limitado de recursos militares tradicionais. Aprendendo com a experiência do sucesso da destruição pela Força Aérea israelita do reactor nuclear iraquiano de Osirak em 1981, os iranianos duplicaram e dispersaram as suas instalações, enterrando-as em bunkers profundos. Para atacar as instalações nucleares iranianas com armas convencionais seria necessário uma força aérea do tamanho da americana, trabalhando 24 horas por dia durante mais de um mês. Na melhor das hipóteses, a força aérea israelita, os comandos e a marinha, podiam almejar a atingir apenas um dos componentes do projecto iraniano. Mas, no fim de contas, ele continuaria substancialmente intacto – e os iranianos ainda mais determinados (se tal for possível) a alcançar a Bomba o quanto antes. Ao mesmo tempo, sem qualquer dúvida, seria gerada também uma campanha mundial de terrorismo islâmico contra Israel (e possivelmente contra os seus aliados ocidentais) e, claro, uma campanha quase universal de vilipêndio. Orquestrados por Ahmadinejad, todos clamariam que o programa nuclear iraniano se destinava a propósitos pacíficos. Na melhor das hipóteses, um ataque convencional de Israel poderia apenas atrasar os iranianos em cerca de dois anos. IMEDIATAMENTE, a liderança incompetente de Jerusalém enfrentaria um cenário catastrófico, quer fosse depois do lançamento de uma ofensiva convencional ou, em vez dela, lançando um ataque nuclear preemptivo e antecipado contra o programa nuclear iraniano, que tem algumas das suas instalações em torno de grandes cidades. Teriam eles estômago para isso? Estaria a sua determinação em salvar Israel alargada à eventualidade de matar milhões de iranianos e, na verdade, destruir o Irão? Este dilema foi há muito definido de forma certeira por um sábio general: o arsenal nuclear de Israel é inutilizável. Apenas pode ser usado demasiado cedo ou demasiado tarde. Nunca haverá uma altura “certa”. Usado “cedo demais”, quer dizer antes do Irão adquirir armas nucleares similares, Israel será investida no papel de pária internacional, alvo de um ataque muçulmano universal, sem um amigo no mundo; “tarde demais” quererá dizer que os iranianos já atacaram. Que vantagem tem? Então os líderes israelitas cerrarão os dentes na esperança de que tudo corra pelo melhor. Talvez, depois de terem a Bomba, os iranianos se portem de forma “racional”? MAS OS IRANIANOS são motivados por uma lógica mais elevada. E lançarão os seus mísseis. E, tal como no primeiro Holocausto, a comunidade internacional nada fará. Tudo acabará, para Israel, em poucos minutos – não como na década de 1940, quando o mundo teve cinco longos anos para cruzar os braços e nada fazer. Depois dos Shihabs caírem, o mundo enviará navios de salvamento e ajuda médica para os levemente carbonizados. Não atacará o Irão com armas nucleares. Com que objectivo e com que custos? Uma resposta nuclear americana alienaria de forma permanente o mundo muçulmano, aprofundando e universalizando o actual choque de civilizações. E, claro, não traria Israel de volta. (Enforcar um criminoso devolve à vida as suas vítimas?) Então qual seria o propósito? Ainda assim, o segundo holocausto será diferente no sentido em que Ahmadinejad não verá nem tocará aqueles que deseja ver mortos. Na verdade não haverá cenas como a seguinte, citada no recente livro de Daniel Mendelsohn, The Lost, A Search for Six of Six Million, na qual é descrita a segunda acção nazi em Bolechow, na Polónia, em 1942: Um episódio terrível aconteceu com a senhora Grynberg. Os ucranianos e os alemães irromperam pela sua casa e encontraram-na prestes a dar à luz. As lágrimas e as súplicas dos familiares não ajudaram e ela foi levada de casa em camisa de noite e arrastada para a praça em frente da Câmara Municipal. Ali ela foi arrastada para um contentor de lixo no pátio da Câmara, onde a multidão de ucranianos presentes dizia piadas e ria das suas dores de parto, até que ela deu à luz. A criança foi imediatamente arrancada dos seus braços, ainda com o cordão umbilical, e atirada ao ar – foi espezinhada pela multidão e ela ficou de pé à medida que sangue escorria do seu corpo, com pedaços pendurados a sangrar, e permaneceu desta forma algumas horas encostada à parede da Câmara Municipal. Depois foi com todos os outros para a estação de caminho de ferro de onde foi levada de comboio para Belzec. No próximo holocausto não haverá cenas destas de cortar o coração, de criminosos e vítimas ensopados em sangue. Mas será na mesma um holocausto. Benny Morris é professor de História do Médio Oriente na Universidade Ben-Gurion e um dos mais marcantes representantes da esquerda académica israelita. Este ensaio foi publicado em Janeiro de 2007 no Jerusalem Post.
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Discurso do Presidente de Israel, Shimon Peres, para o Parlamento brasileiro tradução: Uri Lam Senhor José Sarney, Presidente do Senado Federal. Senhor Michel Temer, Presidente da Câmara de Deputados. Senhor Presidente do Senado, eu lhe agradeço do fundo do meu coração pela oportunidade de falar diante desta honrada e democrática instituição. Esta não é na primeira vez que desfrutei sua generosidade. A primeira vez foi quando eu o conheci como Presidente do Brasil. As outras vezes foram quando desfrutei seus livros espetaculares. Concordo com a sugestão de Saraminda (livro escrito por José Sarney) aos garimpeiros de ouro: “A beleza do ouro está nos homens.” Quando eu era criança, o Brasil era um sonho. Hoje, em minha velhice, desenvolveu-se em um país dos sonhos. A terra é infinita tal como descrita por Jorge Amado: “Este não é um pequeno país qualquer; esta é uma terra com uma gente excepcional.” Uma terra grande e diversificada – das águas da Amazônia à moderna arquitetura de Brasília. Suas cores diversas produzem sensação sem destruir a harmonia. Da beleza maravilhosa do Rio de Janeiro ao alvoroço econômico de São Paulo. Sua população foi construída de um esplêndido arco-íris de etnias; diferenças que não se transformaram em animosidade. Sua música variada, do samba à tranqüilidade da Bossa Nova. Tudo expressam um entusiasmo rítmico primoroso. E acima de tudo, um amor pela vida que não requer administração. Uma nação que sabe como sonhar. Como amar. Como estar feliz, como dançar e cantar bem. Desta nação vêm figuras inspiradoras na política, nas ciências e nas artes. Como também uma habilidade para se viver junto apesar das diferenças. Uma visão de mundo na qual as pessoas tratam as demais como convidados ou anfitriões, e certamente não como inimigos. Eu vim para ver e aprender como um país tão enorme avança pela pista em direção ao seu vôo nos céus. Eu vim para ver como o impressionante Presidente Lula está cumprindo o seu sonho de construir um país no qual a sociedade e a economia ainda lutam contra a pobreza, a ignorância, a doença, a discriminação e a estreiteza da mente. Eu vim para ver se posso colocar os “Cem Anos de Solidão” de García Márquez de lado, e ao invés disso escutar a nova narrativa dos “Cem Anos de Amizade” de Lula. Em minha opinião, esta é uma liderança inspiradora, no Brasil e fora dele. Esta transformou o Futuro no Presente. O Presidente Lula e eu viemos da mesma base histórica socialista, que detesta disparidades e ama a igualdade. Eu vim para ver a pobreza tombar em 40% através do programa “Bolsa Familia”. E ver a educação elevar-se e tornar-se uma prioridade nacional. Eu vejo em seus olhos o que vejo com meus próprios olhos. Porque a educação [combate] principalmente e em primeiro lugar a batalha contra a cegueira. Todos os alcances científicos e tecnológicos de nossa época também eram possíveis nos tempos do nosso patriarca Abrahão. Mas naquela época não havia microscópios nem telescópios. Era antes da invenção da internet. E também hoje não podemos enxergar a distância plena. As capacidades perceptivas do ser humano somam e modificam a História. Eu vim para não perder o primeiro relance do novo mundo, os países do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China). A população do assim chamado Ocidente recuou para 12% da população mundial. A população nos países do BRIC cresceu em 40%. O Brasil deu início ao seu novo rumo com base em uma excitante suposição: que com boa vontade alcançará um poder que não pode ser alcançado pela força. Isto causou uma sensação global. A decisão de receber as Olimpíadas no Brasil marca uma saudação global à abordagem brasileira. E Israel abençoa o Brasil por isto. Em Israel nós sonhamos empatar com qualquer time de futebol do Brasil. Honrados membros, O Brasil, que é rico em recursos naturais, produz o recurso mais importante, o recurso humano. O ser humano pode enriquecer a natureza em vez de enriquecer-se dela. Israel é um país pequeno. No fim das contas, tem 0,25% do território brasileiro. Tem pouca água. Pouca terra. Não tem petróleo. Não tem ouro. Mas aprendeu a se colocar à frente da vanguarda do conhecimento desenvolvimentista, de inteligência. Porque só um excesso qualitativo pode responder a um déficit quantitativo. Por causa de sua pequenez, Israel não pode ser um produtor global. Por isso escolheu ser um laboratório global. Hoje Israel tem o maior número de cientistas por quilômetro quadrado do mundo. Israel saiu da agricultura tradicional para a agricultura de tecnologia avançada. 95% da agricultura israelense está construída nas bases da alta tecnologia. Nós estamos aumentando a nossa colheita apesar de diminuir a nossa área medida em acres. A colheita em Israel aumentou de 20 a 30 vezes, na mesma terra, em comparação à da agrícola tradicional. Nós não olhamos para a terra com olhos cabisbaixos, mas sim com olhos erguidos pela ciência. Hoje em dia Israel faz pesquisas e esforços de desenvolvimento em seis novas áreas do desenvolvimento necessárias para o mundo futuro: 1. Energia Renovável; 2. Tecnologia da Água; 3. Biotecnologia - que produzirá reposições para partes do corpo e melhorará as células cerebrais; 4. Moderna Tecnologia Educacional - permitirá que os estudantes estudem, assistam e sonhem com a história do amanhã; 5. Espaço – construir novos espaços para moradia bem como superar a superpopulação e a deterioração ecológica que encobre o nosso planeta; 6. Defesa – contra o terrorismo, individual e global. Todas estas áreas do desenvolvimento têm inícios promissores em Israel. E ficaremos felizes em aumentar a cooperação com vocês, com o rápido desenvolvimento tecnológico no Brasil. A grandeza do Brasil e a pequenez de Israel complementam-se mutuamente. Eles nos concedem um espaço para a profunda e ampla cooperação nestas áreas do desenvolvimento. Prezados Parlamentares, Em nome de Israel eu vim agradecer aos brasileiros por abrirem suas portas aos sobreviventes do Holocausto. Eu vim para agradecer ao seu país por seu apoio no estabelecimento do Estado de Israel. Nos últimos cem anos, meu povo vivenciou dois eventos sem precedentes: o Holocausto – que matou um terço de nossa gente. E o Estado Judeu, que concedeu um justo futuro para o nosso povo. O Holocausto soltou nossas lágrimas. A esperança nos custou um preço íngreme em sangue. Eu estava junto a David ben Gurion, o fundador de nosso país, quando a decisão da ONU para estabelecer o Estado de Israel foi publicada. Ben Gurion estava triste. Ele me disse: “Hoje nós dançamos, amanhã será derramado sangue.” A decisão da ONU foi um passo histórico. Foi comandada por Oswaldo Aranha, o famoso diplomata brasileiro. O nome dele estará gravado em nosso país como uma personalidade ilustre, como um bom amigo. Israel aceitou a decisão da ONU. Os árabes a rejeitaram e lançaram um ataque militar ao país recém-criado. Nós éramos então 650 mil pessoas. Os árabes eram 40 milhões de pessoas. No início nós tínhamos um corpo militar. E nos faltavam armas de fogo. Os árabes tinham exércitos estabelecidos e armas de fogo. De lá para cá, fomos compelidos a travar mais sete guerras. Nós sabíamos que se perdêssemos uma única guerra, seríamos aniquilados. Nós não atacamos. Nós não buscamos territórios. Nós não desejamos governar sobre outros povos. A conquista, a supressão, a guerra - violam os valores fundamentais do povo judeu. Dos ataques, nos defendemos. Ao nos defendermos, vencemos. Das nossas vitórias vieram novas fronteiras. Mas até mesmo em guerra, antes delas e depois delas, jamais deixamos de buscar a paz. Nós desejamos que a paz fluísse de nossa recusa básica em controlar outra nação. Aos nossos olhos, a conquista da paz é mais importante do que a conquista da terra. Porque nós sabemos que não podemos construir um mundo melhor pelo derramamento de sangue. Honrados membros, Em nome da paz devolvemos toda a terra e a água para o Egito, a Jordânia e o Líbano. No mesmo espírito, buscamos uma solução para o conflito estagnado entre nós e os sírios e entre nós e os palestinos. Diversos primeiros-ministros israelenses já sugeriram para a Síria a troca de terra por paz. A Síria se recusa a se envolver em negociações diretas. Eu conclamo daqui o Presidente Assad: venha e entre em negociações diretas conosco imediatamente. Sem mediações, sem pré-condições, sem estágios, e sem demora. A guerra foi precoce e dolorosa. Nós não podemos permitir que a paz seja tardia e decepcionante. Com os palestinos nós iniciamos negociações. Apesar do fato de nunca ter havido um estado palestino – a Faixa Ocidental (Cisjordânia) era controlada pelos jordanianos, e Gaza pelos egípcios – Israel reconhece o direito do povo palestino a um estado independente. Eu me volto daqui ao meu colega Mahmoud Abbas, parceiro na assinatura do Tratado de Oslo, para que retome as negociações de paz imediatamente – bem como as complete. Israel, por seu lado, já anunciou que aceitará acordos difíceis e dolorosos para permitir o estabelecimento de um estado palestino. Vivermos como bons vizinhos. Como nações interessadas na paz. Meu colega, Mahmoud Abbas, eu reconheço que é duro. É duro para você e duro para nós. Você se lembra, quando Yitzchak Rabin e eu começamos as negociações com você, nem todo mundo concordou conosco. Yitzchak foi assassinado diante dos meus olhos. O assassino pretendia também me matar. Eu sobrevivi a fim de continuar o processo de paz e hoje, para minha alegria, há um grande apoio para isso. Nós dois tivemos momentos difíceis durante o processo de paz. Nós (Israel) nos retiramos de Gaza por nossa espontânea vontade. O resultado desapontou a nós dois. O Hamas tirou proveito da retirada e se rebelou contra a Autoridade Palestina. Transformou Gaza em uma zona militar. O Hamas aspirou ganhar controle sobre a Autoridade Palestina e introduzir o seu fanatismo. O rifle fanático não vencerá. O futuro é tão verde quanto o símbolo de paz do ramo de oliveira. Até agora as negociações se estreitaram no gargalo. Eu acredito que com alguns passos de ousadia podemos completar o processo e alcançar a paz. Valorosos membros do Parlamento, Não é minha intenção lutar no Brasil com o Presidente do Irã. Como vocês sabem, nós consideramos que o país dele é um perigo para a paz global. Eu só irei me referir às facetas [desta ameaça] no tocante a Israel. Historicamente, o Irã não era nosso inimigo e não há nenhuma necessidade de sermos inimigos. A fé islâmica não é nossa inimiga. Houve períodos durante os quais nós vivemos em verdadeira amizade. Mas eu não posso ignorar um governo que desenvolve armas nucleares e conclama para a destruição de Israel. O Irã é membro da ONU, contudo sua convocação para a destruição de Israel viola a carta da ONU. Viola o primeiro dos direitos humanos. Quer dizer, o direito de permanecer vivo. O governo iraniano arma e patrocina organizações terroristas como o Hezbolá e o Hamas. Com apoio iraniano, o Hezbolá dividiu o Líbano, onde muçulmanos e cristãos viviam em paz. Estabeleceu um estado que denuncia a paz dentro de um estado que deseja a paz. O Irã ajuda o Hamas a conspirar contra a Autoridade Palestina, e assim sendo, impede o estabelecimento de um Estado Palestino. É preciso uma chamada clara contra a destruição e contra o terrorismo. Uma chamada clara para coexistência pacífica. Eu sei que o Brasil rejeita conclamações para a destruição. Rejeita o terrorismo. A sua voz clara e positiva ecoa amplamente. Eu sei que o Brasil apóia o processo de paz baseado em dois estados para dois povos. Esta é a única alternativa positiva. Antes, judeus e árabes viviam em paz. Naquele tempo as diferenças religiosas não nos aborreciam, e elas não precisam nos aborrecer no futuro. Nós somos membros de uma família. Abrahão é o pai de todos nós. Irmãos não precisam combater seus irmãos. Honrados Mensageiros, De Jerusalém para o Brasil eu trago uma mensagem de amizade, honestidade, e um desejo profundo de cooperação sob todos os aspectos. Ambos os nossos países olham para o futuro. Eu reconheço que nós não temos um Carnaval como no Rio de Janeiro. Mas eu os lembro que em Israel há um Kibutz brasileiro que vive e respira. Chama-se Bror Hail, e é uma das maravilhas entre nós. É conhecido como o “Kibutz brasileiro” porque foi estabelecido por imigrantes do Brasil. Em Bror Hail a comunidade continua a tradição de um Carnaval brasileiro. É claro que não tão grande quanto em Salvador, mas eu garanto a vocês, tem o mesmo ritmo. Vocês estão convidados a vir para Israel, para a Terra Santa. Venham ver o nosso Kibutz brasileiro. Eu prometo que vocês não se decepcionarão – nem do socialismo e nem do carnaval. Brasileiros e judeus têm uma herança para se orgulhar. Que clama pela paz entre os povos - não só entre governos. Neste sentido eu iniciei e estabeleci um centro que reúne as pessoas, principalmente os jovens. O centro está envolvido com a medicina e os esportes. No campo da medicina o centro tratou mais de 6 mil crianças que sofrem de problemas neurológicos e cardiológicos. Crianças prejudicadas por natureza ou feridas em guerras entram com seus pais para o melhor hospital de Jerusalém – obviamente sem pagamento. Em minha opinião, esta é uma das iniciativas mais comoventes nas quais eu me envolvi em todo o curso de minha vida. Nos esportes os principais esforços, é claro, estão no futebol. Não é só um jogo, mas um idioma de camaradagem entre diferentes povos com diferentes históricos de vida. As crianças palestinas e as crianças israelenses jogam por times não determinados por nacionalidade, mas sim por habilidade esportiva. Eu não conheço um modo melhor para clarear um caminho em direção à paz do que a competição esportiva, na qual não há vítimas. Em um dos jogos aconteceu algo maravilhoso. Nunca antes eu havia visto os olhos das crianças palestinas e israelenses arderem tão vividamente. Eles sabem que quem perde hoje é o mesmo que vencerá amanhã, e assim, o real vencedor é paz. Caros Notáveis, Nós compartilhamos uma ambição por um futuro melhor. Assim sendo, temos uma visão semelhante. O que vocês chamam em português de “Luz Para Todos” e o que nós chamamos em hebraico de “Or Lagoim”, como visionaram os profetas. Nós podemos marchar lá juntos. O Brasil, Israel, e seus vizinhos. Esta será a marcha do futuro, Postado por Uri Lam
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Entre el sionismo y el bundismo de Marek Edelman Autor: Tzila Chelminsky Recientemente falleció Marek Edelman, el último sobreviviente entre los líderes del levantamiento del Ghetto de Varsovia en 1943. La prensa israelí describió la vida de este notable comandante judío y su participación en la lucha armada de ese levantamiento; lo que llama la atención es que aunque Moshé Arens lo llamó “el ultimo bundista” no se escribió sobre el Bund: qué tipo de partido político fue y qué importancia tuvo en la vida de los judíos en Polonia, Rusia e inclusive Lituania hasta los inicios de la Segunda Guerra Mundial. Los alemanes establecieron el Ghetto de Varsovia en noviembre de 1940, y en 1942 Edelman fue uno de los fundadores de la secreta Organización de Combate Judío. Los planes de resistencia fueron implementados en abril de 1943, cuando los nazis decidieron liquidar el Ghetto enviando a los 60.000 judíos restantes a campos de exterminio como Treblinka, Maidanek y Sobibor. Pero en ese abril las bien entrenadas tropas alemanas se encontraron con la feroz resistencia de unos cuantos cientos de jóvenes, quienes casi sin armas decidieron pelear antes que morir en las cámaras de gas. La resistencia duró tres semanas, tras las cuales los alemanes destruyeron el Ghetto hasta sus cimientos. Este levantamiento fue el primer acto de resistencia civil armada en gran escala contra los alemanes en la Polonia ocupada. Edelman fue el comandante de la unidad instalada en una fábrica de cepillos y después de la muerte de Mordejai Anilewitz, el comandante en jefe, fue uno de los tres subcomandantes y líder del levantamiento. Al fracasar la rebelión Edelman logró huir al igual que otros luchadores fuera del Ghetto, a través del sistema de desagüe. Se enlistó en las filas de la resistencia polaca y en 1944 participó en el levantamiento de Varsovia, en el cual se trató, sin éxito, de liberar a la capital polaca de la ocupación alemana. Edelman se quedó en Polonia y se recibió de médico, pero en 1968 fue despedido del hospital militar en el cual trabajaba, cuando surgieron las sombras del pasado y la pequeña comunidad judía en Polonia se encontró en medio de una “cacería de brujas” antisemita. En 1970 se enlistó en el Comité de Defensa de los Trabajadores, origen de lo que posteriormente sería el primer movimiento pro democrático tras la cortina de hierro: el sindicato “Solidaridad”. Fue encarcelado por el régimen comunista junto con otros disidentes, entre los que se encontraba Lew Walensa. A pesar de que en numerosas ocasiones las autoridades del país se manifestaron hostiles y desconfiadas hacia sus ciudadanos judíos, Edelman siempre consideró a Polonia como su patria y permaneció en ella hasta su muerte, aun cuando su esposa e hijos emigraron a Francia y la mayoría de los sobrevivientes del levantamineto del Ghetto escogieron venir a Palestina, Muchos de ellos son los que fundaron y vivieron en el kibutz “Luchadores del Ghetto” en la Galilea. Edelman fue fiel a la ideología socialista judía del Bund hasta su muerte. El movimiento bundista fue olvidado totalmente por los historiadores sionistas del levantamiento. El monumento al levantamiento erigido en Varsovia en Mila 18 (asi como en Yad Vashem en Jerusalén), destaca a Mordejai Anilewitz, Antek Zukerman, Tzivia Lubetkin y los combatientes que llegaron a Israel. Ni una sola palabra sobre el movimiento bundista. Son los ganadores los que escriben la historia, y la creación del Estado de Israel es la prueba palpable. ¿Qué fue el Bund y por qué tanto inspiró a sus seguidores? Fundado en Vilna en 1897 con el nombre de “Unión de Trabajadores Bund” (entendiéndose como Federación o Unión), su objeto era incluir a todos los trabajadores judíos en un Partido Socialista secular dentro del Gran Imperio Ruso. En esa época este imperio incluía Lituania, Letonia, Bielorusia, Ucrania y la mayor parte de Polonia y vivían en él casi 11 millones de judíos. Durante algún tiempo fue el Partido Socialista más grande en Rusia, que posteriormente se separó en las ramas menshevike y bol-shevike. Mantenían una impresionante prensa en varios idiomas y sus activistas se contaron entre los mejores organizadores de huelgas industriales y demostraciones políticas. Dentro de una Rusia socialista y democrática, esperaban que los judíos fuesen reconocidos como nación con estado de minoría legal. Pero por haber estado aliados a la rama menshevike, fueron acusados por Lenin de ser “traidores a la clase trabajadora”. Desde su fundación, el Bund se esforzó por llegar a las masas del proletariado judío surgido como consecuencia de la revolución industrial y luchó por mejorar sus horas de trabajo sobre todo en las industrias de tejido, textil, tabaco y sastrería. Eventualmente los líderes llegaron a la conclusión de que los trabajadores judíos podían y debían crear su propio movimiento socialista, puesto que tenían demandas y características que les eran peculiares sólo a ellos. Por eso había que unificar a las masas trabajadoras judías y dotarlas de una conciencia política revolucionaria. Para llegar a las masas tanto en forma oral como escrita, se decidió sustutuir el ruso por el ídish. Con ello lograron un fuerte renacimiento tanto del idioma como de la literatura. La inteligencia judía fue llamada a abandonar su “desconfianza de las masas judías” y su “pasividad nacional”, y ayudar al establecimiento de una organización de trabajadores judíos para llevar a cabo una “lucha política” con objeto de obtener la emancipación de todos los judíos. Esta organización debería asociarse con el proletariado no judío y con los movimientos laborales rusos sobre una base de igualdad, pero no de integración dentro del movimiento laboral general. Y a pesar de que el principal ideólogo, Vladimir Meden, pugnaba por una política neutral, esta dualidad fue la causa de las diversas oscilaciones ideológicas a lo largo de la existencia del Bund. A principio del siglo XX y a raíz de los diversos pogroms, el Bund fue uno de los principales promotores y organizadores del movimiento de auto-defensa para combatir a los perpetradores de los mismos. Debido a la Revolución de 1917, una considerable emigración de sus miembros redujo sus rangos. Por ello se concentraron en actividades de tipo cultural como la organización de sociedades musicales y literarias, cursos nocturnos y círculos drámaticos. Se convirtieron en los abogados totales del “idishismo”. Pero siguieron actuando políticamente y lucharon contra el boicot polaco y el despido de trabajadores judíos. Organizaron una bien lograda huelga de protesta en contra del juicio Beilis. Revivieron sus periodicos: Lebns Fraguen y Tzait (“Cuestiones de Vida” y “Tiempo”). En 1921 crearon con enorme éxito la “Organización Central de Colegios Idish”. Aunque en un principio el Bund se opuso al estudio del hebreo, modificó su actitud con respecto a las fiestas tradicionales y el estudio de la historia judía. A pesar de su oposición al sionismo y a la ortodoxia religiosa, colaboraron en numerosas ocasiones con otros partidos laboristas como el sionista Poalei Tzion, tanto en eleciones municipales como para el Parlamento polaco. El Bund polaco logró su mayor influencia entre 1936 y 1939. De un partido sectorial se convirtió en el que contó con el apoyo de la mayoría del judaísmo polaco. Su éxito logrado en las elecciones municipales se debió no tanto a su ideología socialista, como al papel que jugó en luchar contra el antisemitismo tanto del Gobierno polaco como del público en general después del ascenso de Hitler al poder. Durante la ocupación nazi de Polonia, muchos líderes bundistas abandonaron el país hacia Norteamérica para ayudar a sus camaradas. El Bund jugó un papel importantísimo en el movimiento de resistencia, uniéndose a todos lo partidos, inclusive los sionistas, a pesar de una larga historia de enfrentamientos ideológicos. Zygelbojm se unió al Consejo Nacional del Gobierno polaco en el exilio en Londres. Su suicidio en 1943 fue un símbolo heroico de identificación con los mártires judíos y una protesta contra el silencio y la apatía general ante la aniquilación judía. Activaron también entre los refugiados polacos en la Unión Soviética. Dos de sus más importantes lideres, V. Alter y H. Ehrlich, fueron ejecutados durante las purgas stalinistas acusados de espionaje. Antes de la Guerra, el Bund era el mayor partido partido político de izquierda en Polonia y mantenía relaciones con el Partido Socialista polaco, la Segunda Internacional Socialista y las Uniones de Trabajadores en los Estados Unidos. De hecho fue el “Tzukunft” (“Futuro”), la organización juvenil bundista, la encargada de la mayoría de las actividades subversivas del partido, especialmente en los campos de la cultura, educación y publicaciones. Aunque grupos sionistas como el Hashomer Hatzair, Dror Hejalutz, Gordonia y otros, realizaban un trabajo similar, se trataba de grupos juveniles sin nexos institucionales con los partidos políticos. Es más; su actividad estaba concentrada exclusivamente en preparar a sus miembros para su aliá a Palestina, por lo cual sus contactos con organizaciones no judías eran limitados. El Holocausto destruyó la posibilidad de actividad política judía del Bund en la Europa Oriental. Después de la Guerra, los sobrevivientes emigraron y mantienen organizaciones inspiradas en el Bund en Argentina, Australia, Bélgica, Canadá, Francia, Sudáfrica, los Estados Unidos e increíblemente también en Israel. Su organización “Brit Avodá” sigue trabajando y saca un periódico trimestral llamado “Lebns Fraguen” (Cuestiones de Vida). En México tuve contacto con el reducido grupo bundista. Trabajaban principalmente en los patronatos de colegios, en el seminario de maestros y en actividades culturales. Confieso que algunos de mis mejores maestros fueron bundistas. Marek Edelman recibió los más altos honores en Polonia así como doctorados honoríficos de las Universidades de Yale y la Libre de Bruselas: en el 65 aniversario del levantamiento del Ghetto de Varsovia recibió la medalla de la Legión de Honor francesa, sin obtener ningún reconocimiento israelí, quizá por su posición “anti sionista”. Recuerdo que estuvo en Israel hace algunos años con motivo de la publicación de su libro en hebreo. En el acto llevado a cabo en Beth Hatfutsot se veía distante, amargado; deliberadamente, creo, habló en polaco y no en idish. “Pero, la historia sigue adelante, implacable. Existe hoy el Estado de Israel, y sólo en él hay un proletariado judío; ya no existe una cultura idish floreciente. No es pues necesaria una actividad independiente ni luchar por derechos civiles judíos. No hay más lugar para el Bund”.
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Rabinos eran los de antes Por Rabino Daniel Goldman

Rabinos eran los de antes Rabinos eran los de antes Por Rabino Daniel Goldman Motivado por la nota que publicara el sábado pasado en este mismo diario Osvaldo Bayer, recordé que hace algunos años, el notable intelectual escribió un ensayo llamado “Simón Radowitzky, ¿mártir o asesino?”, trabajo biográfico sobre la vida de aquel joven revolucionario quien, como consecuencia de la represión del 1º de mayo de 1909, en la que se derrama sangre de 26 manifestantes obreros, al grito de “Viva el Anarquismo” decidió arrojar un artefacto explosivo en el automóvil del coronel Ramón Falcón, jefe de la Policía, acabando con la vida de este último. Sin intención de juzgar el hecho, desde la adolescencia, época en la que escuché esta historia, siempre enredé mi imaginación con la imagen de un tal Moishe (Moisés) Radowitzky, primo o tío de Simón. El detalle de la saga: Moishe era rabino. Qué curioso: Sobre Moisés Maimónides, el sabio medieval, se decía que “desde Moisés hasta Moisés no hubo ningún otro Moisés”. Pero se me ocurre extender en los siglos este dicho a cada Moishe, incluyendo a Radowitzky. No hay judío que no tenga un Moishe en su familia. A tal punto que usualmente en este país los judíos somos todos Moishes. Por otro lado, no hay judío que no haya tenido un rabino en su familia (si no pregúntele al judío que tenga a mano). Y rabinos llamados Moishe habrá habido por doquier. Sólo yo conozco no menos de una docena. Pero ¿cuál fue el acto que destaca al Radowitzky del resto de los Moishes? Después del ataque, Simón iría a ser condenado a muerte. La historia terminaría mal. Pero él tenía sólo una posibilidad. El preso más “peligroso” de la época debía probar que no cumplía con la edad suficiente como para ser ejecutado. Tenía que tener no menos de 22 años para ser pasado por las armas. Su edad era desconocida. En su pasaporte no estaba claro. A pesar de su juventud, la piel de este caucásico estaba ajada por las penurias. Como muchos judíos de Europa Oriental, los Radowitzky eran oriundos de un “shtetl”, un pequeño y pobre villorrio en el límite entre Polonia y Ucrania. Movida por la miseria, su familia se traslada a la industrial orbe rusa de Ekaterinoslav. Con 10 años y apenas algunos rudimentos de lectura y escritura, Simón debe abandonar la escuela para comenzar a trabajar como ayudante de herrero. Pasaba los días clavando herraduras a los caballos y las noches durmiendo debajo de la mesa de trabajo del establo. En la oscuridad del galpón escuchaba las conversaciones entre la hija del patrón y sus revolucionarios amigos. A la edad de 14 años consigue un trabajo en una fábrica. Y es a esa misma edad que es herido por un sablazo en el pecho durante una manifestación, a manos de un cosaco represor. Convaleciente durante seis meses, debe escapar de la Rusia zarista, llegando a estas latitudes. Volviendo al juicio, la oligarquía y las clases medias de la época clamaban por su pena de muerte (como decía el Eclesiastés, no hay nada nuevo bajo el sol). Y la prensa de ese período ya lo condenaba con unos supuestos 29 años de edad. Pero de repente todo se modifica. La historia cambia. Aparece el rabino Moishe Radowitzky con una partida de nacimiento de su sobrino Shimen Radowitzky, en la que consta que habría nacido en 1891, lo cual indicaba que tendría en ese momento 18 años de edad. La legendaria revista Caras y Caretas dice en uno de sus viejos números:”Radowitzky tiene cada vez menos años”. ¿Quien le creía esto de la edad? Bayer, con una dulce ironía, alega que ni siquiera los anarquistas. Ahora, ¿habrá mentido el rabino? ¿Un rabino engaña? Considero humildemente que algunos sí, cuando creen ser dueños de la verdad y no buscadores de certezas. Rabinos hay de todo. Ortodoxos y progresistas, fachos y zurdos, nacionalistas y universalistas, anarquistas y no tanto. En este sentido, no sé si el Rabi Moishe era un anarquista, pero sin duda era un genuino humanista, porque condena la pena de muerte y reconoce en esencia que la existencia de la vida debe superar la legalidad y sus instituciones. Roberto Espósito, el filósofo italiano, dice algo similar. Y por eso me parece que el anarquismo y el judaísmo no se perciben como tan separados. Inclusive podría pensarse que todo anarquista porta algo de judío y viceversa. En Redención y Utopía, Michael Lowy da cuenta de las relaciones entre mesianismo judío y utopía libertaria en intelectuales como Walter Benjamin, Martin Buber y Erich Fromm. Se me ocurre agregar un solo detalle más de la tradición judía. En idioma hebreo a la mentira piadosa la denominamos verdad piadosa. Porque cuando la piedad existe, nunca hay falsedad. La misericordia la trasciende. No recuerdo en qué revista nacionalista local leí textualmente que el primer subversivo tenía olor a Moishe. Y qué extraordinaria paradoja: para los judíos, desde el de la Biblia hasta Radowitzky, siempre hay un Moishe que te salva.
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MOACYR SCLIARA voz da coerência

MOACYR SCLIARA voz da coerência Anos atrás, eu estava em Jerusalém para um encontro de escritores, às vésperas de uma eleição decisiva que opunha o atual premiê, Benjamin Netanyahu, ao trabalhista Shimon Peres, cuja plataforma pacifista incluía uma confederação dos países da região. Proposta, aliás, que tinha o apoio dos israelenses: Peres era o franco favorito. Uma manhã, acordei com o ensurdecedor som de sirenes. Liguei a TV: tinha havido um atentado a bomba contra um ônibus, deixando dezenas de vítimas. Corri até lá, mas quando cheguei só restava a carcaça queimada do veículo, ao redor do qual estava uma silenciosa multidão. Nos rostos das pessoas era visível a raiva e a revolta. Na eleição, não deu outra: Peres perdeu. Os terroristas tinham conseguido seu objetivo: um governo linha-dura, precondição para perpetuar o conflito e justificar atentados. Tempos depois, voltamos a Israel e aí, uma manhã, tomamos café com Shimon Peres, àquela altura meio marginalizado na política. Perguntei-lhe a que atribuía esse fato. Ele poderia, obviamente, culpar os terroristas, os direitistas. Não o fez. Segundo ele, o trabalhismo tinha se afastado de seus ideais igualitários, representados pelo kibutz, a colônia coletiva que agora dá lugar aos assentamentos, boa parte dos quais povoados por fanáticos (“Esta é a terra que Deus nos deu, os palestinos têm de sair daqui”, disse uma dessas pessoas ao programa Sixty Minutes, da TV americana). Mas, depois, Peres tornou-se presidente de Israel, e é nesta condição que agora nos visita. Como acontece nos regimes parlamentaristas, o cargo é principalmente simbólico, mas isto não diminui a importância da liderança moral de Peres. Sua firmeza ficou evidente nas entrevistas que deu, uma das quais apareceu em O Globo de sábado. O repórter perguntou o que ele achava do Brasil como intermediário em negociações com o Irã. Resposta de Peres: “Se alguém pode oferecer ao mundo uma ponte, por que não? Os iranianos não são nossos inimigos. Tampouco os árabes ou os muçulmanos. Nossos inimigos são a guerra, as ameaças, o terror, a destruição. Estamos apenas defendendo nossas vidas. Sobre o presidente do Irã, todos sabem quem é e quais as suas posições. Não vou ditar opiniões ao governo brasileiro”. E, aí, uma resposta que me lembrou aquela conversa no café da manhã. Perguntado se culpava a mídia pela eventual má imagem de Israel, disse Peres: “A única pessoa que posso culpar é a mim próprio. Não sou um sacerdote ou o mestre do mundo. Faço o máximo para continuar leal a nossos valores e virtudes”. Grande Peres. Ele á a voz da coerência.
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"Kristallnacht" 9 de Novembro de 1938: inicia-se o pesadelo Cerca de 1.400 sinagogas incendiadas e destruídas, cerca de 100 judeus mortos, milhares feridos, centenas desabrigados, casas e lojas destruídas, quase trinta mil judeus presos e enviados para os campos de concentração de Dachau, Buchenwald e Sachsenhausen, nos quais muitos morreriam, posteriormente. Além de centenas de milhares de cacos de vidro espalhados pelo chão. Este foi o saldo da violência indiscriminada contra a população judaica da Alemanha e da Áustria, no dia 9 de novembro de 1938, e que se tornou conhecida como a Kristallnacht - Noite dos Cristais - uma referência às incontáveis vidraças, janelas e vitrinas destruídas pelas tropas de choque nazistas e pela população alemã. Era um movimento orquestrado nas altas esferas do Reich, mais especificamente por Adolf Hitler e seu ministro da Propaganda, Joseph Goebbels. O terror da Noite dos Cristais foi apenas o começo do longo período de trevas que cercou o judaísmo europeu e no qual seis milhões de judeus foram assassinados pelos nazistas. O pretexto para a violência foi o assassinato de um funcionário da embaixada alemã em Paris, no dia 7 de setembro, por um jovem judeu polonês de 17 anos, que vivia em Paris Herschel Grynszpan. Entretanto os eventos que culminaram na noite de 9 de novembro haviam começado, na verdade, em outubro de 1938, quando 20 mil judeus que viviam na Alemanha foram mandados para a fronteira da Polônia. Entre eles, encontrava-se a família Grynszpan. Em uma região considerada terra de ninguém, foram amontoados em estábulos, sem alimentos ou assistência. Foi quando Zindel Grynszpan decidiu escrever a seu filho Herschel, em Paris. Ao receber uma carta de sua família, relatando a situação na qual se encontravam, o jovem ficou desesperado. Sua família, bem como a de outros judeus poloneses que viviam na Alemanha, havia sido deportada para a região de Zbaszyn (Polônia), na fronteira com a Alemanha, e passava dificuldades. O governo polonês recusava-se a reconhecer a sua cidadania e, conseqüentemente, toda a família era agora apátrida. Grynszpan decidiu tomar uma atitude desesperadora para chamar a atenção do mundo sobre a situação de sua família e dos judeus na Alemanha. Dirigiu-se à Embaixada alemã, alegando ter uma "encomenda" para entregar ao embaixador. Foi encaminhado ao escritório do Terceiro Secretário, Ernst von Rath. Ao entrar na sala, o jovem atirou no funcionário alemão. Para o governo alemão o fato era uma "prova da conspiração judaica contra a Alemanha". No dia 9 de novembro, Ernst von Rath morreu vítima dos graves ferimentos. Ao saber dessa morte, Hitler, furioso, teria dito a Goebbels: "As tropas de choque devem ter permissão para agir". Ao que Goebbels teria respondido: "Se os distúrbios se intensificarem e se espalharem por outras regiões além de Berlim, não devem ser contidos". Além de não serem contidos, foram incentivados por membros do partido nazista. Os antecedentes da violência É impossível entender e avaliar o que aconteceu na noite de 9 de novembro de 1938 sem analisar a Alemanha nos anos que precederam aquela data fatídica. Assim que, em 1933, Hitler e seu partido assumiram o poder na Alemanha, iniciou-se um ataque sistemático e declarado aos judeus. Milhares de livros e ensaios têm sido escritos na tentativa de entender o porquê de tanto ódio, mas qualquer que seja a verdade, o resultado foi um só: para Hitler e o partido nazista o ódio contra os judeus era "fundamental", permeando toda a sua política. Nos doze anos em que Hitler ficou no poder, foi declarada uma guerra sem fronteiras contra o povo judeu. Este foi vítima de todo tipo de violência física, econômica, social, política e psicológica. Nos primeiros anos, a política anti-semita de Hitler foi refreada, segundo o historiador Paul Johnson, por razões de cunho econômico e militar: a economia alemã precisava ser sanada rapidamente e isto significava evitar a expulsão imediata da rica comunidade judaica. Além do mais, Hitler queria rearmar a Alemanha e precisava, portanto tranqüilizar a opinião pública mundial e, por isso, evitou maiores atos de crueldade. Durante esse período foram adotadas rígidas medidas "legais" contra os judeus, visando torná-los párias da sociedade. Ao mesmo tempo, eram organizados boicotes e todas as lojas de judeus sofriam constantes ameaças. Ações individuais de violência passavam, propositalmente, ao largo da vista dos governantes. Em 1935, os Decretos de Nüremberg colocaram em prática o programa original do Partido (1920), ao privar os judeus de seus direitos fundamentais e ao começar o processo de separá-los do restante da população. Já em 1935, a idéia de uma "solução final para o problema judaico" estava presente nos discursos de Hitler. Não se tratava apenas de uma "idéia" - os instrumentos para esta "solução" já estavam sendo preparados. Por volta de 1938, a economia alemã retomara ímpeto, a Alemanha havia-se rearmado e o poder econômico dos judeus fora destruído. Naquela altura, mais de 200 mil judeus haviam fugido da Alemanha. Mas, com a anexação da Áustria, um número equivalente de judeus austríacos passou a fazer parte do Terceiro Reich. A política até então adotada não dava os resultados esperados: uma Alemanha Jüdenrein – livre de judeus. Hitler estava pronto para levar adiante a segunda fase de sua “política”: destruir todos os judeus onde quer que estivessem. Só precisava de um pretexto para deslanchar seu famigerado plano. Esperou pacientemente e o pretexto surgiu no dia 9 de novembro. A Noite dos Cristais No decorrer da Noite dos Cristais a violência foi orquestrada com precisão. A SS colocou grupos nas ruas especialmente para incendiar e destruir todas as sinagogas. Estas eram o principal alvo da violência. Membros do partido nazista destruíram e pilharam casas e lojas de judeus. Depoimentos de inúmeras testemunhas dão uma idéia do pesadelo daquele 9 de novembro. "Nas primeiras horas do dia, ouvi um barulho ensurdecedor, como se fosse uma onda se aproximando. Desci as escadas e, de longe, vi a multidão. Então, alguns judeus se aproximaram de mim e disseram: ‘Corra, esconda-se, eles estão matando judeus, invadindo, depredando e queimando casas’, lembra Shimon Banai, que morava em Berlim. Ao falar sobre aquele dia, relembra que foram feitas grandes fogueiras nas ruas:"Invadiram a sinagoga, retiraram os livros sagrados, os rolos da Torá e os jogaram na fogueira, dançando ao redor delas... Desci as escadas, tentando ver melhor o que acontecia... Tudo estava destruído... Vi pessoas que haviam sido surradas sangrando pelas ruas, vi outras cercadas por gangues e apanhando incessantemente, além de corpos estendidos no chão. Móveis foram atirados pelas janelas, travesseiros destruídos e suas penas espalhadas pelo ar ou jogadas diretamente nas chamas. Todas as lojas de judeus tiveram suas vitrines quebradas e os cacos de vidros inundavam o chão". Estas cenas repetiram-se na maioria das cidades alemãs e austríacas, sempre com a participação de membros do partido nazista e das tropas de choques misturados aos civis. Os distúrbios acabaram sendo controlados horas depois por interferência de Heinrich Himmler, que, preocupado com a repercussão internacional dos fatos, determinou às SS e às forças policiais sob seu comando que impedissem a ampliação da violência e prendessem 20 mil judeus enviando-os para campos de concentração. Os nazistas responsabilizaram os judeus pelos "distúrbios" e pela destruição ocorrida, determinando que a população judaica deveria pagar uma multa de 1 bilhão de marcos (cerca de 400 milhões de dólares). A multa implicava o confisco compulsório de 20% das propriedades de todo judeu da Alemanha. Além disso, o pedido de indenização por parte de judeus nas cortes de justiça foram anulados por um decreto oficial. Foram também anuladas as acusações de terem assassinado judeus contra 23 nazistas. Outros quatro acusados de terem estuprado mulheres judias foram expulsos do partido, pois era "necessário estabelecer uma distinção" entre delitos praticados por "idealismo" dos demais. Os acontecimentos da Noite dos Cristais foram novamente usados para promulgar mais uma onda de medidas "legais" contra os judeus. A primeira aconteceu já no dia 12 de novembro, três dias após a expedição da ordem de confisco: as crianças judias foram proibidas de freqüentar as escolas alemãs. A Noite dos Cristais foi um evento de enorme significado, que marcou a mudança da política alemã em relação à população judaica. Esta deixou de ser apenas uma opressão política e econômica para se transformar em uma perseguição física brutal abertamente implantada. Os eventos da Noite dos Cristais não deixavam dúvidas sobre dois fatos: judeus não tinham lugar na Alemanha nazista e os nazistas estavam prontos para derramar o sangue judaico, sem titubear. Estava aberto o caminho que levou à destruição de comunidades inteiras na Europa e à morte de seis milhões de pessoas - pelo simples fato de serem judeus. Bibliografia: • Kristallnacht Remembered: Sixty Years Later, artigo de Gália Limor publicado na revista bimestral Jerusalém-Yad Vashem, volume 11, outono de 1998. • Goldhagen, Daniel J., Hitler’s Willing Executioners, Random House, N.Y. • Johnson, Paul, História dos Judeus, Imago • Slater, Elinor e Slater, Robert, Great Moments in Jewish History- Nazi Terror Presaged on Kristallnacht "Invadiram a sinagoga, retiraram os livros sagrados, os Rolos da Torá e os jogaram na fogueira, dançando ao redor delas... Desci as escadas, tudo estava destruído...” http://www.morasha.com.br/edicoes/ed43/kristal.asp
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ENTREVISTA Shimon Peres a Renata Malkes Especial para O GLOBO JERUSALÉM. Do alto de seus 86 anos e da figura de estadista consagrado, o bom humor e a vitalidade de Shimon Peres impressionam. O presidente de Israel desembarca na próxima terça-feira em Brasília acompanhado de 40 empresários para uma visita oficial de cinco dias. Ele passa ainda por Rio e São Paulo, disposto a conhecer o que chama de “novo Brasil”, antes de seguir para a Argentina. Num bate-papo informal com a imprensa brasileira em sua residência em Jerusalém, Peres se mostrou tranquilo quanto à estabilidade das relações entre Israel e a América Latina. O veterano político garante que a visita não é uma jornada de propaganda e não se perturba diante da aproximação do Brasil com o Irã. Renata Malkes Especial para O GLOBO É a primeira visita de um presidente israelense ao Brasil em 40 anos. Quais são suas expectativas? SHIMON PERES: Meu objetivo é aprender. O Brasil não é mais um país apenas de carnaval e diversão, mas uma revelação política, social e econômica. Dá ênfase ao desenvolvimento social e acredita que a economia deve servir à sociedade. A ascensão brasileira é impressionante. Quero ver as novidades; como lidaram com o apagão, o programa Fome Zero, as pesquisas sobre o etanol. Temos excelentes relações e vamos avaliar como melhorá-las. Que papel o Brasil pode desempenhar numa participação mais ativa na diplomacia do Oriente Médio? PERES: A paz é tema de interesse mundial. Para isso, é preciso combater a ameaça do terrorismo e recrutar apoio à causa da paz. Se o Brasil está ciente destes desafios, gostaria de vê-lo participando mais. Duas semanas após sua visita, o presidente Lula recebe também o líder iraniano, Mahmoud Ahmadinejad. Como o senhor vê essa aproximação? PERES: Minha visita é ao Brasil e não pretendo discutir o tema Ahmadinejad. Há, sim, uma voz dissidente, que tenta destruir outro país, patrocinar o terror... Pessoalmente não vou tocar nesse tema. Devo mencionálo de forma privada. Não acho correto visitar um país e debater sobre outro. Mas o Brasil alega que pode ser um intermediário nas negociações com Teerã... PERES: Se alguém pode oferecer ao mundo uma ponte, por que não? Os iranianos não são nossos inimigos. Tampouco os árabes ou os muçulmanos. Nossos inimigos são a guerra, as ameaças, o terror e a destruição. Sobre o presidente do Irã, todos sabem quem ele é e quais são suas posições. Não vou ditar nossas opiniões ao governo brasileiro. Estaríamos criando uma impressão falsa de que estamos lutando contra os iranianos. Estamos apenas defendendo nossa própria vida. Se a diplomacia falhar, um ataque israelense às instalações nucleares do Irã é uma opção? PERES: Israel não quer monopolizar a questão iraniana. O Irã é problema do mundo, não só de Israel. Não colocaria uma ação militar no topo das opções, pois temos que fazer o possível para uma solução pacífica. Há formas políticas e psicológicas, e todos os líderes mundiais com quem conversei, Medvedev, Putin, Obama, Sarkozy, Brown, Merkel, garantiram que não permitirão um Irã nuclear. Deixemos que cuidem disso. Israel recebeu duras críticas durante a ofensiva à Faixa de Gaza, em janeiro passado. Como estão as relações de Israel com a América Latina? PERES: Enfrentamos altos e baixos. Normalmente são cordiais, mas a própria realidade da América Latina tem altos e baixos. A região conseguiu se libertar de ditaduras militares e houve esforços para alcançar também uma economia democrática. Há exceções, como o senhor Hugo Chávez. Se um homem decide ser super-herói, saindo por aí, fazendo alianças, condenando Israel... Por quê? Para quê? O que Israel fez para a Venezuela? (risos) O povo venezuelano é amável. Fico imaginando como alguém pode injetar o extremismo na veia dos venezuelanos.... Chávez é um líder peculiar... O que posso dizer? (risos) O presidente Lula já esteve várias vezes no Oriente Médio e não visitou Israel. Por quê? PERES: Espero que Lula encontre tempo para a visita. Se Maomé não vai à montanha, a montanha vai a Maomé. (risos). Melhor deixar para lá, é ofensivo. Lula tem prioridades. Nós o consideramos um amigo e eu o conheço há muito tempo, viemos do mesmo berço socialista. Posso dizer que somos amigos de infância. Claro que o convidarei. Mas, apesar da cordialidade, tradicionalmente o Brasil vota na ONU contra Israel. PERES: Não cabe a mim explicar. Considero um erro de julgamento, mas debato com qualquer crítico de Israel. Há um problema de imagem. Somos um país que respeita as leis e luta contra o terror. Os atos terroristas não são fotografados. Quando um terrorista mata alguém, ele chega sem a companhia de jornalistas. Quando explode um ônibus, não leva fotógrafos. O que é fotografado são as reações, não as ações. As pessoas perguntam: por que Israel está bombardeando? Somos loucos? Acordamos um dia de manhã e começamos a bombardear? As razões não são mostradas. O senhor culpa alguém por isso? A imprensa, por exemplo? PERES: Ninguém. A única pessoa que posso culpar é a mim mesmo, se erro. Não sou um sacerdote. Não sou o professor do mundo. Faço o máximo que um homem como eu pode: fazer de tudo para que sejamos leais a nós mesmos, aos nossos valores e virtudes. Israel não é uma empresa de relações públicas.
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Origens judaicas do povo brasileiro - por Rachel Mizrahi

Origens judaicas do povo brasileiro - por Rachel Mizrahi Rachel Mizrahi é autora de A Inquisição no Brasil: Miguel Telles da Costa. O capitão judaizante de Paraty. (2ª Ed., no prelo) e Imigrantes no Brasil: Os judeus.São Paulo: Lazuli/Ed. Nacional, 2005 Nenhum país das Américas tem história tão marcada pela presença do povo judeu como o Brasil. Ligado à epopéia dos Grandes Descobrimentos Marítimos, em 1500, D. Manoel I, rei de Portugal, conhecido como "O Venturoso", "Rei da Pimenta" e "Rei dos Judeus" (pela formidável presença destes últimos nas frotas descobridoras), determinou a Pedro Álvares Cabral e ao intérprete Gaspar da Gama (judeu, batizado católico) procederem a contatos formais com representantes das terras descobertas por Vasco da Gama, primeiro português a chegar nas Índias, em 1498. O trajeto de Cabral, em frota de 13 navios, incluía deslocamentos para o Ocidente, objetivando possível encontro com novas terras. Cristóvão Colombo, em nome da Espanha, chegara em terras da América Central em 1492, pensando estar nas Índias. O proposital desvio da rota de Cabral levou ao encontro de terra baiana em 22 de abril, segundo informa a carta do escrivão da armada, Pero Vaz de Caminha. Descendentes de judeus chegaram ao Brasil, a partir de 1503. Fernando de Loronha ou Noronha, convertendo-se ao catolicismo, foi designado pelo rei D. Manoel para donatário da grande ilha do Nordeste brasileiro que hoje leva o seu nome. Noronha foi responsável pela arrematação do primeiro contrato de monopólio do pau-brasil. Com a madeira produziam-se pequenas peças de mobiliário e com sua resina coloriam-se tecidos. Deve-se a cristãos novos a introdução da cana do açúcar no Brasil, trazida das ilhas portuguesas de Açores e Madeira. Entre os que se dedicavam ao cultivo da cana no Nordeste, citamos o cristão novo, senhor de engenho, Ambrósio Soares Brandão, autor de um importante ensaio econômico intitulado "Diálogos das Grandezas do Brasil". Outro que se distinguiu na Capitania de São Vicente foi o jesuíta José de Anchieta, fundador de um Colégio, em 1554, que deu origem à cidade de São Paulo. José de Anchieta, considerado o "Apóstolo do Brasil", era filho de Mência Dias de Clavijo, cristã nova da ilha de Tenerife. Ligados aos poder e à vida econômica, os judeus da Península Ibérica, conhecidos como sefaraditas, aprofundaram-se nos estudos religiosos, filosóficos, da medicina e em sistemáticos trabalhos das ciências náuticas, astronomia e matemática, transformando-se, inclusive, em navegadores e intérpretes das expedições portuguesas. As cartas marítimas, o astrolábio e a bússola foram por eles aperfeiçoados. O ponto alto dos estudos náuticos foi realizado pelo astrônomo Abraham Zacuto, autor do "Almanach Perpetuum", no final do século 16. Esses conhecimentos permitiram a Portugal, frente ao Atlântico, preparar-se para a busca das especiarias e dos metais preciosos, especialmente procurados. Politicamente centralizado e contando com o apoio de uma burguesia predominantemente judaica, Portugal pôde desde o início do século 14 desbravar, explorar e colonizar o litoral dos continentes africano, asiático e americano. Os Grandes Descobrimentos Marítimos, associados a processos transformadores da vida político-econômica européia, ocorreram em período de enorme conturbação social na Península Ibérica. A Espanha, depois da expulsão dos muçulmanos e judeus da Espanha, em maio de 1492, buscava acomodar os 50 mil conversos, que permaneceram no reino centralizado, sob a supervisão do Tribunal da Inquisição instalado em 1480. A formidável entrada de judeus espanhóis em Portugal acarretou, poucos anos depois (1497), ação inesperada e dramática de D. Manoel: a conversão forçada de todos os judeus de Portugal, obedecendo a uma cláusula de seu casamento com a princesa espanhola. Embora o extremo ato tenha sido contrabalançado por legislação protetora aos conversos, o sucessor, D. João III, assentiu em instalar o Tribunal da Inquisição no reino, autorizado pelo papa Paulo III, em 1536. Discriminados, perseguidos e vendo limitadas as possibilidades de crescimento nos domínios ibéricos, os cristãos novos buscaram emigrar para terras da Itália, França e, no final do século 16, para a Holanda, quando a liberdade de consciência foi instituída na República. Em Amsterdã, judeus e cristãos novos de origem portuguesa estavam ligados à comercialização do açúcar brasileiro pela Europa. A Holanda, tradicional parceira de Portugal, financeiramente se responsabilizara pelo sucesso da empresa açucareira no Brasil. Apesar das proibições legais, grande número de cristãos novos buscou as possessões americanas. No Brasil, podiam ser encontrados em todas as capitanias, posicionados em diversas ocupações. Conhecidos como "homens de negócios", cristãos novos assumiram contratos reais nas transações comerciais do pau-brasil, do açúcar, do tabaco, de escravos negros e outros monopólios. Dominando a leitura e a escrita, posicionaram-se em cargos públicos administrativos, militares e religiosos, apesar de proibidos pelas leis discriminatórias dos Estatutos de Pureza de Sangue.(1) A união das coroas ibéricas (1580-1640) determinou o fim das formidáveis relações com a Holanda. Inimiga da política expansionista da Espanha católica, a alta burguesia holandesa da Cia. de Comércio das Índias Ocidentais decidiu, em 1630, com apoio das autoridades políticas, conquistar a Capitania de Pernambuco, maior produtora de açúcar, depois da fracassada invasão na Bahia em 1624. Angola, porto de escravos negros, foi igualmente tomada, revelando o real interesse da Cia. Holandesa em manter funcionando a produção, preservando a atividade das 20 companhias holandesas encarregadas do branqueamento e refino do açúcar, antes de comercializá-lo pela Europa. A tolerância religiosa foi imposta pelo invasor protestante onde o catolicismo era predominante. Diante da imposição da liberdade de consciência, grupos de famílias judias de Amsterdã, de origem portuguesa, mostraram interesse em se estabelecer no Brasil-Holandês. Dominando o português, o grupo transformou-se em intermediário de todos os negócios que se efetuavam na terra conquistada. Cuidando de suas comunidades, fundando sinagogas e organizações beneficentes, os judeus, apoiados pelo Príncipe Maurício de Nassau, administrador das terras conquistadas, transformaram-se em agentes do crescimento econômico da região, especialmente de Recife, transformada na mais importante cidade de todo o Atlântico de meados do século 17. Esclarecido e homem de seu tempo, Nassau trouxera consigo artistas, pintores, biólogos, naturalistas, cartógrafos e mais cientistas que produziram obras, hoje admiradas e consultadas por especialistas interessados em conhecer as primeiras obras escritas sobre a América e as belas pinturas de silvícolas, negros e de espécies nativas da flora e fauna brasileira. As conquistas holandesas se ampliaram para o litoral Norte, permitindo o nascimento de pequenas comunidades judaicas, entre as quais a da Paraíba e de Penedo, nas imediações do Rio São Francisco. Isaac Abuhab da Fonseca e Moisés Raphael de Aguillar, eminentes rabinos de Amsterdã, foram convidados a dirigir o culto religioso nas sinagogas "Zur Israel" e "Maguen Abraham", de Pernambuco, e supervisionar o funcionamento beneficente da "Santa Companhia de Dotar Órfãs e Donzelas". A preocupação com os horário dos rituais litúrgicos levou a que esses religiosos consultassem sábios de Salônica, cidade grega, referencial judaico do Império Otomano, esclarecendo-se sobre os horários das cerimônias em hemisfério diferente. Com a Restauração Portuguesa de 1640, Salvador, então capital da metrópole portuguesa, continuava intensamente vigiada pelo Santo Ofício da Inquisição. No ano de 1647, membros da comunidade judaica holandesa ficaram consternados com a prisão de Isaac de Castro Tartas, sobrinho do rabino Raphael de Aguillar. De origem portuguesa, Isaac de Castro, nascido em terras da França, chegara ao Brasil em 1640. Depois de visitar a Paraíba, buscou a cidade de Salvador, apresentando-se ao bispo como judeu. Pouco depois, acusado de ensinar judaísmo aos cristãos novos, Tartas foi preso e encaminhado a Lisboa para responder processo inquisitorial. Durante os interrogatórios, os juízes tentaram demovê-lo de sua crença e convertê-lo ao catolicismo, chamando eminentes teólogos para tal tarefa. Castro recusou-se a deixar sua fé, continuando a praticar, na prisão, os rituais judaicos diários. Torturado, manteve-se obstinado. Negando tudo, foi sentenciado à morte pela justiça comum, proferida na cerimônia do Auto de Fé de 1647. Considerado mártir do judaísmo, Isaac de Castro foi conduzido ao patíbulo recitando o "Shemá Israel". Morreu queimado vivo, aos 24 anos de idade. (2) As comunidades judaicas do Brasil holandês subsistiram por 24 anos, até a expulsão final pelas forças luso-brasileiras, em 1654. Embora a maioria dos judeus tenha retornado a Amsterdã, pequeno número instalou-se nas colônias holandesas de Suriname, Barbados e Curaçao, na América Central. Outro pequeno grupo, com mais de duas dezenas de pessoas, estabeleceu-se em Nova Amsterdã, organizando o núcleo inicial comunitário judaico de Nova York, hoje a maior cidade da diáspora. Embrenhar-se pelas matas em busca de aldeias para escravizar índios e vendê-los à produção de subsistência, nas capitanias sulinas, foram ocupações dos bandeirantes do século 17 e 18, alguns de origem judaica, como Raposo Tavares e Garcia Rodrigues Paes. Na busca dos índios, os bandeirantes paulistas desbravaram e estabeleceram-se em terras inexploradas, delineando os atuais contornos do território brasileiro. Em novas áreas - distanciando-se dos agentes da Inquisição - os bandeirantes acabaram por encontrar os primeiros veios do ouro, metal ansiosamente procurado pela Coroa desde o início da colonização. A exploração do ouro na Capitania das Minas Gerais, a partir de 1695, transformou a cidade do Rio de Janeiro, porto de entrada de exploradores portugueses e de mercadorias, fatores que conduziram a uma intensa vigilância sobre a cidade. A primeira metade do século 18 foi o período da maior atuação do Tribunal da Inquisição no Brasil. Denúncias - que não precisavam ser comprovadas - levaram à prisão numerosos mercadores, senhores de Engenho, mineradores, advogados e médicos, todos cristãos novos, que viviam nas capitanias do Rio de Janeiro, Bahia, Minas, São Paulo e São Vicente. O seqüestro dos bens dos "envolvidos pela heresia judaizante" era procedido assim que os suspeitos eram presos e conduzidos pelas embarcações à Lisboa. No grupo dos envolvidos pela Inquisição de Lisboa estava a família do advogado e procurador da Coroa, João Mendes da Silva, cristão novo, pai do famoso dramaturgo António José da Silva, processado e queimado em 1743. Entre seus denunciantes estava o capitão-mor da Capitania da Conceição de Itanhaém, Miguel Telles da Costa, cristão novo, também preso. Bem posicionada no Rio de Janeiro, a família Mendes da Silva viu-se obrigada a abandonar a cidade, instalando-se em Lisboa para acompanhar processos de seus familiares. Entre outros cristãos novos envolvidos pela Inquisição, na primeira metade do século 18, citamos os irmãos Alexandre e Bartholomeu Lourenço de Gusmão, originários de Santos, cidade do litoral paulista. Embora de origem judaica, Alexandre e Bartholomeu Lourenço ocuparam significativos cargos na administração pública da metrópole e do Brasil. Alexandre de Gusmão foi secretário de Estado de D. João V e, seu irmão, Bartholomeu Lourenço, o "Padre Voador", pela invenção do aeróstato, ocupou cargos político-religiosos na metrópole. A miscigenação é fato inconteste na história colonial brasileira, especialmente pela ausência de mulheres brancas, e disso não se furtou o colonizador cristão novo que, comumente, se uniu a negras e índias. Tentando encontrar na cultura brasileira conteúdo herdado dos cristãos novos, o conhecido pesquisador Câmara Cascudo lembra alguns costumes, ainda prevalecentes no meio rural(3). Aponta o abate de aves, sangrando-as, e o resguardo familiar no luto, por exemplo, como práticas de influência judaica. Além de Câmara Cascudo, especialistas de estudos do "mental coletivo brasileiro" afirmam que, a "religião de verniz" ou "ir para a igreja sem convicção interior", expressas por alguns clérigos no país, possam ter-se originado do acomodado comportamento religioso dos cristãos novos no período colonial. Notas: (1) Legislação que impedia a negros, índios, mestiços, judeus, cristãos novos e ciganos a ocupação de cargos públicos, militares e religiosos. (2) Seu processo foi estudado e publicado por Elias Lipiner, sob o título: Izaque de Castro: um mancebo que veio preso do Brasil". Recife: Fundaj-Massangana, 1992. (3) Luis da Câmara Cascudo. Mouros, Franceses e Judeus. Três presenças no Brasil. Editora Perspectiva, São Paulo, 1984. Rachel Mizrahi é autora de A Inquisição no Brasil: Miguel Telles da Costa. O capitão judaizante de Paraty. (2ª Ed., no prelo) e Imigrantes no Brasil: Os judeus.São Paulo: Lazuli/Ed. Nacional, 2005
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Ultimo discurso de Itzjak Rabin - Tel Aviv, 4 de noviembre de 1995 Permítanme decir que estoy profundamente conmovido. Deseo agradecer a cada uno de ustedes el haber venido hoy aquí para oponerse a la violencia y manifestar vuestro apoyo a la Paz. Este Gobierno, que tengo el privilegio de encabezar junto con mi amigo Shimón Peres, decidió darle una oportunidad a la Paz, una Paz que solucionará casi todos los problemas de Israel. Fui militar durante 27 años. Luché cuando la Paz no tenía posibilidades. Creo que ahora las tiene, y muchas. Debemos aprovechar esto en nombre de todos los que están aquí presentes, y en nombre de los que no están aquí, que son muchos. Siempre creí que la mayoría de la gente quiere la Paz y está dispuesta a asumir riesgos por la Paz. Con vuestra presencia habéis demostrado, junto con muchos otros que no vinieron, que el pueblo realmente desea la Paz y se opone a la violencia. La violencia erosiona los cimientos de la democracia israelí, la violencia debe ser censurada y aislada. Ese no es el camino del Estado de Israel. En una democracia puede haber diferencias, pero la decisión final debe tomarse en elecciones democráticas, como en las elecciones de 1992, que nos otorgó un mandato para hacer lo que estamos haciendo. Y seguiremos así. Quiero decir que estoy orgulloso de que representantes de los países con los que hemos firmado la Paz estén presente hoy con nosotros, y seguirán a nuestro lado: Egipto, Jordania y Marruecos, que nos abrieron el camino a la Paz. Deseo dar las gracias al presidente de Egipto, al rey de Jordania, al rey de Marruecos, que han enviado aquí representantes para participar con nosotros en nuestra marcha hacia la Paz. Pero, más que nada, en los más de tres años de existencia de este gobierno, el pueblo israelí ha demostrado que es posible hacer la Paz, que la Paz abre las puertas a una economía y una sociedad mejores, que la paz no es sólo una plegaria. La Paz está antes que todo en nuestros rezos, pero es también la aspiración del pueblo judío, una genuina aspiración por la Paz. Sabemos que hay enemigos de la Paz que están tratando de herirnos con el fin de torpedear el proceso de Paz. Quiero decir, sin embargo, que hemos encontrado un socio para la Paz también en el pueblo palestino. La OLP, que era nuestra mayor enemiga, ya no se dedica al terrorismo. Sin socios para la paz, ésta no puede existir. Exigiremos que pongan todo de su parte para la Paz, así como nosotros haremos lo nuestro, a fin de solucionar el aspecto más complicado, más prolongado y cargado de emociones del conflicto árabe-israelí: el problema palestino-israelí. Este es un camino lleno de dificultades y dolor. Para Israel, no hay camino sin dolor, pero el camino de la Paz es preferible al camino de la guerra. Esto se los digo como ex-militar, como un hombre que es hoy Ministro de Defensa y ve el dolor de las familias y los soldados de las Fuerzas de Defensa Israelíes (FDI). Por ellos, por nuestros hijos y, en mi caso, por nuestros nietos, quiero que el gobierno busque exhaustivamente cada apertura, cada posibilidad de promover y lograr una Paz global. Incluso con Siria será posible hacer la Paz. Esta manifestación debe enviar un mensaje al pueblo israelí, al pueblo judío de todo el mundo, a los muchos pueblos del mundo árabe y, de hecho, a todo el mundo, de que el pueblo israelí quiere la Paz y la apoya. Por todo esto, les doy las gracias". Discurso pronunciado como acto final de la Manifestación en favor del Proceso de paz, celebrada en la Plaza Maljei Israel (hoy Kikar Rabin), Tel Aviv.
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O assassinato que impediu a paz 28/10 Nahum Sirotsky, correspondente iG em Israel Em 1995, parecia que se aproximava a paz entre Israel e Palestinos. Foi quando o assassinato do então primeiro-ministro, Itzhak Rabin, preencheu o lugar da esperança com o luto de todo o povo israelense. Um estudante de direito de pequena estatura, magérrimo, de aparência realmente insignificante conseguiu se aproximar dele no instante em que deixava um gigantesco comício em que se cantavam os novos tempos. Atirou e o matou. Ygal Amir está em isolamento, preso pelo tempo máximo permitido por lei. Mas a punição nunca supera a força do crime. Foram figuras fisicamente insignificantes que assassinaram o presidente dos Estados Unidos John F. Kennedy e, pouco depois, seu irmão Robert, candidato à presidência. Foi também uma figura fisicamente insignificante, um estudante, que assassinou o príncipe herdeiro do Império Austro-Húngaro e precipitou a Primeira Guerra Mundial. Há muitos casos semelhantes na história do mundo. São os insuspeitos na aparência os piores. Quem imaginaria que um ator frustrado assassinaria o Abraham Lincoln, um dos maiores presidentes da história americana, dentro do teatro. Hoje, Israel homenageou a memória de Rabin que, como militar, foi um de seus grandes heróis e como político enfrentou as resistências de extremistas da ultradireita para abrir caminho para um acordo de paz sabendo dos riscos que corria. A história não se faz de suposições. A hipótese de que se não tivesse morrido haveria a paz não conta. Não houve, nem há. São tantos os obstáculos que não se pode prever quando acontecerá. As pesquisas indicam que é desejo das maiorias. Mas sonhos não rompem barreiras. Nem boa vontade. Enumero apenas alguns dos problemas para os quais a solução não exige maiorias. Os palestinos estão divididos em duas partes. A Cisjordânia, onde governa Abu Mazen do Fatah, que defende a hipótese de um Estado apoiado em leis seculares e reconhece o direito de Israel existir - a hipótese de um Estado israelense ao lado de um palestino na mesma terra sagrada. E a Faixa de Gaza governada pelo Hamas, islâmicos que querem um país sob as leis do Alcorão. Os grupos têm relações rompidas. Portanto, não existe uma única voz com quem negociar. Mas, mesmo os palestinos do Fatah, querem uma Palestina com as fronteiras que existiam em 1967, antes de Israel vencer a chamada Guerra dos Seis Dias, conquistando o Sinai, do Egito, a Cisjordânia e a parte murada de Jerusalém, a antiga cidade, que estava sob domínio jordaniano, Golã. Desde então, houve a guerra de 1973, duas com o Líbano, dois levantes palestinos, e as Intifadas, caracterizadas por luta com atos terroristas, como homens-bomba, e a paz com a Jordânia e o Egito. Mas na área que a Jordânia recebeu de volta de Israel e entregou aos palestinos, assentaram-se cerca de 350 mil israelenses, que construíram cidades modernas, implantaram universidades, indústrias, centros agrícolas. Jerusalém antiga foi anexada e unida à moderna com uma lei declarando a unificação como definitiva e toda a cidade como capital de Israel. Não há apoio para a uma nova divisão da cidade da qual as legiões de Roma expulsaram os judeus há dois mil anos. Os palestinos se recusam a receber terras israelenses para compensá-los pelas ocupadas pelos colonos, cujas lideranças não admitem a hipótese de saírem de onde se encontram. A hipótese de conflito entre israelenses caso seja forçada a retirada não é remota. Israel quer que os palestinos o reconheçam como um Estado judeu. Os palestinos e o mundo árabe rejeitam tal definição. O que parece uma discussão primária, na verdade representa uma decisão de vida ou morte. Sem ser qualificado de Estado judeu, Israel se abre para pressões irresistíveis do retorno dos milhares de palestinos exilados, que hoje somam milhões. Israel, um Estado democrático, possibilitaria a tomada do poder pelo voto, pois os muçulmanos logo seriam maioria. Entre os povos não há a tradição de confiança. São sempre minorias as mais politicamente ativas. E existem minorias que não concebem a coexistência. Não existem obstáculos naturais entre a terra palestina e Israel. Obama anunciou no início de seu governo que promoveria a paz em dois anos. Passados dez meses as possibilidades do entendimento só diminuíram. Os lados sequer se comunicam. A necessidade de uma solução pacífica é cada vez maior, pois não faltam condições para confrontos. No Sul, em Gaza, há o Hamas com arsenais supostamente poderosos, tropas treinadas inclusive de homens-bomba prontos para o suicídio, No Norte, o Hezbollah aterrissa dezenas de milhares de mísseis capazes de atingirem as maiores cidades de Israel. O Partido de Deus tem Forças bem mais preparadas e motivadas. E a Síria que parece querer conversar, é aliada do Irã, que aparentemente não desiste de ter a bomba. Obama não aposta mais em enviados especiais que, até agora, não produziram nada. Quem vem aí, como apoio total do presidente americano, é Hillary Clinton, a secretária de Estado, em primeira visita desde a eleição presidencial. O mar não está para peixe.
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A contribuição judaica à música gaúcha (parte 1, veja a continuação em seguida) escrito em quinta 22 outubro 2009 23:36 arnaldo cohen, brasil, cláudio levitan, contribuição, eva sopher, figner, gaúcha, imigração, israeli, ídish, juca chaves, judaica, kid vinil, klezmer, léo gandelman, léo henkin, mpb, música, nico nicolaiewsky, pablo komlós, roberto szidon, tânia grimberg por Rogério Ratner Os judeus correspondem a uma das muitas etnias que integram o cadinho populacional gaúcho. Em que pese a comunidade judaica gaúcha, atualmente, conte com cerca de 10.000 membros (sendo, portanto, de proporções, em número de membros, bem mais modestas do que as maiores comunidades judaicas do Brasil, especialmente em relação às do centro do país, São Paulo e Rio de Janeiro ), a sua contribuição ao universo da música feita no RS pode ser considerada bastante significativa. Vamos tentar mapear um pouco desta contribuição, tanto no campo da música erudita, como na área da música popular. Inicialmente, antes de adentrarmos em nosso assunto propriamente dito, cumpre fazer algumas observações mais gerais acerca da relação do povo judeu com a música. Será útil também nos situarmos dentro do contexto da colonização judaica no Brasil, a fim de podermos melhor contextualizar o tema. OS JUDEUS E A MÚSICA A música sempre teve um papel muito importante para o povo judeu, desde os primórdios da formação desta etnia, originária do Oriente Médio. A origem do povo judeu pode ser encontrada na Mesopotâmia, tendo em vista que o patriarca da religião hebréia, Abraão, nasceu em Ur, na Caldéia, uma das regiões mesopotâmicas. Para diversos povos daquela região, a música exercia relevantes funções em suas sociedades, o que também se refletiu na cultura dos judeus, com desdobramentos inclusive em sua liturgia. As referências à música são inúmeras no texto bíblico, podendo-se indicar muitas passagens. Apenas para exemplificar, basta lembrar que, de acordo com os redatores bíblicos, as muralhas de Jericó teriam sido derrubadas pelas famosas trombetas/trompas. Ainda que se compreenda hodiernamente que o texto bíblico corresponde a um conjunto de relatos de contornos históricos, mas também em grande medida mitológicos, esta passagem já serve como uma demonstração da importância da música dentro da cultura judaica, a ponto de ela ser elevada à condição de veículo de expressão literalmente consubstanciado em instrumento da própria vontade divina. Outro exemplo que vale lembrar é o do próprio Rei David, o maior líder político-religioso do período bíblico, que era músico. Aliás, foi justamente por ser músico que David teve acesso ao séquito real de Saul, seu antecessor no trono judaico. Em face dos conhecidos efeitos terapêuticos “para acalmar os nervos”, que desde aquela época já se atribuía à música, David foi convocado para tocar sua harpa e entoar melodias com o objetivo de acalmar o rei Saul, soberano de conhecido humor instável, e que passava por crises de melancolia. E David foi bem sucedido na tarefa. Assim, é basicamente através da música que praticamente começa a história política de David, até chegar à sua ascensão à liderança do povo. Ao nível da religião judaica, a música exerceu uma função tão importante no ritual que no próprio Templo de Jerusalém, construído por Salomão, filho de David, o serviço envolvia o entoamento de diversos hinos e rezas pelo sumo sacerdote (a cantilena), inclusive contando com um coro de doze vozes, e um conjunto de doze instrumentos a acompanhá-lo. Os salmos e os cânticos eram formas musicais muito comuns no seio do povo judeu. Após a destruição dos dois templos, o de Salomão e o de Herodes, os rituais litúrgicos passaram para o âmbito das sinagogas, sendo que a música continuou exercendo um importantíssimo papel em sua configuração. De um modo geral, o acompanhamento instrumental nas sinagogas era mais exceção que regra, cabendo ao cantor sacro a responsabilidade pelo entoar das melodias santificadas. De fato, todo o culto judaico até hoje envolve uma pessoa que lidera o serviço religioso (seja o rabino, ou o chazan, que é o cantor litúrgico), o qual entoa as rezas ritmicamente, geralmente valendo-se de notáveis melodias. Assim, o chefe do serviço coordena o acompanhamento dos fiéis à leitura dos textos sagrados e das benções, e estes, em determinadas partes das rezas - que seguem a seqüência prevista nos livros litúrgicos para cada espécie de ato (rezas da manhã, da tarde, da noite, ou das festas) -, juntam suas vozes em coro. Com efeito, muitas destas rezas são adornadas por belíssimas melodias, que, acrescidas aos cantos milenares, foram sendo compostas ao longo dos séculos, incorporando inclusive influências dos mais diversos locais em que os judeus se radicaram, a partir dos exílios impostos pelos vários povos que conquistaram a Judéia, e muito especialmente em face da profunda dispersão imposta pelos romanos, cerca de um século após a morte de Jesus Cristo. Cabe ressaltar que a circunstância de o rito judaico prever a possibilidade de que a figura de um cantor coordene os atos religiosos (sejam aqueles ordinários realizados na sinagoga, seja em casamentos, circuncisões, enterros, etc.), sem que este detenha necessariamente toda a formação e especialização em conhecimentos religiosos que é exigida de um rabino, já é bastante ilustrativa da importância que a música representa para o culto religioso hebreu. Cumpre observar também que o envolvimento do fiel judeu com a música também é bastante precoce, uma vez que, além de poder acompanhar desde pequeno as sessões religiosas na sinagoga (praticamente desde o berço), já aos treze anos, na cerimônia de ingresso à maioridade religiosa (Bar Mitzvah), seus dotes vocais são testados frente à toda a comunidade, seja ele “afinado” ou não. No Bar Mitzvah, o menino judeu lê diversas bênçãos especiais, e uma parte do texto bíblico diretamente nos rolos da Torá, ocupando o altar da sinagoga e o centro das atenções. A cerimônia corresponde, guardadas as proporções, e perdoada a “heresia”, a um verdadeiro show musical (costumo dizer, de brincadeira, que o primeiro show que fiz foi em meu Bar Mitzvah, na sinagoga da União Israelita, em Porto Alegre; aliás, aproveito para registrar, com muito orgulho, que fui o primeiro aluno do rabino Efraim Guinsburg, de saudosa memória para a comunidade judaica de Porto Alegre, a “apresentar-se” ao ishuv). Hodiernamente, as meninas também podem executar um ritual semelhante, aos doze anos, no chamado Bat Mitzvah. Nas sinagogas mais tradicionais, atualmente não se costuma utilizar instrumentos musicais no acompanhamento das rezas, mas um instrumento milenar é convocado nas ocasiões especialíssimas que são o Iom Kipur (dia do perdão) e o Rosh Hashaná (ano novo judaico): o shofar, que consiste em um chifre de carneiro oco (podem ser utilizados também chifres de cabras, gazelas e antílopes), que é soprado vigorosamente, gerando sons muito peculiares e estridentes. O momento do toque do shofar é o ponto culminante destas cerimônias tão importantes dentro do calendário religioso judaico. A importância da música dentro da cultura religiosa e tradicional judaica também cresceu muito com a consolidação da cabala e do movimento chassídico. Com efeito, para o chamado misticismo judaico, a música tem um caráter divino, e é uma das formas primazes de integração do fiel à divindade, sendo um dos melhores caminhos que se pode utilizar para chegar ao êxtase religioso e à comunhão com o sagrado. Para os “chassidim”, a conjugação da música com a dança, de caráter alegre, são dos principais meios ideais para chegar-se ao “nirvana” espiritual, ao contato direto com o divino. De outro lado, o movimento reformista, que surgiu no rastro da chamada “haskalá”, ou iluminismo judaico - a partir da idéia acerca possibilidade de integração maior dos judeus à sociedade cristã, antevista especialmente a partir do final do século XVIII, e que sofreu um duríssimo golpe na Europa com o advento do Holocausto -, foi bastante influenciado, em termos rituais, pelo culto das igrejas cristãs, reincorporando, de uma certa forma, o acompanhamento instrumental aos serviços religiosos judaicos. Também a complexidade melódica e de arranjos apresentadas na música litúrgica cristã passaram a ter grande relevância nos rituais das sinagogas vinculadas a esta linha. Aliás, cumpre assinalar aqui que, no aspecto musical, como, de resto, em tantos outros, os pontos de contato do judaísmo com o cristianismo são muito grandes, tendo havido intercâmbios culturais mútuos ao longo da história. De fato, os rituais das igrejas cristãs primitivas em muito se assemelhavam aos das sinagogas, tendo os cristãos herdado, por exemplo, o canto salmódico. O mesmo, sem dúvida, pode-se dizer da religião muçulmana, que também tem na música um de seus elementos rituais importantes. Enfim, o que cumpre sublinhar é que praticamente não existe ritual religioso judaico que não conte com elementos de música. A música não voltada para fins especificamente religiosos também sempre foi muito cultivada pelos judeus. Na Europa, até a chamada Emancipação, já no limiar da Idade Moderna (por meio da qual passaram a ter a possibilidade de se integrar de forma mais efetiva, em maior ou menor grau, à sociedade cristã), os judeus construíram um repertório de música laica em seus locais de morada, que geralmente eram constritos em guetos, schtetels e judiarias. Há notícias também de músicos judeus atuando nas cortes de reis, em mercados, em tabernas, etc. Sob o ponto de vista folclórico, pode-se identificar duas vertentes principais para a música feita na diáspora judaica: a música “ídiche”, criada a partir da língua homônima (também conhecida como idish/yidish/ídich, enfim, a grafia varia), que mistura palavras de alemão e hebraico, com alguns acréscimos, para as populações da Europa Oriental, de expressões eslavas, e a música sefaradi, feita pelos judeus de origem ibérica, e que é baseada no ladino, dialeto que mistura fundamentalmente palavras do espanhol e hebraico. A música ídiche, que mais recentemente vem sendo denominada como klezmer, mistura diversos elementos da tradicional música oriental judaica com outros dos países da Europa Oriental, Central e Ocidental, especialmente da Rússia, da Polônia, da Ucrânia, dos países bálticos e dos Bálcãs, bem como da cultura cigana. Em verdade, o klezmer poderia ser melhor definido como uma subdivisão da música ídiche, pois, em sua origem, estava mais voltada à animação de festas e celebrações, ou seja, focava-se primordialmente na produção mais “eufórica” da música judaica da Europa Oriental. A música ídiche, em sentido mais amplo, contudo, abrange ainda uma grande produção de canções lentas e melancólicas, de muita dramaticidade (meu avô materno, Leão Ratner, com sua bela voz de barítono, e que chegou a fazer teatro ídiche na Lituânia, antes de vir para o Uruguai, e finalmente radicar-se no Brasil, cantava uma infinidade destas melodias, que exigiam uma grande expressividade do intérprete, especialmente para emular um quase-choro, tão característico deste cancioneiro). A música ídiche, em sua divulgação, esteve quase sempre ligada intimamente com o teatro ídiche, o qual foi muito forte na Europa Oriental (até o Holocausto) e também nos Estados Unidos. Para ter-se uma idéia da importância do teatro ídiche neste contexto, basta dizer que George Gershwin chegou a compor canções para produções do gênero, sendo que o seu biógrafo Charles Schwartz aponta estudos no sentido de que a canção “S’Wonderful”, grande clássico do cancioneiro americano, é, em verdade, inspirada em uma melodia ídiche. O grande astro, em termos de composição musical do teatro ídiche americano, foi Sholom Secunda, com quem, aliás, Gershwin colaborou. A estrutura dos espetáculos era muito semelhante à da Broadway do início do século passado, com operetas, musicais, danças, revistas, etc., além da parte teatral propriamente dita. Pode-se dizer, sem margem de erro, que o teatro ídiche deu uma contribuição importantíssima para a formatação do espetáculo musical moderno americano. Existiu uma vasta produção fonográfica desta música étnica, cujos discos inclusive chegaram em alguma quantidade por aqui. Eu mesmo tenho um bom número de “bolachões” de música ídiche, que tenho catado por aí em sebos, os quais venho acrescendo a alguns discos que arrecadei na casa de meus pais. Nesta produção, verifica-se que houve uma incorporação bastante ampla de diversos outros elementos estéticos à cultura ídiche; por exemplo, evidenciam-se influências do tango, do jazz, da música erudita, etc., além daquelas fontes “tradicionais” ao gênero. Há uma estação na internet produzida por um engenheiro brasileiro que roda somente música ídiche, e vale a pena visitá-la: http://www.yidishmusic.com.br Conforme referido, a música sefaradi mescla influências hebraicas e ibéricas, a partir da língua denominada “ladino”; é de grande beleza, sendo vastíssimo o repertório criado por seus criadores. Esteticamente, é muito próxima à sonoridade que se encontra ainda hoje na música tradicional feita na Espanha e Portugal, a qual, como é consabido, também sofreu claras influências orientais, decorrentes, em grande parte, da ampla influência moura e judaica na formação daqueles países, na mescla com os povos visigóticos e outros ancentrais autóctones. Atualmente, no Brasil, a grande “embaixadora” da música sefaradi é a cantora Fortuna, que tem gravado belos discos enfocando esta herança cultural tão profícua. Cabe sublinhar aqui que o advento da própria figura do músico como artista individualizado e reconhecido enquanto tal, exercente de um papel de destaque nas sociedades ocidentais (seja como compositor, cantor ou instrumentista), é um fenômeno mais reconhecível e claramente delineado ao final da Idade Média, o que se configurou ainda com mais força já na Idade Moderna. Dentro deste contexto, na medida em que aos judeus foi sendo gradativamente concedida a possibilidade de maior interação e integração com a sociedade em geral (integração esta, é bom assinalar, sempre marcada por avanços e retrocessos, especialmente a partir da Revolução Francesa e da Era Napoleônica, até a terrível hecatombe do Holocausto), começaram a surgir nomes de judeus ligados à música feita na sociedade ocidental. É muito significativa, neste sentido, a contribuição judaica à música erudita européia, sendo que podemos citar os seguintes nomes, à guisa de exemplos, todos da maior importância neste cenário: Giácomo Meyerbeyer, Felix Mendelssohn, Salomone Rossi, Lorenzo da Ponte (Emmanuele Conegliano, libretista de óperas de Mozart, como Don Giovanni e As bodas de Fígaro), os Strauss (Josef I e II), Jacques Offenbach, Georges Bizet, Gustav Mahler, Arnold Schoenberg, Bruno Walter, Paul Dessau, Darius Milhaud, Friedrich Hollander, Arthur Rubinstein, Otto Kemplerer, Berthold Goldschmidt, Ernst Bloch, André Previn, Kurt Weil, Andrew Lloyd Weber, André Previn, Arthur Rubinstein, Arthur Fiedler, Isaac Stern, Jascha Heifetz, etc. Nos Estados Unidos surgiram também muitos nomes importantes no campo da música erudita, tais como George Gershwin, Leonard e Elmer Bernstein, Aaron Copland, Philip Glass, etc. Na Europa, ainda, alguns judeus contribuíram relevantemente com a consolidação do mercado da música popular, seja na condição de artistas, seja na de produtores musicais. De outro lado, a consolidação da música popular enquanto indústria do entretenimento, no sentido em que a conhecemos hoje, deu-se praticamente no exato momento em que os judeus justamente estavam imigrando para os Estados Unidos em grande número, especialmente saídos da Europa Oriental, e, em menor grau, da Central. Assim, o mercado musical americano, em grande parte ligado ao teatro “vaudeville”, de operetas, “music hall” e de revista, foi um campo fértil para os imigrantes judeus e seus descendentes, até pelas possibilidades que esta atividade oferecia de fugir da vida dura de pobreza que a grande maioria estava passando, chegados do leste europeu no mais das vezes apenas com “a roupa do corpo”. Foi especialmente em Nova York, mais especificamente na Tin Pan Alley (rua que reunia um grande número de casas editoras de música), e nas inúmeras produções da Broadway (entre as quais, por exemplo, ficaram célebres as Ziegfeld Follies), que um expressivo número de compositores, músicos e cantores judeus pôde revelar ao mundo o seu talento. Posteriormente, com o advento da indústria cinematográfica, muitos compositores, instrumentistas e cantores judeus, eruditos ou populares, dedicaram-se a participar da produção de filmes musicais, à frente das telas ou mesmo nos bastidores. A participação de artistas judeus na construção da música pop feita nos USA desde então - passando pelo jazz, blues, rock, pop, soul, rap, etc., -, sem dúvida, é das mais expressivas. Neste sentido, merecem menção (em que pese a enxurrada de nomes de enorme destaque, a dificultar uma listagem mais digna de demonstrar toda a amplitude desta contribuição): George e Ira Gershwin/ Irving Berlin/ Jerome Kern (focalizei estes compositores maravilhosos em um show que apresentei no Theatro São Pedro e no Teatro Renascença, em 1994, denominado “Três Judeus na Broadway”)/ Richard Rodgers/ Oscar Hammerstein II/ Lorenz Hart/ Harold Arlen/ Burt Bacharah-Hal David/ Al Cohn/ Sammy Cahn/ Howard Dietz/ Al Johnson/ Mitchel Parish/ Cy Coleman/ Jerry Leiber e Mike Stoller (autores de vários “clássicos” do repertório de Elvis Presley)/ Howard Dietz/ Arthur Schwarts/ Stan Getz/ Benny Goodman/ Diane Warren/ Barry Mann/ Norman Gimbel/ Alan e Marilyn Bergman/ Cynthia Weil/ Jule Styne/ David Raskin/ Victor Young/ Stephen Sondheim/ Dinah Shore/ Harry Connick Jr./ Bette Middler/ Meredith Monk/ Artie Shaw/ Mel Tormé/ Paul Anka/ Danny Gottlieb/ Lyle Mays/ Jack Beckenstein (Spiro Gira)/ Paul Desmond/ Dave Brubeck/ Barney Kessel/ Shely Manne/ Herbie Mann/ Lee Konitz/ Brothers Brecker/ Les Brown/ Paul Whiteman/ Zoot Sims/ Gerry Mulligan/ Gene Simmons, Ace Frehley e Paul Stanley (Kiss)/ Carole King/ Simon e Garfunkel/ Bob Dylan/ David Lee Roth (Van Halen)/ Geddy Lee (Rush)/ Susane Hoffs (The Bangles)/ Arlo Guthrie/ Neil Diamond/ Neil Sedaka/ Slash (Guns)/ Phil Spector/ Paula Abdul/ Barbra Streisand/ Blood, Sweet and Tears/ Randy Newman/ Neil Sedaka/ Barry Manilow/ Michel Bolton/ Robbie Krieger (The Doors)/ Lisa Loeb/ Alan Paul e Janis Siegel (Manhatan Transfer)/ Carly Simon/ Helen Shapiro/ Eric Carmen/ Neil Diamond/ Barry Sisters/ Davitt Singerson/ Billy Joel/ Danny Elfman (Oingo Boingo)/ Cass Eliot (The Mamas and the Papas)/ Leonard Cohen/ Paula Abdul/ Chris Barron, Eric Schenkman, Aaron Comess (Spin Doctors)/ Perry Farrel, Stephen Perkins (Porno for Pyros e Jane’s Adiction)/ Dee Snider (Twisted Sisters)/ Herp Albert/ Kenny G/ Chris Cornell (Soundgarden e Audioslave)/ J. Geils Band/ Blue Oyster Cult/ Charles Fox (autor de Killing me soflty)/ David Brian (Bon Jovi)/ Donald Fagen (Stely Dan)/ Marty Balin e Jorma Kaukonem (Jefferson Airplane)/ Beastie Boys/ Adam Levine (Maroon 5)/ Richard Hell (Television)/ Joey (Ramones)/ Marty Friedman (Megadeth)/ Chris Isaak/ Lou Reed (Velvet Underground)/ Marc Ratner, etc., etc. Judeus também tiveram um papel fundamental no desenvolvimento das novas técnicas e tecnologias que estavam surgindo no início do século XX para o registro de sons, especialmente a partir do advento da eletricidade. De fato, o primeiro aparelho de registro de som em discos (gramofone) foi desenvolvido pelo judeu Emil Berliner, que havia se radicado nos EUA, e que, quando voltou à Alemanha, fundou a gravadora Deutsche Grammophon, selo que existe ainda hoje, e que é especializado em música erudita (durante o período nazista, o selo foi “arianizado”). Realmente, a indústria fonográfica, no início, contou com importante contribuição por parte judeus no seu desenvolvimento e consolidação. Alguns selos fonográficos estavam ligados à indústria de cinema e da imagem, caso da RCA, da CBS e da Warner. Outros, ainda, foram surgindo, tais como os labels Verve, Pablo e Blue Note, especializados em jazz, e outros tais como Chess Records, Geffen Records, MCA, Arista, Elektra, Atlantic, Rhino, etc., cujas gravações foram fundamentais para os registros da produção musical popular americana. É bom ressaltar que hoje, se formos tentar mapear as características da música feita pelos judeus no mundo, vamos chegar à conclusão de que esta é infinitamente multifacetada: além de os judeus estarem engajados na construção das linguagens musicais autóctones dos países em que estão radicados, mundo afora, a música feita ao redor do mundo também influencia enormemente a produção musical do próprio Estado de Israel. De fato, a chamada música israeli, composta e executada por músicos radicados na Terra Santa, é das mais plurais. Tal produção engloba desde as versões locais para os ritmos ocidentais (tais como o rock, o blues, o jazz, o reggae, e até mesmo de MPB, etc., etc.), até os rastros das músicas ídiche e sefaradi, e, muito especialmente, da música dos países árabes. De fato, a influência da música feita no Oriente Médio na música judaica moderna, indiscutivelmente aprofundou-se a partir da fundação do Estado Moderno, muito também em face da expulsão de enormes contingentes de judeus que viviam nos países árabes, em número que, segundo estimativas, equivale ao de árabes palestinos que deixaram a Terra Santa quando da invasão desta pelo exércitos unidos (Egito, Jordânia, Síria, Líbano, Arábia Saudita, etc.), em 1948, naquela que foi denominada como “Guerra de Independência”. Os chamados judeus orientais (mizrahi), agregaram fortemente a herança cultural da música que cultivavam – em alguns casos, milenarmente - nos países árabes em que estavam radicados, ao moderno Estado Judaico. Também a imigração de judeus negros da África para Israel, especialmente os falashas (que, segundo diz-se, seriam descendentes da rainha de Sabá e do rei Salomão), trouxe influências da música africana ao cadinho musical do Estado israelense. Isto além, evidentemente, da própria influência que a ampla população árabe radicada em Israel oferece. A música israelense contemporânea, sem esquecer as origens da música judaica, mas agregando influências da música feita ao redor do globo, é, sem dúvida, uma das mais variadas, ricas e polifacetadas de todo o mundo. Neste sentido, basta lembrar que, por exemplo, Israel é um dos principais pólos da música eletrônica no mundo, sendo que diversos DJs israelenses têm se apresentado mundo afora, vindo inclusive ao Brasil “tocar” em festas raves. Podemos indicar como grandes expoentes da moderna música popular israelense Ofra Haza, Etti Ankri, David D’or, Matti Caspi, entre muitos outros. Aliás, para quem quiser ter alguma noção sobre a música judaica mais atual, tanto israeli como klezmer e sefaradi, um bom início pode dar-se através da escuta dos lançamentos do selo americano de world music Putumayo (fundado, aliás, pelo judeu Dan Storber), cujos discos são encontrados nas Livrarias Cultura, Saraiva e FNAC, e que também são achados pela internet, inclusive para downloads. IMIGRAÇÃO JUDAICA NO BRASIL Com relação à imigração judaica ao Brasil, é possível falar em uma colonização lato sensu e em outra strictu sensu. Vale dizer, podemos considerar, em sentido amplo, a imigração judaica iniciada pelos cristãos-novos, ou, em sentido mais estrito, a daqueles judeus que vieram para o Brasil especialmente a partir da metade do século XIX, quando o ingresso desta etnia, publicamente assumida enquanto tal, deixou de sofrer maiores restrições por parte das autoridades do império. De fato, em sentido amplo, pode-se dizer que a história do Brasil confunde-se, em verdade, com a colonização judaica, se levarmos em consideração que os cristãos-novos, judeus convertidos à força, buscaram refúgio aqui para as perseguições sofridas na península ibérica, sendo que, em muitos casos, tentaram retomar sua religião ancestral, de forma muitas vezes secreta e clandestina, nas novas terras. A ampla colonização da região pelos cristãos-novos não é um fato aleatório, pois o descobrimento da América e o do Brasil coincidiram, de forma quase imediata, com a expulsão dos judeus da Espanha e a conversão forçada em Portugal, de forma que as novas terras foram um dos principais refúgios para aqueles que tiveram sua religiosidade de origem oprimida, ou que, simplesmente, mesmo que relativamente conformados com a adoção obrigatória da religião cristã, queriam escapar das perseguições sempre presentes nas metrópoles, especialmente a partir da consolidação da Inquisição. Assim, e neste contexto, os cristãos-novos participaram ativamente do financiamento das expedições portuguesas ao Brasil, e também tomaram parte diretamente nelas, podendo-se apontar, por exemplo, a figura de Gaspar da Gama, integrante da tripulação da frota de Cabral. Já na época da colonização propriamente dita, figuraram com destaque cristãos-novos tais como Fernando de Noronha, o bandeirante Raposo Tavares, entre inúmeros outros que povoam a história do Brasil e figuram abundantemente em nossos livros escolares. A opção pelas terras brasileiras muitas vezes decorreu da circunstância de que o simples fato de um judeu ingressar na cristandade não lhe garantia liberdade pessoal ou mesmo garantia de vida na metrópole, uma vez que havia uma grande diferenciação hierárquica entre os cristãos “velhos” e os “novos” dentro das sociedades lusitana e espanhola, antecipando, em grande medida, o antisemitismo “moderno”, de conotações racistas. As acusações dos cristãos-velhos e da Igreja contra os cristãos-novos, de infidelidade religiosa e outras “perfídias”, eram corriqueiras, movidas por interesses financeiros, inveja, rancor e fanatismo religioso, dentre outros motivos. Assim, repise-se, o Brasil foi uma grande opção de refúgio - a princípio seguro - para os conversos, denominados por seus conterrâneos ibéricos pela pouca elogiosa expressão “marranos” (porcos), pelo menos até que as garras da Inquisição chegassem ao chamado Novo Mundo. É fato que a maioria dos sobrenomes de colonizadores portugueses é encontrada em listagens de vitimas da Inquisição no Brasil, em Portugal e na Espanha. Isto não deixa de trazer uma grande dificuldade ao pesquisador, pois, para identificar se a origem de alguém com um destes sobrenomes é cristã-nova ou velha, muitas vezes é necessário fazer um levantamento genealógico bastante acurado, incluindo muitas gerações passadas. Contudo, o certo é que os estudos feitos por historiadores/pesquisadores especializados têm apontado que cerca de 1/3 da população brasileira de origem portuguesa da época colonial era composta por cristãos-novos e seus descendentes. Estes imigrantes, acompanhando a própria história da ocupação do solo brasileiro, no início geralmente radicaram-se no Nordeste (Bahia, Pernambuco e arredores). Nesta região, especialmente, desempenharam um papel fundamental na exploração do Pau Brasil (chamado na Europa de “madeira judaica”) e da cana-de-açúcar, dentre outras atividades. Migraram muitos deles, posteriormente, para o Sudeste, e para o interior do sertão do Nordeste, especialmente em face das perseguições religiosas que começaram a ocorrer também no novo mundo, mormente nas capitais nordestinas, tendo desempenhado papel primaz na colonização de São Paulo (muitos dos bandeirantes eram cristãos-novos) e de Minas Gerais (sua participação no chamado “ciclo do ouro” também foi muito significativa). Esta população, à medida em que o cerco da perseguição religiosa se estreitou também no Brasil, através da brutal ação da Inquisição, cada vez mais incisiva, teve tolhidas as possibilidades de retornar à adoção de práticas judaicas, algumas que fossem. De forma que, na medida em que as gerações de descendentes foram se assomando, poucos traços destas origens restaram aparentes, embora, em alguns casos, evidenciem-se em costumes familiares centenários, dos quais, muitas vezes, sequer os seus praticantes conseguem identificar a origem exata e a sua razão de ser. Da descoberta de suas origens judaicas por parte de muitos brasileiros cristãos, tem se consolidado o fenômeno dos “Anussim”, ou seja, aqueles que tentam, de alguma forma, retomar o seu vínculo com a religião de seus antepassados, ou, ao menos, travar contato com a cultura de seus ascendentes. Cumpre ressaltar que grande parte dos sobrenomes de músicos/compositores brasileiros importantes que povoam a história da música brasileira, erudita e popular, são também encontrados entre aqueles adotados pelos cristãos-novos no período colonial. Com isso, repise-se, não estamos querendo dizer que necessariamente quem tem estes sobrenomes seja descendente de cristãos-novos, o que, conforme ressaltado, para ser averiguado de forma conclusiva, demanda geralmente uma pesquisa detalhada das raízes genealógicas. Mas, para ter-se idéia a respeito da abrangência desta descendência, podemos citar um único exemplo, que é, sem dúvida, dos mais significativos: a ter-se por verdadeira a informação constante do livro “Furacão Elis”, de Regina Echeverria, a cantora Elis Regina, de sobrenome Costa, é descendente de cristãos-novos. Assim, feitas todas as ressalvas, pode ser de algum interesse apontar alguns dos inúmeros patronímicos de cristãos-novos, muitos dos quais secundam os nomes de diversos músicos brasileiros: Veloso, Seixas, Antunes, Mendes, Costa, Quental, Ribeiro, Silva, Valença, Ramalho, Rosa, Gonzaga, Vargas, Buarque, Hollanda, Dias, Pinto, Sampaio, Santos, Barros, Baptista, Franco, Silva, Cardoso, Bastos, Andrade, Gonçalves, Barbosa, Cortes, Miranda, Souza, Mesquita, Barroso, Maia, Lopes, Fernandes, Teixeira, Ulhoa, Araújo, Mesquita, Fonseca, Almeida, Carneiro, Cunha, Nunes, Leão, Alvarenga, Viana, Jobim, Reis, Coelho, Cordeiro, Freire, Mendonça, Martins, Bezerra, Veiga, Villela, Tovar, Mendanha, Leitão, Carrilho, Brito, Ximenes, Peres, Freire, Freitas, Moraes, Ferreira, Amaral, Azevedo, Abreu, Borges, Chaves, Monteiro, Ribeiro, Moraes, Freitas, Carvalho, Moraes, Pestana, Duarte, Gonzaga, Galvão, Ramos, Lago, Gadelha, Ávila, Alencar, Guedes, Valle, Vergueiro, Paes, Paiva, Aguiar, Sá, Rodrigues, Barbosa, Porto, Furtado, Siqueira, Brandão, Campos, Cabral, Bastos, Toledo, Telles, Castro, Nobre, Neves, Machado, Gomes, Cazado, Loureiro, Lima, Lacerda, Coronel, Medeiros, Moreira, Montes, Moura, Horta, Silveira, Pedrosa, Alves, Gomes, Limeira, Reis, Cintra, Corrêa, Rocha, Borges, Oliveira, Pereira, etc., etc. Como vê-se, os sobrenomes de cristãos-novos não se limitam, como inicialmente se pensava, quando a questão começou a vir à baila nos meios acadêmicos e na mídia, aos relacionados a árvores e frutos; a bem da verdade, a grande maioria dos sobrenomes portugueses foram adotados ou atribuídos aos cristãos-novos. E tudo isto está amplamente confirmado a partir de estudos e pesquisas realizados em fontes diversas, e, em muitos casos, a partir de exames diretamente feitos nos arquivos da Inquisição em Portugal, a partir dos nomes dos réus arrolados nos processos em que eram acusados de “judaizantes”. A professora da USP Anita Novinsky notabilizou-se nestes estudos, sem dúvida pioneiros, realizados, em grande parte, na “fonte”, em Portugal. Também cabe apontar o trabalho incansável de uma maravilhosa plêiade de pesquisadores, tais como Paulo Valadares, Rachel Mizrahi, Henrique Veltman, e instituições como o Arquivo Histórico Judaico Brasileiro (que gentilmente colaboraram com nossa pesquisa), Guilherme Faguelboim, Hélio Daniel Cordeiro, entre muitos outros, que vêm rastreando as raízes judaicas do Brasil. Além do mais, vários destes sobrenomes são encontrados ainda hoje em muitos membros de famílias de judeus sefaradis brasileiras praticantes da religião mosaica. A colonização judaica no Brasil strictu sensu, a que aludimos acima, deve ser considerada enquanto tal a partir da abolição da Inquisição em Portugal pelo Marquês do Pombal. A partir daí, de forma aproximada, começou a ser permitida a vinda para o Brasil de alguns judeus, o que ocorreu especialmente desde a metade do século XIX. Radicaram-se no Brasil então judeus franceses (em geral alsacianos) e alemães, e alguns sefaradis (judeus cujos antepassados saíram da península ibérica, fixando-se em outras regiões, justamente quando das conversões forçadas antes aludidas). A imigração, neste período, foi mais acentuada no centro do país e na região amazônica (nesta, principalmente por marroquinos). Pode-se dizer que a partir daí começam a se estruturar as modernas comunidades judaicas nas principais capitais do país, e em algumas cidades do interior dos estados, embora o número limitado de seus integrantes, até, aproximadamente, a década de 30 do século XX. Em termos de contribuição dada por judeus à música brasileira, em suas mais variadas tendências (erudita, choro, MPB, rock, jazz, instrumental, bossa nova, etc.), podemos indicar vários nomes, considerados desde a época imperial até o momento atual: maestro Isaac Karabtchevski/ maestro Henrique, Eduardo e Jacques Morelembaum/ Louis Moreau Gottschalk/ Alexandre e Luís Levy/ Haroldo Goldfarb/ Benjamin Taubkin/ I. Fater/ Henrique, Nelson, Jaques, Michel e Ivan Nirenberg/ Carlos Acselrad/ Vera Astracan/ Arnaldo Cohen/ Alberto e Cláudio Jaffé/ Yara Bernette/ Anselmo Zlatopolsky/ Estelinha Epstein/ Clara Sverner/ Jacques Klein/ Salomon Rubin/ Natan Schwartzman/ Eugen Szenkar/ Esther Fuerte Wajman/ Rosinha Spiewak/ José Alberto Kaplan/ Adolfo Tabacow/ Felícia Blumenthal/ José Kliass/ Martin Krause/ Anna Stela Schic/ Henrique Fedorowsky/ Marcelo Wrona/ Lanny Gordin (guitarrista fundamental na Tropicália, que tocou com Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa)/ Maurício Einhorn (um dos mestres da bossa nova)/ Tico Terpins (os Baobás e Joelho de Porco)/ Daniela e Netty Spielman/ Sheila Zagury/ Marcelo Fromer (Titãs)/ Frejat (cujo pai é árabe e a mãe judia)/ George Israel (Kid Abelha)/ Elias Mizrachi (Veludo)/ Ricardo Guinsburg (Equipe Mercado)/ Abrão Levin (Kafka)/ Elias Glik (AgentSS)/ Paul Liberman/ Leonardo e Alexandre Bursztyn (Móveis Coloniais de Acaju)/ Maurício Duek/ Jean, Joana e Paul Garfunkel/ Henrique e Léo Gandelman/ Roberto Sion/ Ithamara Khorax/ Kátia Bronstein/ Flora e Yana Purim/ Jorge Mautner/ David Tygel (Boca Livre)/ Jacob do Bandolim (Pick Bittencourt)/ Michel e Bernardo Bessler/ Hélio Ziskind (grupo Rumo)/ Tânia Grimberg/ Cláudio Goldman/ Juca Chaves (Jurandir Czackes)/ Michel Freidenson/ Arnaldo Niskier (letrista)/ Morris Albert (Maurício Alberto Kaiserman)/ Ivo e Mauro Perelman/ Sacha Amback/ Alberto Rosenblit/ Daniel Stein/ Michel Haran/ Walter Weisflog/ Kid Vinil (Magazine)/ Juca Chaves (Jurandir Chakes)/ Ari Borger/ Sara Cohen/ Cláudio Cohen/ Ricardo Herz/ Roberto Ring/ Eduardo Faigemboim/ Lívio Tragtenberg/ Tuna Dwek/ Patti Ascher/ Henrique Vogeler/ Ronaldo Lupo/ Ronaldo Serruya (letrista)/ Gustavo Rosenthal/ Claudio Besnos/ Ilana Hazan/ David Assayag/ Silvia Ocougne/ Carlos Slivskin/ Henrique Levy/ José Kliass/ Ludmila Ferber/ Roberto Fuchs/ Alberto Rosenblit/ Abrão Altegauzen/ Gustavo Kurlat/ Estela Govssinsky/ Gabriel Levy/ Daniel Szafran/ Marcelo Cohen/ Pipo Gratz/ Sérgio Scliar/ Eduardo Hazan/ Renata Jaffé/ Marcelo Jaffé/ Yael Pecarovich/ Marcelo Berman/ Denny Kessaus/ Roberto Kauffman/ Daniel Szafran/ Martin Sarrasague/ Ruben Feffer/ Marcelo Guelfi/ Nicole Borger/ Sima Halpern/ Vicente Falek/ Tânia Novak/ Varda Usiglio/ Clarita Paskin/ Tânia Grimberg/ Jerzy Milewsky/ Gabriela Geluda/ René Bensausson/ Cláudio Weizmann/ Sheila Hannuch/ Ary e André Sperling/ Bia e André Grabois/ Bruno Golgher/ Adolfo Tabacow/ Marcus Nissensohn/ Walter Burle Marx/ Michelli Livchitz/ Bernardo Segall/ Anselmo Zlatopolsky/ José Alberto Kaplan/ Hélio Bobrow (presidente da Hebraica –SP)/ Simon Blech/ Sonia Goussinsky/ Manu Lafer/ Jacques Sasson e Roberto Livi (ambos da jovem guarda)/ Bernardo Katz/ Maria Luiza Corker-Nobre/ Felipe Lozinsky/ Cliff Korman/ Martin Sarrasaguem/ Siney Waissmann/ Cenira Schreiber/ Daniel Kacelnik/ Jair Bloch/ Rubem Feffer/ Gabriela Hess/ Sami Douek/ Pedro Bronfman/ César Lerner/ Horácio Schaefer/ Márcia Salomon/ Sima Halpenr/ Abigail Wimer/ Renato Cohen/ Rodrigo Paciornik/ Régis Karlik/ Lev Veksler/ Régis Karlik/ Eliah Sakakushev/ Marcelo Moguilevsky/ Miriam Weitzman, etc., etc. Também dedicaram-se à propagação da música judaica, os grupos Mawaca e Celebrare, dentre outros. No campo da música típica, em seus vários matizes, podemos citar os seguintes nomes: Fortuna (música sefaradi), Paulinho Rozembaum (que mistura samba e outros ritmos brasileiros com temas ortodoxos judaicos), e os grupos de música ídiche/klezmer Azdi, Zemer, Klezmer 4, Duo Klezmer, dentre outros. O Coral Israelita Brasileiro, de longa atuação, também deve ser destacado, assim como o Coral da Sociedade Hebraica de Niterói, o Coral Litúrgico da CIP, o Coral Sharsheret (WIZO-SP), e a Orquestra Jovem das crianças da CIP, dentre outras formações. Também cabe apontar a figura de Fred Figner, fundador da Casa Édison e da gravadora Odeon, responsável pelas primeiras gravações de música brasileira no século XX. De fato, Figner pode ser considerado como um dos principais nomes da história da indústria fonográfica brasileira, fundamental para o seu desenvolvimento. Outras gravadoras também desempenharam ou desempenham um papel importante no mercado fonográfico brasileiro, tais como a Companhia Industrial de Discos (CID) de Herman e Harry Zuckerman, a Revivendo Discos (de Leon Barg) e a Rozemblit (selo de Recife, responsável pelo lançamento de grande parte da produção musical de Pernambuco e do Nordeste, e inclusive pelos primeiros discos da chamada “psicodelia nordestina”, de Zé Ramalho e cia.), e a Abril Music, do grupo editorial dos Civita. Cabe destacar aqui a figura do crítico e historiador musical Otto Maria Carpeaux, outro dos “presentes” de Hitler à cultura brasileira, cujos livros são obras indispensáveis para quem quer aprofundar-se no campo dos estudos teóricos sobre a música erudita. O escritor Hugo Schlesinger também dedicou-se a escrever sobre música, o mesmo acontecendo com Cláudio Galperin, dentre tantos outros. A atuação do produtor musical Carlos Alberto Sion, no campo da MPB e do rock brasileiro, é das mais importantes. Outrossim, Roberto Medina, criador do “Rock In Rio”, é figura de grande destaque na área da produção de shows musicais. Vários outros produtores destacam-se semelhantemente neste campo. Cumpre destacar, ademais, a atuação de vários judeus no rádio e na televisão, que, em seus respectivos programas, abrem espaços para a música, em maior ou menor grau: Sílvio Santos (Senior Abravanel, criador do SBT), Serginho Groisman, Luciano Huck, Didi Wagner, Kid Vinil, etc. O apresentador infantil Daniel Azulay também é músico. A revista e TV Manchete também abriram importantes espaços para a divulgação da música. A editora Abril, da mesma forma, vem se destacando pela atenção que tem dado à divulgação da história musical, sendo clássicas diversas de suas coleções, como as que abordam a história da MPB, do jazz, da música erudita, etc. O cineasta Jom Tob Azulay desempenhou um papel importante no registro visual da música brasileira, sendo o responsável pelo clássico documentário “Os Doces Bárbaros”, show que reuniu os baianos tropicalistas (Caetano, Gil e Gal, e mais Bethânia). A advogada Débora Sztajnberg, especializada na área de direitos autorais, é presidente da ABRAFIN, associação brasileira de festivais independentes. É importante lembrar aqui a significativa contribuição que os clubes e associações judaicos deram e dão à difusão da música, em suas mais variadas formas, abrindo espaços não apenas para apresentações voltadas à comunidade judaica, mas também para a comunidade mais ampla. Basta lembrarmos que o primeiro show em que foi utilizada a expressão “Bossa Nova”, para definir os artistas que iriam se apresentar em uma noitada musical, foi na sede da Grupo Universitário Hebraico, do Rio de Janeiro. Neste sentido, no centro do país é destacada a atuação de clubes tais como a “Hebraica”, bem como do Centro de Cultura Judaica, dentre outras entidades. IMIGRAÇÃO JUDAICA NO RIO GRANDE DO SUL No caso específico do Rio Grande do Sul, a imigração, então ainda bastante rarefeita, começou pelo sul do Estado, região que foi uma das primeiras a ser ocupada territorialmente de forma mais efetiva no extremo sul do país. Assim, especialmente a partir do final do século XIX, começaram a surgir alguns judeus em Pelotas, Rio Grande, e outras cidades da chamada região sul do Estado, e logo aportam outros em Porto Alegre, tanto ashkenazis quanto sefaradis. Contudo, a imigração judaica no hemisfério sul da América teve realmente como seu grande impulso o fato de o Barão Maurice de Hirsch ter adquirido colônias agrícolas na Argentina, no Uruguai e no Rio Grande do Sul, numa tentativa de salvar alguns judeus assolados pelos pogroms na Rússia e nas regiões eslavas, no início do século XX, fixando-os como agricultores no Novo Mundo. Assim, em 1903 foi criada a primeira colônia agrícola da ICA (Jewish Colonization Association) no Brasil, em Filipson, fazenda localizada hoje no município de Santa Maria, tendo se radicado ali algumas famílias da Bessarábia. Posteriormente, nas cercanias dos atuais municípios de Erechim, Getúlio Vargas e Passo Fundo, na fazenda Quatro Irmãos, foram criadas outras colônias agrícolas, tais como as de Barão Hirsch e de Baronesa Clara (este último nome foi dado em homenagem à esposa do Barão, e a colônia também é conhecida como Chalé; foi ali que se fixou meu bisavô materno, Isaac Schuchman e família, incluindo minha avó, Maria Ratner). Devido a uma série de fatores, dentre eles a má qualidade do solo, que resultou em várias colheitas frustradas, as pragas que consumiram lavouras e abateram os animais, a inexperiência em atividade agrícola de alguns colonos (embora vários deles já exercessem a agricultura na Europa, caso de meu bisavô), e, especialmente, o advento da Revolução de 1923 (e depois da de 1930), em que as colônias foram assaltadas e saqueadas pelas tropas em conflito - chegando a ter sido morto um dos colonos -, fatos que trouxeram à lembrança dos moradores as perseguições infligidas aos judeus pelos cavaleiros cossacos, boa parte deles passou a fixar-se nas cidades do entorno das colônias; outros, ainda, vieram a estabelecer residência em várias cidades do interior do RS, e também na capital do Estado. Até hoje, contudo, boa parte das terras adquiridas pela ICA é de propriedade de fazendeiros judeus (um dos quatorze irmãos de minha avô, o “Tio Chico” Schuchman, esteve à testa de suas terras até falecer, há uns anos atrás). A vinda destes colonos para a capital do Estado “engrossou” sobremaneira a comunidade já instalada aqui (que contava especialmente com ashkenazis, mas também com alguns sefaradis), gerando ou fortalecendo a maioria das instituições que até hoje se mantém ativas na comunidade judaica gaúcha (Colégio Israelita Brasileiro, sinagogas, cemitérios, clubes sociais, movimentos juvenis, e a própria Federação Israelita). A estes foram se somando, lá pelos anos 20 e 30, rapazes solteiros e alguns casados vindos da Polônia e cercanias, que, trabalhando em atividades geralmente braçais, e, especialmente, no pequeno comércio ambulante, conseguiram juntar algumas economias, de forma a possibilitar o envio das “cartas de chamada” a familiares que haviam ficado na Europa (foi o caso de meu avô paterno, Aron Isaac Kirschbaum, que chegou sozinho a Porto Alegre, e, mascateando, conseguiu juntar o suficiente para trazer a família que havia ficado em Sokal, na Polônia, por navio, incluindo o meu pai, Joel Kirschbaum, então com quatro anos). Com o advento do nazismo, começaram a aportar também na capital gaúcha judeus alemães, que, embora geralmente tivessem um nível social, intelectual e cultural bem mais elevado em seu país de origem, em relação aos judeus do leste europeu, aqui passaram grandes dificuldades para reestruturar suas vidas, espoliados que foram pelos nazistas. Após o Holocausto, alguns poucos sobreviventes vindos da Europa também chegaram a fixar-se aqui. E, com a perseguição ocorrida nos países árabes, acirrada especialmente a partir da criação do Estado de Israel, judeus sefaradis, vindos em sua maioria do Egito, completaram uma das últimas ondas imigratórias de maior expressão, assomada nos anos posteriores por alguns migrantes vindos de outras partes do Brasil, e, ainda, por outros imigrantes chegados da Argentina e do Uruguai. Esta é a origem, em linhas gerais, da comunidade judaica gaúcha atual, que, naturalmente, dá substrato e lastro à contribuição feita por elementos a ela vinculados à música do sul do país, que pretendemos agora abordar. No campo da música erudita, temos figuras de grande importância. Alguns são descendentes dos primeiros colonos; outros, vieram para a América do Sul e o Brasil escapando das hordas nazistas, e já atuavam profissionalmente como músicos em seus países de origem, especialmente na Alemanha e na Hungria. Podemos citar, então, nomes tais como o do maestro Pablo Komlós, que organizou a Ospa (Orquestra Sinfônica de Porto Alegre) quando de sua formação, e esteve à sua testa como regente por décadas; o do maestro Hans Henrich Peyser (que atuou à frente da orquestra da Rádio Farroupilha); os de Roberto Szidon, Flávio Chamis (que também foi maestro da Ospa), Ida Weisfeld, Boris Waiss, Helena Wainberg, Dirce e Carla Knijnik, Nei Fialkow, Esther Scliar, Maly Weisenblum, Norberto Zuckerman, Rodolfo e Gertrudes Meyer, Daniel Wolff, Marcelo Guerchfeld, Alexandre Starosta, dentre outros. Cumpre ressaltar que a Ospa já contou com três regentes judeus: além de Pablo Komlós e Flávio Chamis, atualmente está à sua testa Isaac Karabtchevsky. Em termos de música popular, a contribuição judaica ao universo musical gaúcho foi/é das mais importantes. De fato, em praticamente todos os movimentos e tendências relevantes da história da MPB e da música gaúcha, vamos encontrar representantes judeus dando a sua dose de contribuição. Assim é que, por exemplo, na “velha guarda”, encontramos nomes como o do compositor Jayme Lubianca, que compôs a clássica “Porto dos Casais”, gravada por inúmeros cantores, inclusive por Elis Regina e Sílvio Caldas. Destacaram-se também a orquestra de jazz de Maurício Kahan, e Maurício Kothlar, saxofonista que participou da orquestra de Paulo Coelho, este um dos mais destacados nomes da cena musical gaúcha da primeira metade do século XX. O pianista Herbert Gehr igualmente foi muito atuante. Os Pipinelas, grupo dos pais e do tio de Cláudio Levitan, também marcaram presença, especialmente animando festas (Cláudio, aliás, no CD “Minha longa milonga”, fez uma tocante homenagem ao primo do pai, morto no Holocausto na Lituânia, misturando ritmos próprios da música gaúcha, como a milonga, com elementos da música ídiche). Na bossa nova, temos compositores tais como César e Paulo Dorfman, e Manoel Chotguis (que formavam o Grupo Mutirão, com José Sinovetz, Alberto Gropocopatel, Moisés do cavaquinho, Renato Axelrud, mais Ivaldo Roque). Simão Goldman compôs o clássico “Hino ao Rio Grande”, interpretado por ninguém mais, ninguém menos, que o “papa” do tradicionalismo regionalista, e mentor dos CTG’s, Paixão Côrtes, que serviu de modelo à estátua do laçador, símbolo universal do gaúcho. Em termos de rock sessentista, por exemplo, podemos apontar os Bachfuls (banda que se formou no CIB, de que participou Cláudio Levitan). Mas é, sem dúvida, no campo do rock gaúcho, do jazz e da MPB, considerados especialmente a partir dos anos 70, que vamos encontrar uma grande participação dos netos e bisnetos dos primeiros imigrantes: Levitan e os Tripulantes (Cláudio e Karina Levitan)/ Charles Master e Nei Van Sória (ambos do TNT)/ Frank Franklin/ Ilan Himelfarb/ Os Eles - Leandro Branchtein, Régis Dubin (posteriormente da Off the Wall), Darwin Gerzson, Léo Henkin (atualmente no Papas da Língua), Dannie Dubin)/ Carlos Maltz (Engenheiros do Hawaii)/ Grupo Ensaio - Mauro Rotenberg, Beto Rotenberg, Breno Starosta, Ricardo Faertes, Keko, José Irineu Golbspan/ Marisa Rotenberg/ Luisinho (Kruter) Santos/ Rogério Hochlitz/ Dzaghury/ Sidnei Schames (Sidito, atualmente na Sombrero Luminoso)/ Cláudio Spritzer (Banda de Banda, editor do jornal Hienas)/ Eliane Strazas/ Os Dorfman: Paulo, César, Charlote, Michel, Jorge, Lúcio (ex-Engenheiros do Hawaii)/ Daniel Tessler (Os Efervescentes)/ Lúcio Chachamovich (Miscelânea K)/ Márcio Grobocopatel (Ultramen)/ Nico Nicolaiewsky (Saracura/ Tangos e Tragédias)/ Renato Cohen (Motivos Óbvios)/ Arthur Nestrowsky/ Cláudio Bonder (da banda Nethra, e que foi chazan da SIBRA por muitos anos)/ Sérgio Olivé/ Rogério Goldman/ Edu Kautz (DJ)/ Clarah Averbuck (mais conhecida como escritora)/ Israel Tchernin (o Suli, que foi meu professor de música israeli no CIB, e que está radicado há tempos em Israel, onde mantém um conjunto de MPB)/ Mauro Kwitko/ Roberto Meimes (Doctor Jazz band)/ Celso e Fábio Iuck/ Paulo Brody (10000KPNR)/ Philip Braunstein/ Luis (Neco) Turkienicz/ Dan Berger/ Gilberto (Giba) Skolnikov/ Joel Faerman/ Fernando Maltz/ Clóvis Soibelman/ Guilherme Procianoy/ Banda Selton – Ramiro Levy, Daniel Plentz, Eduardo Dechtliar, Ricardo Fischmann/ Fábio Milman/ Gustavo Hercovits (Os Torto)/ Marcelo Citrin/ Paulina Nudelmann, dentre tantos outros. A atuação de apresentadores, radialistas e locutores judeus em programas de rádio e televisão, de auditório e de estúdio, também é relevante. Basta lembrar dos nomes de Maurício Sobrinho (Sirotsky, fundador da RBS), Pedrinho Sirotsky (com seu antológico “Transasom”), Hélio Wolfrid, Guilherme Sibemberg, Gildo e Túlio Milman, Jayme Copstein, dentre muitos outros. Júlio Rosenberg, gaúcho de Pelotas, que por muitos anos esteve radicado no centro do país (até voltar, no início dos anos 70, ao sul), foi um dos apresentadores de programas de auditório mais importantes do país, sendo um dos primeiros a abrir espaços para a ainda não assim denominada “jovem guarda”, nas figuras dos então iniciantes Roberto e Erasmo Carlos, Wanderléa, Jerry Adriani, etc. Cumpre ressaltar também a importantíssima atuação do ator Aron Menda e de dona Eva Sopher, à testa do Theatro São Pedro, a centenária e mais importante casa de espetáculos do RS. Dona Eva, que já desenvolvia um importante papel na difusão da música erudita no RS, por estar à frente aqui da “Fundação Pro-Arte”, foi a “grande timoneira” da reforma que reergueu o teatro centenário, e está à testa de sua ampliação, consubstanciada no “multipalco”. Impende sublinhar a circunstância, a par de várias outras, de que, sob sua gestão, diversos projetos culturais importantes, gratuitos e abertos ao público em geral, foram criados, ampliando o contato da população em geral com esta casa de espetáculos que, tradicionalmente, era bastante associada como espaço privilegiado da elite, abrindo igualmente oportunidades a um grande número de artistas locais. Vale invocar, neste sentido, os projetos “O Choro é livre”, “Blue Jazz” (de que participei algumas vezes) e “Música ao meio-dia”, dentre outros. Herbert Caro, além de ser um dos principais tradutores da literatura de língua alemã (especialmente Thomas Mann), era grande conhecedor de música erudita, e mantinha uma importante coluna no Correio do Povo, então o maior jornal gaúcho. Caro foi um dos integrantes da comissão que fundou a Ospa. O advogado Miguel Weisfeld foi diretor e fundador da Ospa. Rubem Oliven também merece destaque pelos livros e artigos que escreveu sobre a música popular brasileira. Maurício Rosenblatt, nome que se imortalizou em relação ao mercado literário gaúcho e brasileiro, em vista de sua atuação junto à Livraria do Globo e outras editoras, tendo sido um dos idealizadores da Feira do Livro de Porto Alegre, antes de dedicar-se ao mercado das letras teve também atuação destacada no ramo da comercialização de aparelhos fonográficos, tendo gerenciado a Casa Victor, loja importantíssima para o desenvolvimento do mercado fonográfico e inclusive da radiodifusão na capital gaúcha. No campo do jornalismo cultural, temos nomes como o de Fábio Prikladnichi, que atuou na revista Aplauso. No mercado fonográfico, deve ser sublinhada a atuação da gravadora RBS Discos, que deu uma importantíssima contribuição ao registro de diversos trabalhos no campo da música popular (MPB, rock e nativismo) e erudita. Mais recentemente, o selo Orbeat, dedicado ao pop rock gaúcho, desempenhou um forte papel. A gravadora Kives também realizou alguns lançamentos de música popular gaúcha. Naturalmente, o papel desempenhado pela RBS, através de seus diversos veículos (jornais como Zero Hora, Diário Gaúcho, Pioneiro, Diário Catarinense, etc.; rádios como a Gaúcha, Farroupilha, Atlântida, Cidade, Porto Alegre; canais de TV como a RBS TV – antiga TV Gaúcha – e a TVCOM), é de grande importância para o universo da música feita no RS. Também destacam-se produtores que atuam no campo da música, tais como Ilton Carangacci, e de Renato Sirotsky, responsável pela organização do Planeta Atlântida, da Rádio Atlântida FM (RBS). Cabe apontar também lembrar dos programas de rádio especificamente voltados à comunidade judaica gaúcha, veiculados, no mais das vezes, em emissoras de grande expressão, e alguns casos ocupando horários nobres, que tomaram para si a tarefa de difundir a cultura judaica junto a seus membros e também à divulgação desta mesma cultura ao público em geral. O principal deles, e que até hoje vem prestando um serviço imensurável à comunidade do RS, é a “Hora Israelita”, que já passou por várias emissoras. O programa, ao longo do tempo, foi comandado por diversos locutores membros da comunidade judaica gaúcha, que, apesar de geralmente serem amadores, fizeram sempre um trabalho radiofônico da melhor qualidade. Aproveitamos para homenageá-los na figura do querido professor David Iasnogrodsky, que, por exemplo, concedeu-me a honra de um convite para ser entrevistado nos microfones da Rádio Princesa (Jornal do Comércio) em uma ocasião. O programa, de fato, sempre abriu espaço para a música feita por membros da comunidade judaica gaúcha, além de veicular muita música ídiche e israeli. Atualmente, é apresentado por Roberto Schotkis (Betão), meu contemporâneo do CIB e da Faculdade de Direito da UFRGS. Igualmente, merecem ser destacadas as formações musicais constituídas dentro da comunidade judaica, para o seu consumo interno, e, eventualmente, externo, tais como, por exemplo: a Orquestra de Baronesa Clara (formada pelos filhos dos primeiros colonos, e que animava as festividades na colônia), o Coro de Passo Fundo (organizado por Samuel Chmelnitzki), o Conjunto Shalom (do CIB), o Coral Viva Vida, o Coral Zemer (das Pioneiras), o Coro da Sibra, o Grupo Lechaim, dentre outros. Também merecem ser lembrados, pela sua atuação em eventos e festas da comunidade, os irmãos Menashe e Bioniomin Roitman, e Busi Trachtenberg. Cabe também aqui invocar os nomes dos regentes de coros, como Josef Neumann, Werner e Kurt Katz. Vale registrar, naturalmente, a atuação destacada de inúmeros chazanin que atenderam à comunidade judaica nas sinagogas e nos serviços religiosos do RS. Seria evidentemente impossível listar todos aqueles que atuaram no comando dos serviços religiosos das diversas sinagogas ao longo de praticamente um século, mas podemos citar, à título de exemplo, os nomes de Benzion Spritzer, Abrão Chuchman, Henrique Soibelman, Maurício Laks, David Eizerik, Rubens Turkienicz, Ricardo Brozensky, Moacir Sibemberg, Benjamin Strazas, Isaac Rubinstein, Júlio Glock, dentre tantos outros. A SIBRA, - sinagoga de rito liberal que congrega os judeus de origem alemã -, muito especialmente vem se destacando pela grande qualidade musical de seus serviços religiosos, que contam com chazanim (cantores) e instrumentistas de grande desenvoltura. Se formos homenagear a todos os chazanin em um nome, Jacob Citrin, sem dúvida, merece sê-lo, por tratar-se de uma grande figura humana, dotada de muito humor e afeto. Quando do falecimento de meu pai e de meu avô, em um período em que compareci à sinagoga do Centro Israelita, a fim de realizar as rezas em sua homenagem, pude privar um pouco do convívio deste grande personagem, algumas vezes descendo a rua Fernandes Vieira orgulhosamente de braços dados com este ícone do judaísmo gaúcho, que deixou muitas saudades. Cumpre ressaltar que o teatro ídiche exerceu um papel muito importante para a coesão e a confraternização da comunidade judaica do RS ao longo do século XX, especialmente até os anos 60. Seguidamente, a comunidade se mobilizava para trazer à capital gaúcha artistas e companhias de teatro ídiche internacionais, lotando as dependências do Theatro São Pedro. Aliás, os levantamentos acerca do conjunto dos espetáculos realizados no Theatro, até o seu fechamento para reforma, indicam que o teatro ídiche foi uma das atividades de maior constância e sucesso de público. Aos artistas destas companhias, muitas vezes, acresciam-se artistas amadores locais, que compunham o elenco. Como é sabido, e já ressaltamos anteriormente, a música é um dos elementos mais importantes na estética do teatro ídiche. Espetáculos do gênero também eram realizados no Círculo Social Israelita e no Centro Israelita. Em termos de espaços culturais, diversas salas vinculadas à comunidade judaica exerceram um papel relevante dentro do cenário cultural de Porto Alegre. O Clube de Cultura e o teatro do Círculo Social Israelita deixaram a sua marca como importantes locais para a difusão da música feita na capital gaúcha, abrindo espaços para muitos artistas, especialmente no campo da música popular. O Círculo Social Israelita, pode-se dizer, desempenhou o papel mais importante em termos sociais dentre os clubes da comunidade judaica gaúcha (além dele, havia o Grêmio Esportivo Israelita, mais centrado no esporte, que foi fundido ao mesmo, formando a Hebraica, e o Campestre, cuja atuação continua considerável). Os bailes do clube eram muitíssimo concorridos, até pelo menos os meados dos anos 70. Nestes bailes, em que geralmente eram contratados para a animação conjuntos consagrados da capital gaúcha, muitas vezes ocorriam shows de grandes nomes da música brasileira e até internacional. Passaram pelo palco do clube nomes bastante famosos, no auge de sua fama, tais como Chico Buarque, Jorge Ben, Eliana Pitman, Wilson Simonal, Malcom Roberts, etc. O CIB (Colégio Israelita Brasileiro) chegou a realizar alguns festivais de música, sendo que determinados eventos foram abertos à participação da comunidade gaúcha em geral. Estes festivais foram importantes como espaços de abertura aos músicos então iniciantes. Nico Nicolaiewsky, por exemplo, foi o vencedor do festival de 1974. O CIB, aliás, sempre teve como proposta proporcionar aos alunos, em alguma medida, o contato com a música, não apenas judaica, mas também gaúcha, brasileira e universal. Só para dar um exemplo, assisti, como aluno, um célebre show de Teixeirinha e Mery Terezinha, ícones maiores da música regional gaúcha, no auditório do colégio. Também era costumeiro assistirmos a apresentações da OSPA. Esta proposta continua sendo levada a efeito nos tempos atuais, estimulando a criação musical e artística do corpo discente (aliás, cabe dizer que foi num concurso de músicas sobre a poluição, feito em minha turma, que pela primeira vez experimentei compor uma música e me apresentar em público, numa parceria “vencedora” com o meu amigo e colega Joel Fridman, hoje presidente da Hebraica-RS).
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Pós-Judaísmo: Não Há Judaísmo, Há Judeus HELIETE VAITSMAN (*) [ Revista 18 – jun/ago 2008 ] Desmentida exaustivamente pelo menos desde o Iluminismo judaico do século XIX, a noção de que os judeus constituem um bloco de pensamento e comportamento, em geral conservador e fechado (e, nos últimos anos, alinhado aos Estados Unidos e a todos os governos israelenses), ainda domina o imaginário coletivo. Sabemos que nada está mais longe da realidade do que essa pretensa uniformidade, já que entre as características comuns do judaísmo (ou dos “judaísmos”, como preferem alguns) está a pluralidade de idéias, estimulada pela inexistência de uma estrutura burocrática central. Pluralidade tão antiga que no Talmude sempre se encontram ao menos duas posições frente ao mesmo problema, e reiterada pelos movimentos sociais e intelectuais dos últimos dois séculos. Um conceito recente, o pós-judaísmo, postula a máxima “não há judaísmo, há judeus”, utilizando a categoria do pós-moderno (que pretende acolher a pluralidade de vozes e rejeita a imposição de modelos), e nos chama a atenção em virtude da forma original e da origem latino-americana. A busca de pertencimento judaico fora do âmbito religioso não é, obviamente, uma novidade; o que é novo são as formas de expressá-la. Neste início do século XXI, um exemplo dessa procura é o sucesso, na Argentina, do “movimento” YOK – junção de Yo (eu) e OK, subentendendo-se que “eu me sinto OK sendo judeu” - que reúne milhares de judeus em atividades culturais, artísticas e sociais, inclusive com um Pessach laico em praça pública que já está se tornando tradição em Buenos Aires: são judeus de múltiplas identidades que se juntam, mesmo sem terem muito em comum senão seus próprios e subjetivos sentimentos, e assistem a apresentações musicais, concursos gastronômicos, conferências, lançamento de livros. Não há nisso objetivo institucional: uma característica do “movimento” é não se pretender fundador nem didaticamente transmissor. Segundo o filósofo Darío Sztajnszrajber, professor do Seminário Rabínico Latino-Americano e da Universidade de Buenos Aires, e um dos articuladores do pensamento pós-judaico argentino, este prescinde de denominador comum e regras fixas. Não quer ser um marco demarcatório e excludente, nem substituir por “novos arautos” os autoproclamados herdeiros da tradição. Conforme pesquisa de dois anos atrás, a maioria dos judeus de Buenos Aires e Grande Buenos Aires não freqüenta as instituições comunitárias, porém defende que “ser judeu” lhe é essencial e busca padrões de pertencimento em valores culturais compartilhados (os números das eleições comunitárias brasileiras indicam que tampouco aqui a maior parte dos judeus vive o cotidiano institucional). Então, que cada um seja judeu ao seu modo, declara o sítio , que convida os interessados à busca de novas formas de relação em marcos informais (1). “O pós não substitui, des-dogmatiza; não supera, re-significa”, escreve Sztajnszrajber (2). “Os judeus somos um horizonte de tribos fragmentadas, cada uma vivenciando à sua maneira o que é o judaísmo. O problema se manifesta quando alguma das tribos pretende constituir-se como o paradigma único do povo judeu”, assinala ele. Esse tipo de busca, que não pressupõe uma reta de chegada, retoma a querela clássica entre Apolo, deus da racionalidade e da norma, e Dionísio, deus do “imediato”, que oferece uma aproximação ao judaísmo menos constrangida por regras. Afirma Sztajnszrajber que o pós-judaísmo é “um retorno constante sobre um judaísmo que buscou denodadamente sua própria definição, integrando, e nesse ato impondo e excluindo”. Assim, o retorno, ao buscar desdogmatizar o “autoritário do judeu”, é “uma abertura que dialoga com as normas, as faz verem-se como tais no espelho e clama por uma pós-identidade judia que escape ao idêntico”. Isso implica levar as questões de identidade “ao plano do dionisíaco, perder-se conceitualmente para ganhar em sensibilidade”. A falsa impressão da uniformidade judaica remete às noções de estranheza e alteridade. “Existem amigos e inimigos. E existem estranhos”, assim o sociólogo Zygmunt Bauman, um dos principais pensadores da modernidade/ pós-modernidade, abre o segundo capítulo do livro Modernidade e Ambivalência (3). Adiante, ele explica por que o judeu foi na Europa o estranho por excelência, muito mais ameaçador que o mero inimigo, pois, ao contrário deste, o estranho jamais deixa de sê-lo, malgrado seu eventual êxito ou riqueza. Para os judeus, a marca da estranheza que o Ocidente lhes grudou ao longo dos séculos, desde a acusação de deicídio, abriu espaço, “por um sinistro paradoxo”, na expressão de Bauman, à criatividade intelectual intensa que se sedimentou como cultura moderna e foi resultado, acrescenta, da “intolerância da modernidade”, não da sua aparente abertura. Os judeus dos séculos XIX e XX quiseram acreditar, como aponta o sociólogo Bernardo Sorj, pensador do judaísmo, diretor do Centro Edelstein de Pesquisas Sociais e professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que a modernidade era um conjunto de valores universais e coerentes que permitiriam a sua integração nas sociedades onde se encontravam. A realidade desmentiu a suposição – não bastou aos judeus europeus adotar certas atitudes nem visões de mundo para integrar-se. Agora, a marca da estranheza já não parece indelével - sobretudo nas Américas e nas democracias européias -mas a História ensinou os judeus a desconfiarem das certezas. Num mundo contemporâneo no qual reivindicações étnicas e xenofobias ancestrais são amplificadas diariamente pela mídia, ainda é complexo o trânsito entre diversas culturas. Para quem não pretende viver em caixas fechadas, mas ao mesmo tempo aprecia a herança recebida, conviver dentro do monopólico universo judaico mencionado por Sztajnszrajber não raro se configura um dilema, tão crucial quanto o do “abandono” das raízes em benefício de outras identidades. Não é surpreendente, portanto, que as indagações em torno do significado do pertencimento judaico continuem a produzir milhares de páginas de filósofos, rabinos, eruditos, sociólogos e escritores. Grosso modo, pode-se dizer que, se é impossível entender os judeus sem a religião e sua narrativa coletiva, tampouco se pode entendê-los sem o laicismo (no qual o ateísmo é uma das variações) e sua liberdade individual tão cara à tradição ocidental. Os religiosos não têm dúvidas sobre aquilo que querem transmitir. O rabino Jacob Neusner, um dos mais prolíficos autores religiosos norte-americanos e interlocutor do Papa Bento XVI, ensina que um dos aspectos distintivos da religião judaica é que nela o fiel - que não aspira à salvação individual, como em outras fés, mas tem seu destino ligado ao coletivo “Israel” - deve assumir para si a narrativa fundadora da condição humana que a religião faz. É uma narrativa que exige apego permanente à letra da Lei. “Ser judeu praticante é narrar, a respeito de si mesmo e da própria família, a história narrada desde a Escritura judaica”, afirma Neusner (4). O relato, que traz o passado ao presente, aceita como judeus todos aqueles, inclusive os conversos, que legitimamente narram sobre si mesmos as narrativas da Torá (os Cinco Livros de Moisés – Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio), enquanto cumprem seus ritos. Sorj ressalta a centralidade da resistência na narrativa judaica, que se manifesta em vários níveis: por exemplo, nossa festa mais “alegre”, Purim, o carnaval judaico, tem como motivo que os judeus foram salvos pela Rainha Ester do genocídio! Mas as tendências renovadoras da religião têm limites, acrescenta. “Quem sabe, ao menos hoje em dia, ajudaria mais reconhecer que o judaísmo não possui respostas para todos os desafios do mundo contemporâneo e que, pelo contrário, como uma tradição que se desenvolveu em outras épocas, contém muitos elementos que não são atuais e não se conjugam com uma perspectiva democrática e radicalmente humanista” (5). Com efeito, a contrapartida ao papel de outro exercido pelo judeu no Ocidente -- ainda que um outro íntimo e estável, sem o qual não se vive (6) – foi a criação pelo judaísmo rabínico de um grande número de alteridades parcial ou totalmente excluídas (das mulheres, dos homossexuais, dos supostamente desiguais). Os excluídos de hoje, contudo, falam alto. O compromisso identitário não se sujeita aos monopólios de sentido e poder político, religioso e econômico do judaísmo institucional. A auto-identificação prescinde da subserviência: o indivíduo se permite viver seu judaísmo como parte de um conjunto de valores, afetos e relatos que constituíram sua personalidade. Sons, ética, poesia, odores, empatia, encontro com o divino ou a ancestralidade – tudo cabe na escolha. Pode-se dizer que tudo também cabe na rejeição: quando ofereceram ao historiador Marc Bloch, membro da Resistência Francesa, o apoio de um rabino, minutos antes da sua execução pelo pelotão de fuzilamento nazista, ele respondeu que morria como francês, não como judeu. A identidade que ele se atribuía não era a mesma que o totalitarismo lhe impunha. No tocante à transmissão da herança laica do judaísmo, à medida que o Holocausto e o sionismo, os dois grandes momentos que marcaram o judaísmo do século XX, deixam de fazer parte da experiência vivida, crescem as dúvidas. A fragmentação produziu um cenário em que um ultra-ortodoxo é, para o judeu secular, muito mais estranho que o não-judeu. Das novas rupturas emergem “novos rituais, cultos seculares, como o da memória da Shoah, que se quer unificador (...) Mas esse judaísmo é viável a longo prazo?” (7). Indagação instigante, pois em pouco tempo desaparecerão os últimos testemunhos vivos do Holocausto e se enfraquecerão os laços dos judeus com o Estado de Israel – país cada vez mais “normal” e, portanto, incapaz de manter o status de guardião moral que o tornou, há seis décadas, um ímã para idealistas de todos os matizes. Perguntas não faltam. Como manter o interesse das massas de jovens judeus ocidentais, entre eles centenas de milhares de filhos de casamentos mistos? Como superar tanto o desinteresse pela política e pelas instituições, por um lado, quanto, por outro, a crescente banalização da experiência espiritual promovida pelas múltiplas “ofertas” existentes naquilo que os estudiosos norte-americanos chamam de “mercado religioso” (em que o “cliente” troca de opção sem traumas, de acordo com sua necessidade imediata)? O misticismo viverá novo auge, com profetas barbudos pregando assombros? Ou se consolidarão as sinagogas liberais, com projetos sociais, a partir de países como a Alemanha? Ou tudo acontecerá ao mesmo tempo, marca do pós-moderno? Uma parte das propostas de mudanças reitera o consagrado e sugere alterações não estruturais que mantêm o status quo – ao estilo do príncipe Salina em O Leopardo, pregando a necessidade de modificar alguma coisa para que tudo fique como está. Uma alteração significativa entre judeus reformistas e conservadores, mas ainda numericamente restrita, tem sido a ordenação de mulheres como rabinas. Longe estão, para elas, os dias em que menstruação era sinônimo de impureza e afastamento. O ritual, porém, é o mesmo. Cada país, cada comunidade, faz as mudanças ao estilo local – onde senão na Califórnia e na costa leste dos EUA haveria tantas sinagogas GLS (gays, lésbicas e simpatizantes), ou, no marco caricatural, cãezinhos enfeitados com kipá? (e por que não, perguntam-se seus donos, já que os pets também usam sapatinhos, laçarotes, e cosméticos?). Ora, se naquele país as mulheres cristãs ostentam, no Natal, brincos com luzes pisca-pisca e colares em forma de pinheirinho, sobre suéteres com o rosto de Papai Noel, esse tipo de consumo pode ser tão indicativo de pertencimento quanto outro qualquer. Não há mais uma instância consagrada a impor limites entre o aceitável e o ridículo, entre o interno e o externo. Quem diz quem pode entrar na comunidade e quem deve sair dela? “Que lei do ventre impediria a sensação sublime de alguém se sentir judeu?” – pergunta Sztajnszrajber, contestando a norma de que judeu é tão somente o filho de mãe judia. Como não recordar a bíblica Rute, moabita que escolhe permanecer com a sogra após a morte do marido, tornando-se ancestral de ninguém menos que Davi? Judeu é todo aquele que aceita a Torá, pondera o rabino Neusner, lembrando que as definições já teriam deixado de fazer sentido, no debate secular contemporâneo, se não fosse a necessidade de responder, desde 1948, à pergunta “quem é judeu?” para atender à lei israelense, que concede automaticamente a cidadania a todo filho de mãe judia que a solicita. A participação grupal salva o indivíduo da solidão que a liberdade produz. Não é para acolher que também servem os grupos, sejam eles religiosos, políticos ou de auto-ajuda? O laicismo judaico, todavia, pode ser igualmente acolhedor ao não buscar a “verdade” produtora de ansiedade. Sobre isso, diz Darío Sztajnszrajber (8). “...Nascemos judeus e nossa tarefa é fazer algo com isso, mas fazer algo de fato, isto é, fazê-lo com liberdade absoluta. Poder duvidar, crer, renunciar, voltar, poder tomar o todo, uma parte ou simplesmente nada e no dia seguinte arrepender-se, ou não. Este novo laicismo focalizará em cada pessoa sua história particular. Alguns buscarão seu judaísmo através da Bíblia, mas outros o farão a partir da arte e outros a partir da comida, dos odores, das lembranças. Mas todos se saberão judeus. (...) Nascemos judeus sem saber por que e assim morreremos: sem respostas, embora no meio percorramos caminhos. E depende da nossa liberdade nesse percurso que a busca seja a mais plena possível. Todavia, que difícil é pensar em nós deste modo! Assumir que morreremos sem respostas! Aceitar que preferimos percorrer caminhos a chegar a algum lugar! Se compreendemos que ser laicos é, antes de tudo, desembaraçar-nos da verdade, a ansiedade metafísica se enfraquece. Ser ateu ou ser religioso implica certezas. Ser laico não implica, desarma...” E é dentro desse espírito desarmado que descrer de valores judaicos sempre idênticos a si mesmos não significa menosprezar as lições de humanismo e ética dos nossos maiores eruditos. Ao contrário. Uma história famosa sintetiza a prioridade da justiça e da vida - ou seja, da dignidade e da liberdade do outro - sobre o rito (é uma interpretação, entre outras possíveis): Um gentio apresentou-se ao sábio Shamai [adversário do sábio Hilel], dizendo-lhe: “Converte-me sob a condição de me ensinar a Torá enquanto eu estiver de pé sobre uma só perna”. Shamai, conhecido pelo rigor formal e o caráter impaciente, o expulsou com a régua que tinha nas mãos. Apresentou-se então o gentio diante de Hilel e fez o mesmo pedido. Hilel disse: “Não faças ao teu próximo o que não queres que te façam. Essa é toda a Torá; o resto é comentário. Agora vai e estuda.” (Tratado Shabat 30-B-31 A, no Talmud da Babilônia, citado por Jacob Neusner). A recomendação de Hilel – que vem do Levítico 19:17-18 (9) – não só retira o ser humano do centro de fatos absolutos mas afirma o valor do esforço: “vai e estuda” sugere que o aluno (e o judeu, nessa tradição, é sempre aluno, pois sempre há o que aprender) examine cada questão, grande ou pequena, pois só assim poderá enxergar os detalhes e ouvir as razões do interlocutor. Nada mais judaico e nada mais pós-judaico, então, que a abertura ao diálogo. 1 - www.yoktime.com – acesso em 15.03.2008 2 - Posjudaísmo – Debates sobre lo judío en el siglo XXI – organizador Darío Sztajnszrajber (Prometeo Libros, 2007) 3 - Modernidade e Ambivalência, Zygmunt Bauman (Jorge Zahar Editor, 1999) 4 - Introdução ao Judaísmo, Jacob Neusner (Editora Imago,2002). 5 - Judaísmo para o Século XXI, com Nilton Bonder (Editoria Jorge Zahar, 2001); ver também artigos do autor em 6 – Le Juif et l’Autre – Esther Benbassa e Jean-Christophe Attias (Le Relié, 2002) 7 – Le Juif et l’Autre – Esther Benbassa e Jean-Christophe Attias (Le Relié, 2002) 8 - Um Novo Laicismo, disponível em 9 – Bíblia Hebraica (Editora Sefer, 2006), tradução de David Gorodovits e Jairo Fridlin “Não odiarás a teu irmão em teu coração; repreenderás a teu companheiro, e não levarás sobre ti pecado” “Não te vingarás e nem guardarás ódio contra os filhos do teu povo, e amarás o teu próximo como a ti mesmo - Eu sou o Eterno!” (*) HELIETE VAITSMAN - jornalista e tradutora; autora de “Judeus da Leopoldina”; diretora do Museu Judaico do Rio de Janeiro e membro do movimento Amigos Brasileiros do PAZ AGORA)
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David Grossman: "¡Nuestra dirigencia está hueca!"

David Grossman: "¡Nuestra dirigencia está hueca!" Texto completo del discurso del escritor David Grossman, pronunciado en el acto en memoria del 11° aniversario del asesinato de Itzjak Rabin Z'l, el pasado sábado 4 de noviembre en la Plaza Rabín en Tel Aviv ante 100.000 personas. Traducción: Lea Dassa - en Exclusiva para Argentina.co.il El acto anual en memoria de Itzjak Rabín es siempre un momento donde nos detenemos para recordar a Rabín el hombre, el líder; también es buena oportunidad para autocontemplarnos, para observar a la sociedad israelí, a sus dirigentes, percibir el estado de ánimo nacional y la situación del proceso de paz… Todo ésto desde nuestra posición particular, frente a los grandes procesos nacionales. No es fácil autocontemplarnos este año. Hubo una guerra. Israel movilizó un músculo militar colosal pero detrás de él quedaron reflejadas su impotencia y su fragilidad. Nos percatamos de que nuestra fuerza militar no puede, al final de cuentas, asegurar por sí sola nuestra existencia; descubrimos principalmente, que Israel pasa por una grave crisis en todos sus sistemas de vida; una crisis mucho más profunda de la que nos imaginábamos. Esta noche les hablo como alguien al que el amor por esta tierra le resulta un amor difícil y complicado, pero sabiendo que se trata de un amor incondicional. También les hablo como alguien a quien el pacto que siempre tuvo con esta tierra y que se transformó desastrosamente, en un pacto de sangre. Soy un hombre totalmente laico, pero sin embargo considero que la creación y existencia del Estado de Israel vendrían a ser un milagro que nos ocurrió como pueblo; un milagro político, nacional, humano. No puedo olvidarme de ésto ni un sólo momento; aún cuando hay muchas cosas de la realidad de nuestra vida que me enfadan y me deprimen; aún cuando el milagro se va transformando en pequeñas partículas de rutina y humillación, de cinismo y corrupción, aún cuando la realidad pareciera ser la parodia más terrible de dicho milagro, yo siempre lo recuerdo; y embuído en esta sensación, les hablo. "¡Mira Tierra, pues fuimos derrochadores al máximo!", escribió el poeta Shaul Tchernijovsky en 1938. El se lamentaba de que en el regazo de la tierra, en la Tierra de Israel, sepultábamos reiteradamente a los jóvenes en la plenitud de su florecimiento. La muerte de nuestros jóvenes es un despilfarro terrible, deplorable; pero no menos terrible es la sensación de que durante muchos años el Estado de Israel derrocha pecaminosamente, no sólo la vida de sus hijos, sino también el milagro que le fue acreditado, la enorme e infrecuente oportunidad que la historia le proporcionó, la chance de construir aquí un Estado ejemplar, ilustrado, democrático, rejido por los valores judíos y universales. Un Estado que sea a la vez hogar nacional y refugio; no sólo refugio, sino también un lugar que otorgue un nuevo significado a la existencia judía. Un Estado donde una parte esencial de su identidad judía, de su concepción judía se proyecte en una relación de respeto e igualdad para con sus conciudadanos no judíos. Y miren lo que ha ocurrido… ¿Qué le sucedió a nuestro Estado? Observen lo que le pasó a esta tierra joven, intrépida, llena de vigor y espíritu que aquí reinaba; cómo en un proceso vertiginoso de envejecimiento, Israel se precipitó desde la etapa de niñez y adolescencia a una situación fija de negligencia, debilidad y sensación de pérdida. ¿Cómo sucedió? ¿cuándo perdimos incluso la esperanza de que alguna vez podamos vivir una vida diferente y mejor? Y más aún, ¿cómo es que continuamos manteniéndonos al margen, aparentemente hipnotizados, observando cómo la locura, la rudeza, la violencia y el racismo se apoderan de nuestra nación. Yo les pregunto: ¿Cómo puede ser que este pueblo con su enorme capacidad creativa, su vitalidad y su constante proceso de renovación; este pueblo que supo levantarse una y otra vez de las cenizas, se encuentra a sí mismo, justamente hoy, cuando posee su mayor poderío militar, en una situación de fragilidad e impotencia, en un estado donde nuevamente debe jugar el papel de víctima, pero esta vez, víctima de sí mismo, de sus miedos y desesperación, de su falta de visión? Uno de los puntos más difíciles que agudizó esta última guerra es la sensación de que en estos días "no hay Rey en Israel"; que nuestra dirigencia está hueca; nuestra dirigencia militar y política está hueca. No me estoy refiriendo a los visibles fracasos en la dirección de la guerra, ni al desamparo de la población civil, tampoco a los pequeños y grandes actos de corrupción. Me refiero a las personas que actualmente dirigen el país que no consiguen conectar a los israelíes ni con su identidad ni con las partes sanas, primordiales de la vida que hacen florecer a dicha identidad; con esas partes de la identidad, la memoria, los valores básicos que le otorguen fuerza y esperanza. Que sean los anticuerpos de las debilidades respecto a la responsabilidad mutua y nuestro nexo con el Estado, que proporcionen algún significado a nuestra lucha existencial tan agotadora y desesperada. Los principales contenidos con los que la dirigencia Israelí sostiene la corteza gubernamental son esencialmente ansiedad por una parte y por otra parte intimidación. Del hechizo de la fuerza, y el guiño de la “combina” de la manipulación. Del regateo por las cosas que nos son valiosas. En este sentido ellos no son auténticos dirigentes. Y por supuesto, no representan a los dirigentes que en una situación tan confusa y tan errada el pueblo requiere. En ocasiones pareciera que la caja de resonancia de sus pensamientos, de su memoria histórica, de su propia visión, de aquello que realmente les interesa, existe solamente en el breve espacio entre dos titulares de los periódicos o entre las dos paredes del Asesor Jurídico del Gobierno. Observen a aquellos que nos dirigen. Por supuesto, no a todos, pero a muchos de ellos. Observen la forma de actuar atemorizada, de desconfianza, con orientación defensiva y artificiosa. Hasta sería incluso ridículo anhelar que de ellos aflore la sabiduría , que de ellos se asome una visión, o simplemente una idea original, realmente creativa, audaz, con imaginación. ¿Cuándo fue la última vez que el Primer Ministro ideó o realizó alguna acción que permitiera a los israelíes añorar nuevos horizontes o un futuro mejor? ¿Cuándo promovió alguna acción social, cultural, de valores, y no solamente respondió a las acciones que le fueron impuestas por otros? Sr. Primer Ministro, no pronuncio estas palabras por un sentimiento de rabia o de venganza. Esperé bastante para no pronunciarme con el arrebato del momento, usted no podrá desechar mis palabras esta noche como “una expresión debida al pesar que lo agobia”. Por supuesto, estoy apesadumbrado. Pero más que enojado, me duele. Me duele este país, por lo que usted y sus colegas le provocan. Créame, sus éxitos me importan, porque nuestro futuro depende de su capacidad de acción. Itzjak Rabín emprendió el camino de la paz con los palestinos no por la gran simpatía que les dispensaba a ellos o a sus dirigentes. También entonces, como se recordará, la opinión generalizada era que no teníamos socios entre los palestinos, y que no podríamos dialogar con ellos. Rabín determinó una acción, dado que con gran sabiduría, llegó a la conclusión de que la sociedad israelí no podrá subsistir por mucho tiempo en una situación de conflicto permanente. Comprendió, con antelación a muchos otros, que la vida en un clima constante de violencia, de conquista, de terror, pánico y desesperanza, reclaman un precio que Israel no puede sobrellevar. Todo aquello sigue vigente también hoy, con gravedad superlativa. Pronto hablaremos sobre el socio existente o no, pero antes nos contemplaremos a nosotros mismos. Por más de cien años vivimos en lucha. Nosotros, ciudadanos de este conflicto, nacimos en la guerra, y nos educamos en ella, y en cierto sentido fuimos programados para ella. Será por ello que a veces nosotros pensamos que esta locura en la cual vivimos ya hace cien años, es lo real, lo único, es la única vida que nos fue destinada, y que no tenemos posibilidad, o incluso el derecho de anhelar otra; en la penuria nacimos y en la penuria moriremos, y por siempre nos alimentaremos de ella. Quizás sea ésta la explicación a la indiferencia con la que nos resignamos al aniquilamiento definitivo del proceso de paz, que continúa hace años, y que cobra más y más vidas. Así también se explica la falta de reacción de la mayoría de nosotros a la burda bofetada que soportó la democracia con la designación de Avigdor Liberman como Ministro selecto, con la designación de este pirómano como Director de los Servicios de Bomberos del país (alude al nuevo Ministerio de Asuntos Estratégicos, reciéntemente creado. LD) Y éstos también forman parte de los factores por los que en tan corto tiempo el Estado de Israel sucumbió a la insensibilidad, agresividad nata ante el más débil, el pobre y el que sufre. Esta indiferencia por el destino de los hambrientos, de los ancianos, de los que padecen y los minusválidos; la apatía del Estado de Israel por el tráfico de mujeres, por ejemplo, o por la explotación y condiciones de esclavitud de los trabajadores extranjeros; el profundo racismo institucionalizado ante la minoría árabe. Todo ello acontece aquí, con gran naturalidad, sin contratiempos y sin quejas. Comienzo a dudar que aunque la paz llegue mañana, aún si volviéramos alguna vez a cierta normalidad, quizás ya sea demasiado tarde para el restablecimiento completo. La desgracia que padecimos mi familia y yo, con la caída de nuestro hijo Uri, no me otorga derechos adicionales en el debate público. Pero creo que el enfrentarse a la muerte y a la pérdida conlleva un tipo de perspicacia y claridad, por lo menos en lo que se refiere a distinguir entre lo esencial y lo superfluo. Entre lo alcanzable y aquello imposible de lograr, entre la realidad y la fantasía. Todo individuo racional en Israel - y agrego, también los palestinos - conoce con exactitud las formas de solución posible al conflicto entre las naciones. Todo ser pensante, entre nosotros y entre ellos, siente también en lo profundo de su corazón, la diferencia entre los sueños y quimeras con lo posible de lograr al término de las negociaciones. El que no lo sabe - ya mismo no es apto al diálogo, sea judío o árabe. Es prisionero de su fanatismo, su hermetismo, y por ello no es un socio posible. Observemos por un momento aquel que pretende ser nuestro socio. Los palestinos erigieron al Hamás, que se niega a negociar con nosotros, incluso a reconocernos. ¿Qué se puede hacer ante esta situación? ¿Qué más nos queda por hacer? ¿Continuar sofocándolos ininterrumpidamente? ¿Seguir absorbiendo centenares de palestinos en Gaza, la mayoría de ellos ciudadanos ingenuos, al igual que nosotros? ¡Diríjase a los palestinos, Sr. Olmert! Diríjase a ellos abordando la dirigencia del Hamás; a los moderados entre ellos. Aquellos que se oponen como usted y como yo al Hamás y su derrotero. Diríjase al pueblo palestino. Refiérase a la profunda herida que los aqueja. Reconozca su continuo sufrimiento, Nada podrá socavar la posición de Israel y la suya propia en negociaciones futuras. Sólo que los corazones de ambos se abrirán un poco el uno hacia el otro, y esta apertura representará una fuerza gigantesca. La simple conmiseración humana tiene una fortaleza invencible, justamente en situación de indiferentismo y rencor. Por una vez mírelos no sólo a través del caño del fusil y la barrera herméticamente cerrada. Ud. podrá ver un pueblo torturado no menos que nosotros. Un pueblo conquistado, deprimido y carente de esperanza. Por supuesto, también los palestinos son responsables de este estancamiento. Indudablemente, son parte importante del fracaso del proceso de paz. Pero obsérvelos por un momento desde otra perspectiva. No sólo a los extremistas. No solamente aquellos que tienen un pacto de intereses con nuestros fanáticos. Observe a la aplastante mayoría de este pueblo en desgracia, cuyo destino está contactado al nuestro, quiérase o nó. Acérquese a los palestinos, Sr. Olmert. No busque constantemente excusas para no hablar con ellos. Ha renunciado al desenganche unilateral. Y bien hecho está. Pero no deje un espacio vacío. Este se llenará de inmediato con violencia y destrucción. Dialogue con ellos. Ofrézcales una propuesta a los más moderados (son más numerosos que lo que muestran los Medios de Comunicación) Una propuesta tal, que deban decidir si aceptarla, o preferir continuar siendo rehenes en manos del fanatismo islámico. Llegue a ellos con el programa más valiente y serio que Israel sea capaz de ofrecer. Una propuesta que todo israelí o palestino con visión sepa que constituye el límite de la negación y la renunciación, la nuestra y la de ellos. Si titubea, en corto tiempo extrañaremos la afición del terror palestino. Nos golpearemos la cabeza y clamaremos: ¿cómo no pusimos en acción nuestra elasticidad de pensamiento, toda nuestra creatividad israelí, para extraer a nuestro enemigo de su propia celada? Existe también la paz porque no hay otra salida. Exáctamente así como existe la guerra sin remedio, porque no lo hay. No tenemos otra salida, y ellos tampoco. Y hacia la paz sin otra salida debemos recurrir con la misma determinación y creatividad, así como se emprende una guerra sin remedio; porque no lo hay. Y aquél que cree lo contrario, que el tiempo está a nuestro favor, no comprende los procesos profundos del peligro en el cual ya nos encontramos. En general, Sr. Primer Ministro, quizá deba recordarle que si cualquier dirigente árabe envía señales de paz, el más mínimo o frágil - debe usted recibirlo; deberá analizar de inmediato su veracidad y seriedad. No le cabe el derecho moral de no responder a ello. Usted debe hacerlo en pro de aquellos a los cuales les exigirá sacrificar sus vidas si llegase a estallar otra guerra. Por ello, si el Presidente Assad dice que Siria quiere la paz, aún si usted no le cree - y todos dudamos de él - debe proponerle un encuentro inmediato. No espere ni un solo día. Cuando decidió salir a la última guerra no esperó usted ni una hora. Irrumpió con toda la fuerza. Con todas las armas. Con toda la potencia destructiva. ¿Porqué al primer atisbo de paz, usted, inmediatamente lo rechaza, lo macera? ¿Qué tiene para perder? ¿Usted desconfía del Presidente de Siria? Preséntele condiciones tales que pongan al descubierto sus intenciones. Propóngale un proceso de paz por varios años que sólo al finalizar, si se atiene a todas las condiciones, a todas las limitaciones, recibirá nuevamente el Golán. Exíjale un proceso de diálogo permanente. Actúe de tal manera que en la conciencia de su propio pueblo se perfile también esta posibilidad, apoye a los moderados, que seguramente también existen allí. Trate de diseñar la realidad, no sea sólo su colaborador. Para ello fue elegido, exactamente por eso. Y para finalizar; indudablemente, no todo depende de nuestras acciones; existen otras fuerzas grandes y poderosas que actúan en la región y en el mundo; algunas, como Irán, como el Islam extremista que actúan en contra nuestra. A pesar de todo, mucho depende de lo que nosotros haremos, de lo que nosotros seremos. Actualmente, las divergencias entre la derecha y la izquierda no son realmente grandes. La gran mayoría de los ciudadanos de Israel ya entiende - algunos no muy convencidos - como se verá el bosquejo de la solución del conflicto. Muchos entendemos que el país se dividirá, que el Estado palestino se creará. Entonces, ¿porqué continuamos debilitándonos en riñas internas que duran casi cuarenta años? ¿Porqué la dirigencia política continúa reflejando la posición de los extremistas y no los de la mayoría popular? Nuestra situación estaría mejor si llegáramos nosotros mismos a este consenso nacional antes que las causas - presión externa, una nueva Intifada u otra guerra - nos obliguen a ello. Si actuáramos así, evitaríamos años de derramamiento de sangre y pérdidas lamentables. Años de trágico error. Desde el lugar donde me encuentro, yo pido, llamo a todo el que escuche, a los jóvenes que regresaron de la guerra y que saben que son ellos los que deberán pagar el precio de la próxima, a los ciudadanos judíos y árabes, a los hombres de la derecha y la izquierda: Deténganse un momento, observen por sobre el abismo, consideren cuán cerca estamos de perder lo que hemos creado. Pregúntense a sí mismos si no ha llegado el momento de sobreponernos, de salir del estancamiento, y al fin, demandarnos a nosotros mismos la vida que nos merecemos vivir. David Grossman Fuente: David Grossman 08/11/2006
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Bernard-Henry Lévy - Eu Sou judeu !

Bernard-Henry Lévy, filósofo, escritor, jornalista e ensaísta francês. Retirado do livro “I Am Jewish: Personal Reflections Inspired by the Last Words of Daniel Pearl”, 2004. EU SOU JUDEU Sou judeu por parte da minha mãe e do meu pai. Sou judeu por parte de Lévinas, Buber, Rosenzweig. Sou judeu porque ser judeu significa amar mais a lei do que a terra e a letra tanto quanto o espírito. Sou judeu em resultado de uma desconfiança, que sempre senti, em relação a estados extáticos e extremos de paixão religiosa. Sou judeu em resultado da minha rejeição de todas as formas de magia ou mistério: “Cautela”, gritou Lévinas, autor de Difficíle Liberté, Essais sur le Judaïsm, “com todos os falsos profetas que dizem que o homem está ‘mais perto dos deuses quando deixa de pertencer a si próprio’! Em guarda, judeus, contra o esquecimento de que o judaísmo é a única religião no mundo que prega a recusa das forças obscuras – a religião do desencanto, do santo e não do sagrado!” É assim que sou judeu. Sou judeu porque sou antinaturalista e antimaterialista – sou judeu, por outras palavras, porque me sinto em casa no Livro e entre os homens, mais do que na obscura floresta de símbolos e até na vida. Sou um judeu do galout (exílio, diáspora); sou um judeu que, há anos e anos, reflecte nesta questão do galout; não propriamente na reabilitação do galout; não, falando correctamente, na metafísica do galout; e, ainda menos, na distância em relação a Israel, que amo do fundo do coração, um amor incondicional; mas a meditação num exílio essencial, sem redenção nem retorno, que para mim parece constituir o que significa ser judeu, tanto no galout como em Israel; o contrário do exílio de Ulisses; a correlação e parte do fascínio, judaico também, com o reino dos céus; não é Judeu o nome, igualmente, do filho de Abraão (o Hebreu) e de Jacob (o Israelita)? Não é a filosofia judaica, indissociavelmente, a filosofia dos reis e dos profetas, de Israel e a da voz que, através de Jeremias, implora ao “resto de Israel” para “fortificar as suas posições no exílio”? Sou judeu porque não sou um platónico; judeu por causa do que chamarei, para ser sucinto, anti-platonismo coextensivo ao pensamento judaico; uma ética mais do que um ponto de vista; uma relação com os outros homens tanto quanto com Deus ou, mais exactamente, a Deus, sim, mas porque, e somente porque, me traz mais perto do meu semelhante. Sou judeu como Lévinas quando ele discute a amizade com Buber. Nessa discussão, que é digna, pelos seus termos, da famosa disputa em que Proust, sobre o mesmo tema, acaba por atirar os sapatos à cara de Emmanuel Berl, Lévinas expressa a sua desconfiança das noções buberianas de diálogo e reciprocidade. Sou judeu, sim, na forma como Lévinas declara ser estranha e irrelevante a ideia de uma amizade puramente espiritual, ou “desnervada”, que pode apenas cair em “formalismo”. Ele conclui com estas formulações magníficas, que são parte do meu judaísmo: o Outro necessita mais de “solicitude” do que de “amizade”, porque “vestir os que estão nus e alimentar os que têm fome é o real e concreto acesso ao Outro, mais autêntico do que amizade etérea.” Sou um judeu que não é realmente um humanista (a palavra perde o sentido para um leitor, mesmo o menos versado, do Maharal de Praga ou do Gaon de Vilna), mas sou consciente de um judaísmo que me faz responsável pelos outros, o seu guardador – um judaísmo que se define, assim, como uma ética e define esta ética como aquela que é estabelecida quando eu resolvo fazer de mim não o igual mas o refém do meu semelhante e que vejo, sobre o meu “eu”, um “Ele” que me domina das sagradas alturas. Sou um judeu que não é obviamente político (como pode um estudante de Lévinas esquecer o seu Politique Aprés?) mas aberto, por outro lado, ao mundo e a fazer do messianismo a responsabilidade básica do homem, de cada homem, no trabalho de redenção. Sou um judeu universalista. Sou um judeu que não se resigna a deixar ao cristianismo o monopólio do universalismo. O “povo escolhido”, tanto para mim como para Lévinas e Albert Cohen, não é um privilégio, mas uma missão. O papel do povo judeu, tanto para mim como para Rosenzweig, é abrir, a todos os povos, as invisíveis e sagradas portas que iluminam a estrela da redenção. É este, aos meus olhos, o significado do mandamento de Deuteronómio: “Não abominarás o idumeu, pois é teu irmão; não abominarás o egípcio”; e também na história de Jonas, a quem Deus diz: “Levanta-te, vai à grande cidade de Ninive e clama”, mesmo quando Ninive é, como ele sabe, o inimigo de Israel, a capital da Assíria, o próprio reino do mal. Sou um judeu tal como Walter Benjamin quando Benjamin fala da sua “solicitude para com os vencidos e famintos” – sou judeu no sentido de Poésie et Revolution e de Teses Sobre o Conceito da História mostrando que “cada segundo é a porta estreita através da qual pode passar o messias.” Sou um judeu que acredita, como Benjamin e, de certa forma, Scholem, que o messianismo judaico é a “encarnação de uma história secreta e invisível” que “se contrapõe à história dos fortes e dos poderosos”, que é como quem diz a “história visível” – toda a minha vida acreditei neste judaísmo, e isto é o que tenho praticado. Fui judeu, por outras palavras, no meu Réflexions sur la Guerre, le Mal e la Fin de l’Histoire. Fui judeu no Burundi, em Angola, e na Bósnia muçulmana. Fui judeu entre os nubios a caminho de serem exterminados no sul do Sudão. Fui judeu cada vez que, nas mais desoladas zonas do mundo, no coração das suas mais esquecidas guerras, eu aprendi a instrução judaica segundo a qual a mais séria prova da existência de Deus é a existência de rostos – e o sinal do eclipse de Deus é o seu apagamento programado. Sou judeu porque acredito num Deus que por outra definição é “Não Matarás”. Sou judeu quando tentei, ao longo de um ano, traçar os passos de Daniel Pearl, e sou judeu quando, à minha maneira, modesta e secular, sim, mas à minha maneira, tento contribuir para a santificação do seu nome. Bernard-Henry Lévy, filósofo, escritor, jornalista e ensaísta francês. Retirado do livro “I Am Jewish: Personal Reflections Inspired by the Last Words of Daniel Pearl”, 2004.
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Um pouco sobre a Literatura Israelense

Um pouco sobre a Literatura Israelense Israel é fonte de inspiração para os poetas e escritores do país. Sendo uma nação em desenvolvimento, forjada sobre as bases de antiga tradição, o país vive num intrincado de complexas relações sociais. As mudanças foram rápidas e intensas: o período pioneiro, a guerra da independência, a construção do estado, as guerras e a imigração em massa de vários pontos do globo. Cada novo período, cada mudança social, traz novos desafios, criando uma dinâmica de inquietação constante. Esses componentes, isoladamente ou combinados, são farto material para a produção literária. A poesia e a prosa se nutrem de temas, imagens e de uma enorme riqueza de expressão, tanto da Bíblia quanto de outra fontes judaicas (como a Mishná, o Talmud e a Cabala) e das tradições do povo judeu na Diáspora, assim como da linguagem e ritmo quotidianos. O Renascimento da Língua Hebraica O hebraico é o idioma de Israel. Embora tenha deixado de ser uma língua falada cerca de 200 E.C., ele continuou, através dos séculos, a ser usado pelos judeus como "língua sagrada", na liturgia, filosofia e literatura. No final do século XIX ele se transformou em veículo cultural moderno, tornando-se um fator vital do movimento de renascimento nacional que culminou no sionismo político. A administração do Mandato Britânico reconheceu o hebraico como idioma nacional, ao lado do inglês e do árabe, e ele se tornou o idioma das instituições judaicas e de seu sistema educacional. A imprensa e a literatura hebraicas floresceram, com novas gerações de escritores e leitores; hoje, o hebraico é uma língua viva, rica e vibrante. Seu vocabulário, que constava de cerca de 8.000 palavras nos tempos bíblicos, se expandiu para mais de 120.000. Seu desenvolvimento lingüístico e formal é orientado pela Academia da Língua Hebraica, fundada em 1953. Eliezer Ben-Yehuda (1858-1922) foi o iniciador do movimento pelo renascimento da língua hebraica como idioma falado. Tendo imigrado à Terra de Israel em 1881, ele foi o pioneiro no uso do hebraico no lar e na escola, criou milhares de novas palavras, fundou dois periódicos em hebraico, foi co-fundador do Comitê da Língua Hebraica (1890) e compilou vários dos 17 volumes do Dicionário Completo do Hebraico Antigo e Moderno, iniciado em 1910 e concluído por sua segunda esposa e seu filho em 1959. Prosa Os primeiros a escreveram prosa hebraica moderna na Terra de Israel foram escritores imigrantes. Embora tendo as raízes no mundo judaico da Europa Oriental e suas tradições, suas obras tratavam sobretudo das conquistas na nova terra, que tinham vindo "construir e ser por ela construídos". Yossef Chaim Brenner (1881-1921) e Shmuel Yossef Agnon (1889-1970), que deram impulso à prosa hebraica no início do século XX, são considerados por muitos os pais da literatura hebraica moderna, embora não tenham atuado sozinhos nem fora do seu contexto histórico. Brener, dividido entre a esperança e o desespero, lutava com suas próprias dúvidas no tocante às dificuldades do empreendimento sionista na Terra de Israel e o baixo nível espiritual de certos setores do Yishuv (nome dado à comunidade judaica da Palestina - a Terra de Israel - antes do estabelecimento do estado). Ele via defeitos em tudo e temia o futuro desenvolvimento das relações entre as populações árabe e judaica. Em seu intento de captar a realidade, ele preferia as formas rabínicas e medievais do hebraico, criando novas expressões e empregando uma sintaxe audaz para produzir o efeito do discurso vivo. Um dos elementos centrais da obra de Brenner é sua identificação tanto com o esforço físico dos pioneiros numa terra árida e áspera, tão diferente dos países europeus onde tinham nascido, como com a outra luta, não menos difícil, a de forjar uma identidade judaica na Terra de Israel. Agnon preferiu usar em sua obra formas hebraicas mais modernas. Sua familiaridade com a tradição judaica, somada à influência da literatura européia do século XIX e início do século XX, foi a base para a criação de um mundo de ficção que trata dos principais temas espirituais contemporâneos: a desintegração dos modos de vida tradicionais, a perda da fé e a subseqüente perda de identidade. Sendo judeu ortodoxo e escritor dotado de profunda intuição e acuidade psicológica, Agnon revela afinidade com os lados sombrios e irracionais da psique humana, podendo se identificar com as incertezas íntimas dos judeus, tanto crentes como não-crentes. A realidade, tal como Agnon a descreve, transcorre num ambiente trágico, às vezes grotesco; sua obra é amplamente influenciada pela guerra e pelo Holocausto, e o mundo dos judeus religiosos se revela em todas as suas paixões e tensões. Em 1966, Agnon foi laureado, juntamente com Nelly Sachs, com o Prêmio Nobel de Literatura, o primeiro conferido a um escritor israelense. Os primeiros escritores nascidos no país começaram a publicar nos anos 40 e 50; são conhecidos como "a geração da Guerra da Independência". Seus trabalhos refletem uma nova mentalidade e experiência cultural, diferentes das de seus predecessores, sobretudo porque o hebraico era sua língua materna e toda sua experiência de vida estava enraizada na Terra de Israel. Escritores como S. Yizhar, Moshe Shamir, Chanoch Bartov, Chaim Guri e Biniamin Tammuz vacilam dramaticamente entre o individualismo e o comprometimento para com a sociedade e o estado, oferecendo um modelo de realismo social, muitas vezes heróico, marcado por uma fusão de influências locais e internacionais. No início da década de 60, um grupo de jovens e influentes escritores, como A.B. Yehoshua, Amos Oz, Yoram Kaniuk e Yaakov Shabtai, passaram a explorar novas abordagens da prosa hebraica, rompendo com os padrões ideológicos e focalizando o mundo individual. Durante as duas décadas seguintes, manifestaram-se novas tendências, tais como a experimentação de formas narrativas e de vários estilos de prosa, inclusive o realismo psicológico, a alegoria e o simbolismo, assim como especulação e ceticismo a respeito das convenções políticas e sociais. Desde o início da década de 80, e durante os anos 90, observa-se uma intensa atividade literária, e o número de livros publicados aumentou de forma notável. Vários autores israelenses, como Oz, Yehoshua, Kaniuk, Aharon Appelfeld, David Shahar, David Grossman e Meir Shalev, granjearam fama internacional. A crença de que a literatura capacita os leitores a uma melhor compreensão de si mesmos, individualmente ou como parte do meio ambiente, caracteriza a prosa deste período, escrita por três gerações de escritores. As constantes e renovadas tentativas de abordagem da tragédia do Holocausto europeu resultaram na elaboração de novos modos de expressão, para tratar de questões fundamentais que só podem ser discutidas dentro da perspectiva do tempo e do espaço, integrando distanciamento e envolvimento (Appefeld, Grossman, Yehoshua Kenaz, Alexander e Yonat Sened, Nava Semel e outros). Alguns temas até então inéditos têm sido abordados, tais como o ambiente da aldeia árabe (Anton Shammas, escritor árabe-cristão), o mundo dos judeus ultra-ortodoxos que se mantêm deliberadamente segregados da sociedade moderna (Yossl Birstein), o modo de vida nas comunidades chassídicas de Jerusalém (Chaim Beer) e as tentativas de abordagem da existência do indivíduo sem fé numa época em que as ideologias seculares entraram em colapso e o fundamentalismo religioso vai ganhando cada vez mais força (Yitzhak Auerbach-Orpaz). Outro tema importante, abordado sobretudo por escritores de origem sefaradita (como Sami Michael, Albert Suissa, Dan Banaya-Seri) é o lugar ocupado na sociedade israelense por imigrantes que se sentem alienados, provenientes de países árabes. Outros autores exploram temas universais, como a democracia e a justiça, vistas no contexto de uma sociedade que está constantemente enfrentando desafios em quase todas as áreas da vida nacional (Yitzhak Ben Ner, Kaniuk, Grossman, Oz). International Poets Festival, Jerusalem Poesia A poesia hebraica vem sendo escrita, virtualmente sem interrupção, desde os tempos bíblicos, incorporando influências externas e tradições internas. A poesia do passado, que inclui temas religiosos e nacionais, exprime também motivos da experiência pessoal, os quais são predominantes na poesia contemporânea. A ruptura com a expressão poética tradicional ocorreu durante o período do iluminismo judaico na Europa (1781-1881), quando os judeus passaram a reivindicar plena cidadania e a secularização da vida judaica; e prosseguiu no final do século XIX, quando o sionismo, movimento pela restauração da vida nacional judaica na Terra de Israel, começou a ganhar importância. Os principais poetas deste período foram Chaim Nachman Bialik (1873-1934) e Saul Tchernichovsky (1875-1943); ambos imigraram à Palestina no início do século XX. A obra de Bialik, que reflete seu comprometimento à idéia do renascimento nacional e rejeita a viabilidade da vida judaica na Europa Oriental, inclui longos poemas épicos sobre acontecimentos da história judaica, mas também poesia lírica cujos temas são o amor e a natureza. Bialik, alcunhado "o poeta nacional" ou "o poeta do renascimento hebraico", forjou uma nova linguagem poética, libertando-se da excessiva influência bíblica de seus predecessores, mas mantendo a estrutura clássica e a clareza de expressão em seus versos ricos e eruditos. Seus poemas são memorizados por gerações inteiras de alunos israelenses. A poesia de Tchernichovsky abrange tanto poemas líricos quanto épicos, baladas e alegorias. Ele buscava retificar o mundo judaico, incutindo um espírito de orgulho e dignidade pessoais, assim como uma conscientização mais profunda da natureza e da beleza. Sua linguagem demonstra afinidade com o hebraico rabínico, e é diferente do vocabulário de Bialik que integra a influência bíblica com a linguagem coloquial em formação. Bialik e Tchernichovsky representam a transição do antigo para o moderno na poesia hebraica. Avraham Shlonsky, Natan Alterman, Lea Goldberg e Uri Zvi Greenberg são os principais representantes da segunda geração de poetas, e a dos anos anteriores ao estabelecimento do estado e imediatamente depois. Shlonsky utilizava torrentes de imagens e invenções lingüísticas, tanto em suas obras poéticas como em suas prolíficas traduções dos clássicos da poesia, sobretudo russa. Os trabalhos de Alterman, muitos dos quais se destacam por seu caráter político, acompanham todos os estágios do desenvolvimento da comunidade judaica e se caracterizam pela riqueza de linguagem e variedade de formas, tonalidade e ritmo das imagens e metáforas. Goldberg ampliou o espectro do lirismo em poemas que falam da cidade, da natureza e do ser humano em busca de amor, contato e atenção. Greenberg, em sua poesia cheia de desespero e ira, usava imagens violentas e estilo poderoso, abordando sobretudo temas nacionalistas e o impacto do Holocausto. Este grupo de poetas foi o primeiro a introduzir o ritmo do hebraico coloquial quotidiano na poesia. Eles fizeram renascer velhas expressões e cunharam outras novas, dando ao idioma milenário uma nova flexibilidade e riqueza. A poesia deste período, fortemente influenciada pelo futurismo e simbolismo russos, assim como pelo expressionismo alemão, tendia para uma estrutura e melodia clássicas, com rimas ordenadas. Refletia imagens e paisagens do país onde o poeta nascera e visões mais recentes da nova pátria, em tom heróico; memórias de "lá" e o desejo de aprofundar raízes "aqui", que exprimiam, conforme escreveu Lea Goldberg, "a dor de duas pátrias". Muitos destes poemas deram origens a canções e tornaram-se parte integrante do novo folclore nacional. A primeira poetisa importante em hebraico foi Rachel Bluwstein (1890-1931), conhecida simplesmente como "Rachel". Sua obra estabeleceu as bases normativas da poesia hebraica feminina, assim como as expectativas do público em relação a ela. Suas frases curtas, de um lirismo emocional, sua falta de pretensão intelectual e seu estilo pessoal predominam, como se constata na maior parte dos trabalhos de suas contemporâneas e de poetisas posteriores, como Dalia Ravikovitch e Maya Bejerano. Em meados dos anos 50, emergiu um novo grupo de jovens poetas, cuja língua materna já era o hebraico; entre eles destacam-se Yehuda Amichai, Natan Zach, Dan Pagis, T. Carmi e David Avidan. Suas obras tendem a uma certa moderação, retraindo-se de modo geral das experiências coletivas, observando livremente a realidade e usando estilo coloquial. Além disso, estes autores substituiram as influências poéticas de Pushkin e Schiller pelos autores inglêses e norte-americanos modernos. Os trabalhos de Amichai, muitos dos quais traduzidos para outras línguas, caracterizam-se pelo uso da linguagem do dia-a-dia, a ironia e metáforas metafísicas; estas se tornaram os rasgos característicos de boa parte da poesia escrita por seus contemporâneos mais jovens, os quais proclamaram o fim da poesia ideológica, rompendo completamente com a tradição de Alterman e Shlonsky, de estruturas clássicas e métrica ordenada. A obra de Zach extrai novas qualidades musicais, quase litúrgicas, do hebraico falado todos os dias. O campo da poesia hebraica contemporânea é uma polifonia reunindo várias gerações, poetas na faixa dos vinte anos com outros de idade madura. Entre os representantes deste último grupo encontra-se Meir Wieselthier, cujo estilo prosaico e direto, que utiliza gíria, repudia todo romantismo e eleva a imagem de Tel Aviv a um símbolo da realidade; Yair Horowitz, cujos versos contritos expressam a suave tristeza do homem consciente da própria mortalidade; e Iona Wallach, que se apresenta em termos sarcásticos e coloquiais, usando motivos arquétipos, simbolismo freudiano, às vezes de brutal sensualidade, repetições rítmicas e longas cadeias de associações. Asher Reich, Arieh Sivan, Ronny Somak e Moshe Dor são outros nomes importantes da poesia contemporânea. A poesia da geração mais jovem é dominada pelo individualismo e a perpleidades, preferindo poemas curtos num estilo familiar, em ritmo livre e sem rimas. A poesia israelense tem um grande público de leitores fiéis, e algumas edições de poemas, de todos os períodos, atingem tiragens semelhantes às de países ocidentais muito mais populosos.
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