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Da BBC Brasil em São Paulo
13 maio 2018

Em 13 de maio de 1888, há 130 anos, o Senado do Império do Brasil aprovava uma das leis mais importantes da história brasileira, a Lei Áurea, que extinguiu a escravidão. Não era apenas a liberdade que estava em jogo, diz o historiador Luiz Felipe de Alencastro, um dos maiores pesquisadores da escravidão no Brasil. Outro tema na mesa era a reforma agrária.
O debate sobre a repartição das terras nacionais havia sido proposto pelo abolicionista André Rebouças, engenheiro negro de grande prestígio. Sua ideia era criar um imposto sobre fazendas improdutivas e distribuir as terras para ex-escravos. O político Joaquim Nabuco, também abolicionista, apoiou a ideia. Já fazendeiros, republicanos e mesmo abolicionistas mais moderados ficaram em polvorosa.
Especial 130 anos da abolição: A luta esquecida dos negros pelo fim da escravidão no Brasil
"A maior parte do movimento republicano fechou com os latifundiários para não mexer na propriedade rural", diz Alencastro. Foi aí que veio a aprovação da Lei Áurea, sem nenhuma compensação ou alternativa para os libertos se inserirem no novo Brasil livre. "No final, a ideia de reforma agrária capotou."
Nesta entrevista para a BBC Brasil, o historiador fala ainda sobre a origem da violência do Estado atual contra os negros, afirma que a escravidão saiu da pauta e passou a ser vista como um passado distante, apesar de não ter acabado há tanto tempo assim, e critica o uso da palavra "diversidade" para se referir aos negros. "Falar de diversidade é considerar que os negros são uma minoria, como nos Estados Unidos. Mas no Brasil eles são a maioria. É muito mais que diversidade, é democracia".
Alencastro é hoje professor da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo. É também professor emérito da universidade de Paris Sorbonne, onde lecionou por 14 anos, e autor do livro O trato dos viventes: formação do Brasil no Atlântico Sul. Veja abaixo os principais trechos da entrevista:

BBC Brasil - Como entender que o Brasil tenha sido o último país a abolir a escravidão nas Américas?
Luiz Felipe de Alencastro - O Brasil foi o último porque foi o que mais importou africanos - 46% de todos que foram trazidos coercitivamente para as Américas. Esse volume assombroso de africanos que chegou aqui acorrentado era considerado como uma propriedade privada. Isso cria uma dinâmica em que a propriedade escrava era muito importante. Muita gente tinha escravos. Nas cidades havia gente remediada que tinha um ou dois escravos. Os estudos mostram que a propriedade escrava no Brasil era muito mais difundida que na Jamaica ou no Sul dos Estados Unidos. Assim, muita gente, e não só os fazendeiros, achava que o país ia se arruinar se parasse de trazer africanos. Quase tudo dependia do trabalho escravo e da chegada dos africanos.
Por que a palavra 'descobrimento' renovou polêmica em Portugal sobre a conquista de terras como o Brasil
O Haiti é um caso limite, porque é primeiro país americano que chega à independência, com uma revolução feita pelos escravos (iniciada em 1791). É a única insurreição de escravos que chega ao poder no mundo. Já nos outros países em volta do Brasil, a escravidão não era importante. E era importante no Sul dos Estados Unidos.
BBC Brasil - Qual a diferença do processo de abolição no Brasil e nos Estados Unidos, em 1863?
Alencastro - No Brasil, a escravidão não era como nos Estados Unidos. Lá, a escravidão era regional, no Sul. No restante do país, havia uma economia agrícola independente e movimentos abolicionistas. Já no Brasil a escravidão era nacional, no país inteiro, e não havia um setor camponês independente. Por isso, o abolicionismo não tinha como crescer em regiões circunvizinhas às zonas escravistas. Como foi nos Estados Unidos? O norte do país, não escravista, elegeu Abraham Lincoln, do partido republicano, e que era contrário à expansão do escravismo nos novos territórios dos EUA e buscava uma solução negociada para extingui-lo nos estados onde ele existia. Isso causou a ruptura dos estados sulistas com a União. Ocorreu então uma guerra civil para acabar com a escravidão, uma guerra sangrenta, que traumatiza até hoje o país. Aqui não existia nenhuma parte do território em que a escravidão fosse ilegal. Então, mesmo que houvesse 60 escravos no Amazonas na mão de alguns senhores, esse grupo fechava com o partido escravocrata no Parlamento. Havia uma espécie de união nacional em torno do tráfico negreiro e da escravidão.

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Fotografia de família escrava nos Estados Unidos, data desconhecida
BBC Brasil - Já se disse que as grandes transformações do Brasil ocorreram sem participação popular, pelas mãos da elite política e econômica. A independência, a abolição, a República. Mas isso é verdade para a abolição?
Alencastro - José Bonifácio de Andrada, que era uma espécie de primeiro-ministro logo depois da independência do Brasil, mandou um projeto para a Assembleia Constituinte, prevendo a abolição progressiva do tráfico e da escravidão. Já naquele momento, a classe dirigente, o corpo da administração imperial tinham perfeita noção de que manter o tráfico de escravos criaria um impasse. Porque a Inglaterra deixara claro que só reconheceria a independência se o Brasil acabasse com o tráfico. E o governo inglês, nessa época, tinha uma importância enorme. Era como se fosse a ONU (porque garantia o reconhecimento diplomático internacional), o FMI (porque emprestava dinheiro para o governo) e a OIT (porque vetava a importação de africanos, mão-de-obra essencial no Brasil) juntos, com uma força naval que desde a batalha de Trafalgar (1805) mandava em todos os mares.
Quando a Inglaterra começou a pressionar mais fortemente, os dirigentes brasileiros cederam, prometendo acabar com o tráfico a médio prazo. Em 1831 é votado o fim do tráfico. Porém, sobretudo no Rio, e em menor medida na Bahia e no Recife, se organizam redes de comércio semiclandestino de escravizados africanos. Só em 1850, o comércio de africanos acabou de fato. Acabou de uma vez. Caiu de 60 mil africanos desembarcados em 1849 para 6 mil em 1851. Como? Porque houve um conchavo entre traficantes e governo. Se amanhã acabar o tráfico de cocaína na Colômbia, não é porque o consumo de cocaína acabou e de um dia para o outro os policiais ficaram virtuosos.
BBC Brasil - Que conchavo foi esse?
Os traficantes foram prevenidos antes que o tráfico ia acabar e foram tirando o dinheiro. Houve uma negociação entre a classe dirigente (a administração imperial) e a classe dominante (os fazendeiros, as oligarquias regionais). O governo propôs uma lei de imigração para trazer trabalhadores rurais, uma estrada de ferro na região cafeeira - porque o transporte era feito em lombo de mula - e a redução das tarifas de exportação de café.
BBC Brasil - Depois que o tráfico acabou, qual passou a ser a estratégia do Império?
Alencastro - Quando acaba o tráfico de escravos, acaba a fonte externa de reprodução do sistema escravista. Depois há a Lei do Ventre Livre em 1871 (que declarou livres os filhos de mães escravas que nascessem a partir daquela data). Isso estanca outra fonte de reprodução da escravidão, que é a reprodução demográfica interna. Dessa forma, houve uma estratégia gradualista para acabar com a escravidão.
Este gradualismo se resume nesta ideia: a escravidão acaba quando o último escravo morrer. Essa era a estratégia do Império. Aí ninguém perde dinheiro. Mas surge então o abolicionismo. É um movimento como as Diretas já!: Abolição já! Não tem que esperar até o último escravo morrer para acabar com a escravidão. Vamos abolir já, e sem indenização para os proprietários de escravos. Joaquim Nabuco (político abolicionista) afirmou que o Brasil não tinha dinheiro para pagar pelos crimes que cometeu.

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BBC Brasil
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Luiz Felipe de Alencastro, autor de 'Trato dos Viventes', é um dos maiores especialistas em escravidão
BBC Brasil - Qual foi a participação do movimento abolicionista? E o povo, participou?
Alencastro - O abolicionismo se acentuou na década de 1880. Há importante liderança negra. Luís Gama, André Rebouças, José do Patrocínio, que se batiam nos tribunais e nos jornais. Esses são os heróis. Também há muita gente anônima que participou. Houve movimentos organizados para dar fuga a escravos, por exemplo. Aqui em São Paulo, havia o grupo do Antônio Bento, os Caifazes. Havia um grupo em Recife, que ajudava os escravos a fugirem para o Ceará, onde a maioria dos municípios já não tinha mais escravos desde 1884 e onde os escravocratas eram minoritários. Já o Rio de Janeiro era a província onde o escravismo era mais renitente. Em São Paulo, o oeste do Estado já estava apostando na imigração porque havia muita fuga, e a fuga é uma forma de revolta, dos escravos comprados no Nordeste. Essas ações acentuaram a crise do escravismo.
BBC Brasil - Também se falava de reforma agrária, dar terras para os ex-escravos.
Alencastro - A reforma agrária não estava na pauta da maioria dos abolicionistas. Foi uma radicalização de uma parte minoritária. André Rebouças, um engenheiro negro com muito prestígio, tinha um programa para criar um imposto territorial sobre as fazendas improdutivas e fundar cooperativas de pequenos camponeses. Nabuco, nos anos 1880, foi porta-voz dessas reinvindicações. Mas no final, a ideia de reforma agrária capotou.
BBC Brasil - Por quê?
Alencastro - A maior parte do movimento republicano fechou com os latifundiários para trazer imigrantes que trabalhassem nas fazendas e não mexer na propriedade rural. Essa virada dos republicanos jogou Nabuco, Rebouças e outros no escanteio e os fez apoiar a monarquia até o fim. Depois disso, (no livro) Minha Formação (1900), Nabuco renega sua juventude abolicionista e faz uma declaração monarquista que constitui uma das frases mais infames da história da política brasileira: "Tenho convicção de que a raça negra por um plebiscito sincero e verdadeiro teria desistido de sua liberdade para poupar o menor desgosto aos que se interessavam por ela, e que no fundo, quando ela pensa na madrugada de 15 de novembro (data da proclamação da República), lamenta ainda um pouco o seu 13 de maio".

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Museu Afro Brasil
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André Rebouças defendia dar terras para os escravos que fossem libertos
BBC Brasil - O projeto de reforma de Rebouças e Nabuco poderia ter ido para frente?
Alencastro - A relação de forças não era favorável. Não havia um movimento camponês a favor da reforma agrária, ou uma base popular lutando pelo o direito à terra. No final das contas, o Brasil é um dos únicos grandes países agroexportadores que nunca fez reforma agrária.
BBC Brasil - Além do campo, também havia muita escravidão nas cidades?
Alencastro - Se você somar a proporção de escravos do Rio com a de Niterói, você tem uma concentração urbana de escravos que não existiu em nenhum outro lugar no mundo, só no Império Romano. No Brasil, a escravidão também tinha essa característica urbana, em uma escala que não ocorreu nas Américas. A escravidão marcava as cidades. Em 1849, o Rio tinha 260 mil habitantes, 110 mil dos quais eram escravos. Isso dá 42% da população.
BBC Brasil - Como foi o dia seguinte à abolição? O que aconteceu com os escravos que se viram livres em 13 de maio de 1888, mas sem compensações, sem apoio do Estado para começar uma vida nova?
Alencastro - Na sequência da abolição, a mão de obra imigrante vai aumentando. Muitos ex-escravos ficam fora do mercado de trabalho na zona rural e, em parte, nas cidades. Mesmo sendo brasileiros, os ex-escravos não tiveram cidadania plena, porque a sua quase totalidade era analfabeta, e o voto do analfabeto foi proibido em 1882, ainda no Império. Este ferrolho para excluir os negros livres e os ex-escravos também atingiu os brancos pobres e analfabetos, como é óbvio. Até 1985, quando o voto deles foi permitido.
BBC Brasil - A escravidão foi um processo de muita violência. Essa violência usada contra os negros acabou quando a escravidão chegou ao fim?
Alencastro - A Constituição brasileira de 1824, no art. 179, proibiu punir crimes com castigo físico. A partir daquele momento, não se podia mais torturar - a inquisição portuguesa havia institucionalizado a tortura como prova, até a pessoa confessar. Vem então o Código Criminal de 1830 que especifica no art. 30: se o condenado for escravo ele não vai para a cadeia, a pena é transformada em açoite. Isso porque se o escravo fosse para cadeia, causaria uma perda de mão-de-obra e dinheiro para o seu senhor. Assim, o escravo era açoitado publicamente, humilhado, torturado. Depois, semanas depois, quando estivesse reestabelecido (do açoitamento), o escravo voltava a trabalhar. Então, a tortura foi legal no Brasil até 1888, mas só para os escravos. Quando a abolição ocorre, a polícia já estava habituada a bater neles. Neles e nos brancos desfavorecidos. Como no caso do voto do analfabeto citado acima, os mecanismos da repressão escravista contaminam a sociedade inteira.

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A tortura era proibida contra brancos; para os escravos, a punição era o açoite
BBC Brasil - Cerca de 4,8 milhões de africanos aportaram como escravos no Brasil. É muito mais que em qualquer outro lugar no mundo. Nos Estados Unidos, foram menos de 400 mil. Por que a vinda de escravos para o Brasil foi tão grande?
Alencastro - São vários fatores. Do ponto de vista da navegação, há um sistema de correntes e ventos que aproxima muito o Brasil da África. A viagem de ida e volta para os portos brasileiros era 40% mais curta do que a dos navios saindo das Antilhas ou dos Estados Unidos, os quais enfrentavam turbulências na ida e na volta, quando atravessavam a zona equatorial. O Brasil também tinha mercadorias que eram trocadas por escravos, como tabaco e cachaça. Outro fator importante são as conexões do Brasil com os portos africanos. Quando a Corte portuguesa veio para cá, o Rio de Janeiro se tornou a capital do império português - isso incluía Angola, Moçambique... Também havia bases mercantis de interesse brasileiro lá - muito mais associadas ao Brasil do que a Portugal. Isso os americanos nunca tiveram. O negócio negreiro dos Estados Unidos era muito mais controlado pelos ingleses.
O terceiro fator é o boom do café, que aumentou muito o tráfico negreiro para o Centro-Sul do Brasil. Quem estava financiando isso em última instância? O operário e a classe média inglesa, francesa, russa, que estavam tomando café mais frequentemente. O café do Brasil não tinha concorrência. A partir de 1840, o Brasil vira o maior produtor mundial de café - e é o maior até hoje. Não foi assim com o ciclo do açúcar, que sofria concorrência das Antilhas.
BBC Brasil - Os próprios africanos participaram do comércio de escravos, não?
Alencastro - Os africanos desenvolviam comércio de escravos localizado, limitado aos circuitos regionais das zonas econômicas africanas. A articulação desse comércio interno ao comércio Atlântico - que era um dos setores mais dinâmicos da economia mundial, com companhias formadas, com acionistas investindo pesado - criou uma demanda de escravos que exacerbou o tráfico interno africano. Também houve a importação de armas europeias, dando maior impacto aos conflitos internos, que eram os mecanismos de criação mercantil de escravos. O comércio atlântico negreiro era um comércio totalmente europeu e brasileiro. Nunca houve um navio africano vendendo escravo nos portos das Américas.
BBC Brasil - Como a escravidão explica o país e a sociedade que o Brasil se tornou?
Alencastro - O tráfico negreiro em si explica muita coisa. Explica a unidade nacional, por exemplo. Quem quisesse se separar do governo do Rio de Janeiro, da Coroa, já sabia por antecipação que ia sofrer pressão da Inglaterra quando ficasse independente e teria que acabar com o tráfico. Quem estava melhor posicionado para moderar a pressão inglesa contra o tráfico transatlântico de africanos? O governo do Rio de Janeiro. Uma monarquia que tinha corpo diplomático bem plantado na Europa e era a única representante do sistema monárquico europeu nas Américas. A unidade nacional brasileira é um fenômeno inédito nas Américas. Falava-se a mesma língua. Mas da Patagônia até a Califórnia também se falava a mesma língua, o espanhol, e os quatro vice-reinos espanhóis se fragmentaram virando 19 países.
Mas não é só. O tráfico também explica boa parte da diferença entre o Centro-Sul e o Nordeste do Brasil. O sucesso do primeiro não é porque teve mais espírito comercial. É por causa do café, mas também porque a rede negreira fluminense era mais extensa e mais eficaz na África que a dos negreiros pernambucanos ou baianos. Por isso, o café pode se expandir tanto.
BBC Brasil - 130 anos é pouco tempo, só cerca de quatro gerações. Mesmo assim, parece muito distante. Por que temos a impressão de que a escravidão é um passado tão longínquo?
Alencastro - Eu conheci gente em Goiás que falava do tempo da escravidão. E há depoimentos de ex-escravos colhidos no Paraná, nos anos 1950. Por que parece que é tão longe? Logo depois da abolição o assunto saiu de pauta. Salvo para se ensinar que a abolição foi uma generosidade da Coroa, do governo, da redentora princesa Isabel. Daí o motivo do movimento negro ter proposto a troca do 13 de maio pelo 20 de novembro (Dia da Consciência Negra), da princesa Isabel por Zumbi - numa luta política significativa. E depois veio também a imigração, criou-se uma outra história popular que não deixava muito espaço para a história dos afro-brasileiros.
BBC Brasil - A abolição foi uma farsa?
Alencastro - A abolição teve limites. Mas ela ocorreu, não foi farsa. Seria como dizer que a República foi uma farsa, que não acabou com a monarquia. A abolição acabou com a aberração gerada por um quadro institucional e legal que permitia uma pessoa ter como propriedade outra pessoa e seus descendentes, de maneira perpétua. A abolição também não foi uma benevolência da princesa ou do governo. A monarquia já estava caindo, fez uma última manobra e caiu ao tentar captar a plataforma abolicionista para enfraquecer o movimento republicano

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4,8 milhões de africanos foram transportados para o Brasil e vendidos como escravos, ao longo de mais de três séculos
BBC Brasil - O senhor é defensor das cotas...
Alencastro - O meu argumento das cotas é que elas são fundamentais para os negros, para os índios e para os pobres e os brasileiros em geral. São elas que vão consolidar a democracia plena no Brasil, com acesso à educação e ao trabalho.
BBC Brasil - Há quem defenda cotas por renda, não por cor...
Alencastro - A cota social apareceu como um argumento substitutivo dos que não queriam apoiar a cota racial. Ninguém falava em cota social no Brasil antes do movimento negro levantar a bandeira da política afirmativa racial - a favor dos negros e também dos índios, é importante lembrar. Trata-se de uma política baseada nas estatísticas étnicas dos Estados. Na região amazônica a proporção de jovens de origem indígena é importante, e as cotas favoreceram a entrada deles nas universidades federais.
O Supremo Tribunal Federal votou unanimemente pela constitucionalidade das cotas, em 2012. Raras decisões do Supremo são unânimes. Juridicamente, a situação estava definida: os negros não sofrem descriminação legal, mas há mecanismos informais que os descriminam e desqualificam de forma óbvia.
O censo de 2010 mostrou que a maioria da população é negra. Esse dado deve ser bem observado pela maioria dos progressistas e por setores do movimento negro que consideram a política afirmativa como um instrumento em favor da diversidade. É muito mais do que isso. É um instrumento em favor da democracia, do funcionamento do Estado, que favorece o país inteiro. Achar que ela garante a diversidade é considerar que os negros são uma minoria, como nos Estados Unidos. Mas no Brasil eles são a maioria.
BBC Brasil - O senhor também defende o ensino de história da África nas escolas.
Alencastro - A maioria das pessoas que chegaram aqui são africanos. É esse o dado que os professores têm que dar em reunião de pais e mestres, quando perguntam por que perder tempo com história da África. Ora, porque a África é mais importante para a formação do povo brasileiro do que a Ásia e boa parte da Europa e das Américas.

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11419599101?profile=original“No primeiro dia do segundo mês, no segundo ano após o êxodo da terra do Egito, o Eterno falou a Moisés no deserto do Sinai, na Tenda do Encontro, dizendo: "Faça um censo de todo o Israelita companhia ... "- Números 1: 1-2

RESUMO DA TORÁ:

  • Deus ordena a Moisés que faça um censo de todos os homens israelitas acima dos vinte anos. (1: 1-46)
  • Os deveres dos levitas, que não estão incluídos no censo, são detalhados. (1: 47-51)
  • Cada tribo é designada para lugares específicos no acampamento ao redor do Tabernáculo. (1: 52-2: 34)
  • Os filhos de Levi são contados e suas responsabilidades são estabelecidas. (3: 1-3: 39)
  • Um censo dos primogênitos é tomado e um imposto especial de resgate é cobrado sobre eles. (3: 40-51)
  • Deus instrui Moisés e Arão quanto às responsabilidades de Arão e seus filhos, e os deveres atribuídos aos coatitas. (4: 1-20)

 

 

APLICAÇÃO DO CONTEXTO – No Deserto

 

O Livro dos Números - em hebraico, B'midbar , "No Deserto" - parece começar com uma grande promessa. Nosso cenário é o deserto do Sinai. Evoca um amplo universalismo e profunda espiritualidade. Como lemos no Midrash ( B'midbar Rabbah 1: 7 ), assim como o deserto é livre para todos, assim também é a Torá; e somente aqueles que se abrem como um deserto podem acessar sua sabedoria.

A Contagem, o senso, os números nos chama a atenção para sermos parte de algo maior que nós mesmos. Introduz-nos as tensões que permearão este livro da Torá: entre indivíduo e comunidade, Deus e humanidade, jornada e destino. Acima de tudo, pede-nos para nos levantarmos e sermos contados.

 

Comentários by Avraham Bar–Zohar (Altamiro Paiva).

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11419601098?profile=originalSe seguirdes as minhas leis e observardes fielmente os meus mandamentos, concederei vossas chuvas no seu devido tempo, para que a terra dê o seu fruto e as árvores do campo os seus frutos. - Levítico 26: 3-4
RESUMO DA TORÁ:
• Deus promete bênçãos aos filhos de Israel se eles seguirem a lei e adverte sobre as maldições que ocorrerão se não observarem os mandamentos de Deus. (26: 1-46)
• Doações feitas no Santuário seja por votos condicionais ou por atos incondicionais de gratidão piedosa são discutidos. (27: 1-34)

APLICAÇÃO DO CONTEXTO – A Escolha

Estamos no último texto de Vaykrá – Levítico, e nessa conexão estamos diante do processo de escolha diante do Criador. Qualquer que seja o resultado da nossa escolha, teremos um resultado final, um enfoque a lei de causa e efeito. Quando obedecemos ao Criador temos a certeza de que seremos bem sucedidos.
Comentários by Avraham Bar–Zohar (Altamiro Paiva).

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11419597281?profile=original“O Eterno falou a Moisés no Monte Sinai: "Fala ao povo de Israel e diz-lhes: Quando entrares na terra que te designar, a terra observará o sábado do Eterno". - Levítico 25: 1-2
RESUMO DA TORÁ:
• Deus instrui Moisés a dizer aos israelitas que a cada sétimo ano, a terra deve observar um sábado de descanso completo: os campos não devem ser semeados e as árvores não devem ser podadas. (25: 1-7)
• Depois de quarenta e nove anos, um ano de jubileu deve ser celebrado quando todas as terras que foram vendidas durante esse período devem ser devolvidas aos seus donos originais e os escravos devem ser libertados. (25: 8-55)
• Deus instrui Moisés a dizer aos israelitas que não façam ídolos, guardem o sábado e venerem o santuário do Eterno. (26: 1-2)

APLICAÇÃO DO CONTEXTO – Uma Lição para a Humanidade?

A Tradição Judaica nomeia esta conexão de Shabat apenas como B’Har, no monte, e não faz referência ao Sinai. Certamente que a entrega da Torá ocorreu no SINAI, um pequeno monte sem muita visibilidade na planície, onde montes maiores estavam a vista. Por que tal escolha? Afirmam os estudiosos da Torá, que o Criador o escolheu, como uma forma de demonstrar ao próprio universo, que a manifestação do Eterno tem um relacionamento com a humildade.

Comentários by Avraham Bar–Zohar (Altamiro Paiva).

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11419600685?profile=originalO Eterno disse a Moisés: "Fala aos sacerdotes, filhos de Arão, e dize-lhes: O Sacerdote não ficará impuro por causa de algum [morto]". - Levítico 21: 1
RESUMO DA TORÁ:
• Leis que regulam a vida e os sacrifícios dos sacerdotes são apresentadas. (21: 1-22: 33)
• Os horários estabelecidos do calendário judaico são nomeados e descritos: o sábado, Rosh Hashaná, Iom Kipur e as Festas de Peregrinação de Pessach, Shavuot e Sucot. (23: 1-44)
• Deus ordena aos israelitas que tragam azeite claro para acender a menorá do santuário. Os ingredientes e a colocação dos pães expostos do pão do santuário são explicados. (24: 1-9)
• Leis que tratam de palavras obscenas, assassinatos e mutilações de pessoas são descritas. (24: 10-23)

APLICAÇÃO DO CONTEXTO – Vivenciando a Fé
As festas são momentos de reflexão em que nós Israelitas fazemos lembrar os feitos do Criador para com o seu povo. Para grupos de judeus praticantes da Chassidut, os eventos são portais cósmicos nos quais podemos desfrutar das bênçãos do Eterno. A conexão faz referência a disciplina dos atos no santuário e na vida como sociedade
Comentários by Avraham Bar–Zohar (Altamiro Paiva).

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11419601454?profile=originalO Eterno falou a Moisés dizendo: "Fale com toda a comunidade israelita e diga-lhes: Sereis santos, porque eu, o Eterno vosso Deus, sou santo". - Levítico 19: 1-2

RESUMO DA TORÁ:
• Deus emite uma variedade de mandamentos, instruindo os israelitas sobre como ser um povo santo. (19: 1-37)
• Situações que envolvem a sexualidade são discutidas e as consequências apresentadas. (20: 1-27);

APLICAÇÃO DO CONTEXTO – Buscando a Santificação
Há uma importante correlação entre a porção da Torá de Kedoshim e a antecedente, Acharê Mot. Em Acharê Mot, D’us ordena ao povo judeu: "Não use a prática da terra do Egito na qual você habitou, e não use a prática da terra de Canaã à qual Eu o trouxe, e não siga as tradições deles" (Vayicrá 18:3). Na porção que se segue, Kedoshim, o Criador se dirige o povo judeu: "Sereis santos, pois Santo Eu sou, Hashem, vosso D’us" (ibid. 19:2). Estes dois versículos fornecem uma ênfase esclarecedora sobre não apenas como vivemos como judeus, mas do modo que vivemos no contexto de onde vivemos.
Comentários by Avraham Bar–Zohar (Altamiro Paiva).

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11419601065?profile=original

Levítico - 16: 1–17: 16 – “O Eterno falou a Moisés após a morte dos dois filhos de Arão que morreram quando se aproximaram muito da presença do Eterno. - Levítico 16: 1.

 

RESUMO DA TORÁ: 

  • As obrigações que os líderes  kohein deveriam executar no Yom Kippur são delineados e a cerimônia do bode expiatório devidamente explicada. (16: 1-28)
  • Moisés instrui Aaron sobre as leis do Yom Kippur para jejum e expiação. (16: 29-34)
  • Advertências são emitidas contra a oferta de sacrifícios fora do Santuário e o consumo de sangue. (17: 1-16)

 

APLICAÇÃO DO CONTEXTO – Preservando Energias no Caos.

Muitos de nós gastamos bastante energia buscando entender as raízes da provação, tribulação e tragédia. Dedicamos nossas atenções imediatas à retrospectiva, tentando diminuir o caos da incerteza. A Parashat Acharei Mot , em suas palavras iniciais, quer que nos concentremos no que acontece “depois das mortes”.  Após o Caos testemunhamos um pai atraído por um caminho a ser percorrido diante dele. Vemos um texto que não aponta para o julgamento sobre seus filhos ou sua perda. E em vez disso, vemos as ações que o leva adiante, além do inimaginável.

by Avraham Bar–Zohar (Altamiro Paiva).

 

 

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Dia do perdão.Paulo Blank

Ao reverter a seta do tempo o perdão transforma relações. Desfaz as nódoas paralisadas da existência. Modifica o passado e transforma o futuro. Sem ele as emoções continuariam congeladas num eterno presente. A sua função é libertar quem sofre. Desviculá-lo daquele que lhe causou a dor. O perdão interessa a quem perdoa. Na civilização midiática ocidental, qualquer homem público diz e faz o que bem entende, mas, assim que tropeça em alguma falta, vai a público e pede desculpas. A expectativa do perdão garantido banaliza o gesto. Humanismo de crianças abandonadas, protegidas por alguma entidade tarnscedental sempre pronta a perdoá-las. Olhando do ângulo daquele que pede, o perdão só faria sentido se pudesse transformar a culpa em responsabilidade. Coisa discutivel.
Emanuel Levinas analisa o tratado Yoma, um estudo talmúdico sobre o tema do perdão: “Se um homem comete uma falta com relação a outro homem e o apazigua, Deus perdoará; mas se a falta se refere a Deus quem poderá interceder por ele a não ser o arrependimento e as boas ações”. O autor grifa o final da frase. O texto é claro. Em relação ao próximo, Deus não interfere. Em relação a Ele, também não. É a própria pessoa que se transforma em agente de seu perdão através da atitude que toma para com o outro. Nada de conversas facilitadoras. Sem perdão antecipado, o homem se percebe solitário em sua responsabilidade frente ao outro. A idéia dos “eles não sabem o que fazem” cai por terra. A Torá prefere a prática de uma responsabilidade que, não se restringe aos hebreus. Ela inclui, na mesma exigência, o estrangeiro que mora junto à porta daquele que sabe dos mandamentos. Uma religião para adultos, como repete Lévinas em várias ocasiões.
“Pode-se perdoar muitos alemães, mas alguns alemães são difíceis de perdoar. É difícil perdoar Heidegger... de liberá-lo de sua responsabilidade”. Embora considerasse Heidegguer o maior filósofo desde Platão,Emanuel L,evinas nunca abandonou esta opiniâo sobre o grande pensador. É na esteira de opiniões como estas que surgem perguntas Quando os representantes das comunidades judaicas brasileiras reagem tardiamente, e com muita discriçao para não chamar a atenção, às comparaçoes que fez Bolsonaro entre o nazismo e socialismo. Quando eles fingem esquecer as dezenas de milhares de judeus pertencentes ao BUND, o movimento operário judeu do leste europeu, aprisionados e mortos pelos alemães “socialistas”. Quando o embaixador de Israel corre para justificar Bolsonaro em seu proprio twitter, ele quer se opor ao Presidente Rivlin. A quem, teoricamente, representa. Rivlin havia declarado de maneira incisiva, que, nenhum interesse politico pode acobertar a violencia das afirmaçoes do presidente do Brasil. Refería-se a Netaniau. E também ao tema do esquecimento e do perdão que Bolsoando levantou diante dos seus aliados evangélicos.
Quando os descendentes de tantos assassinados se fazem de desentendidos, quem intercederá por eles no Dia do Perdão?

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RESUMO DA TORÁ:

• Arão e seus filhos seguem as instruções de Moisés e oferecem sacrifícios para que Deus perdoe o povo. (9: 1-24)
• Dois dos filhos de Arão, Nadabe e Abiú, oferecem "fogo alheio" a Deus. Deus os penaliza, e são mortos; (10: 1-3)
• Deus proíbe Moisés, Arão e seus filhos sobreviventes de lamentar, mas ordena que o resto do povo o faça. Os sacerdotes são instruídos a não beber álcool antes de entrar no Tabernáculo sagrado e são instruídos a fazer sacrifícios. (10: 4-20)
• Leis são dadas para distinguir entre animais puros e impuros, pássaros, peixes e insetos. (11: 1-47).

APLICAÇÃO DO CONTEXTO – Da Comida Kasher.
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“Consta no Midrash que uma das razões pelas quais Deus nos permitiu comer certos animais e nos proibiu outros é a intenção de refinarmos. O refinamento fundamental efetuado pelo cumprimento dessas leis é o autocontrole que ganhamos submetendo-nos a limitações do que podemos comer. Nessa perspectiva, não há nada repugnante nos animais proibidos em si, fisicamente ou em outro aspecto; o povo judeu tem de abster-se de comê-los simplesmente porque Deus assim decretou”. (CHUMASH VAICRÁ – Shemini; Pg 49).
Compilado by Avraham Bar–Zohar (Altamiro Paiva).

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"https://www.dnoticias.pt/" Na terça-feira cumprem-se 40 anos que o israelita Menaghem Begin e o egípcio Anwar al-Sadat assinavam em Washington o primeiro tratado de paz israelo-árabe alterando profundamente a situação diplomática e militar no Médio Oriente, segundo a agência France Presse.
Realizado na sequência dos acordos de Camp David de 1978 e da visita histórica a Jerusalém em 1977 do Presidente Sadat, o tratado acabou com o estado de guerra entre os dois países que durava há 30 anos, desde a criação do Estado hebreu em 1948.
Atualmente Israel e o Egito vivem um estado de “paz fria”, com o poder do Cairo a ter de lidar com uma opinião pública largamente hostil ao Estado hebreu, mas os dois países dizem ter uma cooperação estreita a nível da segurança.
O acordo de paz entre os dois vizinhos resistiu a duas guerras no Líbano (1982 e 2006), a dois levantamentos palestinianos (as Intifadas de 1987 e 2000) e aos sucessivos fracassos do processo de paz israelo-palestiniano.
O Egito foi o primeiro Estado árabe a assinar a paz com Israel e desde então apenas a Jordânia fez o mesmo em 1994.
O tratado foi criticado pelos países árabes como uma forma de traição, em particular em relação aos palestinianos, e o Egito foi suspenso da Liga Árabe por ter desafiado o consenso. A maioria dos países árabes rompeu as relações diplomáticas com o Cairo.
O Presidente Anwar al-Sadat foi muito criticado no seu próprio país e pagou a decisão com a vida, sendo assassinado por extremistas em outubro de 1981.
Ao assinar o tratado, o Egito não só consegue a paz, mas recupera o Sinai (embora tal só entre em vigor em 1982) e obtém o desmantelamento dos colonatos israelitas nesta península. Também fica a beneficiar de uma ajuda económica e militar considerável dos Estados Unidos.
O Cairo oferece a Israel, além da paz, relações diplomáticas e económicas, assegurando o tratado a livre circulação dos navios israelitas no canal de Suez e o reconhecimento do estreito de Tiran e do golfo de Aqaba como vias de navegação internacionais.
Apesar dos problemas, a relação israelo-egípcia continuou “estável” e “o tratado de paz perdurou”, declarou Amr al-Shoubaki, investigador no Centro de Estudos Políticos e Estratégicos de Al-Ahram no Egito, citado pela AFP.
Nos últimos anos a cooperação entre o Egito e Israel reforçou-se na península do Sinai, onde o Cairo tem enfrentado combatentes ‘jihadistas’, nomeadamente de um ramo do grupo extremista Estado Islâmico.
Numa entrevista à televisão norte-americana CBS no início do ano, o Presidente do Egito, Abdel Fattah al-Sisi, reconheceu como “verídicas” as informações de que a cooperação no Sinai entre os dois vizinhos nunca tinha sido mais estreita.
Além da cooperação militar, Egito e Israel desenvolveram mais recentemente laços ao nível do setor da energia, tendo por exemplo concluído um acordo em fevereiro de 2018 para a transferência de gás natural dos campos israelitas de Tamar e Leviathan para território egípcio.
“O nosso tratado de paz é um pilar da estabilidade no Médio Oriente”, disse o embaixador do Egito em Israel, Khaled Azmi, ao apresentar credenciais ao Presidente israelita, Reuven Rivlin, em novembro, citado pelo jornal Times of Israel.
Rivlin considerou na mesma altura que o Egito é “muito importante para a estabilidade da região, uma região que é muito instável”.
“Nos últimos 40 anos fizemos muito para estabilizar a região, mas ainda temos de trabalhar para um melhor entendimento entre o povo egípcio e o povo israelita”, disse ainda o presidente de Israel, segundo o Times of Israel

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11419599660?profile=original“O Eterno falou a Moisés, dizendo: "Ordena Aarão e seus filhos assim: Este é o ritual do holocausto: O holocausto permanecerá onde for queimado no altar a noite toda até de manhã, enquanto o fogo no altar é mantido em andamento. " - Levítico 6: 1-2

RESUMO DA TORÁ:

• Os cinco sacrifícios que os sacerdotes deveriam realizar são descritos. (6: 1-7: 38)
• Limitações sobre o consumo de carne são delineadas. (7: 17-27)
• Detalhes sobre a ordenação de Arão e seus filhos como sacerdotes e a preparação do Tabernáculo como lugar sagrado são dados. (8: 1-36)

APLICAÇÃO DO CONTEXTO – O altar, Local de exaltação.

“A D’us agrada que as pessoas procurem se elevar, praticando boas ações com todos os objetos que utilizarem.” (TORATI – O seu dia-a-dia conforme o Pentateuco;1396 – pg 329);
“Quando a comunidade se reúne para cumprir em conjunto, uma Ordem Divina, D’us se manifesta abençoando os participantes”. (TORATI – O seu dia-a-dia conforme o Pentateuco;1407 – pg 332).
Compilado by Avraham Bar–Zohar (Altamiro Paiva).

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Judaísmo na Corte de D. Pedro II por Reuven Faingold

Em 2 de setembro de 2018, um incêndio devastou o Museu Nacional do Rio de Janeiro, chocando a sociedade brasileira e o mundo, e revelando o descaso total das autoridades com o patrimônio cultural do país. Esta instituição guardou durante anos uma Torá, também conhecida como os “Pergaminhos Ivriim”.
Edição 102 - Dezembro de 2018

Felizmente, como tais manuscritos necessitavam nova restauração, a Torá foi trasladada, do Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, para a Seção de Obras Raras da Biblioteca da Universidade, situada no Horto Florestal, próximo ao museu. Esta ação acabou por salvar o precioso manuscrito do fogo que devastou o museu. A Torá já havia sido restaurada em novembro de 1998, pois os pergaminhos encontravam-se marcados por fungos e orifícios decorrentes de ataque de micro-organismos. Restaurada, essa Torá permaneceu no 1º pavimento do Museu Nacional, no Museu do Imperador, um espaço pouco citado na historiografia. E, ao que tudo indica, pertenceu ao Imperador D. Pedro II.
Que relação e que interesse o monarca teria tido com o universo judaico? Seguem-se alguns episódios pouco conhecidos de sua relação com esse universo.
A VIAGEM DE D. PEDRO À TERRA SANTA
Em 1998, tive o privilégio de ter acesso à “Caderneta de viagens” de D. Pedro II à Terra Santa, guardada no Museu Imperial de Petrópolis. Há anos, o documento era parte do acervo, mas até então não havia sido estudado. Lá consegui, também, resgatar fontes históricas que me ajudaram a reconstituir a fascinante viagem de peregrinação de 24 dias empreendida, em 1876, pelo monarca brasileiro e sua comitiva imperial. Sua Majestade percorreu lugares recônditos, conheceu várias personalidades e exercitou sua verdadeira vocação de orientalista amador.
As cidades da Terra de Israel se agitaram com o visitante ilustre. Em seu Diário encontramos os três principais elementos da chamada literatura de peregrinação: a reconstrução da cena “in loco”, fundamental para estabelecer a passagem do profano ao sagrado; a leitura e meditação de algum trecho bíblico, indispensável para identificar e valorizar o fato histórico; e o poder espiritual da oração que gera devoção, envolvendo os sentimentos dos peregrinos.
D. Pedro d’Alcântara, tido como “rei sábio”, foi criado para as letras e as artes. Amado e elogiado, criticado e censurado, foi um homem culto e uma figura ímpar que merece um lugar de destaque na galeria dos grandes vultos da Humanidade.
PERGAMINHO DA TORÁ
Em 23 de agosto de 1995, a revista Veja publicou uma nota intitulada “Pergaminho de 24 metros”. A matéria falava da existência dos três pergaminhos mais antigos da Torá: o primeiro, no Museu de Israel, em Jerusalém; outro, nos Estados Unidos, e um terceiro, no Brasil. Este último era um rolo de 24 metros de comprimento, dividido em 9 peças de 60 centímetros de altura cada, manuscrito sobre pele de novilho avermelhado. O texto teria sido copiado por um escriba que habitava o Egito entre os séculos 1 e 41. Escritos com pigmento vegetal, os pergaminhos estavam, como dissemos, no Museu Nacional do Rio de Janeiro.
A nota da Veja levantou uma pergunta: poderia o manuscrito guardado no Museu Nacional ser o mesmo mencionado pelo Imperador em seu “Diário de Viagem”, e que lhe teria sido apresentado em 1876, na sinagoga dos samaritanos, em sua viagem?
Antes de examinar a questão é necessário abrir um parêntese para ressaltar que os samaritanos não fazem parte do Povo Judeu, sendo uma seita muito antiga anterior ao exílio judaico para a Babilônia. Professam o Samaritanismo, religião intimamente relacionada com o Judaísmo, sendo seu culto baseado no Pentateuco Samaritano. Há cerca de 6 mil diferenças entre o texto samaritano e o massorético2. Em grande parte, são variações na grafia de palavras ou construções gramaticais, mas há também importantes mudanças semânticas, tais como o mandamento exclusivo dos samaritanos de construir um altar no Monte Guerizim.
Voltando ao Museu Nacional, em rápida visita ao seu Departamento de Arqueologia, constatei que o manuscrito samaritano, citado no “Diário de Viagem”, não é o que se encontra tombado, desde 1998, no Museu. Esta tese é sustentada por cinco argumentos, que descrevemos abaixo.
Em primeiro lugar, nesse diário D. Pedro menciona um manuscrito em pele de gazela, enquanto que o do Rio de Janeiro é todo em couro de novilho. Em segundo, as letras do Pentateuco dificultavam a leitura, estando algumas apagadas, como relata o Imperador, enquanto são bem legíveis os caracteres dos rolos do Sefer guardado, até há pouco, no Museu Nacional. Ademais, ainda segundo o Diário, os pergaminhos samaritanos supostamente datavam da época de Avishua, filho de Pinchas, Cohen Gadol (Sumo Sacerdote) no tempo de Yehoshua bin Nun, sucessor de Moshé. Já o Pentateuco do Rio de Janeiro seria obra de um sofêr que viveu no Egito entre os séculos 1 e 4, como vimos acima.
Finalmente, a prova mais evidente de que os Pergaminhos guardados no Museu Nacional não eram os mesmos aos quais D. Pedro tivera acesso na sinagoga samaritana reside no formato dos caracteres hebraicos. As letras dos escribas samaritanos eram diferentes das letras hebraicas utilizadas pelos judeus. O argumento mais contundente é o fato de que a promessa dos samaritanos de levar uma cópia do Pentateuco Samaritano ao Imperador nunca foi cumprida.
Cabe, então, outra pergunta: quem teria trazido ao Brasil os Pergaminhos Ivriim? Lamentavelmente não há registro algum sobre sua procedência, apenas suposições ... É bem provável que tenha sido o próprio Imperador, mesmo não se tratando dos pergaminhos que lhe foram apresentados na sinagoga samaritana. D. Pedro tinha um fascínio por manuscritos antigos. Em agosto de 1876, por exemplo, três meses antes de chegar à Terra de Israel, havia analisado manuscritos hebraicos antigos em encontro com orientalistas em São Petersburgo, Rússia.
GENEALOGIA E JUDAÍSMO
Em 2 de dezembro de 1825 nascia, no Rio de Janeiro, Dom Pedro d´Alcântara. Desde cedo teve vida calma, comparecendo ao Paço Imperial somente nas solenidades. A Quinta da Boa Vista passou a ser sua residência, e era lá que estudava línguas exóticas, como mandarim, tupi-guarani e sânscrito, mergulhando fundo nas culturas clássicas e orientais. Mesclava-se em sua pessoa o bibliógrafo, o astrônomo e o helenista. Sua enorme curiosidade pelas descobertas científicas aproximou-o dos grandes espíritos da época.
D. Pedro II era um Bourbon e também um Bragança. Pertencia à estirpe dos reis de Portugal. Uma lenda narra a origem judaica dos Bragança. Certa vez, durante o governo do Marquês de Pombal, apresentou-se um cortesão perante o rei, propondo-lhe que os descendentes dos cristãos novos portassem um chapéu amarelo para diferenciá-los de outros grupos. O rei, entusiasmado com a ideia, foi dissuadido por outro nobre, que se apresentou diante dele com três chapéus amarelos e disse: “Tomo o primeiro para mim e entrego os outros, um ao Inquisidor-mor e o terceiro à Vossa Majestade, em homenagem à formosa judia de quem precede a Casa de Bragança”.
Quem seria essa formosa judia? Era Inês Fernandes Esteves, filha do judeu espanhol, o sapateiro Mem ou Pero Esteves, conhecido como “Barbadão de Veiros”. Inês teve dois filhos com um bastardo real, que depois seria rei de Portugal com o nome de D. João I. Um dos filhos, D. Afonso (1377-1461), foi sagrado 1º Duque de Bragança, e dele descenderiam os futuros reis de Portugal e do Brasil.
OS ESTUDOS DE HEBRAICO
D. Pedro II era disciplinado nos estudos. Seus “Diários” registram horários rígidos, mestres qualificados e uma obstinada dedicação à aprendizagem. Apreciava e era versado nos idiomas sânscrito, grego, hebraico, árabe, mandarim e tupi-guarani. O poeta luso Ramalho Ortigão (1836-1915), em “As Farpas”, rasga elogios cheios de ironia à importância atribuída à língua dos hebreus: “Apeteceu-lhe o hebraico. Vossa Majestade provou o severo idioma bíblico dos Patriarcas, e sentiu-se refrigerado e satisfeito”.
Desde jovem D. Pedro II acalentava o desejo de conhecer a língua bíblica. Naquela época, o hebraico não passava de idioma de liturgia e culto. Não fora renovado pelo escritor Eliezer Ben Yehuda, o que só ocorreria na Era Moderna. Na introdução às “Poesias hebraico-provençais do Rito Israelita Comtadin”3, escritas em 1890, D. Pedro registra o motivo pelo qual se dedicara a aprender hebraico: “Quanto ao histórico de meus estudos hebraicos empreendidos com o fito de melhor conhecer a história e literatura dos judeus, principalmente a poesia e os Prophetas (sic), assim como as origens do Christianismo (sic), tais estudos remontam aos anos que antecederam à Guerra do Paraguai, em 1865. Encetei-os durante as minhas permanências em Petrópolis com o Sr. Akerbloom, judeu sueco. Mais tarde, retomei-os com o Sr. Koch, ministro protestante alemão. Após a morte súbita deste, prossegui-os com o doutor Karl Henning e, desde 1886, com meu sábio colaborador e professor de línguas orientais, Christian F. Seybold, com quem continuei o estudo sério do árabe”.
O texto acima destaca o valor atribuído pelo monarca à literatura judaica ao mencionar até os nomes de seus quatro mestres de hebraico. O primeiro, Leonhard Akerbloom (1830-1896), judeu oriundo dos países nórdicos, escolhido para ser o cônsul da Suécia e da Noruega no Brasil entre 1867 e 1871. Ao começar as aulas com ele, D. Pedro tinha 42 anos.
Ferdinand Koch foi o segundo professor do Imperador; dominava grego, latim, hebraico e lecionava sânscrito. Depois de anos no Rio, Koch tornou-se amigo de Pedro II, morrendo em Petrópolis. No dia do enterro, seu aluno o perpetuou com uma inscrição em seu jazigo, tratando-o de “amigo” em latim, grego e hebraico.
Karl Henning foi seu terceiro professor. Ancorou no Rio de Janeiro em 1874, carregando livros e manuscritos. Dois dias após sua chegada recebe a primeira carta de Pedro II que, entre outras, dizia: “..., há pouco mais de um mês não converso e, desta forma, poderá conhecer o quanto sei de hebraico pelas traduções do Gênesis. Traga sua Bíblia hebraica e algo em sânscrito para leitura. Desculpe a minha pressa em querer demonstrar o desejo de estudar. Seu devoto aluno, D. Pedro II”.
O linguista alemão Christian Fredrich Seybold (1859-1921), quarto erudito que lecionou hebraico ao Imperador, chegando ao Brasil em 1887, atuou como correspondente da Real Academia de la Historia de Madri, do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e da Sociedade Arqueológica da França.
O acervo do Museu Imperial de Petrópolis conserva 19 folhas do “Glossarium Hebraicum Liber Genesis I-II & Psalmorum”, cadernos de hebraico do monarca. Neles, os comentários de D. Pedro II não aparecem em português, mas em inglês ou grego. As notas nas margens das páginas, com caligrafia miúda, foram feitas em latim.
FORNECEDORES E SERVIDORES
Segundo o recenseamento de 1872, apenas 2.309 eram judeus em uma população total de 10 milhões de habitantes. Os fornecedores judeus credenciados pela corte mantinham estreitos contatos com o exterior.
A “Wallerstein Masset & Company” era provedora oficial da Casa Imperial. Seu dono, o judeu Bernard Wallerstein, conhecido como “o rei da moda”, encomendava em Paris cristais, porcelanas e outros objetos de decoração.
O professor Berliner, judeu alemão especialista em caligrafia, era o responsável pelos livros entregues ao monarca. Estas obras chegavam em grandes quantidades. O judeu italiano A. Curiel, redator do “Corriere Israelitico”, enviou em 1877 um fascículo de sua revista. O rabino Isidor Halisch enviou-lhe, desde os Estados Unidos, um livro em hebraico. Friedrich Israel enviou a obra “Conselho de Estado na Prússia” e os textos de Paul Herzberg (1878), Julius Gaspary (1883) e Joseph Hollmann (1889), todos lidos pelo monarca. Em carta, D. Pedro II agradece a Salomon Hurwitz pela oferta de um manuscrito proveniente de Jerusalém. Desde Paris, um livreiro dos Rothschilds era também cadastrado como fornecedor de Sua Majestade. O dentista judeu, Dr. Samuel Eduard da Costa Mesquita (1837-1894), atendia D. Pedro II. Era casado com Mary Roberta Amzalak, filha mais moça de Isaac e Grazia Amzalak, uma das três graças eternizadas em “Hebreia”, belo poema de Castro Alves. O dentista morava em São Paulo e viajava até Campinas onde oficiava as rezas nas festas judaicas.
A firma “Gabriel & Segrè” recebeu o título de “Alfaiate de Sua Majestade”, com permissão para colocar o brasão das armas imperiais no frontispício do estabelecimento. Entre os vários membros dessa família judeu-italiana encontramos escritores, professores e militares.
A participação de famílias judias na agricultura e na colonização do Brasil foi significativa, principalmente imigrantes chegados dos Estados Unidos. Dentre essas famílias aparecem os Nathan. Em 1870, Charles Nathan expunha a D. Pedro II a precária situação da “Fazenda Funil”, futura cidade de Americana. Em consequência das enchentes e da seca, Nathan viu-se obrigado a sustentar 500 imigrantes sulistas para que não morressem de fome. Após algum tempo, viu-se forçado a solicitar a ajuda do governo brasileiro, pois faltavam-lhe os meios suficientes para tão nobre fim.
LAZER E CULTURA
O casal Kahn, judeus originários da Alsácia, era responsável pelos animados saraus do palácio. Contratada pela corte, a Sra. Sarah Kahn encarregava-se de organizar atividades culturais, palestras, conversas e encontros abordando temas de viagens, língua hebraica e Bíblia.
No teatro, as performances da atriz Sarah Bernhardt (1844-1923) eram incomparáveis. Filha de judia holandesa, a “Diva Sarah” começou a encenar no Teatro Odéon, e mais tarde representou dramas clássicos e românticos na Comédie Française. Sua primeira tournée pelo Brasil, em 1866, gerou grande agitação nos círculos sociais e acadêmicos. O preço dos ingressos para suas apresentações era bem elevado, mas as pessoas acotovelavam-se nas bilheterias para comprá-los. D. Pedro II convidou-a para visitar seu camarote, presenteando-a com uma pulseira de ouro.
O maestro Louis Moreau Gottschalk (1829-1869) chegou ao Rio de Janeiro para reger grandes concertos, alguns inclusive na presença do Imperador. Sua primeira apresentação, a “Grande Fantasia Triunfal sobre o Hino Nacional” realizou-se em novembro de 1869.
A segunda, programada para alguns dias depois, não chegou a se concretizar, pois o compositor judeu americano morreu, poucos dias depois. Alexandre Levy (1864-1892) era filho de Henrique Luiz Levy, o fundador da “Casa Levy”, importante ponto de encontro dos artistas da época. Alexandre era um compositor romântico, sendo responsável por incorporar à música temas típicos do país, convertendo-se num verdadeiro precursor do movimento musical brasileiro de caráter nacionalista. Entre suas composições principais, “Variações sobre um tema brasileiro (Vem cá, Bitu)”, “Comala”, “Suíte brasileira para Orquestra”, “Fantasias sobre motivos do Guarani”, “Hino ao Quatorze de Julho”, “Schumannianas” para Piano, “Sinfonia em mi” e seu famoso “Tango Brasileiro”.
Músicos judeus também se destacaram no Império: o casal Joseph e Ada Heine (rabequista e pianista), Cecilia Silberberg (pianista), as irmãs Mathilde e Virgínia Sinai (pianista e violinista), de Belém do Pará, Harold H. Hime, Paula Buchheim, Ida e Helen Goldschmidt, Robert Kinsman Benjamin, entre outros.
BANQUEIROS E EMPREENDEDORES
Um dos primeiros financiers do Segundo Império foi Dennis Samuel (1782-1860), judeu britânico, negociador respeitado na corte. “Rothschild & Sons” era um banco espalhado pelos quatro cantos da Europa. Investidores britânicos atuavam no Brasil e tinham um portfólio que incluía os maiores financiamentos da época. Num mundo difícil para os negócios, o caso do cliente brasileiro era simples, pois o governo nunca discordava de seu banqueiro, até porque o próprio barão Lionel Rothschild se encarregava de aplicar o dinheiro do embaixador Carvalho Moreira, diplomata brasileiro que se tornou agente da grande casa bancária.
Os empréstimos para a construção da Estrada de Ferro D. Pedro II foram feitos pelos Rothschilds. Em 1859, na lista de acionistas da “São Paulo Railway” aparecem vários judeus londrinos.
A firma “Samuel & Phillips & Company” atuava no Brasil desde 1824. O judeu Samuel Phillips era cunhado dos Rothschilds. A empresa doava altas quantias para empreendimentos sociais e filantropia, para encanamento das águas do rio Maracanã, para os indigentes das Vilas de Diamantina e do Príncipe, em Minas Gerais, e para obras da Praça do Comércio, no Rio de Janeiro. Samuel Phillips, pelas suas excelentes relações comerciais e lealdade ao monarca, procurava obter taxas de juros mais baixas para o Brasil.
José Buschenthal era um banqueiro que efetuava transações com o Tesouro, recebendo o monopólio da venda do sal, de onde obteve imensos proventos. Nascido em um lar judeu, acabou por se converter ao luteranismo. Em 1830, Buschenthal negociou empréstimos e participou no fornecimento de armas e uniformes para o exército brasileiro. José Bonifácio não simpatizava em nada com ele, tendo desabafado, certa ocasião, com Sua Majestade: “Não vai entregar nas mãos de um traste [judeu] os meus interesses pecuniários”.
O exílio de D. Pedro II foi um fato lamentável. Durante anos foi explicado como algo que não passava de uma “festa de despedida”. Longe disso, a saída da família imperial do país deixaria nos políticos da época um clima de culpa e vergonha.
Desde Paris, cidade que acolheu Sua Majestade, batia forte a saudade pelo Brasil. No fim de seus dias, D. Pedro II conheceu o rabino de Avignon, Benjamin Mossé, que lhe ofereceu uma tradução dos Salmos. O rabino sugeriu ao monarca que traduzisse poemas litúrgicos da Provence. Este convite deu origem às “Poésies hebraïco-provençales du Rituel Israélite Comtadin” (1890), de autoria do Imperador. Para o centenário da incorporação do Comtat Venaissin à França, Pedro II traduziu as canções que Benjamin Mossé lhe fornecera. Eram os “Piyutim”4 do ritual Comtadin, eternizados em duas antigas publicações: o “Seder Ha-Kontress” e o “Seder Ha-Tamid”.
O rabino Mossé escreveu ainda uma biografia em francês sobre o monarca brasileiro. Em carta a Pedro II (09/08/1890), diz: “Uma das mais belas retribuições de minha vida, será apresentar, como historiador francês, o maior dos modernos imperadores: D. Pedro II. Desejo que Vossa Majestade seja o primeiro a ler este livrinho que escrevi, quase todo, visando muito ao efeito que deve produzir, não só no estrangeiro, mas principalmente no Brasil”.
PALAVRAS FINAIS
O Imperador D. Pedro II demonstrava fascínio pelo Judaísmo, o hebraico e os judeus. Seu amor incondicional pela cultura judaica está balizado em sua enorme paixão pela Bíblia e, consequentemente, em seu desejo por conhecer profundamente a História do Povo Judeu.
Sua viagem de peregrinação à Terra Santa, em 1876, com uma comitiva de 200 pessoas, foi um verdadeiro sonho acalentado durante vários anos, um acontecimento mágico que se concretizou ao completar, o monarca, pouco mais de meio século de vida.
1 Há pesquisadores que acreditam que os Pergaminhos Ivriim tenham sido confeccionados no Iêmen, por volta do século 13.
2 Texto massorético ou masorético é o texto hebraico utilizado no Tanach para o judaísmo e também como fonte de tradução para o Antigo Testamento da Bíblia cristã. Os massoretas eram os escribas judeus.
3Comtat, “condado” em francês. Comtadin, comtadine é o adjetivo para os objetos ou pessoas originárias do Condado de Venaissin, região em torno de Avignon, na França. Os judeus que lá encontraram refúgio eram chamados de “os judeus Contadins”.
4 Piyut, pl. piyutim, palavra que provém do grego, significando “canto”. Poema litúrgico judaico, geralmente cantado ou recitado nos serviços religiosos. Os piyutim foram escritos desde a época bíblica, sendo a maioria em hebraico ou aramaico. Seguem um esquema poético, como um acróstico na ordem do alfabeto hebraico, ou soletrando o nome de seu autor.
BIBLIOGRAFIA
Faingold, R., D. Pedro II na Terra Santa. Editora e Livraria Sêfer. São Paulo 1999
Faingold, R., Luzes do Império: Pedro II e o mundo Judaico. Exposição iconográfica apresentada pelo SESC e a Casa de Cultura de Israel em São Paulo, Petrópolis e Rio de Janeiro em 2000
Faingold, R., D. Pedro II, manuscritos hebraicos e orientalistas de São Petersburgo. Arquivo Maaravi vol. 2, No. 2, ano 2008. (Revista Digital de Estudos Judaicos da UFMG. Torah: Arquivos multidisciplinares da escritura)
Faingold, R., Pioneirismo musical judaico no Brasil Império. Morashá, abril 2012
Faingold, R., Os mestres de hebraico de D. Pedro II. Anais do V Encontro do Arquivo Histórico Judaico Brasileiro, São Paulo 2013 (Evento de 2009)
Prof. Reuven Faingold é historiador e educador; PHD em História e História Judaica pela Universidade Hebraica de Jerusalém. é responsável pelos projetos educacionais do “Memorial da Imigração Judaica e do Holocausto” de São Paulo.

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Purim da sobrevivência Jayme Fucs Bar

O Povo Judeu está presente na historia da humanidade por mais de 3 mil anos não é somente o povo do livro, mas com certeza o povo mais persequido da face da Terra.
Se analisarmos profundamente a maioria das festividades judaica se comemora uma salvação, um recordo de uma tragédia , ou um ato de libertação. Talvez o nome do povo Judeu deveria ser o Povo da sobrevivência!
Purim é um carnaval típico judaico a palavra Purim não quer dizer Carnaval e sim no idioma Persa "sorte", pois tivemos muita sorte de consequirmos nos livrar de mais um grande genocídio.
Na Meguilá de Esther está escrito : “Hamán fez sorteios para escolher o ‘melhor’ dia para exterminar os Judeus”. Essa " Sorte " na ironia se inverteu, em algo que poderia se tornar mais uma das grandes tragédia ao povo judeu se trasformou num dos mais alegres dias do calendário Judaico.
Tem alguns que dizem que o Carnaval brasileiro veio dessa comemoração judaica certo ou não é um dia muito alegre para nos Judeus, que como um bom carnaval nos dá o direito por Lei de ficar alegre até perder os sentidos.
Nessa festa você pode se fantasiar na figura de seus sonhos e ficar muitíssimo alegre, pode dançar e cantar para celebrar que o decreto do Rei para a destruição da nação judaica por sorte ( Purim) não aconteceu!
Voce pode beber até que não saiba a diferença entre “abençoado Mordechai” e “amaldiçoado Haman” é um meio para liberar todas as tensões que vivemos como Judeus.
Me orgulho de ser Judeu! Ser judeu é saber ficar alerta pois o ódio a esse povo é algo presente, e em cada época esse ódio toma um novo sentido e tem novas facetas ! Fico impressionado em ver e acompanhar hoje em dia na mídia tanto ódio contra esse povo. E sempre pergunto Porque? E nunca encontro respostas!!
A Meguilá Esther é parte da Torá o curioso que o Nome do Único não é mencionado nenhuma vez na Meguilá, alguns dizem é porque Deus está oculto dentro de cada um de nos. Se ele está realmente oculto dentro de cada ser Humano talvez seja a oportunidade de pararmos parar pensar e perguntar porque tanto ódio nesse mundo?, Porque tanto preconceito? Porque tanta descriminação?
Talvez na Maguila Esther Deus de forma oculta vem nos advertir para estarmos preparado a saber enfrentar os desafios futuro e sermos capaz de sobreviver através da história.
Chag Purim Sameach!!

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Davy Bogomoletz Z"L

Davy Bogomoletz partiu desse mundo e vai deixar a todos muitas saudades e sabedorias judaica humanista quardadas em nossos corações!!
Que sua memória seja sempre lembrada.
Apresento a todos as palavras emocionantes de Paulo Blank ao nosso querido Davy Bogomoletz
Davy Bogomoletz, pensador judeu e winnicottiano.
“Lamentavelmente agora estou no GALUT ( exílio)
e não há como ir até a terra prometida”
Davy respondendo a um convite para vir
ao Rio de Janeiro em 2017.
Paulo Blank
O que influencia a identificação de um profissional com uma escola psicanalítica? Os princípios teóricos? A sua visão de mundo? No caso do Davy a resposta é simples. Quando nos conhecemos, bem antes de entrarmos no campo minado das instituições psicanalíticas e sua correntes, sua paixão pelo judaísmo hassidico me chamou atenção. Amava os mestres das pequenas aldeias europeias que o nazismo varreu do mapa sem, contudo, conseguir apagar a sabedoria amorosa que emanavam. E não era uma paixão intelectual. Viu nelas a possibilidade humanista de relação que também inspirou Martin Buber e sua filosofia dialógica do “Eu e Tu”. Através do humanismo judaico de raiz, Davy construiu uma ótica e uma ética. Davy era um winnicottiano militante.
O envolvimento com a dor do outro e a tomada de um partido tem sido uma questão de fundo na psicanalise e fundadora do judaísmo. Postura diferente da receptividade de um psicanalista, ou acolhimento passivo, que mais exalta a “bondade” do terapeuta do que uma postura ativa frente aquele que sofre. E sofre porque aprisionado em uma rede de acontecimentos que o submeteram no passado sem que tenha podido perceber a rota de fuga do desastre iminente. Prisioneiro de um sofrimento semelhante à mesma escravidão dos hebreus, que Davy num jeitão profético amaldiçoou em um de seus textos dedicados ao Pessach. A pascoa judaica. Maldição sem sentido se não redundasse numa defesa ativa do paciente. Defesa que o Davy fazia de forma clara quando achava necessário, como disse numa das conversas intercaladas de citações judaicas que tivemos sobre psicanalise.
No You Tube existe um trecho de uma aula sobre Winnicott que o Davy deu no Espaço Bioarte em 2009. Ele se esforça. Tenta explicar para alguém da plateia que, segundo o judaísmo não existe pecado original. Ressalta que “a ideia não era discutir religião, só disse que do ponto de vista psicanalítico atual o homem não nasce mau”. Sua infância em Israel, onde esquece o português enquanto aprende o hebraico. Evoca o seu conhecimento adquirido naquela época que lhe permite a Biblia sem tradução. Por fim, acaba dizendo que o verdadeiro pecado original é o de Cain que matou o seu irmão Abel. Ele se apoia na sua reflexão sobre Biblia para fundamentar Winnicott. Quem sabe, no final das contas, como diz o ditado nordestino, o homem é para o que nasce.
Amigo de meio século, Davy partiu sem despedida na madrugada de ontem. No começo do Shabat. A tradição judaica considera que as forças da compaixão e da misericórdia dominam o mundo nesta madrugada. Morte em compaixão e misericórdia que também revela as qualidades do falecido. A eles é destinado um lugar no mundo vindouro. Davy será sepultado em Israel. Que sua memória continue atada ao feixe da vida e dos viventes.
Rio de Janeiro, 10 de março de 2019.

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“Estes são os registros do Tabernáculo, o Tabernáculo do Pacto, que foram elaborados segundo a ordem de Moisés - a obra dos levitas sob a direção de Itamar, filho de Arão, o sacerdote”. - Êxodo 38:21

RESUMO DA TORÁ:

• Um resumo estatístico dos materiais usados para o Tabernáculo e um relato da produção das vestes sacerdotais são registrados. Moisés abençoa os israelitas pelo trabalho que fizeram. (38: 21-39: 42)
• Após a instrução de Deus, Moisés estabelece o Mishkan e os sacerdotes são ungidos e consagrados. (40: 1-33)
• É dada uma descrição de uma nuvem que cobre o Mishkan durante o dia e um fogo que queima à noite, indicando a Presença de Deus. (40: 33-38)

APLICAÇÃO DO CONTEXTO – O Tabernáculo como Lembrança
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“Além de suas funções religiosas tradicionais – como as oferendas e os sacrifícios – o Tabernáculo também fora erguido para amenizar esses prováveis conflitos entre os vizinhos e para manter a união do povo. Para que as pessoas pudessem ter uma fonte de inspiração para aprender a cultivar a tolerância”. (ENSAIOS SOBRE A TORÁ – SHEMOT; P’Kudei, pg. 299).
Compilado by Avraham Bar–Zohar (Altamiro Paiva).

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“Moisés então reuniu toda a comunidade israelita e disse a eles: "Estas são as coisas que o Eterno ordenou que fizessem". - Êxodo 35: 1

RESUMO DA TORÁ: 

  • Moisés ensina as regras do Shabat. (35: 1-3)
  • Moisés pede aos israelitas uma doação de presentes e aqueles que são hábeis ajudam a construir o Mishkan[Tabernáculo] sob a direção de Bezalel e Oholiab. (35: 4-38: 20)

 APLICAÇÃO DO CONTEXTO – O Shabat e a Era Messiânica

“Um dos principais ensinamentos do Shabat é, sem dúvida, o fato dele nos lembrar a cada semana que tudo neste mundo é temporário e passageiro. Mais que isso, que a própria vida – a existência neste mundo, tanto a individual quanto a coletiva, ou seja, toda a história -, também é uma longa era temporária, cujo Shabat é a Era Messiânica” (ENSAIOS SOBRE A TORÁ – SHEMOT; pg. 180).

 

Compilado by Avraham Bar–Zohar (Altamiro Paiva).

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11419597087?profile=original“O Eterno falou a Moisés, dizendo: "Quando você fizer um censo dos homens israelitas de acordo com as matrículas do exército, cada um pagará ao Eterno o resgate de ser inscrito, para que nenhuma praga lhes sobrevenha por meio do seu registro. " - Êxodo 30: 11-12

RESUMO DA TORÁ:
• Moisés faz um recenseamento dos israelitas e recolhe meio-shekel de cada pessoa (30: 11-16)
• Deus diz a Moisés para construir uma bacia de água e preparar óleo de unção e incenso para a ordenação dos sacerdotes. Bezalel e Oholiab, hábeis artesãos, são designados para fazer objetos para os sacerdotes e o Tabernáculo. (30: 17-31: 11)
• Os israelitas são instruídos a manter o Shabat como um sinal de sua aliança com Deus. Deus dá a Moisés as duas tábuas do pacto. (31: 12-18)
• Os israelitas pedem a Arão que construa um bezerro de ouro. Moisés implora a Deus que não destrua o povo e, em seguida, quebre as duas tábuas do Pacto nas quais as Dez Palavras estavam escritas quando ele vê o ídolo. Deus castiga os israelitas por meio de uma praga. (32: 1-35)
• Moisés sobe a montanha com um conjunto de tábuas em branco por mais 40 dias, para que Deus volte a inscrever os Dez Mandamentos. Outras leis, incluindo o decreto para observar os Festivais de Peregrinação, também são reveladas. (34: 1-28)
• Moisés desce da montanha com um rosto radiante. (34: 29-35)

APLICAÇÃO DO CONTEXTO – Erradicando a Idolatria
A idolatria hoje não está restrita a ídolos imagens de poderosos de então, na contemporaneidade lidamos com "divindades" que controlem nosso comportamento: dinheiro, o culto ao Ego, vícios, sexo e outros. Enfim, qualquer coisa que controle nosso comportamento, e nos desconecte do Criador.
Rav Berg afirma, em seu comentário no Zohar: “louvar e agradecer a Deus é um código que expressa nossa consciência da existência e benignidade do Criador. Essa apreciação é para nosso benefício, e de nenhuma forma para o Criador, que não tem necessidade ou desejo de louvores ou agradecimentos.”
Comentários by Avraham Bar–Zohar (Altamiro Paiva).

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“Além disso, instruirás os israelitas a levarem azeite límpido de azeitonas batidas para iluminação, para acender lâmpadas regularmente”. - Êxodo 27:20

RESUMO DA TORÁ:

• Os filhos de Israel são ordenados a trazer azeite puro para o ner tamid "uma luz constantemente acesa", acima do santuário. (27: 20-21)
• Arão e seus filhos, Nadabe, Abiú, Eleazar e Itamar foram escolhidos para servir como sacerdotes. (28: 1)
• Deus instrui Moisés a fazer roupas especiais para os sacerdotes. (28: 2-43)
• Arão e seus filhos são ordenados em uma cerimônia de sete dias (29: 1-29: 46)
• Aarão é ordenado que queime incenso em um altar de acácia toda manhã e noite. (30: 1-10)

APLICAÇÃO DO CONTEXTO – Instrução sobre a vivencia humana como santuário do Criador, e sobre Amalek, dúvida.
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“O capítulo de T’tsavê é tradicionalmente lido antes de Purim (exceto quando é um mês adicional de Adar), e nos dá força e apoio para o preparo para a sua comemoração. Este Shabat é separado de todos os outros e intitulado Shabat Zachor. Em T’tsavê, os israelitas são instruídos a destruir todos os amalekitas, com os quais estavam em guerra. Os sábios consideram que a palavra "amalek" como um código para a dúvida. O apelo à guerra contra os amalekitas é realmente um apelo para que a nossa dúvida seja eliminada onde quer que seja encontrada. Este é o resumo do texto”. (THE KABBALISTIC BIBLE – EXODUS, Technology For The Soul; PG. 275).

Compilado by Avraham Bar–Zohar (Altamiro Paiva).

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