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O assassinato que impediu a paz 28/10 Nahum Sirotsky, correspondente iG em Israel Em 1995, parecia que se aproximava a paz entre Israel e Palestinos. Foi quando o assassinato do então primeiro-ministro, Itzhak Rabin, preencheu o lugar da esperança com o luto de todo o povo israelense. Um estudante de direito de pequena estatura, magérrimo, de aparência realmente insignificante conseguiu se aproximar dele no instante em que deixava um gigantesco comício em que se cantavam os novos tempos. Atirou e o matou. Ygal Amir está em isolamento, preso pelo tempo máximo permitido por lei. Mas a punição nunca supera a força do crime. Foram figuras fisicamente insignificantes que assassinaram o presidente dos Estados Unidos John F. Kennedy e, pouco depois, seu irmão Robert, candidato à presidência. Foi também uma figura fisicamente insignificante, um estudante, que assassinou o príncipe herdeiro do Império Austro-Húngaro e precipitou a Primeira Guerra Mundial. Há muitos casos semelhantes na história do mundo. São os insuspeitos na aparência os piores. Quem imaginaria que um ator frustrado assassinaria o Abraham Lincoln, um dos maiores presidentes da história americana, dentro do teatro. Hoje, Israel homenageou a memória de Rabin que, como militar, foi um de seus grandes heróis e como político enfrentou as resistências de extremistas da ultradireita para abrir caminho para um acordo de paz sabendo dos riscos que corria. A história não se faz de suposições. A hipótese de que se não tivesse morrido haveria a paz não conta. Não houve, nem há. São tantos os obstáculos que não se pode prever quando acontecerá. As pesquisas indicam que é desejo das maiorias. Mas sonhos não rompem barreiras. Nem boa vontade. Enumero apenas alguns dos problemas para os quais a solução não exige maiorias. Os palestinos estão divididos em duas partes. A Cisjordânia, onde governa Abu Mazen do Fatah, que defende a hipótese de um Estado apoiado em leis seculares e reconhece o direito de Israel existir - a hipótese de um Estado israelense ao lado de um palestino na mesma terra sagrada. E a Faixa de Gaza governada pelo Hamas, islâmicos que querem um país sob as leis do Alcorão. Os grupos têm relações rompidas. Portanto, não existe uma única voz com quem negociar. Mas, mesmo os palestinos do Fatah, querem uma Palestina com as fronteiras que existiam em 1967, antes de Israel vencer a chamada Guerra dos Seis Dias, conquistando o Sinai, do Egito, a Cisjordânia e a parte murada de Jerusalém, a antiga cidade, que estava sob domínio jordaniano, Golã. Desde então, houve a guerra de 1973, duas com o Líbano, dois levantes palestinos, e as Intifadas, caracterizadas por luta com atos terroristas, como homens-bomba, e a paz com a Jordânia e o Egito. Mas na área que a Jordânia recebeu de volta de Israel e entregou aos palestinos, assentaram-se cerca de 350 mil israelenses, que construíram cidades modernas, implantaram universidades, indústrias, centros agrícolas. Jerusalém antiga foi anexada e unida à moderna com uma lei declarando a unificação como definitiva e toda a cidade como capital de Israel. Não há apoio para a uma nova divisão da cidade da qual as legiões de Roma expulsaram os judeus há dois mil anos. Os palestinos se recusam a receber terras israelenses para compensá-los pelas ocupadas pelos colonos, cujas lideranças não admitem a hipótese de saírem de onde se encontram. A hipótese de conflito entre israelenses caso seja forçada a retirada não é remota. Israel quer que os palestinos o reconheçam como um Estado judeu. Os palestinos e o mundo árabe rejeitam tal definição. O que parece uma discussão primária, na verdade representa uma decisão de vida ou morte. Sem ser qualificado de Estado judeu, Israel se abre para pressões irresistíveis do retorno dos milhares de palestinos exilados, que hoje somam milhões. Israel, um Estado democrático, possibilitaria a tomada do poder pelo voto, pois os muçulmanos logo seriam maioria. Entre os povos não há a tradição de confiança. São sempre minorias as mais politicamente ativas. E existem minorias que não concebem a coexistência. Não existem obstáculos naturais entre a terra palestina e Israel. Obama anunciou no início de seu governo que promoveria a paz em dois anos. Passados dez meses as possibilidades do entendimento só diminuíram. Os lados sequer se comunicam. A necessidade de uma solução pacífica é cada vez maior, pois não faltam condições para confrontos. No Sul, em Gaza, há o Hamas com arsenais supostamente poderosos, tropas treinadas inclusive de homens-bomba prontos para o suicídio, No Norte, o Hezbollah aterrissa dezenas de milhares de mísseis capazes de atingirem as maiores cidades de Israel. O Partido de Deus tem Forças bem mais preparadas e motivadas. E a Síria que parece querer conversar, é aliada do Irã, que aparentemente não desiste de ter a bomba. Obama não aposta mais em enviados especiais que, até agora, não produziram nada. Quem vem aí, como apoio total do presidente americano, é Hillary Clinton, a secretária de Estado, em primeira visita desde a eleição presidencial. O mar não está para peixe.
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A contribuição judaica à música gaúcha (parte 1, veja a continuação em seguida) escrito em quinta 22 outubro 2009 23:36 arnaldo cohen, brasil, cláudio levitan, contribuição, eva sopher, figner, gaúcha, imigração, israeli, ídish, juca chaves, judaica, kid vinil, klezmer, léo gandelman, léo henkin, mpb, música, nico nicolaiewsky, pablo komlós, roberto szidon, tânia grimberg por Rogério Ratner Os judeus correspondem a uma das muitas etnias que integram o cadinho populacional gaúcho. Em que pese a comunidade judaica gaúcha, atualmente, conte com cerca de 10.000 membros (sendo, portanto, de proporções, em número de membros, bem mais modestas do que as maiores comunidades judaicas do Brasil, especialmente em relação às do centro do país, São Paulo e Rio de Janeiro ), a sua contribuição ao universo da música feita no RS pode ser considerada bastante significativa. Vamos tentar mapear um pouco desta contribuição, tanto no campo da música erudita, como na área da música popular. Inicialmente, antes de adentrarmos em nosso assunto propriamente dito, cumpre fazer algumas observações mais gerais acerca da relação do povo judeu com a música. Será útil também nos situarmos dentro do contexto da colonização judaica no Brasil, a fim de podermos melhor contextualizar o tema. OS JUDEUS E A MÚSICA A música sempre teve um papel muito importante para o povo judeu, desde os primórdios da formação desta etnia, originária do Oriente Médio. A origem do povo judeu pode ser encontrada na Mesopotâmia, tendo em vista que o patriarca da religião hebréia, Abraão, nasceu em Ur, na Caldéia, uma das regiões mesopotâmicas. Para diversos povos daquela região, a música exercia relevantes funções em suas sociedades, o que também se refletiu na cultura dos judeus, com desdobramentos inclusive em sua liturgia. As referências à música são inúmeras no texto bíblico, podendo-se indicar muitas passagens. Apenas para exemplificar, basta lembrar que, de acordo com os redatores bíblicos, as muralhas de Jericó teriam sido derrubadas pelas famosas trombetas/trompas. Ainda que se compreenda hodiernamente que o texto bíblico corresponde a um conjunto de relatos de contornos históricos, mas também em grande medida mitológicos, esta passagem já serve como uma demonstração da importância da música dentro da cultura judaica, a ponto de ela ser elevada à condição de veículo de expressão literalmente consubstanciado em instrumento da própria vontade divina. Outro exemplo que vale lembrar é o do próprio Rei David, o maior líder político-religioso do período bíblico, que era músico. Aliás, foi justamente por ser músico que David teve acesso ao séquito real de Saul, seu antecessor no trono judaico. Em face dos conhecidos efeitos terapêuticos “para acalmar os nervos”, que desde aquela época já se atribuía à música, David foi convocado para tocar sua harpa e entoar melodias com o objetivo de acalmar o rei Saul, soberano de conhecido humor instável, e que passava por crises de melancolia. E David foi bem sucedido na tarefa. Assim, é basicamente através da música que praticamente começa a história política de David, até chegar à sua ascensão à liderança do povo. Ao nível da religião judaica, a música exerceu uma função tão importante no ritual que no próprio Templo de Jerusalém, construído por Salomão, filho de David, o serviço envolvia o entoamento de diversos hinos e rezas pelo sumo sacerdote (a cantilena), inclusive contando com um coro de doze vozes, e um conjunto de doze instrumentos a acompanhá-lo. Os salmos e os cânticos eram formas musicais muito comuns no seio do povo judeu. Após a destruição dos dois templos, o de Salomão e o de Herodes, os rituais litúrgicos passaram para o âmbito das sinagogas, sendo que a música continuou exercendo um importantíssimo papel em sua configuração. De um modo geral, o acompanhamento instrumental nas sinagogas era mais exceção que regra, cabendo ao cantor sacro a responsabilidade pelo entoar das melodias santificadas. De fato, todo o culto judaico até hoje envolve uma pessoa que lidera o serviço religioso (seja o rabino, ou o chazan, que é o cantor litúrgico), o qual entoa as rezas ritmicamente, geralmente valendo-se de notáveis melodias. Assim, o chefe do serviço coordena o acompanhamento dos fiéis à leitura dos textos sagrados e das benções, e estes, em determinadas partes das rezas - que seguem a seqüência prevista nos livros litúrgicos para cada espécie de ato (rezas da manhã, da tarde, da noite, ou das festas) -, juntam suas vozes em coro. Com efeito, muitas destas rezas são adornadas por belíssimas melodias, que, acrescidas aos cantos milenares, foram sendo compostas ao longo dos séculos, incorporando inclusive influências dos mais diversos locais em que os judeus se radicaram, a partir dos exílios impostos pelos vários povos que conquistaram a Judéia, e muito especialmente em face da profunda dispersão imposta pelos romanos, cerca de um século após a morte de Jesus Cristo. Cabe ressaltar que a circunstância de o rito judaico prever a possibilidade de que a figura de um cantor coordene os atos religiosos (sejam aqueles ordinários realizados na sinagoga, seja em casamentos, circuncisões, enterros, etc.), sem que este detenha necessariamente toda a formação e especialização em conhecimentos religiosos que é exigida de um rabino, já é bastante ilustrativa da importância que a música representa para o culto religioso hebreu. Cumpre observar também que o envolvimento do fiel judeu com a música também é bastante precoce, uma vez que, além de poder acompanhar desde pequeno as sessões religiosas na sinagoga (praticamente desde o berço), já aos treze anos, na cerimônia de ingresso à maioridade religiosa (Bar Mitzvah), seus dotes vocais são testados frente à toda a comunidade, seja ele “afinado” ou não. No Bar Mitzvah, o menino judeu lê diversas bênçãos especiais, e uma parte do texto bíblico diretamente nos rolos da Torá, ocupando o altar da sinagoga e o centro das atenções. A cerimônia corresponde, guardadas as proporções, e perdoada a “heresia”, a um verdadeiro show musical (costumo dizer, de brincadeira, que o primeiro show que fiz foi em meu Bar Mitzvah, na sinagoga da União Israelita, em Porto Alegre; aliás, aproveito para registrar, com muito orgulho, que fui o primeiro aluno do rabino Efraim Guinsburg, de saudosa memória para a comunidade judaica de Porto Alegre, a “apresentar-se” ao ishuv). Hodiernamente, as meninas também podem executar um ritual semelhante, aos doze anos, no chamado Bat Mitzvah. Nas sinagogas mais tradicionais, atualmente não se costuma utilizar instrumentos musicais no acompanhamento das rezas, mas um instrumento milenar é convocado nas ocasiões especialíssimas que são o Iom Kipur (dia do perdão) e o Rosh Hashaná (ano novo judaico): o shofar, que consiste em um chifre de carneiro oco (podem ser utilizados também chifres de cabras, gazelas e antílopes), que é soprado vigorosamente, gerando sons muito peculiares e estridentes. O momento do toque do shofar é o ponto culminante destas cerimônias tão importantes dentro do calendário religioso judaico. A importância da música dentro da cultura religiosa e tradicional judaica também cresceu muito com a consolidação da cabala e do movimento chassídico. Com efeito, para o chamado misticismo judaico, a música tem um caráter divino, e é uma das formas primazes de integração do fiel à divindade, sendo um dos melhores caminhos que se pode utilizar para chegar ao êxtase religioso e à comunhão com o sagrado. Para os “chassidim”, a conjugação da música com a dança, de caráter alegre, são dos principais meios ideais para chegar-se ao “nirvana” espiritual, ao contato direto com o divino. De outro lado, o movimento reformista, que surgiu no rastro da chamada “haskalá”, ou iluminismo judaico - a partir da idéia acerca possibilidade de integração maior dos judeus à sociedade cristã, antevista especialmente a partir do final do século XVIII, e que sofreu um duríssimo golpe na Europa com o advento do Holocausto -, foi bastante influenciado, em termos rituais, pelo culto das igrejas cristãs, reincorporando, de uma certa forma, o acompanhamento instrumental aos serviços religiosos judaicos. Também a complexidade melódica e de arranjos apresentadas na música litúrgica cristã passaram a ter grande relevância nos rituais das sinagogas vinculadas a esta linha. Aliás, cumpre assinalar aqui que, no aspecto musical, como, de resto, em tantos outros, os pontos de contato do judaísmo com o cristianismo são muito grandes, tendo havido intercâmbios culturais mútuos ao longo da história. De fato, os rituais das igrejas cristãs primitivas em muito se assemelhavam aos das sinagogas, tendo os cristãos herdado, por exemplo, o canto salmódico. O mesmo, sem dúvida, pode-se dizer da religião muçulmana, que também tem na música um de seus elementos rituais importantes. Enfim, o que cumpre sublinhar é que praticamente não existe ritual religioso judaico que não conte com elementos de música. A música não voltada para fins especificamente religiosos também sempre foi muito cultivada pelos judeus. Na Europa, até a chamada Emancipação, já no limiar da Idade Moderna (por meio da qual passaram a ter a possibilidade de se integrar de forma mais efetiva, em maior ou menor grau, à sociedade cristã), os judeus construíram um repertório de música laica em seus locais de morada, que geralmente eram constritos em guetos, schtetels e judiarias. Há notícias também de músicos judeus atuando nas cortes de reis, em mercados, em tabernas, etc. Sob o ponto de vista folclórico, pode-se identificar duas vertentes principais para a música feita na diáspora judaica: a música “ídiche”, criada a partir da língua homônima (também conhecida como idish/yidish/ídich, enfim, a grafia varia), que mistura palavras de alemão e hebraico, com alguns acréscimos, para as populações da Europa Oriental, de expressões eslavas, e a música sefaradi, feita pelos judeus de origem ibérica, e que é baseada no ladino, dialeto que mistura fundamentalmente palavras do espanhol e hebraico. A música ídiche, que mais recentemente vem sendo denominada como klezmer, mistura diversos elementos da tradicional música oriental judaica com outros dos países da Europa Oriental, Central e Ocidental, especialmente da Rússia, da Polônia, da Ucrânia, dos países bálticos e dos Bálcãs, bem como da cultura cigana. Em verdade, o klezmer poderia ser melhor definido como uma subdivisão da música ídiche, pois, em sua origem, estava mais voltada à animação de festas e celebrações, ou seja, focava-se primordialmente na produção mais “eufórica” da música judaica da Europa Oriental. A música ídiche, em sentido mais amplo, contudo, abrange ainda uma grande produção de canções lentas e melancólicas, de muita dramaticidade (meu avô materno, Leão Ratner, com sua bela voz de barítono, e que chegou a fazer teatro ídiche na Lituânia, antes de vir para o Uruguai, e finalmente radicar-se no Brasil, cantava uma infinidade destas melodias, que exigiam uma grande expressividade do intérprete, especialmente para emular um quase-choro, tão característico deste cancioneiro). A música ídiche, em sua divulgação, esteve quase sempre ligada intimamente com o teatro ídiche, o qual foi muito forte na Europa Oriental (até o Holocausto) e também nos Estados Unidos. Para ter-se uma idéia da importância do teatro ídiche neste contexto, basta dizer que George Gershwin chegou a compor canções para produções do gênero, sendo que o seu biógrafo Charles Schwartz aponta estudos no sentido de que a canção “S’Wonderful”, grande clássico do cancioneiro americano, é, em verdade, inspirada em uma melodia ídiche. O grande astro, em termos de composição musical do teatro ídiche americano, foi Sholom Secunda, com quem, aliás, Gershwin colaborou. A estrutura dos espetáculos era muito semelhante à da Broadway do início do século passado, com operetas, musicais, danças, revistas, etc., além da parte teatral propriamente dita. Pode-se dizer, sem margem de erro, que o teatro ídiche deu uma contribuição importantíssima para a formatação do espetáculo musical moderno americano. Existiu uma vasta produção fonográfica desta música étnica, cujos discos inclusive chegaram em alguma quantidade por aqui. Eu mesmo tenho um bom número de “bolachões” de música ídiche, que tenho catado por aí em sebos, os quais venho acrescendo a alguns discos que arrecadei na casa de meus pais. Nesta produção, verifica-se que houve uma incorporação bastante ampla de diversos outros elementos estéticos à cultura ídiche; por exemplo, evidenciam-se influências do tango, do jazz, da música erudita, etc., além daquelas fontes “tradicionais” ao gênero. Há uma estação na internet produzida por um engenheiro brasileiro que roda somente música ídiche, e vale a pena visitá-la: http://www.yidishmusic.com.br Conforme referido, a música sefaradi mescla influências hebraicas e ibéricas, a partir da língua denominada “ladino”; é de grande beleza, sendo vastíssimo o repertório criado por seus criadores. Esteticamente, é muito próxima à sonoridade que se encontra ainda hoje na música tradicional feita na Espanha e Portugal, a qual, como é consabido, também sofreu claras influências orientais, decorrentes, em grande parte, da ampla influência moura e judaica na formação daqueles países, na mescla com os povos visigóticos e outros ancentrais autóctones. Atualmente, no Brasil, a grande “embaixadora” da música sefaradi é a cantora Fortuna, que tem gravado belos discos enfocando esta herança cultural tão profícua. Cabe sublinhar aqui que o advento da própria figura do músico como artista individualizado e reconhecido enquanto tal, exercente de um papel de destaque nas sociedades ocidentais (seja como compositor, cantor ou instrumentista), é um fenômeno mais reconhecível e claramente delineado ao final da Idade Média, o que se configurou ainda com mais força já na Idade Moderna. Dentro deste contexto, na medida em que aos judeus foi sendo gradativamente concedida a possibilidade de maior interação e integração com a sociedade em geral (integração esta, é bom assinalar, sempre marcada por avanços e retrocessos, especialmente a partir da Revolução Francesa e da Era Napoleônica, até a terrível hecatombe do Holocausto), começaram a surgir nomes de judeus ligados à música feita na sociedade ocidental. É muito significativa, neste sentido, a contribuição judaica à música erudita européia, sendo que podemos citar os seguintes nomes, à guisa de exemplos, todos da maior importância neste cenário: Giácomo Meyerbeyer, Felix Mendelssohn, Salomone Rossi, Lorenzo da Ponte (Emmanuele Conegliano, libretista de óperas de Mozart, como Don Giovanni e As bodas de Fígaro), os Strauss (Josef I e II), Jacques Offenbach, Georges Bizet, Gustav Mahler, Arnold Schoenberg, Bruno Walter, Paul Dessau, Darius Milhaud, Friedrich Hollander, Arthur Rubinstein, Otto Kemplerer, Berthold Goldschmidt, Ernst Bloch, André Previn, Kurt Weil, Andrew Lloyd Weber, André Previn, Arthur Rubinstein, Arthur Fiedler, Isaac Stern, Jascha Heifetz, etc. Nos Estados Unidos surgiram também muitos nomes importantes no campo da música erudita, tais como George Gershwin, Leonard e Elmer Bernstein, Aaron Copland, Philip Glass, etc. Na Europa, ainda, alguns judeus contribuíram relevantemente com a consolidação do mercado da música popular, seja na condição de artistas, seja na de produtores musicais. De outro lado, a consolidação da música popular enquanto indústria do entretenimento, no sentido em que a conhecemos hoje, deu-se praticamente no exato momento em que os judeus justamente estavam imigrando para os Estados Unidos em grande número, especialmente saídos da Europa Oriental, e, em menor grau, da Central. Assim, o mercado musical americano, em grande parte ligado ao teatro “vaudeville”, de operetas, “music hall” e de revista, foi um campo fértil para os imigrantes judeus e seus descendentes, até pelas possibilidades que esta atividade oferecia de fugir da vida dura de pobreza que a grande maioria estava passando, chegados do leste europeu no mais das vezes apenas com “a roupa do corpo”. Foi especialmente em Nova York, mais especificamente na Tin Pan Alley (rua que reunia um grande número de casas editoras de música), e nas inúmeras produções da Broadway (entre as quais, por exemplo, ficaram célebres as Ziegfeld Follies), que um expressivo número de compositores, músicos e cantores judeus pôde revelar ao mundo o seu talento. Posteriormente, com o advento da indústria cinematográfica, muitos compositores, instrumentistas e cantores judeus, eruditos ou populares, dedicaram-se a participar da produção de filmes musicais, à frente das telas ou mesmo nos bastidores. A participação de artistas judeus na construção da música pop feita nos USA desde então - passando pelo jazz, blues, rock, pop, soul, rap, etc., -, sem dúvida, é das mais expressivas. Neste sentido, merecem menção (em que pese a enxurrada de nomes de enorme destaque, a dificultar uma listagem mais digna de demonstrar toda a amplitude desta contribuição): George e Ira Gershwin/ Irving Berlin/ Jerome Kern (focalizei estes compositores maravilhosos em um show que apresentei no Theatro São Pedro e no Teatro Renascença, em 1994, denominado “Três Judeus na Broadway”)/ Richard Rodgers/ Oscar Hammerstein II/ Lorenz Hart/ Harold Arlen/ Burt Bacharah-Hal David/ Al Cohn/ Sammy Cahn/ Howard Dietz/ Al Johnson/ Mitchel Parish/ Cy Coleman/ Jerry Leiber e Mike Stoller (autores de vários “clássicos” do repertório de Elvis Presley)/ Howard Dietz/ Arthur Schwarts/ Stan Getz/ Benny Goodman/ Diane Warren/ Barry Mann/ Norman Gimbel/ Alan e Marilyn Bergman/ Cynthia Weil/ Jule Styne/ David Raskin/ Victor Young/ Stephen Sondheim/ Dinah Shore/ Harry Connick Jr./ Bette Middler/ Meredith Monk/ Artie Shaw/ Mel Tormé/ Paul Anka/ Danny Gottlieb/ Lyle Mays/ Jack Beckenstein (Spiro Gira)/ Paul Desmond/ Dave Brubeck/ Barney Kessel/ Shely Manne/ Herbie Mann/ Lee Konitz/ Brothers Brecker/ Les Brown/ Paul Whiteman/ Zoot Sims/ Gerry Mulligan/ Gene Simmons, Ace Frehley e Paul Stanley (Kiss)/ Carole King/ Simon e Garfunkel/ Bob Dylan/ David Lee Roth (Van Halen)/ Geddy Lee (Rush)/ Susane Hoffs (The Bangles)/ Arlo Guthrie/ Neil Diamond/ Neil Sedaka/ Slash (Guns)/ Phil Spector/ Paula Abdul/ Barbra Streisand/ Blood, Sweet and Tears/ Randy Newman/ Neil Sedaka/ Barry Manilow/ Michel Bolton/ Robbie Krieger (The Doors)/ Lisa Loeb/ Alan Paul e Janis Siegel (Manhatan Transfer)/ Carly Simon/ Helen Shapiro/ Eric Carmen/ Neil Diamond/ Barry Sisters/ Davitt Singerson/ Billy Joel/ Danny Elfman (Oingo Boingo)/ Cass Eliot (The Mamas and the Papas)/ Leonard Cohen/ Paula Abdul/ Chris Barron, Eric Schenkman, Aaron Comess (Spin Doctors)/ Perry Farrel, Stephen Perkins (Porno for Pyros e Jane’s Adiction)/ Dee Snider (Twisted Sisters)/ Herp Albert/ Kenny G/ Chris Cornell (Soundgarden e Audioslave)/ J. Geils Band/ Blue Oyster Cult/ Charles Fox (autor de Killing me soflty)/ David Brian (Bon Jovi)/ Donald Fagen (Stely Dan)/ Marty Balin e Jorma Kaukonem (Jefferson Airplane)/ Beastie Boys/ Adam Levine (Maroon 5)/ Richard Hell (Television)/ Joey (Ramones)/ Marty Friedman (Megadeth)/ Chris Isaak/ Lou Reed (Velvet Underground)/ Marc Ratner, etc., etc. Judeus também tiveram um papel fundamental no desenvolvimento das novas técnicas e tecnologias que estavam surgindo no início do século XX para o registro de sons, especialmente a partir do advento da eletricidade. De fato, o primeiro aparelho de registro de som em discos (gramofone) foi desenvolvido pelo judeu Emil Berliner, que havia se radicado nos EUA, e que, quando voltou à Alemanha, fundou a gravadora Deutsche Grammophon, selo que existe ainda hoje, e que é especializado em música erudita (durante o período nazista, o selo foi “arianizado”). Realmente, a indústria fonográfica, no início, contou com importante contribuição por parte judeus no seu desenvolvimento e consolidação. Alguns selos fonográficos estavam ligados à indústria de cinema e da imagem, caso da RCA, da CBS e da Warner. Outros, ainda, foram surgindo, tais como os labels Verve, Pablo e Blue Note, especializados em jazz, e outros tais como Chess Records, Geffen Records, MCA, Arista, Elektra, Atlantic, Rhino, etc., cujas gravações foram fundamentais para os registros da produção musical popular americana. É bom ressaltar que hoje, se formos tentar mapear as características da música feita pelos judeus no mundo, vamos chegar à conclusão de que esta é infinitamente multifacetada: além de os judeus estarem engajados na construção das linguagens musicais autóctones dos países em que estão radicados, mundo afora, a música feita ao redor do mundo também influencia enormemente a produção musical do próprio Estado de Israel. De fato, a chamada música israeli, composta e executada por músicos radicados na Terra Santa, é das mais plurais. Tal produção engloba desde as versões locais para os ritmos ocidentais (tais como o rock, o blues, o jazz, o reggae, e até mesmo de MPB, etc., etc.), até os rastros das músicas ídiche e sefaradi, e, muito especialmente, da música dos países árabes. De fato, a influência da música feita no Oriente Médio na música judaica moderna, indiscutivelmente aprofundou-se a partir da fundação do Estado Moderno, muito também em face da expulsão de enormes contingentes de judeus que viviam nos países árabes, em número que, segundo estimativas, equivale ao de árabes palestinos que deixaram a Terra Santa quando da invasão desta pelo exércitos unidos (Egito, Jordânia, Síria, Líbano, Arábia Saudita, etc.), em 1948, naquela que foi denominada como “Guerra de Independência”. Os chamados judeus orientais (mizrahi), agregaram fortemente a herança cultural da música que cultivavam – em alguns casos, milenarmente - nos países árabes em que estavam radicados, ao moderno Estado Judaico. Também a imigração de judeus negros da África para Israel, especialmente os falashas (que, segundo diz-se, seriam descendentes da rainha de Sabá e do rei Salomão), trouxe influências da música africana ao cadinho musical do Estado israelense. Isto além, evidentemente, da própria influência que a ampla população árabe radicada em Israel oferece. A música israelense contemporânea, sem esquecer as origens da música judaica, mas agregando influências da música feita ao redor do globo, é, sem dúvida, uma das mais variadas, ricas e polifacetadas de todo o mundo. Neste sentido, basta lembrar que, por exemplo, Israel é um dos principais pólos da música eletrônica no mundo, sendo que diversos DJs israelenses têm se apresentado mundo afora, vindo inclusive ao Brasil “tocar” em festas raves. Podemos indicar como grandes expoentes da moderna música popular israelense Ofra Haza, Etti Ankri, David D’or, Matti Caspi, entre muitos outros. Aliás, para quem quiser ter alguma noção sobre a música judaica mais atual, tanto israeli como klezmer e sefaradi, um bom início pode dar-se através da escuta dos lançamentos do selo americano de world music Putumayo (fundado, aliás, pelo judeu Dan Storber), cujos discos são encontrados nas Livrarias Cultura, Saraiva e FNAC, e que também são achados pela internet, inclusive para downloads. IMIGRAÇÃO JUDAICA NO BRASIL Com relação à imigração judaica ao Brasil, é possível falar em uma colonização lato sensu e em outra strictu sensu. Vale dizer, podemos considerar, em sentido amplo, a imigração judaica iniciada pelos cristãos-novos, ou, em sentido mais estrito, a daqueles judeus que vieram para o Brasil especialmente a partir da metade do século XIX, quando o ingresso desta etnia, publicamente assumida enquanto tal, deixou de sofrer maiores restrições por parte das autoridades do império. De fato, em sentido amplo, pode-se dizer que a história do Brasil confunde-se, em verdade, com a colonização judaica, se levarmos em consideração que os cristãos-novos, judeus convertidos à força, buscaram refúgio aqui para as perseguições sofridas na península ibérica, sendo que, em muitos casos, tentaram retomar sua religião ancestral, de forma muitas vezes secreta e clandestina, nas novas terras. A ampla colonização da região pelos cristãos-novos não é um fato aleatório, pois o descobrimento da América e o do Brasil coincidiram, de forma quase imediata, com a expulsão dos judeus da Espanha e a conversão forçada em Portugal, de forma que as novas terras foram um dos principais refúgios para aqueles que tiveram sua religiosidade de origem oprimida, ou que, simplesmente, mesmo que relativamente conformados com a adoção obrigatória da religião cristã, queriam escapar das perseguições sempre presentes nas metrópoles, especialmente a partir da consolidação da Inquisição. Assim, e neste contexto, os cristãos-novos participaram ativamente do financiamento das expedições portuguesas ao Brasil, e também tomaram parte diretamente nelas, podendo-se apontar, por exemplo, a figura de Gaspar da Gama, integrante da tripulação da frota de Cabral. Já na época da colonização propriamente dita, figuraram com destaque cristãos-novos tais como Fernando de Noronha, o bandeirante Raposo Tavares, entre inúmeros outros que povoam a história do Brasil e figuram abundantemente em nossos livros escolares. A opção pelas terras brasileiras muitas vezes decorreu da circunstância de que o simples fato de um judeu ingressar na cristandade não lhe garantia liberdade pessoal ou mesmo garantia de vida na metrópole, uma vez que havia uma grande diferenciação hierárquica entre os cristãos “velhos” e os “novos” dentro das sociedades lusitana e espanhola, antecipando, em grande medida, o antisemitismo “moderno”, de conotações racistas. As acusações dos cristãos-velhos e da Igreja contra os cristãos-novos, de infidelidade religiosa e outras “perfídias”, eram corriqueiras, movidas por interesses financeiros, inveja, rancor e fanatismo religioso, dentre outros motivos. Assim, repise-se, o Brasil foi uma grande opção de refúgio - a princípio seguro - para os conversos, denominados por seus conterrâneos ibéricos pela pouca elogiosa expressão “marranos” (porcos), pelo menos até que as garras da Inquisição chegassem ao chamado Novo Mundo. É fato que a maioria dos sobrenomes de colonizadores portugueses é encontrada em listagens de vitimas da Inquisição no Brasil, em Portugal e na Espanha. Isto não deixa de trazer uma grande dificuldade ao pesquisador, pois, para identificar se a origem de alguém com um destes sobrenomes é cristã-nova ou velha, muitas vezes é necessário fazer um levantamento genealógico bastante acurado, incluindo muitas gerações passadas. Contudo, o certo é que os estudos feitos por historiadores/pesquisadores especializados têm apontado que cerca de 1/3 da população brasileira de origem portuguesa da época colonial era composta por cristãos-novos e seus descendentes. Estes imigrantes, acompanhando a própria história da ocupação do solo brasileiro, no início geralmente radicaram-se no Nordeste (Bahia, Pernambuco e arredores). Nesta região, especialmente, desempenharam um papel fundamental na exploração do Pau Brasil (chamado na Europa de “madeira judaica”) e da cana-de-açúcar, dentre outras atividades. Migraram muitos deles, posteriormente, para o Sudeste, e para o interior do sertão do Nordeste, especialmente em face das perseguições religiosas que começaram a ocorrer também no novo mundo, mormente nas capitais nordestinas, tendo desempenhado papel primaz na colonização de São Paulo (muitos dos bandeirantes eram cristãos-novos) e de Minas Gerais (sua participação no chamado “ciclo do ouro” também foi muito significativa). Esta população, à medida em que o cerco da perseguição religiosa se estreitou também no Brasil, através da brutal ação da Inquisição, cada vez mais incisiva, teve tolhidas as possibilidades de retornar à adoção de práticas judaicas, algumas que fossem. De forma que, na medida em que as gerações de descendentes foram se assomando, poucos traços destas origens restaram aparentes, embora, em alguns casos, evidenciem-se em costumes familiares centenários, dos quais, muitas vezes, sequer os seus praticantes conseguem identificar a origem exata e a sua razão de ser. Da descoberta de suas origens judaicas por parte de muitos brasileiros cristãos, tem se consolidado o fenômeno dos “Anussim”, ou seja, aqueles que tentam, de alguma forma, retomar o seu vínculo com a religião de seus antepassados, ou, ao menos, travar contato com a cultura de seus ascendentes. Cumpre ressaltar que grande parte dos sobrenomes de músicos/compositores brasileiros importantes que povoam a história da música brasileira, erudita e popular, são também encontrados entre aqueles adotados pelos cristãos-novos no período colonial. Com isso, repise-se, não estamos querendo dizer que necessariamente quem tem estes sobrenomes seja descendente de cristãos-novos, o que, conforme ressaltado, para ser averiguado de forma conclusiva, demanda geralmente uma pesquisa detalhada das raízes genealógicas. Mas, para ter-se idéia a respeito da abrangência desta descendência, podemos citar um único exemplo, que é, sem dúvida, dos mais significativos: a ter-se por verdadeira a informação constante do livro “Furacão Elis”, de Regina Echeverria, a cantora Elis Regina, de sobrenome Costa, é descendente de cristãos-novos. Assim, feitas todas as ressalvas, pode ser de algum interesse apontar alguns dos inúmeros patronímicos de cristãos-novos, muitos dos quais secundam os nomes de diversos músicos brasileiros: Veloso, Seixas, Antunes, Mendes, Costa, Quental, Ribeiro, Silva, Valença, Ramalho, Rosa, Gonzaga, Vargas, Buarque, Hollanda, Dias, Pinto, Sampaio, Santos, Barros, Baptista, Franco, Silva, Cardoso, Bastos, Andrade, Gonçalves, Barbosa, Cortes, Miranda, Souza, Mesquita, Barroso, Maia, Lopes, Fernandes, Teixeira, Ulhoa, Araújo, Mesquita, Fonseca, Almeida, Carneiro, Cunha, Nunes, Leão, Alvarenga, Viana, Jobim, Reis, Coelho, Cordeiro, Freire, Mendonça, Martins, Bezerra, Veiga, Villela, Tovar, Mendanha, Leitão, Carrilho, Brito, Ximenes, Peres, Freire, Freitas, Moraes, Ferreira, Amaral, Azevedo, Abreu, Borges, Chaves, Monteiro, Ribeiro, Moraes, Freitas, Carvalho, Moraes, Pestana, Duarte, Gonzaga, Galvão, Ramos, Lago, Gadelha, Ávila, Alencar, Guedes, Valle, Vergueiro, Paes, Paiva, Aguiar, Sá, Rodrigues, Barbosa, Porto, Furtado, Siqueira, Brandão, Campos, Cabral, Bastos, Toledo, Telles, Castro, Nobre, Neves, Machado, Gomes, Cazado, Loureiro, Lima, Lacerda, Coronel, Medeiros, Moreira, Montes, Moura, Horta, Silveira, Pedrosa, Alves, Gomes, Limeira, Reis, Cintra, Corrêa, Rocha, Borges, Oliveira, Pereira, etc., etc. Como vê-se, os sobrenomes de cristãos-novos não se limitam, como inicialmente se pensava, quando a questão começou a vir à baila nos meios acadêmicos e na mídia, aos relacionados a árvores e frutos; a bem da verdade, a grande maioria dos sobrenomes portugueses foram adotados ou atribuídos aos cristãos-novos. E tudo isto está amplamente confirmado a partir de estudos e pesquisas realizados em fontes diversas, e, em muitos casos, a partir de exames diretamente feitos nos arquivos da Inquisição em Portugal, a partir dos nomes dos réus arrolados nos processos em que eram acusados de “judaizantes”. A professora da USP Anita Novinsky notabilizou-se nestes estudos, sem dúvida pioneiros, realizados, em grande parte, na “fonte”, em Portugal. Também cabe apontar o trabalho incansável de uma maravilhosa plêiade de pesquisadores, tais como Paulo Valadares, Rachel Mizrahi, Henrique Veltman, e instituições como o Arquivo Histórico Judaico Brasileiro (que gentilmente colaboraram com nossa pesquisa), Guilherme Faguelboim, Hélio Daniel Cordeiro, entre muitos outros, que vêm rastreando as raízes judaicas do Brasil. Além do mais, vários destes sobrenomes são encontrados ainda hoje em muitos membros de famílias de judeus sefaradis brasileiras praticantes da religião mosaica. A colonização judaica no Brasil strictu sensu, a que aludimos acima, deve ser considerada enquanto tal a partir da abolição da Inquisição em Portugal pelo Marquês do Pombal. A partir daí, de forma aproximada, começou a ser permitida a vinda para o Brasil de alguns judeus, o que ocorreu especialmente desde a metade do século XIX. Radicaram-se no Brasil então judeus franceses (em geral alsacianos) e alemães, e alguns sefaradis (judeus cujos antepassados saíram da península ibérica, fixando-se em outras regiões, justamente quando das conversões forçadas antes aludidas). A imigração, neste período, foi mais acentuada no centro do país e na região amazônica (nesta, principalmente por marroquinos). Pode-se dizer que a partir daí começam a se estruturar as modernas comunidades judaicas nas principais capitais do país, e em algumas cidades do interior dos estados, embora o número limitado de seus integrantes, até, aproximadamente, a década de 30 do século XX. Em termos de contribuição dada por judeus à música brasileira, em suas mais variadas tendências (erudita, choro, MPB, rock, jazz, instrumental, bossa nova, etc.), podemos indicar vários nomes, considerados desde a época imperial até o momento atual: maestro Isaac Karabtchevski/ maestro Henrique, Eduardo e Jacques Morelembaum/ Louis Moreau Gottschalk/ Alexandre e Luís Levy/ Haroldo Goldfarb/ Benjamin Taubkin/ I. Fater/ Henrique, Nelson, Jaques, Michel e Ivan Nirenberg/ Carlos Acselrad/ Vera Astracan/ Arnaldo Cohen/ Alberto e Cláudio Jaffé/ Yara Bernette/ Anselmo Zlatopolsky/ Estelinha Epstein/ Clara Sverner/ Jacques Klein/ Salomon Rubin/ Natan Schwartzman/ Eugen Szenkar/ Esther Fuerte Wajman/ Rosinha Spiewak/ José Alberto Kaplan/ Adolfo Tabacow/ Felícia Blumenthal/ José Kliass/ Martin Krause/ Anna Stela Schic/ Henrique Fedorowsky/ Marcelo Wrona/ Lanny Gordin (guitarrista fundamental na Tropicália, que tocou com Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa)/ Maurício Einhorn (um dos mestres da bossa nova)/ Tico Terpins (os Baobás e Joelho de Porco)/ Daniela e Netty Spielman/ Sheila Zagury/ Marcelo Fromer (Titãs)/ Frejat (cujo pai é árabe e a mãe judia)/ George Israel (Kid Abelha)/ Elias Mizrachi (Veludo)/ Ricardo Guinsburg (Equipe Mercado)/ Abrão Levin (Kafka)/ Elias Glik (AgentSS)/ Paul Liberman/ Leonardo e Alexandre Bursztyn (Móveis Coloniais de Acaju)/ Maurício Duek/ Jean, Joana e Paul Garfunkel/ Henrique e Léo Gandelman/ Roberto Sion/ Ithamara Khorax/ Kátia Bronstein/ Flora e Yana Purim/ Jorge Mautner/ David Tygel (Boca Livre)/ Jacob do Bandolim (Pick Bittencourt)/ Michel e Bernardo Bessler/ Hélio Ziskind (grupo Rumo)/ Tânia Grimberg/ Cláudio Goldman/ Juca Chaves (Jurandir Czackes)/ Michel Freidenson/ Arnaldo Niskier (letrista)/ Morris Albert (Maurício Alberto Kaiserman)/ Ivo e Mauro Perelman/ Sacha Amback/ Alberto Rosenblit/ Daniel Stein/ Michel Haran/ Walter Weisflog/ Kid Vinil (Magazine)/ Juca Chaves (Jurandir Chakes)/ Ari Borger/ Sara Cohen/ Cláudio Cohen/ Ricardo Herz/ Roberto Ring/ Eduardo Faigemboim/ Lívio Tragtenberg/ Tuna Dwek/ Patti Ascher/ Henrique Vogeler/ Ronaldo Lupo/ Ronaldo Serruya (letrista)/ Gustavo Rosenthal/ Claudio Besnos/ Ilana Hazan/ David Assayag/ Silvia Ocougne/ Carlos Slivskin/ Henrique Levy/ José Kliass/ Ludmila Ferber/ Roberto Fuchs/ Alberto Rosenblit/ Abrão Altegauzen/ Gustavo Kurlat/ Estela Govssinsky/ Gabriel Levy/ Daniel Szafran/ Marcelo Cohen/ Pipo Gratz/ Sérgio Scliar/ Eduardo Hazan/ Renata Jaffé/ Marcelo Jaffé/ Yael Pecarovich/ Marcelo Berman/ Denny Kessaus/ Roberto Kauffman/ Daniel Szafran/ Martin Sarrasague/ Ruben Feffer/ Marcelo Guelfi/ Nicole Borger/ Sima Halpern/ Vicente Falek/ Tânia Novak/ Varda Usiglio/ Clarita Paskin/ Tânia Grimberg/ Jerzy Milewsky/ Gabriela Geluda/ René Bensausson/ Cláudio Weizmann/ Sheila Hannuch/ Ary e André Sperling/ Bia e André Grabois/ Bruno Golgher/ Adolfo Tabacow/ Marcus Nissensohn/ Walter Burle Marx/ Michelli Livchitz/ Bernardo Segall/ Anselmo Zlatopolsky/ José Alberto Kaplan/ Hélio Bobrow (presidente da Hebraica –SP)/ Simon Blech/ Sonia Goussinsky/ Manu Lafer/ Jacques Sasson e Roberto Livi (ambos da jovem guarda)/ Bernardo Katz/ Maria Luiza Corker-Nobre/ Felipe Lozinsky/ Cliff Korman/ Martin Sarrasaguem/ Siney Waissmann/ Cenira Schreiber/ Daniel Kacelnik/ Jair Bloch/ Rubem Feffer/ Gabriela Hess/ Sami Douek/ Pedro Bronfman/ César Lerner/ Horácio Schaefer/ Márcia Salomon/ Sima Halpenr/ Abigail Wimer/ Renato Cohen/ Rodrigo Paciornik/ Régis Karlik/ Lev Veksler/ Régis Karlik/ Eliah Sakakushev/ Marcelo Moguilevsky/ Miriam Weitzman, etc., etc. Também dedicaram-se à propagação da música judaica, os grupos Mawaca e Celebrare, dentre outros. No campo da música típica, em seus vários matizes, podemos citar os seguintes nomes: Fortuna (música sefaradi), Paulinho Rozembaum (que mistura samba e outros ritmos brasileiros com temas ortodoxos judaicos), e os grupos de música ídiche/klezmer Azdi, Zemer, Klezmer 4, Duo Klezmer, dentre outros. O Coral Israelita Brasileiro, de longa atuação, também deve ser destacado, assim como o Coral da Sociedade Hebraica de Niterói, o Coral Litúrgico da CIP, o Coral Sharsheret (WIZO-SP), e a Orquestra Jovem das crianças da CIP, dentre outras formações. Também cabe apontar a figura de Fred Figner, fundador da Casa Édison e da gravadora Odeon, responsável pelas primeiras gravações de música brasileira no século XX. De fato, Figner pode ser considerado como um dos principais nomes da história da indústria fonográfica brasileira, fundamental para o seu desenvolvimento. Outras gravadoras também desempenharam ou desempenham um papel importante no mercado fonográfico brasileiro, tais como a Companhia Industrial de Discos (CID) de Herman e Harry Zuckerman, a Revivendo Discos (de Leon Barg) e a Rozemblit (selo de Recife, responsável pelo lançamento de grande parte da produção musical de Pernambuco e do Nordeste, e inclusive pelos primeiros discos da chamada “psicodelia nordestina”, de Zé Ramalho e cia.), e a Abril Music, do grupo editorial dos Civita. Cabe destacar aqui a figura do crítico e historiador musical Otto Maria Carpeaux, outro dos “presentes” de Hitler à cultura brasileira, cujos livros são obras indispensáveis para quem quer aprofundar-se no campo dos estudos teóricos sobre a música erudita. O escritor Hugo Schlesinger também dedicou-se a escrever sobre música, o mesmo acontecendo com Cláudio Galperin, dentre tantos outros. A atuação do produtor musical Carlos Alberto Sion, no campo da MPB e do rock brasileiro, é das mais importantes. Outrossim, Roberto Medina, criador do “Rock In Rio”, é figura de grande destaque na área da produção de shows musicais. Vários outros produtores destacam-se semelhantemente neste campo. Cumpre destacar, ademais, a atuação de vários judeus no rádio e na televisão, que, em seus respectivos programas, abrem espaços para a música, em maior ou menor grau: Sílvio Santos (Senior Abravanel, criador do SBT), Serginho Groisman, Luciano Huck, Didi Wagner, Kid Vinil, etc. O apresentador infantil Daniel Azulay também é músico. A revista e TV Manchete também abriram importantes espaços para a divulgação da música. A editora Abril, da mesma forma, vem se destacando pela atenção que tem dado à divulgação da história musical, sendo clássicas diversas de suas coleções, como as que abordam a história da MPB, do jazz, da música erudita, etc. O cineasta Jom Tob Azulay desempenhou um papel importante no registro visual da música brasileira, sendo o responsável pelo clássico documentário “Os Doces Bárbaros”, show que reuniu os baianos tropicalistas (Caetano, Gil e Gal, e mais Bethânia). A advogada Débora Sztajnberg, especializada na área de direitos autorais, é presidente da ABRAFIN, associação brasileira de festivais independentes. É importante lembrar aqui a significativa contribuição que os clubes e associações judaicos deram e dão à difusão da música, em suas mais variadas formas, abrindo espaços não apenas para apresentações voltadas à comunidade judaica, mas também para a comunidade mais ampla. Basta lembrarmos que o primeiro show em que foi utilizada a expressão “Bossa Nova”, para definir os artistas que iriam se apresentar em uma noitada musical, foi na sede da Grupo Universitário Hebraico, do Rio de Janeiro. Neste sentido, no centro do país é destacada a atuação de clubes tais como a “Hebraica”, bem como do Centro de Cultura Judaica, dentre outras entidades. IMIGRAÇÃO JUDAICA NO RIO GRANDE DO SUL No caso específico do Rio Grande do Sul, a imigração, então ainda bastante rarefeita, começou pelo sul do Estado, região que foi uma das primeiras a ser ocupada territorialmente de forma mais efetiva no extremo sul do país. Assim, especialmente a partir do final do século XIX, começaram a surgir alguns judeus em Pelotas, Rio Grande, e outras cidades da chamada região sul do Estado, e logo aportam outros em Porto Alegre, tanto ashkenazis quanto sefaradis. Contudo, a imigração judaica no hemisfério sul da América teve realmente como seu grande impulso o fato de o Barão Maurice de Hirsch ter adquirido colônias agrícolas na Argentina, no Uruguai e no Rio Grande do Sul, numa tentativa de salvar alguns judeus assolados pelos pogroms na Rússia e nas regiões eslavas, no início do século XX, fixando-os como agricultores no Novo Mundo. Assim, em 1903 foi criada a primeira colônia agrícola da ICA (Jewish Colonization Association) no Brasil, em Filipson, fazenda localizada hoje no município de Santa Maria, tendo se radicado ali algumas famílias da Bessarábia. Posteriormente, nas cercanias dos atuais municípios de Erechim, Getúlio Vargas e Passo Fundo, na fazenda Quatro Irmãos, foram criadas outras colônias agrícolas, tais como as de Barão Hirsch e de Baronesa Clara (este último nome foi dado em homenagem à esposa do Barão, e a colônia também é conhecida como Chalé; foi ali que se fixou meu bisavô materno, Isaac Schuchman e família, incluindo minha avó, Maria Ratner). Devido a uma série de fatores, dentre eles a má qualidade do solo, que resultou em várias colheitas frustradas, as pragas que consumiram lavouras e abateram os animais, a inexperiência em atividade agrícola de alguns colonos (embora vários deles já exercessem a agricultura na Europa, caso de meu bisavô), e, especialmente, o advento da Revolução de 1923 (e depois da de 1930), em que as colônias foram assaltadas e saqueadas pelas tropas em conflito - chegando a ter sido morto um dos colonos -, fatos que trouxeram à lembrança dos moradores as perseguições infligidas aos judeus pelos cavaleiros cossacos, boa parte deles passou a fixar-se nas cidades do entorno das colônias; outros, ainda, vieram a estabelecer residência em várias cidades do interior do RS, e também na capital do Estado. Até hoje, contudo, boa parte das terras adquiridas pela ICA é de propriedade de fazendeiros judeus (um dos quatorze irmãos de minha avô, o “Tio Chico” Schuchman, esteve à testa de suas terras até falecer, há uns anos atrás). A vinda destes colonos para a capital do Estado “engrossou” sobremaneira a comunidade já instalada aqui (que contava especialmente com ashkenazis, mas também com alguns sefaradis), gerando ou fortalecendo a maioria das instituições que até hoje se mantém ativas na comunidade judaica gaúcha (Colégio Israelita Brasileiro, sinagogas, cemitérios, clubes sociais, movimentos juvenis, e a própria Federação Israelita). A estes foram se somando, lá pelos anos 20 e 30, rapazes solteiros e alguns casados vindos da Polônia e cercanias, que, trabalhando em atividades geralmente braçais, e, especialmente, no pequeno comércio ambulante, conseguiram juntar algumas economias, de forma a possibilitar o envio das “cartas de chamada” a familiares que haviam ficado na Europa (foi o caso de meu avô paterno, Aron Isaac Kirschbaum, que chegou sozinho a Porto Alegre, e, mascateando, conseguiu juntar o suficiente para trazer a família que havia ficado em Sokal, na Polônia, por navio, incluindo o meu pai, Joel Kirschbaum, então com quatro anos). Com o advento do nazismo, começaram a aportar também na capital gaúcha judeus alemães, que, embora geralmente tivessem um nível social, intelectual e cultural bem mais elevado em seu país de origem, em relação aos judeus do leste europeu, aqui passaram grandes dificuldades para reestruturar suas vidas, espoliados que foram pelos nazistas. Após o Holocausto, alguns poucos sobreviventes vindos da Europa também chegaram a fixar-se aqui. E, com a perseguição ocorrida nos países árabes, acirrada especialmente a partir da criação do Estado de Israel, judeus sefaradis, vindos em sua maioria do Egito, completaram uma das últimas ondas imigratórias de maior expressão, assomada nos anos posteriores por alguns migrantes vindos de outras partes do Brasil, e, ainda, por outros imigrantes chegados da Argentina e do Uruguai. Esta é a origem, em linhas gerais, da comunidade judaica gaúcha atual, que, naturalmente, dá substrato e lastro à contribuição feita por elementos a ela vinculados à música do sul do país, que pretendemos agora abordar. No campo da música erudita, temos figuras de grande importância. Alguns são descendentes dos primeiros colonos; outros, vieram para a América do Sul e o Brasil escapando das hordas nazistas, e já atuavam profissionalmente como músicos em seus países de origem, especialmente na Alemanha e na Hungria. Podemos citar, então, nomes tais como o do maestro Pablo Komlós, que organizou a Ospa (Orquestra Sinfônica de Porto Alegre) quando de sua formação, e esteve à sua testa como regente por décadas; o do maestro Hans Henrich Peyser (que atuou à frente da orquestra da Rádio Farroupilha); os de Roberto Szidon, Flávio Chamis (que também foi maestro da Ospa), Ida Weisfeld, Boris Waiss, Helena Wainberg, Dirce e Carla Knijnik, Nei Fialkow, Esther Scliar, Maly Weisenblum, Norberto Zuckerman, Rodolfo e Gertrudes Meyer, Daniel Wolff, Marcelo Guerchfeld, Alexandre Starosta, dentre outros. Cumpre ressaltar que a Ospa já contou com três regentes judeus: além de Pablo Komlós e Flávio Chamis, atualmente está à sua testa Isaac Karabtchevsky. Em termos de música popular, a contribuição judaica ao universo musical gaúcho foi/é das mais importantes. De fato, em praticamente todos os movimentos e tendências relevantes da história da MPB e da música gaúcha, vamos encontrar representantes judeus dando a sua dose de contribuição. Assim é que, por exemplo, na “velha guarda”, encontramos nomes como o do compositor Jayme Lubianca, que compôs a clássica “Porto dos Casais”, gravada por inúmeros cantores, inclusive por Elis Regina e Sílvio Caldas. Destacaram-se também a orquestra de jazz de Maurício Kahan, e Maurício Kothlar, saxofonista que participou da orquestra de Paulo Coelho, este um dos mais destacados nomes da cena musical gaúcha da primeira metade do século XX. O pianista Herbert Gehr igualmente foi muito atuante. Os Pipinelas, grupo dos pais e do tio de Cláudio Levitan, também marcaram presença, especialmente animando festas (Cláudio, aliás, no CD “Minha longa milonga”, fez uma tocante homenagem ao primo do pai, morto no Holocausto na Lituânia, misturando ritmos próprios da música gaúcha, como a milonga, com elementos da música ídiche). Na bossa nova, temos compositores tais como César e Paulo Dorfman, e Manoel Chotguis (que formavam o Grupo Mutirão, com José Sinovetz, Alberto Gropocopatel, Moisés do cavaquinho, Renato Axelrud, mais Ivaldo Roque). Simão Goldman compôs o clássico “Hino ao Rio Grande”, interpretado por ninguém mais, ninguém menos, que o “papa” do tradicionalismo regionalista, e mentor dos CTG’s, Paixão Côrtes, que serviu de modelo à estátua do laçador, símbolo universal do gaúcho. Em termos de rock sessentista, por exemplo, podemos apontar os Bachfuls (banda que se formou no CIB, de que participou Cláudio Levitan). Mas é, sem dúvida, no campo do rock gaúcho, do jazz e da MPB, considerados especialmente a partir dos anos 70, que vamos encontrar uma grande participação dos netos e bisnetos dos primeiros imigrantes: Levitan e os Tripulantes (Cláudio e Karina Levitan)/ Charles Master e Nei Van Sória (ambos do TNT)/ Frank Franklin/ Ilan Himelfarb/ Os Eles - Leandro Branchtein, Régis Dubin (posteriormente da Off the Wall), Darwin Gerzson, Léo Henkin (atualmente no Papas da Língua), Dannie Dubin)/ Carlos Maltz (Engenheiros do Hawaii)/ Grupo Ensaio - Mauro Rotenberg, Beto Rotenberg, Breno Starosta, Ricardo Faertes, Keko, José Irineu Golbspan/ Marisa Rotenberg/ Luisinho (Kruter) Santos/ Rogério Hochlitz/ Dzaghury/ Sidnei Schames (Sidito, atualmente na Sombrero Luminoso)/ Cláudio Spritzer (Banda de Banda, editor do jornal Hienas)/ Eliane Strazas/ Os Dorfman: Paulo, César, Charlote, Michel, Jorge, Lúcio (ex-Engenheiros do Hawaii)/ Daniel Tessler (Os Efervescentes)/ Lúcio Chachamovich (Miscelânea K)/ Márcio Grobocopatel (Ultramen)/ Nico Nicolaiewsky (Saracura/ Tangos e Tragédias)/ Renato Cohen (Motivos Óbvios)/ Arthur Nestrowsky/ Cláudio Bonder (da banda Nethra, e que foi chazan da SIBRA por muitos anos)/ Sérgio Olivé/ Rogério Goldman/ Edu Kautz (DJ)/ Clarah Averbuck (mais conhecida como escritora)/ Israel Tchernin (o Suli, que foi meu professor de música israeli no CIB, e que está radicado há tempos em Israel, onde mantém um conjunto de MPB)/ Mauro Kwitko/ Roberto Meimes (Doctor Jazz band)/ Celso e Fábio Iuck/ Paulo Brody (10000KPNR)/ Philip Braunstein/ Luis (Neco) Turkienicz/ Dan Berger/ Gilberto (Giba) Skolnikov/ Joel Faerman/ Fernando Maltz/ Clóvis Soibelman/ Guilherme Procianoy/ Banda Selton – Ramiro Levy, Daniel Plentz, Eduardo Dechtliar, Ricardo Fischmann/ Fábio Milman/ Gustavo Hercovits (Os Torto)/ Marcelo Citrin/ Paulina Nudelmann, dentre tantos outros. A atuação de apresentadores, radialistas e locutores judeus em programas de rádio e televisão, de auditório e de estúdio, também é relevante. Basta lembrar dos nomes de Maurício Sobrinho (Sirotsky, fundador da RBS), Pedrinho Sirotsky (com seu antológico “Transasom”), Hélio Wolfrid, Guilherme Sibemberg, Gildo e Túlio Milman, Jayme Copstein, dentre muitos outros. Júlio Rosenberg, gaúcho de Pelotas, que por muitos anos esteve radicado no centro do país (até voltar, no início dos anos 70, ao sul), foi um dos apresentadores de programas de auditório mais importantes do país, sendo um dos primeiros a abrir espaços para a ainda não assim denominada “jovem guarda”, nas figuras dos então iniciantes Roberto e Erasmo Carlos, Wanderléa, Jerry Adriani, etc. Cumpre ressaltar também a importantíssima atuação do ator Aron Menda e de dona Eva Sopher, à testa do Theatro São Pedro, a centenária e mais importante casa de espetáculos do RS. Dona Eva, que já desenvolvia um importante papel na difusão da música erudita no RS, por estar à frente aqui da “Fundação Pro-Arte”, foi a “grande timoneira” da reforma que reergueu o teatro centenário, e está à testa de sua ampliação, consubstanciada no “multipalco”. Impende sublinhar a circunstância, a par de várias outras, de que, sob sua gestão, diversos projetos culturais importantes, gratuitos e abertos ao público em geral, foram criados, ampliando o contato da população em geral com esta casa de espetáculos que, tradicionalmente, era bastante associada como espaço privilegiado da elite, abrindo igualmente oportunidades a um grande número de artistas locais. Vale invocar, neste sentido, os projetos “O Choro é livre”, “Blue Jazz” (de que participei algumas vezes) e “Música ao meio-dia”, dentre outros. Herbert Caro, além de ser um dos principais tradutores da literatura de língua alemã (especialmente Thomas Mann), era grande conhecedor de música erudita, e mantinha uma importante coluna no Correio do Povo, então o maior jornal gaúcho. Caro foi um dos integrantes da comissão que fundou a Ospa. O advogado Miguel Weisfeld foi diretor e fundador da Ospa. Rubem Oliven também merece destaque pelos livros e artigos que escreveu sobre a música popular brasileira. Maurício Rosenblatt, nome que se imortalizou em relação ao mercado literário gaúcho e brasileiro, em vista de sua atuação junto à Livraria do Globo e outras editoras, tendo sido um dos idealizadores da Feira do Livro de Porto Alegre, antes de dedicar-se ao mercado das letras teve também atuação destacada no ramo da comercialização de aparelhos fonográficos, tendo gerenciado a Casa Victor, loja importantíssima para o desenvolvimento do mercado fonográfico e inclusive da radiodifusão na capital gaúcha. No campo do jornalismo cultural, temos nomes como o de Fábio Prikladnichi, que atuou na revista Aplauso. No mercado fonográfico, deve ser sublinhada a atuação da gravadora RBS Discos, que deu uma importantíssima contribuição ao registro de diversos trabalhos no campo da música popular (MPB, rock e nativismo) e erudita. Mais recentemente, o selo Orbeat, dedicado ao pop rock gaúcho, desempenhou um forte papel. A gravadora Kives também realizou alguns lançamentos de música popular gaúcha. Naturalmente, o papel desempenhado pela RBS, através de seus diversos veículos (jornais como Zero Hora, Diário Gaúcho, Pioneiro, Diário Catarinense, etc.; rádios como a Gaúcha, Farroupilha, Atlântida, Cidade, Porto Alegre; canais de TV como a RBS TV – antiga TV Gaúcha – e a TVCOM), é de grande importância para o universo da música feita no RS. Também destacam-se produtores que atuam no campo da música, tais como Ilton Carangacci, e de Renato Sirotsky, responsável pela organização do Planeta Atlântida, da Rádio Atlântida FM (RBS). Cabe apontar também lembrar dos programas de rádio especificamente voltados à comunidade judaica gaúcha, veiculados, no mais das vezes, em emissoras de grande expressão, e alguns casos ocupando horários nobres, que tomaram para si a tarefa de difundir a cultura judaica junto a seus membros e também à divulgação desta mesma cultura ao público em geral. O principal deles, e que até hoje vem prestando um serviço imensurável à comunidade do RS, é a “Hora Israelita”, que já passou por várias emissoras. O programa, ao longo do tempo, foi comandado por diversos locutores membros da comunidade judaica gaúcha, que, apesar de geralmente serem amadores, fizeram sempre um trabalho radiofônico da melhor qualidade. Aproveitamos para homenageá-los na figura do querido professor David Iasnogrodsky, que, por exemplo, concedeu-me a honra de um convite para ser entrevistado nos microfones da Rádio Princesa (Jornal do Comércio) em uma ocasião. O programa, de fato, sempre abriu espaço para a música feita por membros da comunidade judaica gaúcha, além de veicular muita música ídiche e israeli. Atualmente, é apresentado por Roberto Schotkis (Betão), meu contemporâneo do CIB e da Faculdade de Direito da UFRGS. Igualmente, merecem ser destacadas as formações musicais constituídas dentro da comunidade judaica, para o seu consumo interno, e, eventualmente, externo, tais como, por exemplo: a Orquestra de Baronesa Clara (formada pelos filhos dos primeiros colonos, e que animava as festividades na colônia), o Coro de Passo Fundo (organizado por Samuel Chmelnitzki), o Conjunto Shalom (do CIB), o Coral Viva Vida, o Coral Zemer (das Pioneiras), o Coro da Sibra, o Grupo Lechaim, dentre outros. Também merecem ser lembrados, pela sua atuação em eventos e festas da comunidade, os irmãos Menashe e Bioniomin Roitman, e Busi Trachtenberg. Cabe também aqui invocar os nomes dos regentes de coros, como Josef Neumann, Werner e Kurt Katz. Vale registrar, naturalmente, a atuação destacada de inúmeros chazanin que atenderam à comunidade judaica nas sinagogas e nos serviços religiosos do RS. Seria evidentemente impossível listar todos aqueles que atuaram no comando dos serviços religiosos das diversas sinagogas ao longo de praticamente um século, mas podemos citar, à título de exemplo, os nomes de Benzion Spritzer, Abrão Chuchman, Henrique Soibelman, Maurício Laks, David Eizerik, Rubens Turkienicz, Ricardo Brozensky, Moacir Sibemberg, Benjamin Strazas, Isaac Rubinstein, Júlio Glock, dentre tantos outros. A SIBRA, - sinagoga de rito liberal que congrega os judeus de origem alemã -, muito especialmente vem se destacando pela grande qualidade musical de seus serviços religiosos, que contam com chazanim (cantores) e instrumentistas de grande desenvoltura. Se formos homenagear a todos os chazanin em um nome, Jacob Citrin, sem dúvida, merece sê-lo, por tratar-se de uma grande figura humana, dotada de muito humor e afeto. Quando do falecimento de meu pai e de meu avô, em um período em que compareci à sinagoga do Centro Israelita, a fim de realizar as rezas em sua homenagem, pude privar um pouco do convívio deste grande personagem, algumas vezes descendo a rua Fernandes Vieira orgulhosamente de braços dados com este ícone do judaísmo gaúcho, que deixou muitas saudades. Cumpre ressaltar que o teatro ídiche exerceu um papel muito importante para a coesão e a confraternização da comunidade judaica do RS ao longo do século XX, especialmente até os anos 60. Seguidamente, a comunidade se mobilizava para trazer à capital gaúcha artistas e companhias de teatro ídiche internacionais, lotando as dependências do Theatro São Pedro. Aliás, os levantamentos acerca do conjunto dos espetáculos realizados no Theatro, até o seu fechamento para reforma, indicam que o teatro ídiche foi uma das atividades de maior constância e sucesso de público. Aos artistas destas companhias, muitas vezes, acresciam-se artistas amadores locais, que compunham o elenco. Como é sabido, e já ressaltamos anteriormente, a música é um dos elementos mais importantes na estética do teatro ídiche. Espetáculos do gênero também eram realizados no Círculo Social Israelita e no Centro Israelita. Em termos de espaços culturais, diversas salas vinculadas à comunidade judaica exerceram um papel relevante dentro do cenário cultural de Porto Alegre. O Clube de Cultura e o teatro do Círculo Social Israelita deixaram a sua marca como importantes locais para a difusão da música feita na capital gaúcha, abrindo espaços para muitos artistas, especialmente no campo da música popular. O Círculo Social Israelita, pode-se dizer, desempenhou o papel mais importante em termos sociais dentre os clubes da comunidade judaica gaúcha (além dele, havia o Grêmio Esportivo Israelita, mais centrado no esporte, que foi fundido ao mesmo, formando a Hebraica, e o Campestre, cuja atuação continua considerável). Os bailes do clube eram muitíssimo concorridos, até pelo menos os meados dos anos 70. Nestes bailes, em que geralmente eram contratados para a animação conjuntos consagrados da capital gaúcha, muitas vezes ocorriam shows de grandes nomes da música brasileira e até internacional. Passaram pelo palco do clube nomes bastante famosos, no auge de sua fama, tais como Chico Buarque, Jorge Ben, Eliana Pitman, Wilson Simonal, Malcom Roberts, etc. O CIB (Colégio Israelita Brasileiro) chegou a realizar alguns festivais de música, sendo que determinados eventos foram abertos à participação da comunidade gaúcha em geral. Estes festivais foram importantes como espaços de abertura aos músicos então iniciantes. Nico Nicolaiewsky, por exemplo, foi o vencedor do festival de 1974. O CIB, aliás, sempre teve como proposta proporcionar aos alunos, em alguma medida, o contato com a música, não apenas judaica, mas também gaúcha, brasileira e universal. Só para dar um exemplo, assisti, como aluno, um célebre show de Teixeirinha e Mery Terezinha, ícones maiores da música regional gaúcha, no auditório do colégio. Também era costumeiro assistirmos a apresentações da OSPA. Esta proposta continua sendo levada a efeito nos tempos atuais, estimulando a criação musical e artística do corpo discente (aliás, cabe dizer que foi num concurso de músicas sobre a poluição, feito em minha turma, que pela primeira vez experimentei compor uma música e me apresentar em público, numa parceria “vencedora” com o meu amigo e colega Joel Fridman, hoje presidente da Hebraica-RS).
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Pós-Judaísmo: Não Há Judaísmo, Há Judeus HELIETE VAITSMAN (*) [ Revista 18 – jun/ago 2008 ] Desmentida exaustivamente pelo menos desde o Iluminismo judaico do século XIX, a noção de que os judeus constituem um bloco de pensamento e comportamento, em geral conservador e fechado (e, nos últimos anos, alinhado aos Estados Unidos e a todos os governos israelenses), ainda domina o imaginário coletivo. Sabemos que nada está mais longe da realidade do que essa pretensa uniformidade, já que entre as características comuns do judaísmo (ou dos “judaísmos”, como preferem alguns) está a pluralidade de idéias, estimulada pela inexistência de uma estrutura burocrática central. Pluralidade tão antiga que no Talmude sempre se encontram ao menos duas posições frente ao mesmo problema, e reiterada pelos movimentos sociais e intelectuais dos últimos dois séculos. Um conceito recente, o pós-judaísmo, postula a máxima “não há judaísmo, há judeus”, utilizando a categoria do pós-moderno (que pretende acolher a pluralidade de vozes e rejeita a imposição de modelos), e nos chama a atenção em virtude da forma original e da origem latino-americana. A busca de pertencimento judaico fora do âmbito religioso não é, obviamente, uma novidade; o que é novo são as formas de expressá-la. Neste início do século XXI, um exemplo dessa procura é o sucesso, na Argentina, do “movimento” YOK – junção de Yo (eu) e OK, subentendendo-se que “eu me sinto OK sendo judeu” - que reúne milhares de judeus em atividades culturais, artísticas e sociais, inclusive com um Pessach laico em praça pública que já está se tornando tradição em Buenos Aires: são judeus de múltiplas identidades que se juntam, mesmo sem terem muito em comum senão seus próprios e subjetivos sentimentos, e assistem a apresentações musicais, concursos gastronômicos, conferências, lançamento de livros. Não há nisso objetivo institucional: uma característica do “movimento” é não se pretender fundador nem didaticamente transmissor. Segundo o filósofo Darío Sztajnszrajber, professor do Seminário Rabínico Latino-Americano e da Universidade de Buenos Aires, e um dos articuladores do pensamento pós-judaico argentino, este prescinde de denominador comum e regras fixas. Não quer ser um marco demarcatório e excludente, nem substituir por “novos arautos” os autoproclamados herdeiros da tradição. Conforme pesquisa de dois anos atrás, a maioria dos judeus de Buenos Aires e Grande Buenos Aires não freqüenta as instituições comunitárias, porém defende que “ser judeu” lhe é essencial e busca padrões de pertencimento em valores culturais compartilhados (os números das eleições comunitárias brasileiras indicam que tampouco aqui a maior parte dos judeus vive o cotidiano institucional). Então, que cada um seja judeu ao seu modo, declara o sítio , que convida os interessados à busca de novas formas de relação em marcos informais (1). “O pós não substitui, des-dogmatiza; não supera, re-significa”, escreve Sztajnszrajber (2). “Os judeus somos um horizonte de tribos fragmentadas, cada uma vivenciando à sua maneira o que é o judaísmo. O problema se manifesta quando alguma das tribos pretende constituir-se como o paradigma único do povo judeu”, assinala ele. Esse tipo de busca, que não pressupõe uma reta de chegada, retoma a querela clássica entre Apolo, deus da racionalidade e da norma, e Dionísio, deus do “imediato”, que oferece uma aproximação ao judaísmo menos constrangida por regras. Afirma Sztajnszrajber que o pós-judaísmo é “um retorno constante sobre um judaísmo que buscou denodadamente sua própria definição, integrando, e nesse ato impondo e excluindo”. Assim, o retorno, ao buscar desdogmatizar o “autoritário do judeu”, é “uma abertura que dialoga com as normas, as faz verem-se como tais no espelho e clama por uma pós-identidade judia que escape ao idêntico”. Isso implica levar as questões de identidade “ao plano do dionisíaco, perder-se conceitualmente para ganhar em sensibilidade”. A falsa impressão da uniformidade judaica remete às noções de estranheza e alteridade. “Existem amigos e inimigos. E existem estranhos”, assim o sociólogo Zygmunt Bauman, um dos principais pensadores da modernidade/ pós-modernidade, abre o segundo capítulo do livro Modernidade e Ambivalência (3). Adiante, ele explica por que o judeu foi na Europa o estranho por excelência, muito mais ameaçador que o mero inimigo, pois, ao contrário deste, o estranho jamais deixa de sê-lo, malgrado seu eventual êxito ou riqueza. Para os judeus, a marca da estranheza que o Ocidente lhes grudou ao longo dos séculos, desde a acusação de deicídio, abriu espaço, “por um sinistro paradoxo”, na expressão de Bauman, à criatividade intelectual intensa que se sedimentou como cultura moderna e foi resultado, acrescenta, da “intolerância da modernidade”, não da sua aparente abertura. Os judeus dos séculos XIX e XX quiseram acreditar, como aponta o sociólogo Bernardo Sorj, pensador do judaísmo, diretor do Centro Edelstein de Pesquisas Sociais e professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que a modernidade era um conjunto de valores universais e coerentes que permitiriam a sua integração nas sociedades onde se encontravam. A realidade desmentiu a suposição – não bastou aos judeus europeus adotar certas atitudes nem visões de mundo para integrar-se. Agora, a marca da estranheza já não parece indelével - sobretudo nas Américas e nas democracias européias -mas a História ensinou os judeus a desconfiarem das certezas. Num mundo contemporâneo no qual reivindicações étnicas e xenofobias ancestrais são amplificadas diariamente pela mídia, ainda é complexo o trânsito entre diversas culturas. Para quem não pretende viver em caixas fechadas, mas ao mesmo tempo aprecia a herança recebida, conviver dentro do monopólico universo judaico mencionado por Sztajnszrajber não raro se configura um dilema, tão crucial quanto o do “abandono” das raízes em benefício de outras identidades. Não é surpreendente, portanto, que as indagações em torno do significado do pertencimento judaico continuem a produzir milhares de páginas de filósofos, rabinos, eruditos, sociólogos e escritores. Grosso modo, pode-se dizer que, se é impossível entender os judeus sem a religião e sua narrativa coletiva, tampouco se pode entendê-los sem o laicismo (no qual o ateísmo é uma das variações) e sua liberdade individual tão cara à tradição ocidental. Os religiosos não têm dúvidas sobre aquilo que querem transmitir. O rabino Jacob Neusner, um dos mais prolíficos autores religiosos norte-americanos e interlocutor do Papa Bento XVI, ensina que um dos aspectos distintivos da religião judaica é que nela o fiel - que não aspira à salvação individual, como em outras fés, mas tem seu destino ligado ao coletivo “Israel” - deve assumir para si a narrativa fundadora da condição humana que a religião faz. É uma narrativa que exige apego permanente à letra da Lei. “Ser judeu praticante é narrar, a respeito de si mesmo e da própria família, a história narrada desde a Escritura judaica”, afirma Neusner (4). O relato, que traz o passado ao presente, aceita como judeus todos aqueles, inclusive os conversos, que legitimamente narram sobre si mesmos as narrativas da Torá (os Cinco Livros de Moisés – Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio), enquanto cumprem seus ritos. Sorj ressalta a centralidade da resistência na narrativa judaica, que se manifesta em vários níveis: por exemplo, nossa festa mais “alegre”, Purim, o carnaval judaico, tem como motivo que os judeus foram salvos pela Rainha Ester do genocídio! Mas as tendências renovadoras da religião têm limites, acrescenta. “Quem sabe, ao menos hoje em dia, ajudaria mais reconhecer que o judaísmo não possui respostas para todos os desafios do mundo contemporâneo e que, pelo contrário, como uma tradição que se desenvolveu em outras épocas, contém muitos elementos que não são atuais e não se conjugam com uma perspectiva democrática e radicalmente humanista” (5). Com efeito, a contrapartida ao papel de outro exercido pelo judeu no Ocidente -- ainda que um outro íntimo e estável, sem o qual não se vive (6) – foi a criação pelo judaísmo rabínico de um grande número de alteridades parcial ou totalmente excluídas (das mulheres, dos homossexuais, dos supostamente desiguais). Os excluídos de hoje, contudo, falam alto. O compromisso identitário não se sujeita aos monopólios de sentido e poder político, religioso e econômico do judaísmo institucional. A auto-identificação prescinde da subserviência: o indivíduo se permite viver seu judaísmo como parte de um conjunto de valores, afetos e relatos que constituíram sua personalidade. Sons, ética, poesia, odores, empatia, encontro com o divino ou a ancestralidade – tudo cabe na escolha. Pode-se dizer que tudo também cabe na rejeição: quando ofereceram ao historiador Marc Bloch, membro da Resistência Francesa, o apoio de um rabino, minutos antes da sua execução pelo pelotão de fuzilamento nazista, ele respondeu que morria como francês, não como judeu. A identidade que ele se atribuía não era a mesma que o totalitarismo lhe impunha. No tocante à transmissão da herança laica do judaísmo, à medida que o Holocausto e o sionismo, os dois grandes momentos que marcaram o judaísmo do século XX, deixam de fazer parte da experiência vivida, crescem as dúvidas. A fragmentação produziu um cenário em que um ultra-ortodoxo é, para o judeu secular, muito mais estranho que o não-judeu. Das novas rupturas emergem “novos rituais, cultos seculares, como o da memória da Shoah, que se quer unificador (...) Mas esse judaísmo é viável a longo prazo?” (7). Indagação instigante, pois em pouco tempo desaparecerão os últimos testemunhos vivos do Holocausto e se enfraquecerão os laços dos judeus com o Estado de Israel – país cada vez mais “normal” e, portanto, incapaz de manter o status de guardião moral que o tornou, há seis décadas, um ímã para idealistas de todos os matizes. Perguntas não faltam. Como manter o interesse das massas de jovens judeus ocidentais, entre eles centenas de milhares de filhos de casamentos mistos? Como superar tanto o desinteresse pela política e pelas instituições, por um lado, quanto, por outro, a crescente banalização da experiência espiritual promovida pelas múltiplas “ofertas” existentes naquilo que os estudiosos norte-americanos chamam de “mercado religioso” (em que o “cliente” troca de opção sem traumas, de acordo com sua necessidade imediata)? O misticismo viverá novo auge, com profetas barbudos pregando assombros? Ou se consolidarão as sinagogas liberais, com projetos sociais, a partir de países como a Alemanha? Ou tudo acontecerá ao mesmo tempo, marca do pós-moderno? Uma parte das propostas de mudanças reitera o consagrado e sugere alterações não estruturais que mantêm o status quo – ao estilo do príncipe Salina em O Leopardo, pregando a necessidade de modificar alguma coisa para que tudo fique como está. Uma alteração significativa entre judeus reformistas e conservadores, mas ainda numericamente restrita, tem sido a ordenação de mulheres como rabinas. Longe estão, para elas, os dias em que menstruação era sinônimo de impureza e afastamento. O ritual, porém, é o mesmo. Cada país, cada comunidade, faz as mudanças ao estilo local – onde senão na Califórnia e na costa leste dos EUA haveria tantas sinagogas GLS (gays, lésbicas e simpatizantes), ou, no marco caricatural, cãezinhos enfeitados com kipá? (e por que não, perguntam-se seus donos, já que os pets também usam sapatinhos, laçarotes, e cosméticos?). Ora, se naquele país as mulheres cristãs ostentam, no Natal, brincos com luzes pisca-pisca e colares em forma de pinheirinho, sobre suéteres com o rosto de Papai Noel, esse tipo de consumo pode ser tão indicativo de pertencimento quanto outro qualquer. Não há mais uma instância consagrada a impor limites entre o aceitável e o ridículo, entre o interno e o externo. Quem diz quem pode entrar na comunidade e quem deve sair dela? “Que lei do ventre impediria a sensação sublime de alguém se sentir judeu?” – pergunta Sztajnszrajber, contestando a norma de que judeu é tão somente o filho de mãe judia. Como não recordar a bíblica Rute, moabita que escolhe permanecer com a sogra após a morte do marido, tornando-se ancestral de ninguém menos que Davi? Judeu é todo aquele que aceita a Torá, pondera o rabino Neusner, lembrando que as definições já teriam deixado de fazer sentido, no debate secular contemporâneo, se não fosse a necessidade de responder, desde 1948, à pergunta “quem é judeu?” para atender à lei israelense, que concede automaticamente a cidadania a todo filho de mãe judia que a solicita. A participação grupal salva o indivíduo da solidão que a liberdade produz. Não é para acolher que também servem os grupos, sejam eles religiosos, políticos ou de auto-ajuda? O laicismo judaico, todavia, pode ser igualmente acolhedor ao não buscar a “verdade” produtora de ansiedade. Sobre isso, diz Darío Sztajnszrajber (8). “...Nascemos judeus e nossa tarefa é fazer algo com isso, mas fazer algo de fato, isto é, fazê-lo com liberdade absoluta. Poder duvidar, crer, renunciar, voltar, poder tomar o todo, uma parte ou simplesmente nada e no dia seguinte arrepender-se, ou não. Este novo laicismo focalizará em cada pessoa sua história particular. Alguns buscarão seu judaísmo através da Bíblia, mas outros o farão a partir da arte e outros a partir da comida, dos odores, das lembranças. Mas todos se saberão judeus. (...) Nascemos judeus sem saber por que e assim morreremos: sem respostas, embora no meio percorramos caminhos. E depende da nossa liberdade nesse percurso que a busca seja a mais plena possível. Todavia, que difícil é pensar em nós deste modo! Assumir que morreremos sem respostas! Aceitar que preferimos percorrer caminhos a chegar a algum lugar! Se compreendemos que ser laicos é, antes de tudo, desembaraçar-nos da verdade, a ansiedade metafísica se enfraquece. Ser ateu ou ser religioso implica certezas. Ser laico não implica, desarma...” E é dentro desse espírito desarmado que descrer de valores judaicos sempre idênticos a si mesmos não significa menosprezar as lições de humanismo e ética dos nossos maiores eruditos. Ao contrário. Uma história famosa sintetiza a prioridade da justiça e da vida - ou seja, da dignidade e da liberdade do outro - sobre o rito (é uma interpretação, entre outras possíveis): Um gentio apresentou-se ao sábio Shamai [adversário do sábio Hilel], dizendo-lhe: “Converte-me sob a condição de me ensinar a Torá enquanto eu estiver de pé sobre uma só perna”. Shamai, conhecido pelo rigor formal e o caráter impaciente, o expulsou com a régua que tinha nas mãos. Apresentou-se então o gentio diante de Hilel e fez o mesmo pedido. Hilel disse: “Não faças ao teu próximo o que não queres que te façam. Essa é toda a Torá; o resto é comentário. Agora vai e estuda.” (Tratado Shabat 30-B-31 A, no Talmud da Babilônia, citado por Jacob Neusner). A recomendação de Hilel – que vem do Levítico 19:17-18 (9) – não só retira o ser humano do centro de fatos absolutos mas afirma o valor do esforço: “vai e estuda” sugere que o aluno (e o judeu, nessa tradição, é sempre aluno, pois sempre há o que aprender) examine cada questão, grande ou pequena, pois só assim poderá enxergar os detalhes e ouvir as razões do interlocutor. Nada mais judaico e nada mais pós-judaico, então, que a abertura ao diálogo. 1 - www.yoktime.com – acesso em 15.03.2008 2 - Posjudaísmo – Debates sobre lo judío en el siglo XXI – organizador Darío Sztajnszrajber (Prometeo Libros, 2007) 3 - Modernidade e Ambivalência, Zygmunt Bauman (Jorge Zahar Editor, 1999) 4 - Introdução ao Judaísmo, Jacob Neusner (Editora Imago,2002). 5 - Judaísmo para o Século XXI, com Nilton Bonder (Editoria Jorge Zahar, 2001); ver também artigos do autor em 6 – Le Juif et l’Autre – Esther Benbassa e Jean-Christophe Attias (Le Relié, 2002) 7 – Le Juif et l’Autre – Esther Benbassa e Jean-Christophe Attias (Le Relié, 2002) 8 - Um Novo Laicismo, disponível em 9 – Bíblia Hebraica (Editora Sefer, 2006), tradução de David Gorodovits e Jairo Fridlin “Não odiarás a teu irmão em teu coração; repreenderás a teu companheiro, e não levarás sobre ti pecado” “Não te vingarás e nem guardarás ódio contra os filhos do teu povo, e amarás o teu próximo como a ti mesmo - Eu sou o Eterno!” (*) HELIETE VAITSMAN - jornalista e tradutora; autora de “Judeus da Leopoldina”; diretora do Museu Judaico do Rio de Janeiro e membro do movimento Amigos Brasileiros do PAZ AGORA)
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David Grossman: "¡Nuestra dirigencia está hueca!"

David Grossman: "¡Nuestra dirigencia está hueca!" Texto completo del discurso del escritor David Grossman, pronunciado en el acto en memoria del 11° aniversario del asesinato de Itzjak Rabin Z'l, el pasado sábado 4 de noviembre en la Plaza Rabín en Tel Aviv ante 100.000 personas. Traducción: Lea Dassa - en Exclusiva para Argentina.co.il El acto anual en memoria de Itzjak Rabín es siempre un momento donde nos detenemos para recordar a Rabín el hombre, el líder; también es buena oportunidad para autocontemplarnos, para observar a la sociedad israelí, a sus dirigentes, percibir el estado de ánimo nacional y la situación del proceso de paz… Todo ésto desde nuestra posición particular, frente a los grandes procesos nacionales. No es fácil autocontemplarnos este año. Hubo una guerra. Israel movilizó un músculo militar colosal pero detrás de él quedaron reflejadas su impotencia y su fragilidad. Nos percatamos de que nuestra fuerza militar no puede, al final de cuentas, asegurar por sí sola nuestra existencia; descubrimos principalmente, que Israel pasa por una grave crisis en todos sus sistemas de vida; una crisis mucho más profunda de la que nos imaginábamos. Esta noche les hablo como alguien al que el amor por esta tierra le resulta un amor difícil y complicado, pero sabiendo que se trata de un amor incondicional. También les hablo como alguien a quien el pacto que siempre tuvo con esta tierra y que se transformó desastrosamente, en un pacto de sangre. Soy un hombre totalmente laico, pero sin embargo considero que la creación y existencia del Estado de Israel vendrían a ser un milagro que nos ocurrió como pueblo; un milagro político, nacional, humano. No puedo olvidarme de ésto ni un sólo momento; aún cuando hay muchas cosas de la realidad de nuestra vida que me enfadan y me deprimen; aún cuando el milagro se va transformando en pequeñas partículas de rutina y humillación, de cinismo y corrupción, aún cuando la realidad pareciera ser la parodia más terrible de dicho milagro, yo siempre lo recuerdo; y embuído en esta sensación, les hablo. "¡Mira Tierra, pues fuimos derrochadores al máximo!", escribió el poeta Shaul Tchernijovsky en 1938. El se lamentaba de que en el regazo de la tierra, en la Tierra de Israel, sepultábamos reiteradamente a los jóvenes en la plenitud de su florecimiento. La muerte de nuestros jóvenes es un despilfarro terrible, deplorable; pero no menos terrible es la sensación de que durante muchos años el Estado de Israel derrocha pecaminosamente, no sólo la vida de sus hijos, sino también el milagro que le fue acreditado, la enorme e infrecuente oportunidad que la historia le proporcionó, la chance de construir aquí un Estado ejemplar, ilustrado, democrático, rejido por los valores judíos y universales. Un Estado que sea a la vez hogar nacional y refugio; no sólo refugio, sino también un lugar que otorgue un nuevo significado a la existencia judía. Un Estado donde una parte esencial de su identidad judía, de su concepción judía se proyecte en una relación de respeto e igualdad para con sus conciudadanos no judíos. Y miren lo que ha ocurrido… ¿Qué le sucedió a nuestro Estado? Observen lo que le pasó a esta tierra joven, intrépida, llena de vigor y espíritu que aquí reinaba; cómo en un proceso vertiginoso de envejecimiento, Israel se precipitó desde la etapa de niñez y adolescencia a una situación fija de negligencia, debilidad y sensación de pérdida. ¿Cómo sucedió? ¿cuándo perdimos incluso la esperanza de que alguna vez podamos vivir una vida diferente y mejor? Y más aún, ¿cómo es que continuamos manteniéndonos al margen, aparentemente hipnotizados, observando cómo la locura, la rudeza, la violencia y el racismo se apoderan de nuestra nación. Yo les pregunto: ¿Cómo puede ser que este pueblo con su enorme capacidad creativa, su vitalidad y su constante proceso de renovación; este pueblo que supo levantarse una y otra vez de las cenizas, se encuentra a sí mismo, justamente hoy, cuando posee su mayor poderío militar, en una situación de fragilidad e impotencia, en un estado donde nuevamente debe jugar el papel de víctima, pero esta vez, víctima de sí mismo, de sus miedos y desesperación, de su falta de visión? Uno de los puntos más difíciles que agudizó esta última guerra es la sensación de que en estos días "no hay Rey en Israel"; que nuestra dirigencia está hueca; nuestra dirigencia militar y política está hueca. No me estoy refiriendo a los visibles fracasos en la dirección de la guerra, ni al desamparo de la población civil, tampoco a los pequeños y grandes actos de corrupción. Me refiero a las personas que actualmente dirigen el país que no consiguen conectar a los israelíes ni con su identidad ni con las partes sanas, primordiales de la vida que hacen florecer a dicha identidad; con esas partes de la identidad, la memoria, los valores básicos que le otorguen fuerza y esperanza. Que sean los anticuerpos de las debilidades respecto a la responsabilidad mutua y nuestro nexo con el Estado, que proporcionen algún significado a nuestra lucha existencial tan agotadora y desesperada. Los principales contenidos con los que la dirigencia Israelí sostiene la corteza gubernamental son esencialmente ansiedad por una parte y por otra parte intimidación. Del hechizo de la fuerza, y el guiño de la “combina” de la manipulación. Del regateo por las cosas que nos son valiosas. En este sentido ellos no son auténticos dirigentes. Y por supuesto, no representan a los dirigentes que en una situación tan confusa y tan errada el pueblo requiere. En ocasiones pareciera que la caja de resonancia de sus pensamientos, de su memoria histórica, de su propia visión, de aquello que realmente les interesa, existe solamente en el breve espacio entre dos titulares de los periódicos o entre las dos paredes del Asesor Jurídico del Gobierno. Observen a aquellos que nos dirigen. Por supuesto, no a todos, pero a muchos de ellos. Observen la forma de actuar atemorizada, de desconfianza, con orientación defensiva y artificiosa. Hasta sería incluso ridículo anhelar que de ellos aflore la sabiduría , que de ellos se asome una visión, o simplemente una idea original, realmente creativa, audaz, con imaginación. ¿Cuándo fue la última vez que el Primer Ministro ideó o realizó alguna acción que permitiera a los israelíes añorar nuevos horizontes o un futuro mejor? ¿Cuándo promovió alguna acción social, cultural, de valores, y no solamente respondió a las acciones que le fueron impuestas por otros? Sr. Primer Ministro, no pronuncio estas palabras por un sentimiento de rabia o de venganza. Esperé bastante para no pronunciarme con el arrebato del momento, usted no podrá desechar mis palabras esta noche como “una expresión debida al pesar que lo agobia”. Por supuesto, estoy apesadumbrado. Pero más que enojado, me duele. Me duele este país, por lo que usted y sus colegas le provocan. Créame, sus éxitos me importan, porque nuestro futuro depende de su capacidad de acción. Itzjak Rabín emprendió el camino de la paz con los palestinos no por la gran simpatía que les dispensaba a ellos o a sus dirigentes. También entonces, como se recordará, la opinión generalizada era que no teníamos socios entre los palestinos, y que no podríamos dialogar con ellos. Rabín determinó una acción, dado que con gran sabiduría, llegó a la conclusión de que la sociedad israelí no podrá subsistir por mucho tiempo en una situación de conflicto permanente. Comprendió, con antelación a muchos otros, que la vida en un clima constante de violencia, de conquista, de terror, pánico y desesperanza, reclaman un precio que Israel no puede sobrellevar. Todo aquello sigue vigente también hoy, con gravedad superlativa. Pronto hablaremos sobre el socio existente o no, pero antes nos contemplaremos a nosotros mismos. Por más de cien años vivimos en lucha. Nosotros, ciudadanos de este conflicto, nacimos en la guerra, y nos educamos en ella, y en cierto sentido fuimos programados para ella. Será por ello que a veces nosotros pensamos que esta locura en la cual vivimos ya hace cien años, es lo real, lo único, es la única vida que nos fue destinada, y que no tenemos posibilidad, o incluso el derecho de anhelar otra; en la penuria nacimos y en la penuria moriremos, y por siempre nos alimentaremos de ella. Quizás sea ésta la explicación a la indiferencia con la que nos resignamos al aniquilamiento definitivo del proceso de paz, que continúa hace años, y que cobra más y más vidas. Así también se explica la falta de reacción de la mayoría de nosotros a la burda bofetada que soportó la democracia con la designación de Avigdor Liberman como Ministro selecto, con la designación de este pirómano como Director de los Servicios de Bomberos del país (alude al nuevo Ministerio de Asuntos Estratégicos, reciéntemente creado. LD) Y éstos también forman parte de los factores por los que en tan corto tiempo el Estado de Israel sucumbió a la insensibilidad, agresividad nata ante el más débil, el pobre y el que sufre. Esta indiferencia por el destino de los hambrientos, de los ancianos, de los que padecen y los minusválidos; la apatía del Estado de Israel por el tráfico de mujeres, por ejemplo, o por la explotación y condiciones de esclavitud de los trabajadores extranjeros; el profundo racismo institucionalizado ante la minoría árabe. Todo ello acontece aquí, con gran naturalidad, sin contratiempos y sin quejas. Comienzo a dudar que aunque la paz llegue mañana, aún si volviéramos alguna vez a cierta normalidad, quizás ya sea demasiado tarde para el restablecimiento completo. La desgracia que padecimos mi familia y yo, con la caída de nuestro hijo Uri, no me otorga derechos adicionales en el debate público. Pero creo que el enfrentarse a la muerte y a la pérdida conlleva un tipo de perspicacia y claridad, por lo menos en lo que se refiere a distinguir entre lo esencial y lo superfluo. Entre lo alcanzable y aquello imposible de lograr, entre la realidad y la fantasía. Todo individuo racional en Israel - y agrego, también los palestinos - conoce con exactitud las formas de solución posible al conflicto entre las naciones. Todo ser pensante, entre nosotros y entre ellos, siente también en lo profundo de su corazón, la diferencia entre los sueños y quimeras con lo posible de lograr al término de las negociaciones. El que no lo sabe - ya mismo no es apto al diálogo, sea judío o árabe. Es prisionero de su fanatismo, su hermetismo, y por ello no es un socio posible. Observemos por un momento aquel que pretende ser nuestro socio. Los palestinos erigieron al Hamás, que se niega a negociar con nosotros, incluso a reconocernos. ¿Qué se puede hacer ante esta situación? ¿Qué más nos queda por hacer? ¿Continuar sofocándolos ininterrumpidamente? ¿Seguir absorbiendo centenares de palestinos en Gaza, la mayoría de ellos ciudadanos ingenuos, al igual que nosotros? ¡Diríjase a los palestinos, Sr. Olmert! Diríjase a ellos abordando la dirigencia del Hamás; a los moderados entre ellos. Aquellos que se oponen como usted y como yo al Hamás y su derrotero. Diríjase al pueblo palestino. Refiérase a la profunda herida que los aqueja. Reconozca su continuo sufrimiento, Nada podrá socavar la posición de Israel y la suya propia en negociaciones futuras. Sólo que los corazones de ambos se abrirán un poco el uno hacia el otro, y esta apertura representará una fuerza gigantesca. La simple conmiseración humana tiene una fortaleza invencible, justamente en situación de indiferentismo y rencor. Por una vez mírelos no sólo a través del caño del fusil y la barrera herméticamente cerrada. Ud. podrá ver un pueblo torturado no menos que nosotros. Un pueblo conquistado, deprimido y carente de esperanza. Por supuesto, también los palestinos son responsables de este estancamiento. Indudablemente, son parte importante del fracaso del proceso de paz. Pero obsérvelos por un momento desde otra perspectiva. No sólo a los extremistas. No solamente aquellos que tienen un pacto de intereses con nuestros fanáticos. Observe a la aplastante mayoría de este pueblo en desgracia, cuyo destino está contactado al nuestro, quiérase o nó. Acérquese a los palestinos, Sr. Olmert. No busque constantemente excusas para no hablar con ellos. Ha renunciado al desenganche unilateral. Y bien hecho está. Pero no deje un espacio vacío. Este se llenará de inmediato con violencia y destrucción. Dialogue con ellos. Ofrézcales una propuesta a los más moderados (son más numerosos que lo que muestran los Medios de Comunicación) Una propuesta tal, que deban decidir si aceptarla, o preferir continuar siendo rehenes en manos del fanatismo islámico. Llegue a ellos con el programa más valiente y serio que Israel sea capaz de ofrecer. Una propuesta que todo israelí o palestino con visión sepa que constituye el límite de la negación y la renunciación, la nuestra y la de ellos. Si titubea, en corto tiempo extrañaremos la afición del terror palestino. Nos golpearemos la cabeza y clamaremos: ¿cómo no pusimos en acción nuestra elasticidad de pensamiento, toda nuestra creatividad israelí, para extraer a nuestro enemigo de su propia celada? Existe también la paz porque no hay otra salida. Exáctamente así como existe la guerra sin remedio, porque no lo hay. No tenemos otra salida, y ellos tampoco. Y hacia la paz sin otra salida debemos recurrir con la misma determinación y creatividad, así como se emprende una guerra sin remedio; porque no lo hay. Y aquél que cree lo contrario, que el tiempo está a nuestro favor, no comprende los procesos profundos del peligro en el cual ya nos encontramos. En general, Sr. Primer Ministro, quizá deba recordarle que si cualquier dirigente árabe envía señales de paz, el más mínimo o frágil - debe usted recibirlo; deberá analizar de inmediato su veracidad y seriedad. No le cabe el derecho moral de no responder a ello. Usted debe hacerlo en pro de aquellos a los cuales les exigirá sacrificar sus vidas si llegase a estallar otra guerra. Por ello, si el Presidente Assad dice que Siria quiere la paz, aún si usted no le cree - y todos dudamos de él - debe proponerle un encuentro inmediato. No espere ni un solo día. Cuando decidió salir a la última guerra no esperó usted ni una hora. Irrumpió con toda la fuerza. Con todas las armas. Con toda la potencia destructiva. ¿Porqué al primer atisbo de paz, usted, inmediatamente lo rechaza, lo macera? ¿Qué tiene para perder? ¿Usted desconfía del Presidente de Siria? Preséntele condiciones tales que pongan al descubierto sus intenciones. Propóngale un proceso de paz por varios años que sólo al finalizar, si se atiene a todas las condiciones, a todas las limitaciones, recibirá nuevamente el Golán. Exíjale un proceso de diálogo permanente. Actúe de tal manera que en la conciencia de su propio pueblo se perfile también esta posibilidad, apoye a los moderados, que seguramente también existen allí. Trate de diseñar la realidad, no sea sólo su colaborador. Para ello fue elegido, exactamente por eso. Y para finalizar; indudablemente, no todo depende de nuestras acciones; existen otras fuerzas grandes y poderosas que actúan en la región y en el mundo; algunas, como Irán, como el Islam extremista que actúan en contra nuestra. A pesar de todo, mucho depende de lo que nosotros haremos, de lo que nosotros seremos. Actualmente, las divergencias entre la derecha y la izquierda no son realmente grandes. La gran mayoría de los ciudadanos de Israel ya entiende - algunos no muy convencidos - como se verá el bosquejo de la solución del conflicto. Muchos entendemos que el país se dividirá, que el Estado palestino se creará. Entonces, ¿porqué continuamos debilitándonos en riñas internas que duran casi cuarenta años? ¿Porqué la dirigencia política continúa reflejando la posición de los extremistas y no los de la mayoría popular? Nuestra situación estaría mejor si llegáramos nosotros mismos a este consenso nacional antes que las causas - presión externa, una nueva Intifada u otra guerra - nos obliguen a ello. Si actuáramos así, evitaríamos años de derramamiento de sangre y pérdidas lamentables. Años de trágico error. Desde el lugar donde me encuentro, yo pido, llamo a todo el que escuche, a los jóvenes que regresaron de la guerra y que saben que son ellos los que deberán pagar el precio de la próxima, a los ciudadanos judíos y árabes, a los hombres de la derecha y la izquierda: Deténganse un momento, observen por sobre el abismo, consideren cuán cerca estamos de perder lo que hemos creado. Pregúntense a sí mismos si no ha llegado el momento de sobreponernos, de salir del estancamiento, y al fin, demandarnos a nosotros mismos la vida que nos merecemos vivir. David Grossman Fuente: David Grossman 08/11/2006
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Bernard-Henry Lévy - Eu Sou judeu !

Bernard-Henry Lévy, filósofo, escritor, jornalista e ensaísta francês. Retirado do livro “I Am Jewish: Personal Reflections Inspired by the Last Words of Daniel Pearl”, 2004. EU SOU JUDEU Sou judeu por parte da minha mãe e do meu pai. Sou judeu por parte de Lévinas, Buber, Rosenzweig. Sou judeu porque ser judeu significa amar mais a lei do que a terra e a letra tanto quanto o espírito. Sou judeu em resultado de uma desconfiança, que sempre senti, em relação a estados extáticos e extremos de paixão religiosa. Sou judeu em resultado da minha rejeição de todas as formas de magia ou mistério: “Cautela”, gritou Lévinas, autor de Difficíle Liberté, Essais sur le Judaïsm, “com todos os falsos profetas que dizem que o homem está ‘mais perto dos deuses quando deixa de pertencer a si próprio’! Em guarda, judeus, contra o esquecimento de que o judaísmo é a única religião no mundo que prega a recusa das forças obscuras – a religião do desencanto, do santo e não do sagrado!” É assim que sou judeu. Sou judeu porque sou antinaturalista e antimaterialista – sou judeu, por outras palavras, porque me sinto em casa no Livro e entre os homens, mais do que na obscura floresta de símbolos e até na vida. Sou um judeu do galout (exílio, diáspora); sou um judeu que, há anos e anos, reflecte nesta questão do galout; não propriamente na reabilitação do galout; não, falando correctamente, na metafísica do galout; e, ainda menos, na distância em relação a Israel, que amo do fundo do coração, um amor incondicional; mas a meditação num exílio essencial, sem redenção nem retorno, que para mim parece constituir o que significa ser judeu, tanto no galout como em Israel; o contrário do exílio de Ulisses; a correlação e parte do fascínio, judaico também, com o reino dos céus; não é Judeu o nome, igualmente, do filho de Abraão (o Hebreu) e de Jacob (o Israelita)? Não é a filosofia judaica, indissociavelmente, a filosofia dos reis e dos profetas, de Israel e a da voz que, através de Jeremias, implora ao “resto de Israel” para “fortificar as suas posições no exílio”? Sou judeu porque não sou um platónico; judeu por causa do que chamarei, para ser sucinto, anti-platonismo coextensivo ao pensamento judaico; uma ética mais do que um ponto de vista; uma relação com os outros homens tanto quanto com Deus ou, mais exactamente, a Deus, sim, mas porque, e somente porque, me traz mais perto do meu semelhante. Sou judeu como Lévinas quando ele discute a amizade com Buber. Nessa discussão, que é digna, pelos seus termos, da famosa disputa em que Proust, sobre o mesmo tema, acaba por atirar os sapatos à cara de Emmanuel Berl, Lévinas expressa a sua desconfiança das noções buberianas de diálogo e reciprocidade. Sou judeu, sim, na forma como Lévinas declara ser estranha e irrelevante a ideia de uma amizade puramente espiritual, ou “desnervada”, que pode apenas cair em “formalismo”. Ele conclui com estas formulações magníficas, que são parte do meu judaísmo: o Outro necessita mais de “solicitude” do que de “amizade”, porque “vestir os que estão nus e alimentar os que têm fome é o real e concreto acesso ao Outro, mais autêntico do que amizade etérea.” Sou um judeu que não é realmente um humanista (a palavra perde o sentido para um leitor, mesmo o menos versado, do Maharal de Praga ou do Gaon de Vilna), mas sou consciente de um judaísmo que me faz responsável pelos outros, o seu guardador – um judaísmo que se define, assim, como uma ética e define esta ética como aquela que é estabelecida quando eu resolvo fazer de mim não o igual mas o refém do meu semelhante e que vejo, sobre o meu “eu”, um “Ele” que me domina das sagradas alturas. Sou um judeu que não é obviamente político (como pode um estudante de Lévinas esquecer o seu Politique Aprés?) mas aberto, por outro lado, ao mundo e a fazer do messianismo a responsabilidade básica do homem, de cada homem, no trabalho de redenção. Sou um judeu universalista. Sou um judeu que não se resigna a deixar ao cristianismo o monopólio do universalismo. O “povo escolhido”, tanto para mim como para Lévinas e Albert Cohen, não é um privilégio, mas uma missão. O papel do povo judeu, tanto para mim como para Rosenzweig, é abrir, a todos os povos, as invisíveis e sagradas portas que iluminam a estrela da redenção. É este, aos meus olhos, o significado do mandamento de Deuteronómio: “Não abominarás o idumeu, pois é teu irmão; não abominarás o egípcio”; e também na história de Jonas, a quem Deus diz: “Levanta-te, vai à grande cidade de Ninive e clama”, mesmo quando Ninive é, como ele sabe, o inimigo de Israel, a capital da Assíria, o próprio reino do mal. Sou um judeu tal como Walter Benjamin quando Benjamin fala da sua “solicitude para com os vencidos e famintos” – sou judeu no sentido de Poésie et Revolution e de Teses Sobre o Conceito da História mostrando que “cada segundo é a porta estreita através da qual pode passar o messias.” Sou um judeu que acredita, como Benjamin e, de certa forma, Scholem, que o messianismo judaico é a “encarnação de uma história secreta e invisível” que “se contrapõe à história dos fortes e dos poderosos”, que é como quem diz a “história visível” – toda a minha vida acreditei neste judaísmo, e isto é o que tenho praticado. Fui judeu, por outras palavras, no meu Réflexions sur la Guerre, le Mal e la Fin de l’Histoire. Fui judeu no Burundi, em Angola, e na Bósnia muçulmana. Fui judeu entre os nubios a caminho de serem exterminados no sul do Sudão. Fui judeu cada vez que, nas mais desoladas zonas do mundo, no coração das suas mais esquecidas guerras, eu aprendi a instrução judaica segundo a qual a mais séria prova da existência de Deus é a existência de rostos – e o sinal do eclipse de Deus é o seu apagamento programado. Sou judeu porque acredito num Deus que por outra definição é “Não Matarás”. Sou judeu quando tentei, ao longo de um ano, traçar os passos de Daniel Pearl, e sou judeu quando, à minha maneira, modesta e secular, sim, mas à minha maneira, tento contribuir para a santificação do seu nome. Bernard-Henry Lévy, filósofo, escritor, jornalista e ensaísta francês. Retirado do livro “I Am Jewish: Personal Reflections Inspired by the Last Words of Daniel Pearl”, 2004.
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Um pouco sobre a Literatura Israelense

Um pouco sobre a Literatura Israelense Israel é fonte de inspiração para os poetas e escritores do país. Sendo uma nação em desenvolvimento, forjada sobre as bases de antiga tradição, o país vive num intrincado de complexas relações sociais. As mudanças foram rápidas e intensas: o período pioneiro, a guerra da independência, a construção do estado, as guerras e a imigração em massa de vários pontos do globo. Cada novo período, cada mudança social, traz novos desafios, criando uma dinâmica de inquietação constante. Esses componentes, isoladamente ou combinados, são farto material para a produção literária. A poesia e a prosa se nutrem de temas, imagens e de uma enorme riqueza de expressão, tanto da Bíblia quanto de outra fontes judaicas (como a Mishná, o Talmud e a Cabala) e das tradições do povo judeu na Diáspora, assim como da linguagem e ritmo quotidianos. O Renascimento da Língua Hebraica O hebraico é o idioma de Israel. Embora tenha deixado de ser uma língua falada cerca de 200 E.C., ele continuou, através dos séculos, a ser usado pelos judeus como "língua sagrada", na liturgia, filosofia e literatura. No final do século XIX ele se transformou em veículo cultural moderno, tornando-se um fator vital do movimento de renascimento nacional que culminou no sionismo político. A administração do Mandato Britânico reconheceu o hebraico como idioma nacional, ao lado do inglês e do árabe, e ele se tornou o idioma das instituições judaicas e de seu sistema educacional. A imprensa e a literatura hebraicas floresceram, com novas gerações de escritores e leitores; hoje, o hebraico é uma língua viva, rica e vibrante. Seu vocabulário, que constava de cerca de 8.000 palavras nos tempos bíblicos, se expandiu para mais de 120.000. Seu desenvolvimento lingüístico e formal é orientado pela Academia da Língua Hebraica, fundada em 1953. Eliezer Ben-Yehuda (1858-1922) foi o iniciador do movimento pelo renascimento da língua hebraica como idioma falado. Tendo imigrado à Terra de Israel em 1881, ele foi o pioneiro no uso do hebraico no lar e na escola, criou milhares de novas palavras, fundou dois periódicos em hebraico, foi co-fundador do Comitê da Língua Hebraica (1890) e compilou vários dos 17 volumes do Dicionário Completo do Hebraico Antigo e Moderno, iniciado em 1910 e concluído por sua segunda esposa e seu filho em 1959. Prosa Os primeiros a escreveram prosa hebraica moderna na Terra de Israel foram escritores imigrantes. Embora tendo as raízes no mundo judaico da Europa Oriental e suas tradições, suas obras tratavam sobretudo das conquistas na nova terra, que tinham vindo "construir e ser por ela construídos". Yossef Chaim Brenner (1881-1921) e Shmuel Yossef Agnon (1889-1970), que deram impulso à prosa hebraica no início do século XX, são considerados por muitos os pais da literatura hebraica moderna, embora não tenham atuado sozinhos nem fora do seu contexto histórico. Brener, dividido entre a esperança e o desespero, lutava com suas próprias dúvidas no tocante às dificuldades do empreendimento sionista na Terra de Israel e o baixo nível espiritual de certos setores do Yishuv (nome dado à comunidade judaica da Palestina - a Terra de Israel - antes do estabelecimento do estado). Ele via defeitos em tudo e temia o futuro desenvolvimento das relações entre as populações árabe e judaica. Em seu intento de captar a realidade, ele preferia as formas rabínicas e medievais do hebraico, criando novas expressões e empregando uma sintaxe audaz para produzir o efeito do discurso vivo. Um dos elementos centrais da obra de Brenner é sua identificação tanto com o esforço físico dos pioneiros numa terra árida e áspera, tão diferente dos países europeus onde tinham nascido, como com a outra luta, não menos difícil, a de forjar uma identidade judaica na Terra de Israel. Agnon preferiu usar em sua obra formas hebraicas mais modernas. Sua familiaridade com a tradição judaica, somada à influência da literatura européia do século XIX e início do século XX, foi a base para a criação de um mundo de ficção que trata dos principais temas espirituais contemporâneos: a desintegração dos modos de vida tradicionais, a perda da fé e a subseqüente perda de identidade. Sendo judeu ortodoxo e escritor dotado de profunda intuição e acuidade psicológica, Agnon revela afinidade com os lados sombrios e irracionais da psique humana, podendo se identificar com as incertezas íntimas dos judeus, tanto crentes como não-crentes. A realidade, tal como Agnon a descreve, transcorre num ambiente trágico, às vezes grotesco; sua obra é amplamente influenciada pela guerra e pelo Holocausto, e o mundo dos judeus religiosos se revela em todas as suas paixões e tensões. Em 1966, Agnon foi laureado, juntamente com Nelly Sachs, com o Prêmio Nobel de Literatura, o primeiro conferido a um escritor israelense. Os primeiros escritores nascidos no país começaram a publicar nos anos 40 e 50; são conhecidos como "a geração da Guerra da Independência". Seus trabalhos refletem uma nova mentalidade e experiência cultural, diferentes das de seus predecessores, sobretudo porque o hebraico era sua língua materna e toda sua experiência de vida estava enraizada na Terra de Israel. Escritores como S. Yizhar, Moshe Shamir, Chanoch Bartov, Chaim Guri e Biniamin Tammuz vacilam dramaticamente entre o individualismo e o comprometimento para com a sociedade e o estado, oferecendo um modelo de realismo social, muitas vezes heróico, marcado por uma fusão de influências locais e internacionais. No início da década de 60, um grupo de jovens e influentes escritores, como A.B. Yehoshua, Amos Oz, Yoram Kaniuk e Yaakov Shabtai, passaram a explorar novas abordagens da prosa hebraica, rompendo com os padrões ideológicos e focalizando o mundo individual. Durante as duas décadas seguintes, manifestaram-se novas tendências, tais como a experimentação de formas narrativas e de vários estilos de prosa, inclusive o realismo psicológico, a alegoria e o simbolismo, assim como especulação e ceticismo a respeito das convenções políticas e sociais. Desde o início da década de 80, e durante os anos 90, observa-se uma intensa atividade literária, e o número de livros publicados aumentou de forma notável. Vários autores israelenses, como Oz, Yehoshua, Kaniuk, Aharon Appelfeld, David Shahar, David Grossman e Meir Shalev, granjearam fama internacional. A crença de que a literatura capacita os leitores a uma melhor compreensão de si mesmos, individualmente ou como parte do meio ambiente, caracteriza a prosa deste período, escrita por três gerações de escritores. As constantes e renovadas tentativas de abordagem da tragédia do Holocausto europeu resultaram na elaboração de novos modos de expressão, para tratar de questões fundamentais que só podem ser discutidas dentro da perspectiva do tempo e do espaço, integrando distanciamento e envolvimento (Appefeld, Grossman, Yehoshua Kenaz, Alexander e Yonat Sened, Nava Semel e outros). Alguns temas até então inéditos têm sido abordados, tais como o ambiente da aldeia árabe (Anton Shammas, escritor árabe-cristão), o mundo dos judeus ultra-ortodoxos que se mantêm deliberadamente segregados da sociedade moderna (Yossl Birstein), o modo de vida nas comunidades chassídicas de Jerusalém (Chaim Beer) e as tentativas de abordagem da existência do indivíduo sem fé numa época em que as ideologias seculares entraram em colapso e o fundamentalismo religioso vai ganhando cada vez mais força (Yitzhak Auerbach-Orpaz). Outro tema importante, abordado sobretudo por escritores de origem sefaradita (como Sami Michael, Albert Suissa, Dan Banaya-Seri) é o lugar ocupado na sociedade israelense por imigrantes que se sentem alienados, provenientes de países árabes. Outros autores exploram temas universais, como a democracia e a justiça, vistas no contexto de uma sociedade que está constantemente enfrentando desafios em quase todas as áreas da vida nacional (Yitzhak Ben Ner, Kaniuk, Grossman, Oz). International Poets Festival, Jerusalem Poesia A poesia hebraica vem sendo escrita, virtualmente sem interrupção, desde os tempos bíblicos, incorporando influências externas e tradições internas. A poesia do passado, que inclui temas religiosos e nacionais, exprime também motivos da experiência pessoal, os quais são predominantes na poesia contemporânea. A ruptura com a expressão poética tradicional ocorreu durante o período do iluminismo judaico na Europa (1781-1881), quando os judeus passaram a reivindicar plena cidadania e a secularização da vida judaica; e prosseguiu no final do século XIX, quando o sionismo, movimento pela restauração da vida nacional judaica na Terra de Israel, começou a ganhar importância. Os principais poetas deste período foram Chaim Nachman Bialik (1873-1934) e Saul Tchernichovsky (1875-1943); ambos imigraram à Palestina no início do século XX. A obra de Bialik, que reflete seu comprometimento à idéia do renascimento nacional e rejeita a viabilidade da vida judaica na Europa Oriental, inclui longos poemas épicos sobre acontecimentos da história judaica, mas também poesia lírica cujos temas são o amor e a natureza. Bialik, alcunhado "o poeta nacional" ou "o poeta do renascimento hebraico", forjou uma nova linguagem poética, libertando-se da excessiva influência bíblica de seus predecessores, mas mantendo a estrutura clássica e a clareza de expressão em seus versos ricos e eruditos. Seus poemas são memorizados por gerações inteiras de alunos israelenses. A poesia de Tchernichovsky abrange tanto poemas líricos quanto épicos, baladas e alegorias. Ele buscava retificar o mundo judaico, incutindo um espírito de orgulho e dignidade pessoais, assim como uma conscientização mais profunda da natureza e da beleza. Sua linguagem demonstra afinidade com o hebraico rabínico, e é diferente do vocabulário de Bialik que integra a influência bíblica com a linguagem coloquial em formação. Bialik e Tchernichovsky representam a transição do antigo para o moderno na poesia hebraica. Avraham Shlonsky, Natan Alterman, Lea Goldberg e Uri Zvi Greenberg são os principais representantes da segunda geração de poetas, e a dos anos anteriores ao estabelecimento do estado e imediatamente depois. Shlonsky utilizava torrentes de imagens e invenções lingüísticas, tanto em suas obras poéticas como em suas prolíficas traduções dos clássicos da poesia, sobretudo russa. Os trabalhos de Alterman, muitos dos quais se destacam por seu caráter político, acompanham todos os estágios do desenvolvimento da comunidade judaica e se caracterizam pela riqueza de linguagem e variedade de formas, tonalidade e ritmo das imagens e metáforas. Goldberg ampliou o espectro do lirismo em poemas que falam da cidade, da natureza e do ser humano em busca de amor, contato e atenção. Greenberg, em sua poesia cheia de desespero e ira, usava imagens violentas e estilo poderoso, abordando sobretudo temas nacionalistas e o impacto do Holocausto. Este grupo de poetas foi o primeiro a introduzir o ritmo do hebraico coloquial quotidiano na poesia. Eles fizeram renascer velhas expressões e cunharam outras novas, dando ao idioma milenário uma nova flexibilidade e riqueza. A poesia deste período, fortemente influenciada pelo futurismo e simbolismo russos, assim como pelo expressionismo alemão, tendia para uma estrutura e melodia clássicas, com rimas ordenadas. Refletia imagens e paisagens do país onde o poeta nascera e visões mais recentes da nova pátria, em tom heróico; memórias de "lá" e o desejo de aprofundar raízes "aqui", que exprimiam, conforme escreveu Lea Goldberg, "a dor de duas pátrias". Muitos destes poemas deram origens a canções e tornaram-se parte integrante do novo folclore nacional. A primeira poetisa importante em hebraico foi Rachel Bluwstein (1890-1931), conhecida simplesmente como "Rachel". Sua obra estabeleceu as bases normativas da poesia hebraica feminina, assim como as expectativas do público em relação a ela. Suas frases curtas, de um lirismo emocional, sua falta de pretensão intelectual e seu estilo pessoal predominam, como se constata na maior parte dos trabalhos de suas contemporâneas e de poetisas posteriores, como Dalia Ravikovitch e Maya Bejerano. Em meados dos anos 50, emergiu um novo grupo de jovens poetas, cuja língua materna já era o hebraico; entre eles destacam-se Yehuda Amichai, Natan Zach, Dan Pagis, T. Carmi e David Avidan. Suas obras tendem a uma certa moderação, retraindo-se de modo geral das experiências coletivas, observando livremente a realidade e usando estilo coloquial. Além disso, estes autores substituiram as influências poéticas de Pushkin e Schiller pelos autores inglêses e norte-americanos modernos. Os trabalhos de Amichai, muitos dos quais traduzidos para outras línguas, caracterizam-se pelo uso da linguagem do dia-a-dia, a ironia e metáforas metafísicas; estas se tornaram os rasgos característicos de boa parte da poesia escrita por seus contemporâneos mais jovens, os quais proclamaram o fim da poesia ideológica, rompendo completamente com a tradição de Alterman e Shlonsky, de estruturas clássicas e métrica ordenada. A obra de Zach extrai novas qualidades musicais, quase litúrgicas, do hebraico falado todos os dias. O campo da poesia hebraica contemporânea é uma polifonia reunindo várias gerações, poetas na faixa dos vinte anos com outros de idade madura. Entre os representantes deste último grupo encontra-se Meir Wieselthier, cujo estilo prosaico e direto, que utiliza gíria, repudia todo romantismo e eleva a imagem de Tel Aviv a um símbolo da realidade; Yair Horowitz, cujos versos contritos expressam a suave tristeza do homem consciente da própria mortalidade; e Iona Wallach, que se apresenta em termos sarcásticos e coloquiais, usando motivos arquétipos, simbolismo freudiano, às vezes de brutal sensualidade, repetições rítmicas e longas cadeias de associações. Asher Reich, Arieh Sivan, Ronny Somak e Moshe Dor são outros nomes importantes da poesia contemporânea. A poesia da geração mais jovem é dominada pelo individualismo e a perpleidades, preferindo poemas curtos num estilo familiar, em ritmo livre e sem rimas. A poesia israelense tem um grande público de leitores fiéis, e algumas edições de poemas, de todos os períodos, atingem tiragens semelhantes às de países ocidentais muito mais populosos.
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Parashat “Noaj” Autor: Dra. Débora Waisman

Parashat “Noaj” Autor: Dra. Débora Waisman* Interpretación y comentario Dra. Débora Waisman* Hacia el final de la parashá “Noaj” (Génesis 11:1-9), aparece el relato un tanto misterioso de la construcción de la torre de Babel. A pesar de que los conceptos de “pecado” y “castigo” no están explícitos en el texto, queda claro que Dios no estaba a favor de este emprendimiento. Y con seguridad, una tradición posterior vio este relato como típico ejemplo de pecado. Encontramos en la Mishná, Sanhedrín 10:3, que está escrito: “La generación de la torre de Babel no tiene lugar en el otro mundo”. Muchos comentaristas e intérpretes propusieron varias posibilidades sobre cuál podría haber sido el pecado de los constructores de la torre. ¿Acaso era la concentración o la unión? ¿O quizás el intento de parecerse a Dios? ¿O quizás fue el “hybris”, el orgullo humano exagerado? ¿O acaso era un tipo de revolución contra El Santo Bendito Sea? Un conocido midrash que se encuentra en Pirkei de rabí Eliezer, capítulo 2, dice: “Y escalones tenía hacia el Este y hacia el Oeste. Los que subían los ladrillos, lo hacían por el lado Este y los que descendían, lo hacían por el lado Oeste. Si caía una persona y moría, no le prestaban atención; pero si caía un ladrillo, se sentaban, lloraban y decían: `¡Ay de nosotros! ¡Cuándo van a subir otro en su lugar!”' Si volvemos al texto bíblico, vamos a notar que hay una palabra que a veces falta en el análisis. El versículo 4 dice: “Vamos a construir para nosotros una ciudad y una torre”. En la construcción de la ciudad de Babel, el materialismo tomó el lugar del humanismo. Quien sabe sobre literatura sociológica urbanista de finales del siglo XIX y principios del siglo XX, conoce muy bien el contraste existente entre la vida del campo y la vida de la ciudad. La ciudad era considerada por muchos sociólogos como el lugar de la alienación, de la falta de relaciones sociales entre las personas. Este contraste también es conocido en la literatura americana del siglo XX, especialmente entre autores como Mark Twain. ¿Será que la Biblia también ve a la ciudad como la raíz de todo mal? Con seguridad, en la Biblia hay descripciones no muy alentadoras de las ciudades, como por ejemplo Sodoma y Gomorra o Nínive. Esto puede ser consecuencia de que el constructor de la primera ciudad (Génesis 4:17) fue Caín, que también es conocido como el primer asesino. Sin embargo, ésta no es toda la historia. La ciudad de Jerusalem, por ejemplo, es llamada “La alegría de toda la tierra” (Salmo 48). En el Salmo 147, está escrito: “El constructor de Jerusalem es Dios”. Una gran e importante pregunta es cómo construir una ciudad que, al mismo tiempo, sea humana y que refleje la participación de Dios en su construcción. Estudio y análisis Rabino Dr. Alexander Even-Jen Profesor de Pensamiento Judío, Instituto Schechter de Estudios Judaicos Jerusalem “Porque dentro de siete días más, Yo haré llover sobre la tierra durante cuarenta días y cuarenta noches y borraré a toda la existencia que he creado de sobre la faz de la tierra” (Génesis 7:4). “Entró Moshé en medio de las nubes y subió a la montaña y permaneció Moshé en la montaña cuarenta días y cuarenta noches” (Éxodo 24:18). “Y él estuvo allí ante Adonai cuarenta días y cuarenta noches, pan no comió ni agua no bebió. Y escribió Él sobre las tablas las palabras del Pacto, los Diez Mandamientos” (Éxodo 34:28). 1- En todos estos versículos aparece el término “cuarenta días y cuarenta noches”. ¿Por qué? ¿Por qué justo “cuarenta”? ¿Por qué es importante indicar que se trata de “días” y de “noches”? 2- “Cuarenta días y cuarenta noches“ “limpiaron” las aguas del Diluvio a la humanidad pecadora. “Cuarenta días y cuarenta noches” ayunó Moshé antes de recibir la Torá. ¿Acaso el “Recibimiento de la Torá” es paralelo al “Diluvio“? ¿Acaso el “Recibimiento de la Torá” es la prueba del fracaso del “Diluvio? El “Diluvio“ debía “limpiar” a nuestro mundo, y fracasó. ¿Será que el “recibimiento de la Torá” tiene posibilidades de tener éxito? ¿El Dios de Israel es “optimista”? ¿Por qué después del fracaso del Diluvio se le da una nueva posibilidad al ser humano para corregir sus caminos? ¿No era más lógico terminar con todo? ¿Acaso el ayuno que hizo Moshé es la prueba de la causa del fracaso? ¿Acaso Moshé (la Torá) supone que el hecho de que el ser humano se rinde ante la codicia material es la causa del fracaso? Según vuestra opinión, ¿es esta idea correcta? ¿Será que el ascetismo es el camino? 3- Después del Diluvio, Noaj sale del arca y prepara una ofrenda para Dios. Dios dice: “Inhaló Adonai el grato aroma. Dijo Adonai a Sí mismo: `No habré de maldecir más a la tierra por causa del ser humano, ya que el impulso del corazón del ser humano es malo desde sus mocedades y no habré de destruir más a todo ser viviente, como hice'. Todos los días que la tierra perdure, siembra y siega, frío y calor, verano e invierno, día y noche, no habrán de cesar” (Génesis 8:21-22). ¿Será que aquí Dios reconoce el fracaso? ¿Acaso Dios entiende sólo ahora que sus espectativas eran exageradas? ¿Acaso Dios se equivoca? ¿Él no sabía todo esto desde el principio? “Todos los días que la tierra perdure, siembra y siega, frío y calor, verano e invierno, día y noche, no habrán de cesar”. ¿Acaso Dios “promete” no cambiar más las leyes de la Naturaleza? ¿Será que los “milagros” son el rompimiento de esa promesa? Editado por el Instituto Schechter de Estudios Judaicos, la Asamblea Rabínica de Israel, el Movimiento Conservador y la Unión Mundial de Sinagogas Conservadoras. Traducción: rabina Sandra Kochmann *Trabaja en Educación Judía y Diálogo Interreligioso a nivel local e internacional.
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SOB O IMPERATIVO DA PRÁTICA E O SABOR DA COMUNHÃOShabat Bereshit - Casa Da Procura Beit Midrsh do Centro do Humanismo Judaico – por Elias SalgadoNem mesmo a semana esvaziada por diversos feriados no Rio, tirou o entusiasmo e o alto astral do 2ª Kabalat Shabat da Casa da Procura – Beit Midrash do Centro Humanista Judaico – o SHABAT BERESHITSob o comando luxuoso do órgão do nosso querido chaver e maestro Haroldo Goldfarb, uma Shirá Betzitur animadíssima estreou o recém elaborado SHIRON DE SHABAT do nosso Beit Midrash - cânone inicial de um corpus em formação – forma que nunca estará acabada, pois foi pensada para ser uma constante de mudanças que atenda às necessidades do momento de cada membro e de um grupo que a cada encontro aumenta em coesão, forma e prática – a prática da comunhão do “HINÊ MA TOV HUMANAIM SHEVET ACHIM GAM IACHAD”.E como foi agradável o estar juntos daquelas pessoas.Nosso querido melamed, Paulo Blank(“ensinador” como ele mesmo se auto intitula), como sempre brilhante em sua drashá, nos falou de suas leituras da porção da semana(Parashat Bereshit), tirando dela reflexões sobre o tema A Criação do Tempo, baseando-se no pshat ‘transduzido” para o português de forma divina por Haroldo de Campos, de perushim de Rashi, Yshaiahu Leibovitch, autores cabalistas diversos e a cabala via Walter Benjamin. Arrancou aplausos e encabeçou um curto, porém profundo debate com o grupo presente. E claro angariou mais adeptos fiéis.Findo o debate, pois ninguém vive só de alimento espiritual, foi servido o tradicional kibud, organizado por nossa querida chaverá sênior , Clara Wertman .E fechando com “clave de musical de ouro” um pocket show da nossa querida chaverá , a cantora Gerli Golfarb , acompanhada por seu maestro e companheiro de vida, Haroldo Goldfarb.Alguma dúvida que o próximo Shabat será mais um sucesso? Pois anotem em suas agendas: 27/11, às 19:00hs. – O SHABAT DO LIVRO – Kabalat Shabat Especial de lançamento da livro “ Escritos Revelados’ – uma coletânea dos textos ganhadores do PRÊMIO MOACYR SCLIAR 2007/08/09, concurso organizado pelo CCMA.E como certamente, o público será bem maior, o local será o auditório da Escola Eliezer-Max de Laranjeiras.O Shabat do Livro e o lançamento da coletânea, são parte integrante daI FLIC/CCMA-FESTA LITERÁRIA E CULTURA ( 26 a 28/11), cuja programação detalhada divulgaremos em breve.Shavua Tov – Bona Semana
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Judaismo Laico Humanista en Israel Por: Andy Faur Entrevistamos hoy al Dr. Efraim Zadoff, historiador de la historia judía en América Latina, redactor y editor, entre otras obras, de la Enciclopedia de la historia y la cultura del pueblo judío y de SHOÁ - Enciclopedia del Holocausto. Nacido en Buenos Aires, vive en Jerusalem hace 40 años. En el presente es vicepresidente de la Federación Mundial del Judaísmo Laico Humanista y alumno de Tmurá - Instituto de capacitación de líderes espirituales y rabinos laicos humanistas de Israel. P: Efraim, ¿cómo llegaste a la concepción laica y humanista del judaísmo? R: Mi formación judía desde que tengo conciencia fue nacional - cultural y no religiosa. En el hogar de mis padres, en las escuelas judías en Argentina, mis estudios en la Universidad Hebrea de Jerusalem en carreras de Ciencias Judaicas fueron una continuidad natural y un reflejo de mi percepción del judaísmo como cultura y como civilización, de la cual la visión religiosa es sólo una de sus expresiones. P: Al llegar a Israel, ¿encontraste el marco adecuado de identificación? R: Desde la perspectiva sionista sin duda. También desde el punto de vista judío ya que mi sionismo es una continuación de mi visión nacional del judaísmo. Así es como siempre busqué marcos de trabajo en educación de jóvenes y adultos y en la investigación, en los cuales podía traducir en acción esta perspectiva nacional y no religiosa del judaísmo. Sin embargo siempre sentí una incongruencia entre mi visión, compartida por amplios sectores de la sociedad judía israelí, y la profunda influencia religiosa en el ámbito de la vida pública. La expresión religiosa ortodoxa de la civilización judía - minoritaria en la práctica judía israelí y más aún en la diáspora, se impone sobre las otras expresiones de vida judías. Esta imposición, afecta los aspectos más íntimos de la vida como ser la definición de quién es judío, con quién y cómo puede o debe uno casarse y cómo nuestro cuerpo debe ser tratado al finalizar la vida. P: ¿A qué se debe esta situación en Israel, si la mayoría de los judíos israelíes no somos practicantes religiosos? R: Ante todo creo que esto se debe a una concesión por razones políticas partidarias, por parte de las fuerzas políticas judías sionistas. Te daré brevemente un ejemplo, los casamientos en Israel: en vez de que, al igual que en muchos países modernos los casamientos se registren por una dependencia administrativa civil, aquí lo administran religiosos ultra ortodoxos. Lo más razonable sería que cada uno sea libre de casarse de acuerdo a su convicción y creencia. La excusa de que así se preserva la unidad del pueblo judío es falsa ya que todos sabemos que aún en el sector ortodoxo y ultra ortodoxo no aceptarían un casamiento con alguien que no sea de su propia corriente. P: ¿Qué hacen frente a esto los judíos no religiosos? R: Lamentablemente muy poco. Por un lado por intereses políticos partidarios. Por el otro porque son muy pocos los líderes judíos no religiosos que ofrecen una alternativa positiva de práctica judía cultural y humanista. Justamente el rol de Tmurá es la de formar nuevos líderes espirituales que ofrezcan esta alternativa a los judíos arraigados en su cultura pero que rechazan la perspectiva religiosa y quieren mantener viva una práctica judía: para ellos se ofrece la práctica judía laica y humanista. P: Aquí debo preguntarte si no hay una contradicción entre el concepto de rabino y el de laico-humanista. R: Esta sensación de contradicción surge del olvido del origen del concepto rabino: en la Mishná se define a un "rav" como maestro, líder espiritual, conocedor e interpretador de las fuentes. No tiene ninguna relación con el culto religioso. En el cristianismo el "padre" es el oficiante y mediador entre el culto y el hombre regular. Este concepto es extraño al judaísmo. Más aún, en muchas comunidades no ashkenazíes al líder espiritual se lo llama "Jajam" - sabio. P: ¿Cuál sería la función de un rabino laico humanista? R: Felizmente puedo hablar de casos concretos. En estos momentos ya hay 13 rabinos humanistas israelíes y a fines del 2010 seremos 15 más. Las tareas responden a iniciativas individuales: organizar y liderar comunidades judías en ciudades, moshavim y kibutzim; dirigir programas educativos de enriquecimiento cultural judío para escuelas y jardines, y en centros comunitarios urbanos - matnasim; desarrollar encuentros no formales con contenidos judíos en las festividades y realizar ceremonias de vida en nacimientos, bnot/bnei mitzvá, casamientos, defunciones y duelo familiar; elaborar nuevo material para las festividades, realizar cursos de estudio sobre las fuentes judías y capacitar docentes para la enseñanza. P: ¿Cómo ves tu función como rabino laico humanista? R: Ya en el presente doy charlas y cursos en instituciones y grupos en casas sobre la fe y la práctica del judaísmo laico humanista. También me dedico a las prácticas de vida judías. He comenzado a realizar casamientos judíos laicos, a acompañar a niños a hacer un bat o bar mitzvá significativo para ellos y arraigado en la cultura judía, he realizado funerales. P: ¿En qué se diferencia un casamiento laico como el que tú haces de una jupá religiosa? R: La jupá humanista es ante todo igualitaria entre los miembros de la pareja. Ellos redactan su contrato matrimonial. La pareja es la que está en el centro de la ceremonia, ellos y el amor que los une son el objeto de todas las bendiciones. En definitiva es una reinterpretación metafórica de la ceremonia tradicional en la que se combinan fragmentos de nuestra literatura clásica y la moderna. La construcción de la ceremonia se realiza conjuntamente por la pareja y por mí. P: ¿Cuántas bodas de este tipo se realizan por año en Israel? R: Es difícil decirlo, pero sólo las que realizan los oficiantes del sitio: http://www.tkasim.org.il/ del que participo cuentan muchos cientos por año y va en constante aumento. Y hay que prestar atención que los casamientos, al igual que los religiosos conservadores y reformistas, no son reconocidos oficialmente. Esto quiere decir que los que los solicitan lo hacen solamente por su profunda identificación cultural judía laica. P: ¿La ceremonia que tú realizas se diferencia en algo de la que realizan otros oficiantes? R: La principal diferencia es que yo soy hasta ahora el único que hace ceremonias en hebreo, en castellano y bilingües. Además no cabe duda que cada oficiante, al igual que cada pareja, influye en cierto modo en los matices de la ceremonia. P: ¿Te parece que en un futuro todas las ceremonias judías deberán ser como las vuestras? R: Rotundamente no. Yo creo en la total legitimidad de cada corriente dentro del judaísmo: las religiosas - desde la extrema ortodoxia hasta el reformismo y las no religiosas - que también cuentan con una pluralidad de posiciones. En el vergel del judaísmo hay lugar para que crezcan infinita cantidad de flores. Parafraseando al profeta Habacuc (2:4) "El justo vivirá de acuerdo a su fe". Y el principio que debe regir entre todos es la máxima de Hilel tal como es citada en el Talmud de Babilonia, Tratado Shabat hoja 31:1 - "Lo que es odioso para ti no lo hagas a tu semejante". Direcciones para continuar conociendo el tema: Dr. Efraim Zadoff - efraimzadoff@gmail.com http://www.tkasim.org.il/ http://www.tmiraisrael.org.il/
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Uma Ética da Influência

Uma ética da Influência.O mestre da Cabalá Yosef Iben Chiquitilla ensinava que a Árvore da Vida, uma imagem do todo do mundo, operava através do princípio do “Influenciar e Receber”. Partindo da sua visão podemos pensar que toda vez que nos propomos a construir pontes sobre as distâncias que nos separam participamos de um grande campo de influências. Na medida em que possibilitam trocas sem fundir as margens, as pontes se transformam numa representação perfeita da relação entre alteridades. Embora aberta para a influência transformadora que vem do outro lado, cada margem continua no seu sendo. Até mesmo esta nossa conversa que atravessa o espaço virtual através da ponte da linguagem, obriga-nos a um esforço de reorganização. Toda leitura é árdua porque é uma informação que desarruma o pensamento ao invadir o ego estabelecido em si mesmo. Toda relação é influência.Davy nos falou que o homem maduro saberia que a verdade são sempre duas e concorda com a Sheila quando ela diz que “todos têm razão. todos erram. e o horror acontece”. Enquanto a Flávia aponta a arte como esperança, “um diluidor das coisas imperdoáveis”, o Jayme, bebendo das águas fartas do seu fazer político, denuncia a “harmonia do nosso comodismo”. Boas questões que colocam a conversa em andamento.A harmonia do comodismo faz pensar que o espírito humano busca proteger-se da impermanência tentando persistir no mesmo. Enquanto sempre pensamos que a expressão Am Israel Hai VE Kaiam,é uma redundância afirmativa repetindo que o povo de Israel existe numa espécie de para sempre indestrutível, o Rabino Kook traduzia Kaiam como persistência no mesmo e o Hai como vida em movimento, mostrando que não eram sinônimos. Persistência, uma tendência natural da mente humana, pode ser aquilo que o Jayme chama de comodismo? Será que a mudança permanente da vida gerou o mito da harmonia para dar a impressão que o espírito e o mundo podem parar? Será que poderíamos considerar a preguiça mental e a dispersão como expressão da tendência da mente em manter-se igual a si mesma? Neste caso, o que pode parecer harmonia é também seria a pura persistência no mesmo. Harmonia, uma vontade que todos temos e que esta presente no pensamento New Age que invadiu as religiões ocidentais no final do século passado, inclusive ao judaismo e faz lembrar salvação individual da alma.E se pensarmos que “harmonia” é uma construção como outra qualquer que não corresponde à biologia ou à realidade humana? Os sábios do Talmud nos ensinaram que o humano nasce com a sobrecarga da decisão pois cada movimento que faz é marcado pela dupla tendência. Experimentar esta dupla tendência não é coisa fácil e lembra o paradoxo que o homem maduro do Davy saberia viver. Mas quem garante o que é maturidade? Ela existe mesmo ou será a aceitação da responsabilidade que nos faz agir de uma forma que chamamos “madura”? Uma criança aprende a ser responsável antes de ser madura, concordam? Ao seguir certas normas éticas como a decisão de ser responsável pelo outro, tal homem poderia ser considerado maduro? Mas, Heidegger era imaturo?O assassino do Rabin é imaturo? Os milhares de religiosos que o apóiam são imaturos? A cultura alemã era imatura quando desencadeou o holocausto? A Europa iluminista era imatura quando silenciou e até colaborou com nazismo?Em princípio a razão esta em todos e com cada um e a partir daí conversaremos até construir uma razão comum. Mas, quem garante que esta razão construída por um grupo respeitará os outros? A democracia grega não admitia mulheres e escravos e considerava bárbaros todos os povos diferentes. Será, então, a arte como “diluidora das coisas imperdoáveis” uma solução para o perdão que não pode ser dado? E a arte do realismo socialista, arte do fascismo, arte nazista, o que diremos delas, que não eram arte? Basta ver o filme “Arquitetura da Destruição” para perceber como fascismo penetra facilmente em todas as camadas da vida humana. Existe arte sem adjetivos? Arte pura? Arte pela arte? Sei que o não perdão é um tema difícil e nos obriga a pensar e perguntar muito.(Por uma destas estranhas coincidências da vida enquanto escrevia estas mal traçadas, atendi um chamado surpreendente da Radio Kol Israel. Foi o Jayme Fucs quem deu o meu número ao entrevistador que queria saber da reação à escolha do Rio de Janeiro como sede das olimpíadas. Conversa vai e ele me perguntou como eu via a acusação de crimes de guerra contra Israel. Em sua maneira de pensar não existem indivíduos capazes de atos criminosos em Israel e o país funciona como guarda-chuva de proteção contra qualquer crítica possível. Uma totalidade acima do bem e do mal. Não havendo responsabilidade pessoal, não há culpados e o perdão já esta conferido de antemão. Conversa difícil que veio a calhar)E se pensarmos que a ética que queremos ter corresponde ao humano que queremos ser? Humano sem ilusões como nos ensinaram a Torah, o Talmud, a Cabalá, o Hassidismo e tantos pensadores da modernidade judaica. Um humano precipitado e mentiroso como Adão, sedutor e vendedor de ilusões como a cobra, desinteressado pelo outro como Kaim, ingrato e “duro de pescoço” como o povo saído do Egito, carreirista e dono de uma “difícil inclinação” como o Rei David, mas também corajosos como os profetas guardiões do projeto de um ser humano que precisa ser contido através de uma ética que lhe antecede. Ética como filosofia primeira, dizia Emanuel Levinas. Uma ética revelada que não admite nuances e relativismos. Religião como primeira ética. Sejamos crentes ou ateus, não importa. Talvez tenhamos chagado na nossa civilização ao seguinte impasse: ou aceitamos uma ética do outro homem, que nos antecede, como propunha Israel Salanter ao dizer que “as necessidades materiais do meu próximo são as minhas necessidades espirituais”, ou continuamos no caminho do perdão descompromissado como queria o jornalista patriota da Voz De Israel de Jerusalém.Felizmente Israel tem muitas vozes.Rio, 11 de Outubro de 2009
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Científica israelí gana el Premio Nobel de Química Científica israelí gana el Premio Nobel de Química Ada Yonath (foto), destacada investigadora en el campo de la biología estructural, fue galardonada con el Premio Nobel de Química, anunció el comité Nobel en Estocolmo. Yonath comparte el premio con Venkatraman Ramakrishnan de Gran Bretaña y el estadounidense, Thomas A. Steitz, por el estudio de la estructura y función del ribosoma. Centró su investigación sobre la estructura del ribosoma, una parte de la célula que sintetiza proteínas y traduce el código genético en la producción de proteínas. Yonath fue la primera bióloga israelí en trabajar con la NASA en el envío de material de investigación al espacio ultraterrestre. Ella colaboró con la NASA en 12 misiones. Su investigación contribuyó, en gran medida, al desarrollo de antibióticos más eficaces, que pueden superar el fenómeno de los agentes patógenos resistentes a los medicamentos. La científica es la cuarta mujer en ganar el premio Nobel de química y la primera desde 1964, cuando Dorothy Crowfoot Hodgkin, de Gran Bretaña, recibió el premio. Yonath es profesora e investigadora principal en el campo de la biología estructural y bioquímica en el Instituto de Ciencia Weizmann, en Rehovot. Ella ganó muchos premios por su investigación en los últimos años, incluyendo el Premio Israel en Química y el Premio Wolf en Química. El presidente, Shimon Peres, felicitó a la profesora. "Estamos muy orgullosos de usted, es difícil de describir cuánto. Usted se merecía el Nobel y el premio es un logro para todo el país, todos estamos muy contentos con usted", destacó Peres. Fonte: Aurora Digital
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Este senhor é um presidente

NOSOTROS A SEGUIR SOÑANDO Y PADECIENDO.El mundo entero necesita un líder como este!Kevin Rudd, Primer Ministro de AustraliaA los musulmanes que quieren vivir bajo la ley Islámica Sharia se les dijo el Miércoles que se vayan de Australia, cuyo gobierno ha emprendido un campaña contra los radicales en un esfuerzo para evitar potenciales ataques terroristas.También Rudd despertó la furia de algunos musulmanes Australianos cuando declaró que él ha dado todo su apoyo a las agencias de contrainteligencia australianas para que espíen las mezquitas que hay en la nación.Citamos: "SON LOS INMIGRANTES, NO LOS AUSTRALIANOS, LOS QUE DEBEN ADAPTARSE. O lo toman o lo dejan. Estoy harto de que esta nación tenga que preocuparse si estamos ofendiendo a otras culturas o a otros individuos. Desde los ataques terroristas en Bali, estamos experimentando un incremento del patriotismo en la mayoría de los Australianos.""Nuestra cultura se ha ido desarrollando durante dos siglos de luchas, tribulaciones y victorias por parte de millones de hombres y mujeres que buscaban libertad""Hablamos principalmente INGLÉS, no Español, Libanés, Árabe, Chino, Japonés, Ruso o cualquier otro idioma. De modo que si Usted quiere formar parte de nuestra sociedad, aprenda nuestro idioma.""La mayoría de los Australianos creen en Dios. Esto no es una posición Cristiana, política o de la extrema derecha. Esto en un hecho, porque hombres y mujeres cristianos, de principios cristianos, fundaron esta nación. Esto es históricamente comprobable. Y es ciertamente apropiado que esto aparezca en las paredes de nuestras escuelas. Si Dios le ofende a Usted, sugiero que considere vivir en otra parte del mundo, porque Dios es parte de nuestra cultura.""Aceptamos sus creencias y sin preguntar por qué. Todo lo que pedimos es que Usted acepte las nuestras, y viva en armonía y disfrute en paz con nosotros.""Éste es NUESTRO PAÍS, NUESTRA PATRIA y ESTAS SON NUESTRAS COSTUMBRES Y ESTILO DE VIDA y PERMITIREMOS QUE DISFRUTEN DE LO NUESTRO pero cuando dejen de quejarse, de lloriquear y de protestar contra nuestra Bandera, Nuestra lengua, nuestro compromiso nacionalista, Nuestras Creencias Cristianas o Nuestro modo de Vida, le animamos a que aproveche otra de nuestras grandes libertades Australianas, "EL DERECHO DE IRSE.""Si Usted no está contento aquí, entonces VÁYASE. Nosotros no le obligamos a venir aquí. Usted pidió emigrar aquí. Así que ya es hora de que acepten el país que les acogió.Quizás si enviamos esto entre nosotros mismos, encontraremos la valentía para empezar a decir las misma verdades.Si Usted está de acuerdo, re-envie esto a tantos personas como le sea posible.Todo el espacio y cuidado que merecen tus fotos digitales lo tienes en Windows Live Fotos. ¡Pruébalo!
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Marcha pela Paz e pela Nao-Violencia em Holit a opiniao do jovem Tomaz Seincman Holit, 7 de outubro de 2009 Marcha pela Paz e pela Nao-Violencia. Nao, nao foi nada grande: as massas nao estavam, a midia tampouco, nao proclamaram discursos que ficarao marcados na historia. Mas em compensacao, o pequeno grupo de pessoas que compareceu (principalmente do Hashomer Hatzair e da comunidade de Holit) mostrou que a busca pela paz nao foi esquecida e que continua a ser um tema que as pessoas dao uma alta importancia em suas vidas. Escrevo essas palavras direto do Kibutz Holit alguns momentos depois da passagem da Marcha Mundial pela Paz e pela Nao-Violencia. Nao posso dizer com exatidao se realmente muda alguma coisa escrever daqui, do Brasil, ou de qualquer lugar do mundo, mas sinto pelo menos um pouco mais de peso em minhas palavras sabendo que Gaza se encontra a miseros 2 kilometros daqui. Por estar no lugar que estou, prefiro nao falar do cotidiano (de guerra e medo) e sim falar sobre a paz. Sobre ela, Drummond escreveu: "As discussões políticas e filosóficas em torno da ideia da paz, e sobre os meios de alcançá-la, são infindáveis. A bem dizer, apenas sofrem um intervalo enquanto se travam as guerras, sempre mais fáceis de declarar. Entretanto, a chave do problema é teoricamente simples, e pode ser encontrada no Antigo Testamento, Salmo 84.no. 11: 'A misericórdia e a verdade se encontraram: a justiça e a paz se beijaram. ' Resumindo: o outro nome da paz é justiça." Talvez seja esse ensinamento tirado do Antigo Testamento que me da o verdadeiro sentido de participar de uma Marcha como essa. Nao por acreditar que pedindo a paz e a nao-violencia todos os povos baixarao as armas, desativarao sua industria militar e todos viverao bem, mas justamente por crer que so viveremos em paz quando a justica social reinar. Entao a Marcha, ao inves de ser um pedido, se torna uma denuncia contra a injustica e contra a violencia (economica, etnica, cultural, etc). Talvez tenha sido apenas uma feliz coincidencia, mas a Marcha ter passado pelo Egito antes de vir a Israel nos mostra que construir fronteiras de paz e acabar com a situacao de conflito nao soh eh possivel, como jah eh uma realidade. Marchamos do Kibutz Holit ateh o bosque de Dangour com bandeiras vermelhas, mensagens de paz, bandeiras israelis. No ato, disseram lindas palavras em hebraico, espanhol e ingles; plantaram uma arvore e amarraram fitas com desejos; tocaram duas cancoes com o tema da paz; mas sem duvida o mais bonito de tudo foi ver a esperanca. A esperanca que ainda nao morreu, a esperanca que novamente volta a brilhar no coracao de jovens e adultos: a esperanca de viver sob a justica; de viver sob a paz. Tomaz Seincman - Boguer Hashomer Hatzair Sao Paulo
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Bere'shith: A cena da origem ! 1. No começar ... ... Deus criando ... O fogoágua ... e a terra 2. E a terra ... era lodo ... torvo ... e a treva ... sobre o rosto do abismo ... E o sopro-Deus ... revoa ... sobre o rosto da água 3. E Deus disse ... seja luz ... E foi luz 4. E Deus viu ... que a luz ... era boa ... E Deus dividiu .... entre a luz ... e a treva 5. E Deus chamou à luz ... dia ... e à treva ... chamou noite ... E foi tarde e foi manhã ... dia um 6. E Deus disse ... seja uma arcada ... no seio das águas ... E que divida ... entre água ... e água 7. E Deus fez ... a arcada ... e dividiu ... entre água ... sob-a-arcada ... e água ... sobre-a-arcada ... E foi assim 8. E Deus chamou ... à arcada ... céufogoágua ... E foi tarde e foi manhã ... dia segundo Após o grande sucesso do Shabat da Criação convidamos você para mais uma noite de celebração, comunhão e estudo, o SHABAT BERESHIT. Dia 16/10, às 19:30h. Na Rua das Palmeiras,54- Casa- Botafogo - Rio de Janeiro-RJ CASA DA PROCURA - BEIT MIDRASH Centro do Humanismo Judaico/CCMA RJ/Hashomer Hatzair “SHABAT BERESHIT”- O GÊNESIS *Kabalat Shabat *Shirá Betzibur *Drashá com Paulo Blank *Kibud *Show com Haroldo e Gerli Goldfarb *Arkadá
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Marcha da Paz

Ola queida esposa, parabens pelas fotos postadas.E tb parabens para todo o pessoal que organizou e participou desta marcha.Salve Jayminho.Um abracoSergio...
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Marcha pela paz e nao violencia

ChaverimFelizmente, neste mundo louco, ainda tem gente que acredita!No Kibutz Holit, a 76 kms de Ashkelon para o sul, perto da fronteira do Egito, foi feita uma marcha de 4kms pela Paz mundial e nao violencia.Tem um movimento humanista marchando pelo mundo inteiro. Nesta marcha tinha representantes da Suissa, Espanha, Estados Unidos, Argentina e Brasil. Havia tambem uma juventude linda do Hashomer Hatazair, que estao trabalhando e estudando neste pequeno kibutz, ajudando a reconstrui-lo. Um kibutz que eh pequeno por nao abrir mao de seus ideais.Fizemos um mifcad no final da marcha e ao som de um violao e um saxofone 2 jovens tocaram: SALAM, SHALOM, ALEINU VE AL KOL ISRAEL, SALAM!Simplesmente emocionante.Na minha pagina coloquei algumas fotos do eventoChazak ve matzBety
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Sem Perdão ?

Passado o Yom Kipur fica mais fácil abordar o tema do perdão. Com a inscrição garantida no livro da vida podemos conversar com mais calma. O dia do Kipur concentra o pensamento num assunto que atravessa a vida humana e diz respeito ao nosso cotidiano. Erros, arrependimentos e perdões estão sempre presentes no pensamento e na linguagem. Quantas vezes durante um dia comum usamos o inocente “desculpe”, ávidos por ouvir o “não foi nada” como resposta?Ao reverter a seta do tempo, o perdão permite a transformação das relações porque modifica o passado e muda o futuro, ao desfazer as nódoas paralisadas da existência. Sem este movimento, as emoções e as lembranças continuariam congeladas num presente cristalizado e afundado em poças de mágoa. A tarefa do perdão, uma invenção genial do espírito humano, é libertar aquele que perdoa de qualquer vínculo com quem lhe causou alguma ofensa e fazer o relógio andar novamente. O perdão interessa, e muito, a quem perdoa. Mas, olhando do ângulo de quem o pede, ele só faria sentido se pudesse transformar a culpa em responsabilidade. Será que todo pedido de perdão garante que este caminho foi percorrido? Creio que não.O que vemos na nossa civilização midiáca ocidental é o político envolvido com prostitutas ir a público pedir desculpas por um assunto que só deveria interessar a ele e a sua família. O que será que torna tão comum um gesto que anos atrás era assunto privado? O esquecimento das falcatruas de nossos políticos e a expectativa das autoridades de que isto aconteça não será a expressão da mesma idéia de que o perdão está garantido? Será que somos todos candidatos ao perdão antecipado porque vivemos em uma cultura que nos transformou em crianças irresponsáveis e aprisionadas entre a realidade do mundo e a urgência dos nossos desejos?Em seu estudo talmúdico sobre o tema do perdão, Emanuel Levinas cita o tratado Yoma: “Se um homem comete uma falta com relação a outro homem e o apazigua, Deus perdoará; mas se a falta se refere a Deus quem poderá interceder por ele a não ser o arrependimento e as boas ações”. O autor grifa este final de frase. O texto é claro. Em relação ao próximo, Deus não interfere, em relação a Ele mesmo, também não. É sempre a própria pessoa que se transforma em agente do seu perdão através da atitude que toma com o outro. Seja este outro o seu próximo ou um outro mais distante, o outro por excelência, ou seja, Deus. Nada de conversas facilitadoras do tipo “você precisa perdoar a si mesmo”. Fala que aponta para o horror à responsabilidade que permeia a busca frenética por uma felicidade ancorada na satisfação imediata dos nossos desejos. Numa religião para adultos as coisas ficam mais difíceis.Sem perdão antecipado, o homem se percebe solitário em sua responsabilidade frente ao outro. A idéia de que ele não sabe o que faz cai por terra quando existe a premissa da consciência e do conhecimento. Um humanismo de crianças abandonadas num mundo onde Deus zela por elas, se transforma num humanismo da irresponsabilidade. A mensagem contida nesta expectativa é de que quem estiver dentro da crença instituída sabe o que fazer e não erra mais. Quem estiver fora do grupo é perdoado por que ainda não sabe o que fazer. Demasiada institucional esta segurança que libera da escolha quem estiver fazendo parte da verdade do grupo. A Torah prefere a prática de responsabilidade pelo outro que não se restringe aos hebreus. Ela inclui na mesma exigência, também, o estrangeiro que mora junto à porta daquele que sabe dos mandamentos.“Podem-se perdoar muitos alemães, mas alguns alemães é difícil de perdoar. É difícil perdoar Heidegger...de liberá-lo de sua responsabilidade”. Heidegger o filósofo que aderiu ao nazismo, a este é impossível perdoar, afirma Levinas em seu artigo. Afirmação que ecoa até os dias de hoje quando a admiração pela profundidade do seu pensar se transforma em passaporte para o esquecimento de sua adesão consciente ao hitlerismo. É na esteira dessas posições que surgem perguntas. É possível perdoar ao assassino de Itzhak Rabin, como já o fizeram tantos judeus ditos religiosos em Israel? É possível o perdão antecipado a todos aqueles que incorrem em assassinatos acobertados pela lei? É possível perdoar aos que mentem e manipulam no exercício do poder? É possível perdoar às nossas pequenas atrocidades? Nos idos dos anos 60 um amigo vivia repetindo uma frase que soava antipática: “o fascismo é a condição natural do homem, compete a nós combatê-la”. Eduardo Basili, o tal amigo, tinha uma visão apocalíptica da humanidade ou era uma pessoa lúcida? Quando em 1953 após o assassinato de cidadãos árabes da aldeia de Kivia o sábio israelense Yeshaayau Leibowitz perguntava espantado como foi possível que jovens criados no espírito do sionismo fizessem tal coisa, ele não estaria se referindo a este mesmo auto-perdão antecipado capaz de bloquear de antemão qualquer sentimento de culpa em função de uma justificativa bem construída?E então, Heidegger pode ser perdoado ou o Eduardo é que estava certo?
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