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Shalom,

Encontrei esta reportagem no www. Haaretz.com online newspaper. Achei um momento historico muito importante. Com o meu pouco Ingles, tentei traduzir somente a essencia da reportagem. Como não entendo muito de computador, não sei como colocar no blog, então resolvi enviar pra vc, mas acho que seria importante que todos tivessem conhecimento deste fato historica na historia do Judaismo.

www.Haretz.com by Yair Ettinger – 29 de Maio de 2012.

Ao ler este artigo, tive que começar a traduzir para enviar para todos os amigos.

Pela Primeira vez, Israel reconhece Rabinos da Reforma e Conservadores- Num momento sem igual, Israel anunciou que esta preparado para reconhecer a comunidade de lideres da Reforma e Conservadores, ira providenciar seus salarios. Rabinos que pertencem a um desses movmentos serão classificados como Rabinos de Communidade-não- Ortodoxa. O Representativo Legal (Attorney General) informou a Corte Suprema ( High Court) que o estado iniciara a financiar iqualmentre os non-Ortodoxs rabinos, em conselhos regionais e communities campesinas/agrícolas para aquele que estejem interessados. Sumario: Desde 2005 o Movimento de Israel para a Reforma e Progressivo movimento, feito atraves do Kibbutz Gezer e Rabino Miri Gold foi implementado. A proposta era equalizar os serviços religiosos da linha non-Ortodoxa, com os mesmos direitos financeiros dos outros lideres religiosos ( os Ortodoxos) que são subsidiados pela municipalidade ou conselho regionais. Embora as negociacões da corte reconhece os rabinos non-Ortodoxos, nao reconhece a sua “rabbinates”. O estado então lhes deu o nome de “lideres comunitarios”. Num subsequente painel de jurados, com a intervencão do Attorney General-Yehuda Weinstein, o Representativo Legal, esta terminologia foi entao trocada por “Rabinos da non-Ortodoxos Comunidade”. Este novo titulo não dara authoridade sobre questões religiosas ou Halaticas. O estado estara se comprometendo a suportar 15 rabinos non-ortodoxos. A decisão de assistencia financeira esta limitada aos Conselhos Regionais e comunidades agricolas/campesinas, e não para grandes centros. A assistencia sera de responsabilidade do Ministro de Cultura e Deportes, e nao sera feita pelo Ministerio de Servicos Religiosos. O movimento de Reforma concordou com esta decisão. Expressões: “esta declaracao feita pelo estado constitiu uma historica conquista para os movimentos non-Ortodoxos e ao publico que serve, pois que ate o momento, tem sofrido pela discriminacao dos servicos religiosos”.- The Reform Moviment. O lider principal do Movimento de Reforma em Israel, Rabino Gilad Kariv diz: “ a decisao do estado em suportar as atividaes dos rabinos da Reforma, nos conselhos regionais, enquanto que claramente reconhece sua posicao como rabino, é um passo muito importante no esforco de avancar liberadade religiosa em Israel. Este e o primeiro, mas signicativo passo a todas as linhas do Judaismo em Israel, e esperamos que o estado completamente a decisao da corte.” “Esperamos que ao reconhecer as atividades dos rabinos da Reforma, nos leve a outras decisoes, anulando assim a profunda discriminacao com os non-Ortodox”. O lider rabino do Movimento Conservador, Julie Schonfeld, diz: “este é um dia historico para Israel e para os judeus ao redor do mundo”. O President da Assembleia dos Rabinos, Gerald Skolnik diz: “eu espero que a decisão traga novo espirito aos judeus, a oportunidade que fortificara Israel, trazendo muitos Israelitas mais proximo a religião judaica e sua tradicão”.

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SHAVUOT HUMANISTA EM CURITIBA- PR

 

Como Shavuot oficialmente caiu em 27 e 28/05 e a Sinagoga Teshuvá esteve impossibilitada de realizar atividade nesta data, ESTAREMOS REALIZANDO  NOSSA FESTA DE SHAVUOT NO PRÓXIMO SÁBADO.

E como não podemos deixar de mencionar, de acordo com a tradição que iniciamos no ano passado, cada um deverá trazer um pequeno  texto para o Midrash, conforme o costume da Sinagoga Kol Tsedek, da Filadélfia.

Costume que aprendemos com o chaver GREG SCRUGS, para o qual prometemos que sempre diríamos em Shavuot:

GREG ESTEVE AQUI!!!

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Nazistas na Amazônia por Frederico Füllgraf*

A história dos alemães que desembarcaram no Jari em 1935 para uma confusa e misteriosa expedição científica.

Entre a foz do Rio Jari, no Amazonas, e sua deslumbrante Cachoeira de Santo Antônio, há uma cruz de madeira, medindo três metros de altura por dois metros de largura, que há alguns anos é explorada como atração turística no Amapá. Debaixo dela jaz o teuto-brasileiro Joseph Greiner, ali sepultado em janeiro de 1936, vitimado pela selva. Feita sacrário, hoje a cruz é protegida por um telhado e encabeçada pelo entalhe de uma suástica – a cruz gamada de origens indo-tibetanas, popularizada como ícone incendiário do nazismo. Lápide improvisada, o necrológio da cruz explica: “Joseph Greiner morreu aqui em 2/1/36, a serviço da pesquisa alemã, vitimado pela febre – Expedição Alemã do Jary, 1935-1937″.

Setenta anos de intempérie se encarregaram de esmaecer um dos pouquíssimos marcos de uma insondável aventura na Amazônia.

Meu envolvimento com a história que segue começou em 2003, por meio de uma página encontrada por acaso nas profundezas da internet, intitulada “A rota do nazismo na Amazônia”, em referência ao livro sobre uma misteriosa expedição alemã. Minha primeira reação foi a lembrança da teoria da conspiração tramada no livro A crônica de Akakor (Editora Bertrand, 1977) do correspondente da rádio alemã no Brasil, Karl Brugger – assaltado e assassinado no final de 1983 à saída de um restaurante no Leblon, Rio de Janeiro. Nele Brugger ecoava a invencionice contada nos anos 1970 por um falso índio, de uma “expedição nazista à Amazônia”, ocorrida no final da 2ª. Guerra Mundial – crônica esdrúxula reciclada em 2007 por Steven Spielberg. Plágio bilionário, o cenário apoteótico de Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal é a “cidade perdida” de Akator, supostamente uma “base subterrânea de nazistas na Amazônia”. No curso destes anos resisti à publicação do que sabia sobre o Jari para não comprometer um projeto cinematográfico há muito acalentado. Contudo, o episódio atraiu o interesse da revista alemã Der Spiegel, cujo correspondente no Brasil resolveu adiantar-se, publicando o livro Das Guyana-Projekt (O Projeto Guiana). Resisti em lê-lo para não me deixar influenciar, mas a publicidade dada ao assunto na Alemanha justifica, agora, a abertura de uma modesta janela no Brasil.

No inferno das selvas

Num sebo da internet encontrei o tal livro sobre a expedição. Folheando-o, dei-me conta que tinha nas mãos a encomenda errada, porque sua edição era a de 1953. Demorei em entender que são duas as versões sobre a aventura no Amapá: uma oficial, de 1953, e outra, de 1938, nem tanto. Publicado pela Deutscher Verlag em 1938, plena ditadura nazista, o livro original Rätsel der Urwaldhölle” – Mistérios do inferno da selva, que eu adquiri mais tarde, tem 60 fotografias a mais que a versão pós-guerra. Suas ilustrações mais escancaradas são duas suásticas: uma, na cabeça da cruz, e outra, tremulando alegremente na popa de uma canoa, sobre o Jari. Símbolo proibido pela constituição democrática alemã, do pós-guerra, as fotos com as suásticas nazistas foram banidas da edição de 1953.

Capricho germânico, o livro é um diário making of do filme homônimo, estreado e distribuído pela Universum Film AG (UfA) em 1938, depois misteriosamente desaparecido. Em seu lugar, surge na década de 1970 o inofensivo documentário Sobre o cotidiano dos índios da selva amazônica– relatos de uma viagem de pesquisas, 1935 – 1937, distribuído pela WBU, produtora de filmes educativos, fundada na década de 1960 pelo geógrafo dublê de documentarista, Otto Schulz-Kampfhenkel.

O apoio brasileiro

Conta a versão oficial da aventura que em outubro de 1935 desembarcam em Belém do Pará três jovens aviadores alemães, acompanhados de 11 toneladas de bagagem, cuja lista e sofisticação extrapolam abusivamente os limites desta crônica. Risível nota de rodapé é que além do inexplicável arsenal trazido, os alemães não abriram mão do conforto, em plena selva amazônica, de cobertores de pelo de camelo e roupa de cama. Eram eles Gerd Kahle, Gerhard Krause e o líder da expedição, Otto Schulz-Kampfhenkel. Ao contrário da informação, falsa, veiculada pela imprensa internacional, Joseph Greiner, sepultado sob a cruz do Jari, não foi integrante do Esquadrão de Pesquisas Schulz-Kampfhenkel, vindo da Alemanha, mas, provavelmente, contratado no Rio de Janeiro. Explica o líder da expedição: “Neste meio tempo Gerd (Kahle) manda um cabo do Pará, informando que lá não é possível encontrar nenhum ‘capataz’. Mas já que eu estou no Rio de Janeiro, tento encontrar algum landsmann (patrício), criado no País e versado em Português. Depois de muito procurar, eis que encontro o sujeito certo: Joseph Greiner, auslandsdeutscher (alemão criado no exterior), jovem marinheiro, empreendedor e confiável, que se soma como quarto integrante ao nosso grupo expedicionário, onde terá a função de mestre-bagageiro, capataz e encarregado das provisões. Contratado ele embarca no primeiro navio de cabotagem rumo ao norte, no Pará”. (Rätsel der Urwaldhölle, Berlim, 1953.)

Antes de receber a permissão para subir o Jari, Schulz-Kampfhenkel gastou mais de dois meses com extenuantes despachos aduaneiros e expedientes burocráticos no Rio de Janeiro. Credenciado pelos mais prestigiados institutos de pesquisa e museus de história natural da Alemanha, Schulz-Kampfhenkel conseguiu facilmente a adesão do Instituto Emilio Goeldi, em Belém, e do Museu Nacional, no Rio de Janeiro. Contudo, o apoio mais importante seria o das Forças Armadas brasileiras, que em 1935 ainda não estavam divididas em facções pró-Alemanha e pró-EUA.Por isso, em Belém, o governador José Carneiro da Gama Malcher e o general Manuel de Cerqueira Daltro Filho prestigiaram o comando alemão com sua visita.

Os alemães retribuíram a gentileza com um teste do hidroavião modelo “Seekadett”, burlescamente batizado de “Águia Marinha”, especialmente equipado com flutuadores de compensado e instrumentos de navegação, tudo inédito para os embasbacados dignatários brasileiros. Talvez o entusiasmo brasileiro se devesse à expectativa de lucrar com o componente mais importante da missão: o levantamento topográfico da bacia do Jari até suas cabeceiras, mapeamento até então inédito, mas previsto nos mínimos detalhes pelo geógrafo Schulz-Kampfhenkel.

Expedições nazistas

A expedição ao Jari coincidiu com um capítulo insólito da história do nazismo. Chefe de um “Estado dentro do Estado” – o famigerado Departamento Central de Segurança do Reich, subordinado à SS -, o sombrio e esotérico Heinrich Himmler tinha uma obsessão: acreditava na fantástica “civilização de Atlântida”, cujos descendentes, “de raça pura”, presumiu no Tibet e na América do Sul. Na origem de seu esoterismo estavam “ariósofos” sinistros, antissemitas e também seu fascínio pelas pesquisas do mitologista Otto Rahn, sobre as fabulações do Santo Graal. Reciclando o Santo Graal como mistério pagão para a SS, Himmler inaugurara uma série de expedições para os recônditos do planeta, onde seus homens deveriam encontrar vestígios genéticos da “raça ariana”.

Em 1934 Himmler indica o jovem geógrafo Otto Schulz-Kampfhenkel, recém-filiado ao partido nazista NSDAP, como participante da primeira expedição alemã ao Tibet. Otto não embarcou e safou-se de uma tragédia, pois a maioria dos integrantes morreu na Nanga Parbat, depois do Everest, a nona montanha mais alta do mundo. A terceira expedição alemã, ocorrida em 1939, celebrizou-se com o livro Sete anos no Tibet, de Heinrich Harrer, oficial da SS (protagonizado por Brad Pitt, no filme de Jean Jacques Annaud). Outra expedição de Himmler teria como destino a Amazônia, mas ocorreu apenas na imaginação fértil das confrarias esotéricas. Himmler e Schulz-Kampfhenkel voltariam a se encontrar, mas quem patrocinou a expedição ao Jari, como mentor do geógrafo, foi Hermann Göring, aviador durante a Primeira Guerra Mundial na esquadrilha de Manfred von Richthofen, o Barão Vermelho, logo promovido a ministro da Aeronáutica de Hitler. Muito bem articulado com o complexo industrial-militar e os grandes bancos alemães, Göring já apadrinhara expedições anteriores de Schulz-Kampfhenkel, aviador como ele, e mais uma vez abriu-lhe as portas para a expedição ao Rio Jari.

Berlinense de origem abastada, Schulz-Kampfhenkel estudara geografia e ciências naturais, especializando-se na caça de animais africanos para jardins zoológicos alemães. Mas do que gostava mesmo era de voar. Com sua paixão pela zoologia, em 1934 participou ativamente da “arianização” ocorrida na DGS (Sociedade Alemã de Pesquisas em Mamíferos) – centro de excelência mundial. Como a maioria dos militares alemães, o geógrafo se insurgiu contra o Tratado de Versalhes, imposto aos alemães por sua derrota na Primeira Guerra Mundial, e que, entre outras retaliações, lhes proibia pesquisas científicas no exterior. Schulz-Kampfhenkel não via a hora de violar o tratado com sua expedição ao Jari.

Contra a correnteza

Jari, final de 1935. Apesar da contratação de uns 30 caboclos-mateiros, familiarizados com a selva, foi uma operação tumultuada. Que o Jari era um imenso tapete pedregoso, repleto de cachoeiras, sem superfície de pouso para o hidroavião, era detalhe que os alemães já intuíam, apostando em condições mais apropriadas rio acima.

Enquanto Gerd Kahle, no comando da expedição, desafiava a lei da gravidade, forcejando contra a correnteza, na retaguarda Schulz-Kampfhenkel e Gerhard Krause chocaram os flutuadores do “Águia Marítima” contra toras de árvores submersas, entre Gurupá e Arumanduba, e o hidroavião espatifou-se sobre o Amazonas. Agarrados a um dos flutuadores, a mais de um quilômetro da margem amapaense do Amazonas, os dois alemães estavam sendo arrastados pela maré. Foram salvos por remadores caboclos, que Schulz-Kampfhenkel louva como “heróis da selva”. Estava gravemente comprometido o principal objetivo da expedição: o mapeamento aéreo da bacia do Jari.

Barcos sobrecarregados e rio raso demais, o geógrafo determina a instalação de subacampamentos, dividindo sua equipe. O inverno amazônico se aproximava, chovia copiosamente. Explorando um rio, Schulz-Kampfhenkel foi surpreendido por uma súbita enchente, perdendo seu barco com todo o equipamento – câmeras, material de cartografia, armas, provisões e roupa. Durante uma semana errou sozinho pela selva. Foi resgatado e safou-se da morte pela segunda vez.

Em janeiro de 1936 alcançaram a grande aldeia dos índios Aparaí, no médio Jari. O capataz e mestre-bagageiro Joseph Greiner desce novamente o rio, para apanhar as provisões guardadas em Santo Antônio. Mas os índios que o acompanhavam retornaram sozinhos. Krause, o mecânico do avião e operador de som, saiu em seu encalço, mas não conseguiu salvá-lo. Então Krause o sepulta, ergue aquela cruz de madeira e faz os entalhes legíveis até hoje. Depois envia uma mensagem ao comando da expedição, na aldeia Aparaí, informando que, surpreendentemente, o estoque de quinina de Greiner estava intocado. Ele não havia tomado um comprido sequer, obviamente confiando exageradamente na “imunidade” do seu organismo.

No “inferno verde”

Tudo indicava que o lendário Curt Nimuendaju Unkel, alemão que vivia em Belém e era ligado ao Instituto Emilio Goeldi, havia sido convidado para guiar a expedição, e neste caso poderia ter evitado grande parte do descalabro. Mas Schulz-Kampfhenkel menciona com frieza seu encontro com o indigenista conterrâneo, provavelmente porque Nimuendaju desprezava o nazismo. Desde 1910 ele atuava no recém-fundado Serviço de Proteção ao Índio (SPI), mas entraria para a história do cinema como consultor de pelo menos quatro produções cinematográficas na Amazônia.

Aliás, o “inferno verde” parecia dar o troco, cobrar tributos por velhos pecados alemães, jamais expiados. Como o caso dos índios levados em 1820 para a Alemanha pelo naturalista Carl Friedrich Phillip von Martius: três adultos faleceram durante a travessia do Atlântico, e os dois curumins Isabella Miranha e Yuri Comás estão sepultados no Cemitério Sul de Munique. Morreram de frio durante o inverno de 1820 /21. Outra aberração: os crânios dos índios Botocudos, caçados por exploradores alemães, entre eles o príncipe Maximilian zu Wied, para compor o macabro acervo dos darwinistas de plantão – prática absolutamente dentro da etiqueta, pois ninguém menos que D. Pedro II, durante uma visita à Alemanha, tirou da bagagem, de presente, um crânio de silvícola.

Mas eram exatamente esses melindres que atiçavam o frenesi alemão, atraindo mais de 20 produções cinematográficas alemãs à Amazônia, entre 1920 e 1941. Sua maioria explorava a forte demanda por enredos exóticos. Com uma exceção: o longa-metragem de ficção Kautschuk / O inferno verde, inspirado no emblemático episódio do contrabando de 70 mil sementes de seringueira pelo agente britânico Henry Wickham, em 1870. Com um set de mais de 60 pessoas em plena selva amazônica, a produção ocorreu na mesma época em que Schulz-Kampfhenkel se penitenciava no Jari.

Os Aparaí do “Führer”

Era 1936, ano das Olimpíadas em Berlim, Schulz-Kampfhenkel não estava interessado em cultura, apenas em “raça”. Insensíveis à religiosidade Aparaí, os alemães abateram e descarnaram uma enorme sucuri, que nadava à flor d’água e não os ameaçava, juntando seu couro ao butim de centenas de peles, crânios, ossos, dentes, plumagens e órgãos conservados em álcool, prometidos aos museus de ciências naturais da Alemanha. Mas não havia ali ciência alguma, o galpão “científico” dos alemães mais se assemelhava a um gigantesco açougue. Apesar disso, o relacionamento com os hospitaleiros Aparaí foi mais do que pacífico: índios e alemães tornaram-se muito bons amigos. Os indígenas naturalmente não entendiam os objetivos do alemão. A sexualidade brotou entre hóspedes e anfitriões. Mas, obviamente, não há nos livros de Schulz-Kampfhenkel qualquer pista de seu envolvimento com a formosa Macarrani, filha do cacique Aocapotu. Assumi-la teria significado admitir a inadmissível fraqueza da carne germânica, “superior”, e uma traição da doutrina racial, cujo rosário o alemão desfiava com fervor. Ao despedir-se dos Aparaí em 1937, o alemão deixou para trás uma mulher grávida.Sua filha, nascida entre 1937 e 1938, foi batizada de Cessé, também conhecida por “alemoa”: tinha a tez clara e os olhos azuis de seu pai “ariano”. Contou-me Cristóvão Lins, ilustre pesquisador e autor da História do Jari, que pouco tempo atrás morreu José Pinheiro, líder dos caboclos de Schulz-Kampfhenkel. Com isso foi-se a última testemunha viva do nascimento de Cessé.

Operação Guiana

Início de 1937, perto da Guiana Francesa. Os alemães não tinham cruzado o Atlântico com toda aquela parafernália para testar bobagens. O que Schulz-Kampfhenkel queria experimentar era a aerofotogrametria, técnica que revolucionou a cartografia moderna. Já com o avião fora de combate, teve de se contentar com suas medições feitas em terra. Apesar de extenuados “seus” índios e caboclos, o alemão insistiu teimosamente em mapear as cabeceiras do Jari, a pouca distância da Guiana Francesa. O mapa da fronteira era a chave de ouro para fechar seu plano da colonização do território francês por grandes contingentes alemães, apoiados numa forte “coluna indígena”. Com a invasão da França pela Alemanha, em junho de 1940, o geógrafo não teve dúvidas: submeteu-o a Heinrich Himmler. Recomendou a selva (do Amapá e da Guiana Francesa) como território privilegiado pela natureza, com baixíssima densidade demográfica, excelente para a exploração como “colônia tropical”, que “não deveria ficar nas mãos de povos, que, comparados à Alemanha ou à Inglaterra, são inferiores, do ponto de vista racial e civilizatório”. Porém, o chefe da SS repeliu a idéia com uma aritmética muito simples: para quê todo o esforço hercúleo, de subir o Jari, se a França estava sendo ocupada e a Guiana Francesa seria “alemã” por tabelinha?

O espião do Saara

No início dos anos 1940 a “operação Guiana” era página virada da história. O “Esquadrão Schulz-Kampfhenkel” – integrado por geólogos, geógrafos, hidrólogos e botânicos, e devidamente incorporado à SS – leva a cabo uma missão especial no norte da África. O grupo deverá produzir mapas para a avaliação de terreno, o que faz com incursões rápidas e mediante a cartografia aérea. É quando o expedicionário do Jari vive seus dias de glória: da cabine de seu avião, Schulz-Kampfhenkel mapeia o relevo do Saara, para determinar as trilhas apropriadas aos pesados blindados do Afrika-Korps do marechal Erwin Rommel.

Chamado de volta à Alemanha e promovido a capitão da SS em maio de 1943, Otto é nomeado “Delegado Especial para Missões Geocientíficas do Conselho de Pesquisas do Reich”, executando operações de inteligência geográfica sobre o território da União Soviética. Mas, perdida a guerra, ele foi preso pelas tropas norte-americanas e duramente interrogado pela OSS, precursora da CIA. Com o “desmanche” da Alemanha, os EUA levaram consigo milhares de técnicos e cientistas. E apesar de liberado em 1946, o geógrafo-aviador continuou figurando como “nazista a serviço da inteligência militar norte-americana”, na letra “S” do arquivo “Top Secret decimal file, Records of Army General Staff, RG 319, NA”, tornado público há poucos anos.

Otto Schulz-Kampfhenkel, o “nazista da Amazônia”, terminou seus dias levando a vida que tinha pedido a Deus. Viajando, dirigiu dezenas de documentários educativos e científicos. Conta-me Falko Ahsendorf – diretor de fotografia em várias produções de Otto sobre a África e o Oriente Médio, nas décadas de 1960 e 1970 – que Mistérios do inferno selvagem, o filme sobre a expedição do Jari, estreado em 1938, tornou “próspero” o geógrafo-aviador, morto em 1989, aos 78 anos de idade. Mas de seu pai rico, a índia Cessé Schulz-Kampfhenkel nada sabia. E é onde começa outro filme sobre a aventura, agora contada de trás para frente.

Frederico Füllgraf é Mestre (MA) em Comunicação Social pela FUB – Universidade Livre de Berlim e ex-aluno da DFFB – Academia Alemã de Cinema e Televisão, também em Berlim. É escritor (A bomba ‘pacífica’- o Brasil e outros cenários da corrida nuclear, Brasiliense, 1988), roteirista e diretor de cinema, e desde 1985 atua como produtor associado da ARD (TV Alemã, Canal 1). Selecionado pelo MinC para a edição 2006 do projeto DOC TV, sua produção mais recente é Maack, profeta pé na estrada, estreado pela TV Cultura, em 2007. Seu mais novo projeto é o livro O cinema do inferno verde, atualmente em processo de criação para a editora Record

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Os seres humanos consomem, a cada ano, um montante de recursos naturais 50% superior ao que a Terra pode produzir, de forma sustentável nesse mesmo período. Os dados são da ONG WWF.

De acordo com um relatório "Living Planet", divulgado nesta terça-feira, a Terra leva um ano e meio para repor todos os recursos que a população mundial consome a cada ano. Para muitos ambientalistas, a Rio+20, conferência internacional que será realizada no Brasil em junho, é uma oportunidade para os países aumentarem de forma urgente a proteção à natureza.

"Nós precisamos aumentar o senso de urgência, e eu acho que em última instância isso não diz respeito somente às nossas vidas mas também ao legado que vamos deixar para as futuras gerações", acrescentou.

Desde 1966, a demanda por esses recursos se duplicou, acentuando as diferenças entre habitantes de países ricos e pobres. Se cada morador da Terra consumisse como um americano, por exemplo, seriam necessários quatro planetas para responder a essa demanda.

Análises feitas por outra organização, a Global Footprint Network, também mostram um cenário preocupante.

Os cálculos têm como objetivo dimensionar o quão sustentável nossa sociedade global é em termos de sua pegada ecológica – uma medida composta por fatores tais como a queima de combustíveis fósseis, o uso de áreas agrícolas para produção de alimentos, e o consumo de madeira e peixes capturados em ambiente selvagem.

"Nós precisamos aumentar o senso de urgência, e eu acho que em última instância isso não diz respeito somente às nossas vidas mas também ao legado que vamos deixar para as futuras gerações"

David Nussbaum, presidente do WWF na Grã-Bretanha

No ranking elaborado pela organização, os Estados Unidos ficam entre os dez países como maior pegada ecológica. Entre os primeiros da lista aparecem ainda Dinamarca, Bélgica, Austrália e Irlanda.

No ranking elaborado pela organização, o Golfo Pérsico emerge como a região com a pegada ecológica per capita mais alta do mundo, com Catar, Kuwait e Emirados Árabes Unidos como os países menos sustentáveis.

Áreas tropicaisO estudo mostrou, ainda, que a exploração dos recursos naturais provocou uma redução de 30% da vida selvagem no planeta desde 1970. Entre as espécies tropicais a redução foi ainda maior, de 60%.

O documento combinou dados de mais de 9.000 populações de animais ao redor do mundo para chegar a esta conclusão. Seus principais autores, os pesquisadores do WWF, dizem que o progresso global quanto à proteção da natureza e o combate às mudanças climáticas ainda é "glacial".

O relatório usa dados sobre tendências populacionais de várias espécies ao redor do mundo compilados pela Sociedade Zoológica de Londres (ZSL, na sigla em inglês). Na edição mais completa de seu relatório até hoje, a ZSL examinou um número recorde de espécies (2.600), e populações destas espécies (9.104).

As espécies mais afetadas são aquelas encontradas em rios e lagos das regiões tropicais, que apresentam uma redução de 70% desde 1970. O diretor do Instituto de Zoologia da ZSL, Tim Blackburn, fez uma analogia entre as cifras ambientais e o mercado financeiro.

"Haveria pânico se o FTSE [índice da Bolsa de Londres] mostrasse um declínio como este. A natureza é mais importante do que o dinheiro. A humanidade pode viver sem dinheiro, mas nós não podemos viver sem a natureza e os serviços essenciais que ela nos traz", avaliou.

Uma das recomendações à Rio+20 diz respeito a este conceito, e aconselha os governos de todo o mundo a utilizarem indicadores econômicos que incluam uma valoração do "capital natural".

Escassez d’águaUma nova medida desenvolvida pelo WWF permite rastrear a escassez de água em 405 sistemas de rios ao redor do mundo com periodicidade mensal. "Haveria pânico se o FTSE [índice da Bolsa de Londres] mostrasse um declínio como este. A natureza é mais importante do que o dinheiro"
David Nussbaum, presidente do WWF na Grã-Bretanha

A análise revela que 2,7 bilhões de pessoas (quase metade da população mundial) já têm que lidar com falta d’água por ao menos um mês todos os anos.

O relatório destaca alguns exemplos de progresso quanto à sustentabilidade, tais como um programa no Paquistão que ajudou fazendeiros de algodão a reduzirem o uso de água, pesticidas e fertilizantes gerando uma colheita semelhante.

Os dados também mostram algumas áreas que precisam de atenção urgente, tais como uma taxa mundial de desperdício de alimentos de 30% causada por comportamento irresponsável nos países mais ricos e a falta de infraestrutura de armazenamento em nações em desenvolvimento.

David Nussbaum, presidente do WWF na Grã-Bretanha, compara os dados com o mercado financeiro ao dizer que não é tarde demais para alterar as tendências em curso, mas que "precisamos lidar com isto com a mesma urgência e determinação com as quais lidamos com a crise financeira sistêmica global".

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Em entrevista ao jornalista Leonardo Coutinho publicada pela edição de VEJA que deixa hoje as bancas, o embaixador Roger Noriega, americano neto de imigrantes mexicanos nascido em Kansas e especialista em América Latina, descreve como o terrorismo islâmico está infiltrado no continente e chega ao Brasil: ”Rezo para que as autoridades brasileiras deixem de cometer o erro de ignorar o terrorismo”, diz ele. “O risco para o país é real e iminente”.

O Brasil não é imune a atentados
Nas últimas duas décadas, o embaixador americano Roger Noriega, de 51 anos, atuou na linha de frente na elaboração da política externa dos Estados Unidos em relação à América Latina. Trabalhou como consultor do Congresso americano e, no governo de George W. Bush, foi chefe da delegação dos EUA junto à Organização dos Estados Americanos (OEA) por dois anos.
Em 2003, assumiu o cargo de secretário adjunto para Assuntos do Hemisfério Ocidental, do Departamento de Estado. Ficou no posto até 2005, quando deixou a vida pública para atuar no American Enterprise Institute for Public Policy Research, um centro de estudos em Washington que reúne pesquisadores das mais diversas áreas, principalmente as de segurança e políticas públicas.
Em outubro, uma semana antes da prisão do iraniano acusado de planejar um atentado contra o embaixador da Arábia Saudita em Washington, Noriega divulgou um artigo sobre as atividades do Irã e do grupo libanês Hezbollah na fronteira mexicana. Na entrevista a seguir, ele conta como foi capaz de antecipar a presença dos terroristas nas franjas do território americano e denuncia a escalada do terror na América Latina.
Como o senhor sabia que o Irã e o Hezbollah atuavam em consórcio com traficantes mexicanos?
Nossa investigação foi baseada em meses de estudos realizados por uma equipe de quatro pessoas que percorreu, além do México, muitos países vizinhos. Essa equipe entrevistou autoridades e fontes secretas nos grupos comandados pelo libanês Hezbollah na região. Nós juntamos os nomes, ligamos os pontos e revelamos uma realidade perigosa.
O Irã e o Hezbollah têm expandido suas bases na América Latina com o objetivo de promover atentados terroristas. Eles construíram uma estrutura operacional de recrutamento, treinamento e captação de recursos. Os fatos observados indicam que os terroristas compartilharam suas experiências com os cartéis do tráfico no México.
Além do relatório publicado a respeito no site do American Enterprise Institute for Public Policy Research, que antecipou as informações sobre essas ações extremistas, nós produzimos um documento confidencial compartilhado com autoridades e vários governos da região.
Por que os Estados Unidos demoraram a detectar essa movimentação em sua fronteira sul?
Gasto grande parte do meu tempo explicando aos políticos americanos que negligenciamos a América Latina.
Recentemente, apresentei no Congresso provas consistentes das atividades desses grupos terroristas no continente. Nossos investigadores identificaram pelo menos duas redes paralelas que colaboram entre si e crescem de forma alarmante na América Latina.
Essas redes são compostas de mais de oitenta extremistas instalados em doze países, concentrados sobretudo no Brasil, na Venezuela, na Argentina e no Chile. Nós não podemos enfrentar as ameaças transnacionais do tráfico de drogas e do terrorismo sem a cooperação de nossos amigos na região.
Por isso, os Estados Unidos precisam prestar mais atenção na região, estabelecer relações econômicas fortes e saudáveis para estimular o crescimento, a prosperidade e a estabilidade entre nossos vizinhos.
Qual tem sido o papel da CIA, a agência de inteligência americana, em relação a esse problema?
Praticamente, nenhum. Em paralelo com o nosso trabalho, que tornou pública a presença do Irã e do Hezbollah no México, o DEA (a agência antidrogas americana) já vinha investigando as ligações entre extremistas islâmicos e traficantes de drogas.
E eu acho que isso foi uma sorte, porque os integrantes do DEA estão acostumados a pensar além do que diz o manual. Eles não foram constrangidos pelo raciocínio convencional dos especialistas da CIA em Forças Quds (a unidade de elite da Guarda Revolucionária do Irã).
Na agência de inteligência, eles poderiam ter concluído que o modus operandi dos iranianos de contratação do cartel mexicano Zetas para executar o embaixador saudita em Washington era incomum demais para ser realidade — o que poderia ter sido fatal. Em vez disso, o DEA, extremamente ativo em investigações de vários tipos no continente, seguiu em frente e descobriu o plano para matar o embaixador Adel al Jubeir.
Quais são exatamente as conexões do Irã e do Hezbollah na América Latina?
Em 2007, um terrorista que tentou cometer um atentado no Aeroporto John F. Kennedy, em Nova York, foi preso em Trinidad e Tobago quando se preparava para viajar a Caracas. Da capital venezuelana, ele seguiria para Teerã, onde, segundo alegou, faria um curso de religião.
Ele sabia para onde fugir em segurança. A Venezuela é uma base avançada do terrorismo islâmico na América Latina. Na Ilha Margarita, na costa venezuelana, funciona um dos mais movimentados centros de treinamento de terroristas fora do Líbano.
A Tríplice Fronteira, região entre a Argentina, o Brasil e o Paraguai, ainda preocupa por ser um centro de operações financeiras das mais diversas organizações terroristas. Mas é na Venezuela que esses grupos terroristas têm permissão oficial para adestrar-se e planejar ataques contra os Estados Unidos.
O senhor, então, acusa o governo venezuelano de dar suporte a terroristas?
Não resta dúvida de que o presidente Hugo Chávez usa a riqueza petrolífera de seu país para fortalecer o terrorismo islâmico, cujo alvo principal é o território americano. Isso é um escândalo.
Sinceramente, em qualquer lugar em que exista uma embaixada iraniana ou mesquita ou centro islâmico patrocinado pelo Irã, e na Venezuela praticamente todos o são, pode haver uma célula do grupo libanês Hezbollah.
Não estou sugerindo que toda mesquita seja um centro de terrorismo. Essa é uma suposição ridícula e perigosa. Entretanto, quando agentes iranianos patrocinam mesquitas e centros islâmicos nas Américas, eles o fazem com a finalidade explícita de radicalizar a comunidade muçulmana local. A missão básica desses emissários do terror é identificar alguns indivíduos com potencial para ingressar no Hezbollah ou nas Forças Quds.
Como esses extremistas islâmicos atuam na Venezuela?
Há uma rede que administra a captação de recursos, o recrutamento, o treinamento e a coordenação dos agentes do Hezbollah no país. Essa rede leva o nome de seu chefe, Ghazi Nassereddine. Ele é um venezuelano nascido no Líbano que exerce um cargo diplomático na Síria.
Em 2008, Nassereddine foi identificado pelo governo dos Estados Unidos como um dos fornecedores de suporte logístico e financeiro ao Hezbollah. Apesar de sua relevância, eu o considero menos perigoso que seus comparsas. Esses atuam mais discretamente em suas atividades de treinamento. Nossas fontes confidenciais nos trouxeram evidências de que, no ano passado, ativistas iranianos e do Hezbollah realizaram, na Ilha Margarita, um curso de técnicas terroristas para alunos de países da América Latina.
Como se não bastasse, a Venezuela foi utilizada como sede de uma reunião de líderes terroristas do Hamas, do Hezbollah e da organização palestina Jihad Islâmica. Esse encontro ocorreu em Caracas em 22 de agosto de 2010, com o aval de Hugo Chávez.

 
O presidente venezuelano é o único governante da região a apoiar terroristas?
O presidente da Bolívia, Evo Morales, hospeda uma academia de treinamento de milicianos patrocinada pelos iranianos. Essa escola foi inaugurada recentemente pelo infame ministro da Defesa do Irã, Ahmad Vahidi, identificado como um dos arquitetos dos atentados contra alvos judaicos em Buenos Aires, nos anos 90.
Tanto a Bolívia quanto o Equador estão permitindo que o Irã realize movimentações supostamente comerciais em seus territórios. A mais preocupante delas é a exploração de minérios estratégicos, como urânio.
Essas operações suspeitas podem ser úteis para acelerar o programa nuclear iraniano. Além disso, o comércio entre a Argentina e o Irã aumentou dramaticamente nos últimos anos. Temo que, com o crescimento dos interesses comerciais, exista a possibilidade de que as preocupações com segurança esmoreçam.
A Justiça argentina ainda tenta prender e julgar os diplomatas iranianos autores de dois atentados no país. O senhor acha que esse comportamento pode mudar?
Os argentinos estão totalmente cientes das atividades do Irã em seu território. Os atentados contra a Embaixada de Israel e contra a Associação Mutual Israelita Argentina (AMIA), em 1992 e 1994, são prova disso.
Por isso, o Judiciário da Argentina pediu a emissão de um mandado internacional de prisão pela Interpol. Mas, francamente, algumas operações do governo argentino com o Irã são muito suspeitas. A principal delas é o acordo de cooperação na área nuclear assinado entre os dois países.
Espero que a descoberta pelo DEA de que poderia haver também outro ataque em Buenos Aires coloque a Casa Rosada em alerta.
O atentado terrorista contra a Associação Mutual Israelita Argentina, em Buenos Aires, em 1994: a mão do Irã, e 85 mortos


 
Por que o Irã e o Hezbollah escolheram a América Latina como campo de operações?
A proximidade com os Estados Unidos torna a região atraente. O presidente Hugo Chávez, como já disse, também vem construindo uma aliança estreita com o Irã, como forma de fortalecer sua agenda antiamericana. Além disso, ele usou os petrodólares de seu país para abrir as portas da Bolívia e do Equador para o Irã.
Como se não bastasse, os serviços de inteligência locais são ineficientes e a América Latina tem baixa capacidade de aplicação das leis. Essa combinação transforma os países latino-americanos em solo fértil para terroristas globais. Diante dessas circunstâncias, o governo dos Estados Unidos precisa empenhar-se mais na cooperação com nossos vizinhos amigos e, desse modo, fortalecê-los.
 
O que o senhor pode dizer sobre o Brasil?
Há evidências claras de que Mohsen Rabbani, um agente das Forças Quds envolvido nos atentados perpetrados em 1992 e 1994, esteve no Brasil duas vezes nos últimos dois anos.
Embora proibido de sair do Irã, por causa de um mandado de prisão expedido contra ele pela Interpol, Rabbani se vale de documentos falsos para entrar no Brasil pela fronteira venezuelana. Isso tem de ser motivo de preocupação.
Relatórios oficiais dizem que Rabbani e seu irmão, Mohammad Baquer Rabbani Razavi, com residência fixa no Brasil, recrutaram dezenas de jovens pobres brasileiros para sua causa extremista. Sabemos que Razavi, apesar de ser xiita, uniu-se a líderes sunitas para dar suporte às operações do Hezbollah na Tríplice Fronteira.
Eu espero que as autoridades brasileiras parem de negar a existência de extremistas no país e passem a considerar a crescente atuação de organizações terroristas na América Latina. A própria segurança de cidadãos brasileiros está em jogo. O governo do Brasil não pode ignorar essa ameaça.
Qual é o risco para o Brasil?
Dentro em breve, o país será palco da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos. Obviamente, isso transforma o Brasil em alvo tentador. É um erro subestimar esse fato.
A presença de redes terroristas em território brasileiro obriga as autoridades responsáveis pela segurança a aumentar sua atenção. O Brasil, ou qualquer outra nação, não está imune a atentados. A comunidade internacional deu um voto de confiança ao Brasil e espera que o país não falhe em garantir a integridade física dos atletas e do público da Copa e dos Jogos Olímpicos.
Rezo para que as autoridades brasileiras deixem de cometer o erro de ignorar o terrorismo. O risco para o país é real e iminente.


 

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