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No último dia 20/05 realizamos um Cabalat Shabat para recepcionarmos dois membros da Nossa Rede Social JH. Um deles já é bastante conhecido de todos, o nosso Grande Sérgio Storch, conhecido por suas inúmeras colaborações na parte organizacional. O outro é o norte americano Greg Scruggs que mora no Rio de Janeiro, uma figura simpatissíssima. Ambos estiveram em Curitiba à trabalho participando do Evento Cidades Inovadoras promovido pela FIEP.
Para o Cabalat Shabat pedimos a colaboração do Sérgio para que sugerisse o Tema do Midrash e como não podia ser diferente o tema TIKUM OLAM promoveu um verdadeiro debate de idéias, onde certamente saímos todos acrescidos de muita sabedoria.
Todos nós do Núcleo do JH do Paraná agradecemos imensamente a presença marcante do Sérgio e Greg em nossa humilde Kehilá.
Marcelo Barzilai.
Viagem inesquecível: Sandra Boccia apresenta Tel-aviv, a cidade bolha de Israel
http://revistamarieclaire.globo.com/Revista/Common/1,,EMI233286-17737,00.html
Hoje ela é diretora de redação da revista “Pequenas Empresas & Grandes Negócios”, mas em 2009 era para a Marie Claire que a jornalista Sandra Boccia escrevia reportagens internacionais de tirar o fôlego. Uma das mais marcantes foi feita em Tel-aviv, em Israel, chamada aqui de “cidade bolha” por passar, de certa forma, ilesa pelos conflitos entre israelenses e árabes.
“Tel-Aviv e Jerusalém estão para Israel assim como a noite está para o dia. Distantes uma da outra 58 km não pedagiados, que podem significar 40 minutos ou até duas horas de estrada, a depender do trânsito, essas duas cidades se comportam como se fizessem parte de países distintos. Enquanto na primeira a parada gay faz enorme sucesso e atrai pais com crianças de colo, por exemplo, na segunda a cena GLS se desenrola à sombra da sociedade. Os pick up bars —onde os frequentadores entram sozinhos com a declarada intenção de sair acompanhados para uma noite de prazer—, além dos guardas contratados que revistam as bolsas de todos na porta de entrada, contudo, são comuns tanto a uma como a outra”. Continue lendo a reportagem aqui!
Imersos numa faixa de terra relativamente segura de Israel, os telavivim assistem aos conflitos do seu país como quem vê um filme trágico. Mas sabem que, a qualquer momento, podem ser tocados pela realidade
A voz de veludo de hadar marks ressoa pelas ondas da Galgalatz, rádio 24 horas produzida por jovens militares do Exército Israelense que se reserva o direito de tocar apenas música e informar ouvintes sobre o trânsito nas principais estradas do país. Não é papel da âncora de 23 anos falar de assuntos militares, apesar de ela ter sempre em mente a rotina árdua dos rapazes e moças que estão no campo de batalha quando seu programa vai ao ar, às 19h. Hadar é uma das estrelas da rádio estrategicamente situada em Jaffa, zona árabe de Tel-Aviv. Recebe cartas, e-mails, telefonemas. Tempos atrás, um de seus fãs começou a ligar quase todos os dias. “Shalom. O que você vai tocar hoje?”, perguntava o soldado. A conversa evoluiu para uma amizade de fato e Hadar decidiu dar a ele seu número particular. No dia 25 de junho de 2006, o telefone dela tocou. O tom da voz do outro lado da linha era de puro desespero. As frases chegavam aos soluços e se duplicavam. “Não diga nada, não diga nada. Eu estou em Gaza, estou em Gaza, e o Hamas pegou ele, o Hamas pegou ele.” Hadar gelou e começou a chorar. Seu amigo se referia ao jovem soldado Gilad Shalit, então com 19 anos. Um dos filhos de Israel, até hoje desaparecido, acabava de ser capturado pelo Hamas. Hadar ainda estava chorando quando o telefone tocou de novo. “Por favor, Hadar, faça o seu programa de hoje normalmente. Sorria.” A noite chegou e ela lhe obedeceu. “Eu não podia falar do sequestro no ar. A única coisa que disse de diferente foi: ‘Desculpem-me cidadãos de Israel, mas hoje o programa é dedicado aos soldados que estão em Gaza. Apenas a eles’. Eu estava me sentindo péssima, mas agi e falei com se estivesse superanimada e feliz.”
É difícil imaginar Hadar infeliz. Num átimo, a futura mãe de três filhos lindos, que exibe cabelos fartos e maçãs proeminentes, amante confessa da música israelense dos anos 50 e de batatas fritas, faz dúzias de piadas sobre si mesma. Encosta o microfone nos lábios e nos seios numa insinuação sensual, tira sarro dos seus quilinhos a mais (“É que eu comi uma vaca no jantar ontem”), faz caras e bocas, e revela aos ouvintes, sem cerimônia, episódios que a aborreceram durante o dia, como a dura tarefa de achar uma vaga para estacionar. Sua capacidade de improvisação impressiona e não deixa de ser curioso que a sua linda voz seja cultivada à base de Coca-Cola e cigarro.
Sentimentos contraditórios, vícios velados e modos pueris fazem de Hadar uma metáfora perfeita da cidade que ama e habita, Tel-Aviv. Assim como a âncora da Galgalatz, que apresenta seu show em uma sala com isolamento acústico (embora técnicos acompanhem todos os seus movimentos através do vidro), o vibrante centro cosmopolita de Israel, que celebra 100 anos em 2009, parece protegido do mundo exterior. A cerca de 70 km da Faixa de Gaza, Tel-Aviv sorri mesmo com motivos para ficar triste. Nenhum dos mais de 350 bares, cafés e danceterias deixou de funcionar, por exemplo, apesar dos sucessivos atentados de homens bomba, justamente em lugares do gênero, depois da segunda intifada (revolta dos palestinos), que eclodiram em 2000 (leia quadro “Notícias de guerra”).
Às sextas e sábados (o shabbat), dias sagrados no país judeu, dezenas de coloridos barcos a vela partem da marina e seguem seu rumo ao sabor da brisa suave do mar Mediterrâneo; a areia cintilante continua forrada de banhistas. Uma posição geográfica relativamente segura, somada a essa atitude de aparente indiferença, rendeu à cidade o apelido de Ha Buah (A Bolha). É esse também o nome do filme do cineasta Eytan Fox, que aborda, com humor fino e delicadeza, a complexa realidade de um grupo de jovens telavivim, incluindo a improvável história de amor gay entre um israelense e um árabe. Educado em Jerusalém, a capital sagrada de judeus, cristãos e muçulmanos, o cineasta, que há muito assumiu sua homossexualidade, não cansa de dizer que Tel-Aviv “é o único lugar de Israel onde é possível levar uma vida normal”. Apesar da sua afirmação, porém, o filme acaba de forma trágica, enfatizando a impossibilidade de os telavivim levarem uma vida como se estivessem em qualquer outra cidade do mundo.
Tel-Aviv e Jerusalém estão para Israel assim como a noite está para o dia. Distantes uma da outra 58 km não pedagiados, que podem significar 40 minutos ou até duas horas de estrada, a depender do trânsito, essas duas cidades se comportam como se fizessem parte de países distintos. Enquanto na primeira a parada gay faz enorme sucesso e atrai pais com crianças de colo, por exemplo, na segunda a cena GLS se desenrola à sombra da sociedade. Os pick up bars —onde os frequentadores entram sozinhos com a declarada intenção de sair acompanhados para uma noite de prazer—, além dos guardas contratados que revistam as bolsas de todos na porta de entrada, contudo, são comuns tanto a uma como a outra.
40 mil pessoas cantaram “Give peace a chance”
o terrorismo desconhece fronteiras internas. Os habitantes da Ir Ha’hataim (Cidade dos Pecados, outro codinome de Tel-Aviv) acham a cidade santa pacata demais e uma certa rivalidade logo se faz flagrante. No divertido mural de fotos de soldados à paisana da rádio Galgalatz, um balãozinho de dizeres colado na foto do telavivi diz tudo: “Nada de areia, nada de garotas de biquíni, de quem foi a ideia de fazer uma ‘beach party’ em Jerusalém?”.
Jovens gays de Tel-Aviv como o relações públicas Ron Dagan, 32 anos, dizem que não conseguem se imaginar morando em Jerusalém nem em qualquer outra parte do país: “Aqui, não preciso esconder quem sou”, afirma, com orgulho. O estudante argentino Enzo Laufer, 28 anos, também gay, fez aliá (imigração) e há três anos vive em Tel-Aviv. Como a maioria dos jovens da sua faixa etária, mora com amigos. Sozinho, não conseguiria pagar o aluguel. O preço dos imóveis em Tel-Aviv é o mais alto de Israel, e o custo de vida contribui para a cidade ter sido considerada a 14a mais cara do mundo pela consultoria econômica Mercer. Mesmo assim, ele se diz satisfeito vivendo na Bolha: “É aqui que encontro o meu marco humano comum”. Quando enfrentam problemas com a família ou amigos, gays, lésbicas e transgêneros de 14 a 19 anos encontram abrigo gratuito na Casa de Liberdade, única no país. No amplo sobrado do bairro de Neve Tzedek —o primeiro a ser fundado por judeus ashkenazi no fim do século 19, os adolescentes dormem, se alimentam e recebem orientação psicológica gratuitamente por até seis meses.
Mas as coisas nem sempre foram asssim. A grande virada deve-se à cantora transexual Dana International, 36 anos, batizada Yaron Cohen, hoje a mais famosa intérprete israelense desde Ofra Haza. Em 1998, apesar de protestos de religiosos, Dana foi escolhida como representante do país para participar do Eurovision, um dos mais populares concursos de música do mundo. Dana não só ganhou o primeiro lugar como deu a Israel o direito de sediar a versão do ano seguinte. Sua vitória teve tal repercussão que centenas de gays e lésbicas saíram para celebrá-la na Rabin Square, a imensa praça da prefeitura, assim chamada depois do assassinato do primeiro-ministro Itzhak Rabin, por um judeu fanático, em 1995. Uma nova era de tolerância (de gênero, ao menos) foi inaugurada pela diva e hoje Dana é uma das celebridades mais queridas dos telavivim. No fim de 2008, entrou na seleta lista da Time Out como um dos 20 heróis da cidade, ao lado de personalidades como Tzipi Livni, 50 anos, forte candidata ao cargo de primeiro-ministro de Israel nas eleições deste mês —fato que pode torná-la a primeira mulher a assumir o cargo desde a lendária Golda Meir.
Uma cidade que nunca dorme. Nunca. A frase que se tornou lugar-comum para metrópoles como São Paulo e Nova York ganha significado ainda mais forte na Bolha. Nenhum dos seus 380 mil habitantes se surpreende de receber o telefonema de um amigo à 1h da manhã. Os telavivim também lotam o supermercado às 2h (se for o caso, de pijamas), comem pizza (ou café da manhã) às 3h, saem para passear com o cachorro, no porto, às 4h (sem medo da violência urbana, incomparavelmente menor que a de São Paulo ou Rio), enfrentam congestionamento às 5h (!) e saem de boates para entrar em after parties que começam às 7h e só terminam ao meio-dia. Tzipi é figurinha carimbada nas típicas noites de jazz das quintas-feiras. Mas, no fim de 2008, um show em especial teve o poder de comover toda a nação. Depois de 41 anos de espera pelos Beatles —à época considerados uma influência corruptiva por lideranças e impedidos de entrar no país —, Paul McCartney entoou “Give peace a chance”, pela primeira vez, para 40 mil pessoas, no parque HaYarkon. O astro de 66 anos ignorou as ameaças de fanáticos que, em sites, o desaconselharam a se apresentar no estado hebreu. Infelizmente, atentados e guerras ainda têm o poder de inibir a ida de estrelas internacionais a Tel-Aviv. Madonna jamais fez um show no país, apesar de ir até lá para estudar cabala. Na segunda guerra do Líbano, em 2006, o grupo inglês Depeche Mode cancelou sua apresentação, frustrando milhares de jovens, que agora não hesitam em pedir dinheiro emprestado, se preciso for, para pagar US$ 100 por um ingresso do show, previsto para maio, no mesmo HaYarkon.
Uma mini Los Angeles, disse a The Economist
quando classificaram os beatles como má influência, os políticos de Israel talvez estivessem pensando em jovens comprometidos com o ideal do socialismo sionista que fundaram os célebres kibutzim, comunidades agrícolas espalhadas pelo país que hoje funcionam numa lógica cada vez mais distante do modelo original. Mas a geração high- tech que habita a Bolha, considerada uma mini Los Angeles pela The Economist, parece muito mais preocupada em construir carreira e ganhar dinheiro. “Prevaleceu o espírito capitalista da cultura americana. Apesar de politizados, os sabras (israelenses) estão perfeitamente inseridos na sociedade de consumo”, diz Henrique Rattner, autor do recém-lançado Israel e a paz no Oriente Médio – Uma luz no fim do túnel?, entre outros livros sobre o tema.
Na aconchegante Brasserie —lotada 24h—, em frente à praça Itzhak Rabin, o sous-chef Orr Barry, de 28 anos, conta que seu namoro de oito anos terminou, entre outros motivos, porque ele trabalha muito: das 12h à meia-noite, no elegante restaurante Catit. Soldado da reserva do exército israelense, ele se diz pacifista, não religioso e de cabeça aberta (“Minha irmã é lésbica e não vejo problema nisso”). Em dez anos, imagina-se dono do próprio negócio, casado e com uma vida tranquila, passeando de bicicleta pela orla do Mediterrâneo, como faz hoje em horas de folga. Orr sabe que, no caso de conflito, pode ser chamado a qualquer momento, como aconteceu em 2006, quando ficou 35 dias em combate. Mas prefere focar em seu trabalho: “Não acho graça nenhuma em ter de parar o que estou fazendo e ir para o Exército. Mas não me concentro nisso”.
Não é preciso ir longe para encontrar quem pensa de modo diferente. Sentada nas escadarias na face oposta à prestigiada companhia de dança Suzanne Dellal, em um raro dia de chuva de outubro, a soldada Naama Arian, 19 anos, tem um ar quase infantil, que desaparece por completo quando ela finalmente se dispõe a falar sobre seu papel na unidade de inteligência do Exército: “Não tenho ressentimentos do Holocausto, mas essa é uma ferida que carrego comigo. O meu avô teve amigos que morreram de forma trágica e tenho obrigação de tomar conta dessa memória. Vejo jovens que querem ir para outras partes do mundo, mas eu não. É aqui que vejo a estrela de David no pescoço das garotas na rua, é aqui que ouço a minha língua quando ligo o rádio, é aqui que encontro um sentido para minha vida. Ser soldado é uma forma de amar meu país”. Mais relaxada, fazendo pose para a foto, ela recupera sua aura de menina e faz questão de explicar que, no serviço militar, existem dezenas de funções administrativas, não somente o campo de batalha, mas as garotas preferem namorar combatentes em primeiro lugar e, em segundo, paramédicos. “Eles são mais masculinos”, diz.
Jovens da Bolha planejam suas carreiras, sonham acordados e curtem seus amores independentemente do que se passa na fronteira com seus inimigos. À mesa, levantam os copos e brindam Lehaim (“à vida”, em hebraico). Mas todos sabem que moram numa cidade ferida. Sabem que, em algum momento, acabarão tocados pela realidade. Seja durante os três anos compulsórios no Exército (para homens), ou dois (para mulheres), quando ambos completam 18 anos; seja quando ficam sabendo que um parente, amigo ou vizinho se feriu ou morreu. No feriado judaico do Purim de 1996, Orr passeava pelo shopping Dizengoff quando escutou um estrondo. Por minutos intermináveis, ficou à procura da mãe e da irmã, que escaparam do atentado de um homem bomba que deixou 14 mortos e 130 feridos.
A confeiteira Michal Michaeli, 35 anos, lembra-se da sua estranha sensação de impotência quando soube que o rapaz que dançara com ela numa festa de casamento morrera dias depois. “Isso partiu meu coração. Foi horrível. Se sou sionista? Sou humanista. Não acredito que os judeus têm de morrer por Israel. O meu país é que tem de cuidar de mim.” Divorciada há quatro anos, sem filhos, Michal também pretende abrir em breve seu próprio restaurante (“Um lugar onde a comida tenha o poder de fazer as pessoas felizes”). Michal não é religiosa, mas se casou numa cerimônia judaica tradicional. Caso encontre alguém novamente, diz que um novo casamento está fora de questão. Por enquanto, segue acreditando que homens são como programas de computador (“Existe sempre uma versão melhor no mercado”), reunindo-se com amigos queridos, muitos igualmente solteiros e sozinhos. Como diz o ídolo pop Assaf Amdursky, 37 anos, autor de canções que falam sobre a complexidade dos relacionamentos amorosos, os telavivim “decidiram viver suas vidas sem ser comandados pelo medo”. Para o historiador Gadi Taub, da Universidade Hebraica de Jerusalém, viver em Tel-Aviv não significa negar a morte, mas aproveitar a vida a despeito da guerra. “Os sionistas vieram para cá para viver, não para morrer. Estar aqui e aproveitar tudo o que a cidade tem a oferecer tem tudo a ver com o fato de estarmos vivos.” Viver também é, muitas vezes, uma forma de resistência.
Fotos: Yael Engelhear / Yossi Michaeli / Natan Dvir (Polaris/other images) / Gil Cohen Magen (Reuters/ Latin Stock)
Israel e um Oriente Médio em transformação
Brasil Econômico (redacao@brasileconomico.com.br) - Entrevista concecida ao podcast da Rio Bravo Investimentos
Para o cientista político Samuel Feldberg, é correto dizer que a irmandade muçulmana se tornou menos radical do que na sua origem, mas isso não é garantia de respeito aos elementos ocidentais.
Em entrevista ao podcast da gestora de recursos Rio Bravo Investimentos, o professor e cientista político Samuel Feldberg explica como o Estado de Israel está lidando com a onda de revoluções que assola o Oriente Médio.
Autor de "Estados Unidos e Israel - Uma aliança em questão" (2008), ele é professor de Relações Internacionais das Faculdades Rio Branco, onde ensina História, Segurança Internacional e Terrorismo e é membro do Grupo de Análise de Conjuntura Internacional da USP.
Essa onda de revoluções populares que se alastra pelo Oriente Médio são uma dor de cabeça, um alívio, ou ambas as coisas para o Estado de Israel?
Primeiramente gostaria de fazer uma pequena correção. Israel, ao lado da Turquia, é uma democracia no Oriente Médio. Mesmo sendo exceções acho importante reconhecer que existe um estado muçulmano que também é uma democracia o que demonstra que não há incompatibilidade, em princípio, entre Islã e democracia.
Obviamente uma série de dificuldades se apresentam e a Turquia talvez até seja um bom exemplo de como é complicado o surgimento de uma democracia em um Estado Muçulmano.
No ponto de vista de Israel o que está acontecendo no Oriente Médio traz enormes preocupações, porque por menos simpático que possa soar, os governos que fizeram a paz com Israel ao longo dos últimos anos representaram um elemento de estabilidade importante.
O governo de Mubarak apoiado pelos militares, com todos os problemas que isso representa para a sociedade egípcia, optou por manter uma relação de paz com Israel e as incógnitas que surgem para o futuro próximo vão certamente afetar a capacidade israelense de se comportar como vinha se comportando ao longo desses últimos anos.
Isso tem reflexos na economia que vai ter que levar em conta no seu orçamento no futuro próximo a possibilidade de uma desestabilização das suas fronteiras no Sul. Tem um impacto nas relações com os palestinos, que eventualmente vão sofrer o efeito de uma maior aproximação de um futuro governo Egípcio com grupos radicais como o Hamas.
E certamente tem um efeito importante na percepção da ameaça iraniana, já que um Egito com o regime que existia até o momento certamente era visto como um elemento de equilíbrio para as aspirações hegemônicas iranianas na região.
Quem são os movimentos sociais árabes com quem Israel pode dialogar nesse momento tão fluido da política no Oriente Médio? Quando caem os governos, quem está do outro lado da mesa para um novo começo?
Na verdade os governos não têm caído, o que tem acontecido nessa primeira etapa é uma substituição dos líderes aparentes desse governo. Os líderes da Tunísia e do Egito foram afastados mas as estruturas que governam esses países continuam lá então nesse sentido Israel não tem, por enquanto, nenhuma outra alternativa de diálogo. O que aparece no horizonte é o risco de uma eventual substituição dessas estruturas que governam os países árabes.
É correto dizer que a irmandade muçulmana se tornou menos radical do que na sua origem, mas os elementos que apontam para um possível comportamento dela no poder continuam presentes. A carta de fundação continua existindo e nela os elementos ocidentais presentes no Oriente Médio são apresentados como os principais inimigos dessa organização.
Então se em um primeiro momento uma irmandade muçulmana pudesse fazer parte de um governo egípcio democrático, isso não significa que ela não poderia ao longo do tempo aumentar sua capacidade de influenciar o comportamento do governo egípcio e democraticamente chegar ao poder. A partir de então implementar aquilo que continua nos seus planos.
Eu sempre faço o paralelo com o que aconteceu com a Alemanha nazista no início do processo de tomada do poder pelos nazistas. Hitler certamente não usou os argumentos que ele apresentou em seu livro Mein Kampf durante a campanha eleitoral de 1932, mas uma vez que chegou ao poder e deu o golpe que consolidou a tomada do poder pelos nazistas na Alemanha ele implementou exatamente aquilo que estava em seus escritos.
Então dizer que aquilo que está escrito é parte do passado e não vai ser resgatado no futuro quando uma determinada organização chega no poder é um pouco de wishful thinking e toda a precação tem que ser tomadas para que isso não aconteça.
Eu uma palestra sua de 2009 você dizia que quando faz simulações em sala de aula para tentar reproduzir negociações entre palestinos e israelenses ou entre árabes e israelenses, nenhum aluno quer ser israelense, todo mundo quer ser palestino. Por que isso acontece? Você acha que existem caracterizações de vitimização injustas de ambas as partes?
Sem dúvida nenhuma as narrativas dos dois lados são absolutamente opostas e existe uma tendência natural de identificação com aquele que apresentado como a vítima mais severa. Então se nós temos histórias de tragédias dos dois lados, nós certamente temos no momento uma situação em que a população palestina está sofrendo o impacto da evolução dos eventos no Oriente Médio nos últimos 60 anos.
Israel se consolidou como um Estado bem sucedido onde a população tem um nível de vida muito elevado para os padrões da região. Enquanto no lado palestino, por uma série de razões, a população vem sofrendo os impactos dos eventos históricos desse período agravado por uma divisão importante na sua liderança que não permite uma solução de seus problemas.
Então certamente o que nós vemos aqui no Brasil como uma identificação, especialmente dos grupos de esquerda e das populações mais jovens e mais educadas com a causa palestina, é reflexo do que a mídia transmite em termos da situação atual.
A fragmentação da política israelense impede que haja avanços na resolução do conflito israelo-palestino?
Eu não diria que é a divisão política interna que é o responsável por esse fracasso. Sem dúvida nenhuma Israel como uma democracia paga o preço que todos os regimes democráticos pagam que eventualmente é a impossibilidade de fazer avançar determinadas políticas que são contraditórias.
Nós temos em toda a história de Israel governos de coalizão que representam interesses que muitas vezes são paroquiais, mas eu tenho firme convicção de que o que norteia a política externa israelense é o interesse vital de Israel. E se hoje por exemplo nós temos um governo de direita em Israel que não tem avançado muito nas negociações com os palestinos, isso está muito mais relacionado com a impossibilidade de perceber um prêmio que pode ser obtido através de concessões que levem a um acordo de paz do que a defesa de interesses da direita israelense que não aceitaria negociar com os palestinos.
Irã. É a maior preocupação de Israel hoje?
O Irã é uma grande incógnita. Sem dúvida é percebido como uma enorme preocupação pela liderança israelense, talvez seja hoje o maior símbolo de uma ameaça existencial a Israel, em função do desenvolvimento do programa nuclear iraniano. Israel sempre esteve frente há uma ameaça de um universo árabe hostil enquanto não for assinado o acordo de paz com o Egito.
Quando se chegou à paz com o Egito, de certa forma, deixou de haver uma ameaça de que qualquer outro dos países árabes vizinhos pudessem enfrentar Israel sem a participação das forças armadas egípcias.
O desenvolvimento de um programa nuclear iraniano aliado à capacidade balística que o Irã desenvolveu e a memória do lançamento dos foguetes scuds por parte do Iraque durante a Guerra do Golfo contra o território israelense. A combinação destes fatores provoca uma enorme ansiedade tanto na sociedade quanto no governo e nas forças armadas israelenses.
Por isso a insistência com a tentativa de limitar o programa nuclear iraniano. Mesmo com as explicações iranianas de que é um programa pacífico voltado para enriquecimento de urânio para produção de geradores que produzam isótopos médicos e etc, tem sempre negado as evidências das investigações da agência internacional de energia atômica, as inspeções que deveriam ter sido feitas para comprovar que esse programa é pacífico.
Da mesma forma como ocorre no Brasil, por que não existe nenhuma contestação ao programa nuclear brasileiro? Porque os brasileiros sempre apresentaram os resultados daquilo que anunciaram que estavam fazendo. Os iranianos anunciam um programa, mas nunca permitem que a comprovação desse programa seja feita.
Mais de uma vez, se encontraram instalações secretas que não estavam na relação de instalações à disposição da Agência Internacional de Energia Atômica para serem fiscalizadas. Então, o que causa o incômodo é a falta de transparência do programa nuclear iraniano.
Há uma estado de guerra entre Ocidente e Oriente, mais precisamente uma nova Cruzada. A diferença é que agora o Ocidente quer salvar o “ouro negro” e não Jerusalém, pois acontece que as maiores jazidas estão no Oriente Médio.
A situação no Oriente Médio que tem reflexos mundo afora (Brasil no meio), por causa única e exclusivamente do PETRÓLEO tem uma relação de causa e efeito direta com o esfacelamento do Império Otomano, cujos pedaços divididos de forma espúria pela Liga das Nações ainda não se acomodou... (imaginem os cristãos do Líbano dominados pelo mulçumanos da Síria, os cristãos Armênios dominados pelos Turcos, os Curdos divididos em 3 paises (Turquia, Iraque e Irã); o cisma irreconciliável entre sunitas e xiitas (Iraque); ou seja uma verdadeira Zona... mas por causa do petróleo. Sem ele essa região da Terra nem apareceria nos mapas...
Agora imaginem uma cultura nômade (árabes) dominada com mãos de ferro pelos Turcos durante 495 anos, desde a queda de Constantinopla, de repente na sua região descobrem Petróleo, saem da Idade Média e são forçados a entrar no Sec. XX, num esquema cultural ocidental e pior ainda, 20 anos depois da "bonaza", um novo país culturalmente Ocidental, democrático, cuja estrutura social esta centenas de anos à frente e com poder militar inconteste é inserido no meio deles e pior... dando maus exemplos de direitos individuais, jurisprudencia, legislação, política partidária, administração publica, sistema educacional, técnica agrárias, etc.
Queda de Constantinopla e hegemonia cultural islâmica do Oriente Médio = ~ 495 anos. Partilha da Palestina = formação do Estado de Israel: Influência Cultural e Tecnológica Ocidental = ~63 anos. Isso dá cerca de 12% da história regional!
Muita água vai rolar ainda...